domingo, 18 de setembro de 2011

Separação

José Augusto/Paulo Sérgio Valle

Melhor assim
A gente já não se entendia muito bem
E a discussão já era a coisa mais comum
E havia tanta indiferença em teu olhar

Melhor assim
Pra que fingir se você já não tem amor
Se teus desejos já não me procuram mais
Se na verdade pra você eu já não sou ninguém

De coração
Eu só queria que você fosse feliz
Que outro consiga te fazer
O que eu não fiz
Que você tenha tudo aquilo que sonhou

Mas vá embora antes que a dor
Machuque mais meu coração
Antes que eu morra me humilhando de paixão
E me ajoelhe te implorando pra ficar comigo

Não diz mais nada
A dor é minha eu me aguento, pode crer
Mesmo que eu tenha que chorar pra aprender
Como esquecer você!

música que abre o disco Sedução da cantora Simone, gravado em 1988.

De vez em quando gosto de escutar esta canção como uma espécie de catarse...

Por Enquanto

                            Renato Russo

Mudaram as estações e nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente
Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba?
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta
Pra casa.

música do primeiro disco da Legião Urbana. Foi um LP lançado em 1984; esta canção fecha o álbum! E a estreante Cássia Eller, em 1992, fez um regravação acústica que se tornou um clássico e valorizou muito a canção. Integrou o repertório do seu também primeiro disco.

A Professora, o Aluno e o Diretor

A professora estava com dificuldades com um dos alunos.

- Lucas, qual é o problema?

Sou demasiado inteligente para estar no primeiro ano.

A minha irmã está no terceiro ano e eu sou muito mais inteligente do que ela. Quero ir para o terceiro ano também!

A professora vê que não vai conseguir resolver o problema e manda-o para o  Conselho Diretivo.
Enquanto o Lucas está na sala de espera, a professora explica a situação ao Diretor Pedagógico. Este decide fazer um teste ao miúdo.

A professsora chama o Lucas e explica-lhe que vão fazer um teste e caso ele responda corretamente a todas as perguntas passará automaticamente para o terceiro ano.

O Diretor começa:
- Lucas, quanto é 3x3?
- 9.

- E quantos são 6x6?
- 36.

E o Diretor continua com as perguntas a que um aluno do terceiro ano deve saber responder e Lucas não erra nada.

O Diretor diz para a professora:
- Acho que vamos ter mesmo que passar o Lucas para o terceiro ano.

Posso fazer algumas perguntas também, Sr. Diretor? - pergunta a professora.

O Diretor concorda e a professora começa:

- O que é que a vaca tem quatro e eu só tenho duas?

Lucas pensa um instante e responde:

- Pernas.

Ela faz outra pergunta:

- O que é que tu tens nas tuas calças que eu não tenho nas minhas?

O Diretor arregala os olhos, mas não tem tempo de interromper...

- Bolsos - responde Lucas.

- O que é que entra na frente da mulher e que só pode entrar atrás do homem?

- Estupefato com os questionamentos, o Diretor prende a respiração...

- A letra " M ". - responde o miúdo.

A professora continua o questionário:

- Onde é que a mulher tem o cabelo encaracolado?

- Na África.

- O que é que é mole, mas na mão das mulheres fica duro?

- O verniz.

- O que é que as mulheres têm no meio das pernas?

- Os joelhos.

- O que é que a mulher casada tem mais larga que a solteira?

- A cama.

- Qual é o monossílabo que começa com a letra " c " e termina com a letra " u " e ora está sujo, ora está limpo?

- O céu.

- O que começa com a letra " C ", tem duas letras, um buraco no meio e eu já dei a várias pessoas?

- CD.

Não mais se contendo, o Diretor interrompe, respira aliviado e diz à professora:

- Ponha o Lucas no quarto ano. Até agora EU errei todas!!


Muito cuidado com as empregadas!

Aproveitando a ausência dos patrões, Creuza pega o telefone e fofoca com a amiga Craudete:
- Cê num sabe da úrtima?? Eu discubri qui aqui nessa mansão que eu trabaio é tudo fachada!
- Como assim, Creuza? - pergunta a colega confusa.
- Nada aqui é dus patrão! Tudo é imprestado! TUDO! Cê cridita numa coisa dessa? Óia só: a ropa que o patrão usa é dum tal de Armani... a gravata é dum tar de Pierre Cardin... O carro é duma tal de Mercedes... nadica de nada é deles!
- Noooossa, que pobreza!
- E além de pobre, eles são muito ixibido! Imagina que ôtro dia eu iscutei o patrão no telefone falano qui tinha um Picasso...
- E num tem?
- Qui nada, fia... É piquinininhu de dá dó...

Creuza & Craudete

Conversa entre duas afrodescendentes que se encontram num ponto de ônibus, numa segunda-feira:
- E aí, Creuza, porque tu num foi ao pagodi onti?
- Pagodi? Qui pagodi qui nada, Craudete! Eu ônti saí cum branco de fechá o cumercio!
- Tu saiu cum branco!? Branco mermo?
- Tô ti falando, mulé! O nome dele é Cróvis. O cara tá amarradão na minha pessoa!
- Mas me conta isso direito, Creuza! Cumo foi que tu arranjô essa préula?
- Tudo muito simpres, Craudete. Eu ia passando pela rua, ele se agradou da minha pessoa, puxô conversa e marcamo pra saí dinoiti.
- E onde foi que tu se encontrô com ele? Conta logo, qui eu já tô ficano nervosa!
- Se encontrei? Tu tá doida? O Cróvis foi me buscá em casa, que ele é um homi muito do fino. Hora marcada! E veio me buscá de carro, minha nega!
- Também!!! Eu não deixei por menos: me enfeitei toda, naquele justinho pretinho e dorado, subi naquele tamanco vermelho e tasquei aqueles brinco pratiado que tu me deu nos meus anos!
- Credo, Creuza! Tu divia tá um arraso! Aí cês foram fazê um lanche?
- E tu acha qui o Cróvis é homi di fazê lanche? Fumo num belo dum restaurante na Zona Sul. Cumi inté camarão, Craudete!
- Tô toda arripiada! E depois, Creuza, e depois?
- Depois nós fumo dançá numa buati de crasse. Tiramo aquele sarro! Tomei até uísqui 12 ano! Se esbaldei!
- Qui inveja qui eu tô, mulê! Minha Nossa Senhora da Aparecida! Depois oceis foram pro motel, é craro!
- Craro qui não! Não me fala bestera, Craudete! É craro qui nóis fumo pru apartamento dele! Qui apê, mulé! Um luxo só! Sabe daqueles sofá qui afunda quando a gente senta? Pois é!
- Deus seja louvado! E aí?  E aí, Creuza? Já tô ficano toda impipocada! Esse branquelo é do cacete!
- Bom, aí nóis cumeçamo a namorá. Beijo pra lá, beijo cá. Fumo tirando a ropa... e aí ele pidiu preu chupá o pênis dele!
- Peraí, Creuza! Pênis? Qui diabo é isso?
- Pôrra Craudete, como tu é inguinoranti! É o mermo que caraio, só que é mais branquinho, mais menó e mais molinho!!

domingo, 11 de setembro de 2011

Imprensa Brasileira

Como a imprensa brasileira noticiaria, hoje, a história de Chapeuzinho Vermelho

JORNAL NACIONAL:
(William Bonner) " Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem "
(Fátima Bernardes)  " ... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia "  

FANTÁSTICO:
(Glória Maria)  "... que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo? " ijkhjbnb nnbvbv

CIDADE ALERTA:
(Datena)  " ... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades?! A menina ia para a casa da avozinha a pé?! Não tem transporte público?! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não... " 

VEJA:
Chapeuzinho exclusivo: " Acho que não foi tão perigoso assim "

CLÁUDIA:
" Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho "

NOVA:
" Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama "

MARIE CLARIE:
" Na cama com o lobo e a vovó "

FOLHA DE SÃO PAULO:
" Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador "  Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso Infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

ESTADO DE SÃO PAULO:
" Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado do PT. "

ZERO HORA:
" Avó de Chapeuzinho nasceu no RS. "

AGORA:
" Sangue e tragédia na casa da vovó. "

CARAS:
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte)
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala à CARAS: " Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa. " 

PLAYBOY:
(Ensaio fotográfico no mês seguinte) " Veja o que só o lobo viu!! " 

ISTO É:
" Gravações revelam que lobo foi assessor de influente político " 

G MAGAZINE:
(Ensaio fotográfico com lenhador) " Lenhador mostra o machado " 


O Poder de um e-mail errado

                            Um paulista deixou as ruas chuvosas de São Paulo para umas férias no Rio de Janeiro. Sua esposa estava viajando a negócios e estava planejando encontrá-lo lá no dia seguinte.
                             Quando chegou ao hotel, ele resolveu mandar um e-mail para sua mulher, mas como não achou o papelzinho em que tinha anotado o e-mail dela, tirou da memória o que lembrava e torceu para que estivesse certo. Infelizmente, ele errou uma letra, a mensagem foi para uma senhora maranhense, cujo marido havia morrido no dia anterior. Quando ela foi checar os seus e-mails, deu uma olhada no monitor, deu um grito de profundo horror e caiu dura e morta no chão. Ao ouvir o grito, sua família correu para o quarto e leu o seguinte na tela do computador:
                              " Querida, acabei de chegar. Foi uma longa viagem. Apesar de só estar aqui há poucas horas, já estou gostando muito. Falei aqui com o pessoal e está tudo preparado para a sua chegada amanhã. Tenho certeza de que você também vai gostar. Beijos do seu eterno e amoroso marido.
P.S.: Está fazendo um calor infernal aqui!!! "

A mosca

                      autoria desconhecida

                                                            Parte I

                               Contam que certa vez duas moscas cairam num copo de leite. A primeira era forte e valente. Assim, logo que caiu, nadou até a borda do copo, mas como a superfície era muito lisa e ela tinha suas asas molhadas, não conseguiu sair. Acreditando que não havia saída, a mosca desanimou, parou de nadar e de se debater e afundou.
                                Sua companheira de infortúnio, apesar de não ser tão forte, era tenaz, e por isso continuou a se debater por tanto tempo, que aos poucos o leite ao seu redor, com toda aquela agitação foi se transformando e formou um pequeno nódulo de manteiga, onde a mosca tenaz conseguiu com muito esforço subir e dali levantar voo para algum lugar seguro.
                                Durante anos, ouvi esta primeira parte da história como um elogio à persistência, que, sem dúvida, é um hábito que nos leva ao sucesso, no entanto...

                                                          Parte II

                                 Tempos depois, a mosca tenaz, por descuido ou acidente, novamente caiu no copo. Como já havia aprendido em sua experiência anterior, começou a se debater, na esperança de que, no devido tempo, se salvaria.
                                  Outra mosca passando por ali e vendo a aflição da compamheira de espécie, pousou na beira do copo e gritou: " tem um canudo ali, nade até ele e suba pelo canudo ".
                                  A mosca tenaz não lhe deu ouvidos, baseando-se na sua experiência anterior de sucesso, continuou a se debater e a se debater, até que, exausta, afundou no copo cheio de... água!!!   


Quantos de nós, baseados em experiências anteriores, deixamos de notar as mudanças no ambiente e ficamos nos esforçando para alcançar os resultados esperados até que afundamos em nossa própria falta de visão? Fazemos isto quando não conseguimos sentir a necessidade de mudanças, quando não existe abertura da nossa parte para nos " reenquadrar " na nova experiência, ficamos paralisados, presos aos velhos hábitos, com medo de errar.
" Reenquadrar " é permitir-se olhar a situação atual como se ela fosse inteiramante diferente de tudo que já vivemos, nos libertar de comparações - é buscar ver através de novos ângulos, de forma a perceber que, fracasso ou sucesso, não importa, é necessário tentar, pois tudo é aprendizado. Desta forma, todo o medo se extingue e toda experiência é como uma nova porta que pode nos levar à energia que precisamos, à motivação de continuar buscando o que queremos. Mas, para isso, é preciso não ficar nos debatendo, e entrar... e sentir... pois ficar do lado de fora da porta não nos motiva e nem nos oferece a visão real.

domingo, 4 de setembro de 2011

Os Três Mal Amados

                              João Cabral de Mello Neto


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,minhas ondas-curtas, meus raios-x. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas. junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares,
cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas  coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em versos.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento do meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

Só Hoje

                     Rogério Flausino/Fernanda Mello

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal
Olhar teus olhos de promessas fáceis
Te beijar a boca de um jeito que te faça rir
Hoje eu preciso te abraçar
Sentir teu cheiro de roupa limpa
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz
Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo
Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia
Que eu faço tudo errado sempre
Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje, só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje

música do grupo Jota Quest, gravada no CD Discotecagem Pop Variada em 2002.

A você que faz parte da minha vida há mais de um ano. O meu muito obrigado por tudo que já me ensinou, mesmo sem saber que o fazia... Grande beijo

Rubens

                      Mário Manga

Eu nunca quis te dizer
Sempre te achei bacaninha
O tempo todo sonhando
A tua vida na minha
O teu rostinho bonito
Um jeito diferentão
De olhar no olho da gente
E de criar confusão
O teu andar malandrinho
O meu cabelo em pé
O teu cheirinho gostoso
A minha vida de ré
Você me dando uma bola
E eu perdido na escola
Essa fissura no ar
Parece que eu tô correndo
E sem vontade de andar
Quero te apertar
Quero te morder e já
Quero mas não posso, não, porque:
- Rubens, não dá
A gente é homem
O povo vai estranhar
Rubens, para de rir
Se tua família descobre
Eles vão querer nos engolir
A sociedade não gosta
O pessoal acha estranho
Nós dois brincando de médico
Nós dois com esse tamanho
E com essa nova doença
O mundo todo na crença
Que tudo isso vai parar
E a gente continuando
Deixando o mundo pensar
Minha mãe teria um ataque
Teu pai, uma paralisia
Se por acaso soubessem
Que a gente transou um dia
Nossos amigos chorando,
A vizinhança falando,
O mundo todo em prece
Enquanto a gente passeia,
Enquanto a gente esquece
Quero te apertar
Quero te morder, me dá
Só que eu sinto uma
Dúvida no ar:
- Rubens, será que dá?
A gente é homem
O povo vai estranhar
Rubens, para de rir
Se a tua família descobre
Eles vão querer nos engolir
Rubens, eu acho que dá pé
Esse negócio de homem com homem
Mulher com mulher.

música do grupo Premeditando o Breque, depois conhecido como Premê e que foi gravada em 1986 no disco Grande Coisa.

Extravios

                        Dalto/Antônio Cícero


Eu sei que os extravios
São necessários sim
A necessária parte
Do meu caminho sozinho
Então nem vou tentar
Pra que tentar fugir
Se existe algum fogo
Ou foco
Pra mim

Quando eu curto certas horas
O som da multidão
Não se preocupe não
E nem me procure uma cura
Sou íntimo do tempo
E ele se abre assim
E manda algum fogo
Ou foco
Pra mim

Então encoste este ombro no meu braço
Ocasionalmente infiel
E faça-me sentir no seu abraço
Um pouco além
De algumas gotas de chanel

música do disco Próxima Parada de Marina, gravado em 1989.

Reflexões de Schopenhauer

                     " Tentou-se, de diversas maneiras, fazer compreender à inteligência de cada um a imensidão do mundo, e viu-se nisso um pretexto para considerações edificantes, como, por exemplo, sobre a pequenez relativa da terra e do homem, e, por outro lado, sobre a grandeza da inteligência desse mesmo homem tão fraco e tão miserável que pode conhecer, apreender e medir mesmo essa imensidão do mundo; e outras reflexões deste gênero. Tudo isto está muito bem; mas, para mim que considero a grandeza do mundo, o importante de tudo isso é que o Ser em si do qual o mundo é o fenômeno - qualquer que ele possa ser - não pode ser dividido, retalhado assim no espaço ilimitado, mas que toda esta extensão infinita apenas pertence ao seu fenômeno, e que ele próprio está totalmente presente em cada objeto da natureza, em cada ser vivo. Também não se perde nada se nos limitarmos a um único objeto, e não necessário, para adquirir a verdadeira sabedoria, medir todo o universo, ou, o que seria mais racional, percorrê-lo pessoalmente; vale mais estudar um só objeto, com a intenção de aprender a conhecê-lo e apreender-lhe perfeitamente a verdadeira essência. "

Retorno

                 Quando criei o Blog, minha ideia era a de que eu pudesse escrever aqui tudo o que me desse vontade, sem nenhuma preocupação se alguém iria ler , mesmo porque, estou anônimo e ninguém virá xeretar para depois sair contando. Seria o meu fluxo de consciência, assim como Clarice fez tantas vezes!! Inicialmente, consegui me organizar para sempre escrever, mas chegou um tempo em que deixou de ser prazeroso para ser uma obrigação: " tenho que escrever no Blog ". E não era isso que eu queria... Resolvi, então, parar e dar um tempo para ver se conseguiria me reorganizar! E funcionou! Sempre fui disciplinado com minhas coisas, mas não estava conseguindo cumprir " meus prazos interiores ". Há pouco mais de duas semanas, tomei a decisão de não me angustiar com exigências externas. Não vou fazer aquilo que não der conta; vou respeitar o meu ritmo e planejar somente o que eu perceber que consigo realizar. Optei por seguir duas linhas de trabalho: de segunda à sexta, terei uma organização e uma execução específicas! No sábado e no domingo terei outras atividades que poderão ou não complementar a primeira. Será tudo sem cobrança e sem nenhum stress. O prazer e o bem-estar em primeiro lugar!! Grande abraço

sábado, 16 de abril de 2011

Schopenhauer II

                Não é apenas nos fenômenos completamente semelhantes ao seu próprio, nos homens e nos animais, que ele encontrará, como essência íntima, essa mesma vontade; mas um pouco mais de reflexão o levará a reconhecer que a universalidade dos fenômenos, tão diversos para a  representação, têm uma única e mesma essência, a mesma que lhe é conhecida íntima, imediatamente, e melhor do que qualquer outra, aquela enfim que na sua manifestação mais aparente tem o nome de vontade. Ele a verá na força que faz crescer e vegetar a planta e cristalizar o mineral; que dirige a agulha magnética para o norte; na comoção que experimenta com o contato de dois metais heterogêneos; ele a encontrará nas afinidades eletivas dos corpos que se manifestam sob a forma de atração ou de repulsa, de combinação ou de decomposição; e até na gravidade que age com tanto poder em toda matéria que atrai a pedra para a terra, como a terra para o sol. É refletindo sobre todos estes fatos que, ultrapassando o fenômeno, chegamos à coisa em si: " Fenômeno " significa representação, e mais nada; e toda representação, todo objeto é fenômeno. A coisa em si é unicamente a vontade; nesta qualidade, esta não é de maneira nenhuma representação, difere dela toto genere; a representação, o objeto,  é o fenômeno, a visibilidade, a objetividade da vontade. A vontade é a substância íntima, o núcleo tanto de toda coisa particular, como do conjunto; é ela que se manifesta na força natural cega; ela encontra-se na conduta racional do homem; se as duas diferem tão profundamente, é em grau e não em essência.

Schopenhauer I

                       Suponhamos que nos perdêssemos a contemplar a infinitude do mundo no tempo e no espaço, quer refletíssemos sobre a multidão dos séculos passados e futuros, quer durante a noite o céu nos revele, na sua realidade, mundos sem número, ou que a imensidão do universo oprima, por assim dizer, a nossa consciência: neste caso, sentimo-nos reduzidos ao nada; como indivíduo, como corpo animado, como fenômeno passageiro da vontade, temos a consciência de não ser mais do que uma gota no oceano, isto é,  de nos dissiparmos e de desaparecermos no nada. Mas, ao mesmo tempo, contra a ilusão do nosso nada, contra esta mentira impossível, eleva-se em nós a consciência imediata que nos revela que todos esses mundos existem apenas na nossa representação; eles são apenas modificações do sujeito eterno do puro conhecimento; são apenas aquilo que sentimos em nós, desde que esquecemos a individualidade; em resumo, é em nós que reside o que constitui o suporte necessário e indispensável de todos os mundos e de todos os tempos. A grandeza do mundo, que há pouco espantava-nos, agora reside, serena, em nós mesmos: a nossa dependência em relação a ela está a partir de agora suprimida, visto que presentemente é ela que depende de nós. - No entanto, não fazemos efetivamente todas estas reflexões; limitamo-nos a sentir, de uma maneira completamente irrefletida, que, num certo sentido (só a filosofia pode precisá-lo), somos um com o mundo, e que, por conseguinte, a sua infinitude ergue-nos, ao contrário de nos esmagar. É esta consciência, ainda completamente sentimental, que os Upanixades dos Vedas repetem sob tantas formas variadas e, sobretudo, nesta frase que citamos mais acima:  " Eu sou todas estas criaturas, e por minha causa não há outro ser ". Existe aí um êxtase que ultrapassa a nossa própria individualidade; é o sentimento do sublime.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Humano Demais

                               Fábio de Melo

Eu fico tentando compreender o que nos teus olhos pôde ver
Aquela mulher na multidão que, já condenada, acreditou
Que ainda havia o que fazer, que ainda restara algum valor
E ao se prender em teu olhar, por certo haverá de vencer
E assim fizeste a vida retornar aos olhos dela
E quem antes condenava se percebe pecador
Teu amor desconcertante, força que conserta o mundo
Eu confesso não saber compreender

Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender
Este jeito que escolheste de amar quem não merece
Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender que aqueles que escolheste
E tomaste pela mão, geralmente eu não os quero do meu lado

Eu fico surpreso ao ver-te assim
Trocando os santos por Zaqueu e tantos doutores por Simão
Alguns sacerdotes por Mateus
E, mesmo na cruz, em meio à dor, um gesto revela quem tu és
Te tornas amigo do ladrão só pra lhe roubar o coração
E assim foste o contrário, o avesso do avesso
E por mais que eu me esforce, não sei bem se te conheço
Tu enxergas o profano
Eu insisto em ver a margem
Quando vês o coração, eu vejo a imagem

Tudo é do Pai

                               Frederico Cruz

Eu pensei que podia viver por mim mesmo
Eu pensei que as coisas do mundo
Não iriam me derrubar

O orgulho tomou conta do meu ser
E o pecado devastou o meu viver

Fui embora, disse ao Pai:
" Dá-me o que é meu!
Dá-me a parte que me cabe da herança! "
Fui pro mundo, gastei tudo, me restou só o pecado
E hoje eu sei que nada é meu
Tudo é do Pai

Tudo é do Pai!
Toda honra e toda glória
É dele a vitória alcançada em minha vida
Tudo é do Pai!
Se sou fraco ou pecador
Bem mais forte é o meu Senhor
Que me cura por amor!


Contrários

                          Fábio de Melo

Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar

Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo para lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
E o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema, a solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz

Só quem soube duvidar pôde, enfim, acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco se encontrou, aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar

Só quem perdoou, na vida, sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite que o amor pode nascer

Humano Amor de Deus

                                 Fábio de Melo

Tens o dom de ver estradas onde eu vejo o fim
Me convences quando falas: " não é bem assim! "
Se me esqueço, me recordas; se não sei, me ensinas
E se perco a direção, vens me encontrar

Tens o dom de ouvir segredos mesmo se me calo
E, se falo, me escutas, queres compreender
Se pela força da distância tu te ausentas
Pelo poder que há na saudade, voltarás!

Quando a solidão doeu em mim
Quando o meu passado não passou por mim
Quando eu não soube compreender a vida
Tu vieste compreender por mim

Quando os meus olhos não podiam ver
Tua mão segura me ajudou a andar
Quando eu não tinha mais amor no peito
Teu amor me ajudou a amar

Quando os meus sonhos vi desmoronar
Me trouxeste outros pra recomeçar
Quando me esqueci que era alguém na vida
Teu amor veio me relembrar

Que Deus me ama, que não estou só
Que Deus cuida de mim quando fala pela tua voz
E me diz: " coragem! "

sábado, 5 de março de 2011

Dandalunda

                      Carlinhos Brown
                              refrão extraído do domínio público
Bem pertinho da entrada do guetho
Um terreiro de Angola e ketu
Mãe maiamba, que comanda o centro
Dona Oxum dançando Óxossi no tempo
Lá em cima no tamarineiro
Mariinha da pipoca ajoelha
Em janeiro, no dia primeiro
Desce o dono do terreiro
Coquê
Dandalunda, Maimbanda, coquê
Seu Zumbi é santo sim que eu sei
Caxixi, agdavi, capoeira
Casa de batuque, toque na mesa
Linda, santa, Iansã da pureza
Vira fogo, atraca, atraca, se chegue
Vi Nanã dentro da mata de gegê
Brasa acesa na pisada do frevo
Arrepia o corpo inteiro
Coquê
Dandalunda, Maimbanda, coquê

Dandalunda
Paira na beira
Dandalunda
Da cachoeira
Dandalunda
Paz e água fresca
Dandalunda
Doura dendê

música do CD Afropopbrasileiro de Margareth Menezes gravado em 2001.

Motivação

                      Aristóteles Onassis

Hoje acordei para vencer.
A automensagem positiva logo pela manhã é um estímulo que pode mudar seu humor, fortalecer sua autoconfiança e, pensando positivamente, você reunirá forças para vencer os obstáculos.
Não deixe que nada afete seu estado de espírito.
Envolva-se pela música: cante ou ouça.
Comece a sorrir mais cedo.
Ao invés de reclamar quando o relógio despertar, agradeça a Deus pela oportunidade
de acordar mais um dia.
O bom humor é contagiante; espalhe-o. Fale coisas boas, de saúde, de sonhos
com quem você encontrar.
Não se lamente, ajude-se e também ajude as outras pessoas a perceberem o que há de bom dentro de si.
Não viva emoções mornas e vazias.
Cultive seu interior, extraia o máximo das pequenas coisas.
Seja transparente e deixe que as pessoas saibam que você as estima e precisa delas.
Repense seus valores e dê de si mesmo a chance de crescer e ser mais feliz.
Tudo o que merece ser feito merece ser bem feito.
Torne suas obrigações atraentes, tenha garra e determinação.
Mude, opine, ame o que você faz.
Não trabalhe só por dinheiro e sim, pela satisfação da " missão cumprida ".
Lembre-se: nem todos têm a mesma oportunidade.
Pense no melhor e espere pelo melhor.
Transforme seus momentos difíceis em oportunidades.
Seja criativo, buscando alternativas e apresentando soluções ao invés de problemas.
Veja o lado positivo das coisas e assim você tornará seu otimismo uma realidade.
Não inveje. Admire!
Seja entusiasta com o sucesso alheio como seria como seu próprio.
Idealize um modelo de competência e faça a sua autoavaliação para saber o que está lhe faltando para chegar lá.
Ocupe o tempo crescendo, desenvolvendo sua habilidade e seu talento. Só assim não terá tempo
para criticar os outros.
Não acumule fracassos e sim experiências.
Tire proveito de seus erros e amplie seus conhecimentos.
Dimensione seus problemas e não se deixe abater por eles.
Você pode tudo o que quiser.
Perdoe.
Seja grande para os aborrecimentos, nobre para a raiva, forte para vencer o medo e feliz para permitir
a presença de momentos infelizes.
Não viva só para o trabalho.
Tenha outras atividades paralelas, como esportes, leitura.
Cultive amigos.
O trabalho é uma das contribuições que damos para a vida, mas não devemos jogar nele todas as nossas
expectativas e realizações.
Finalmente, ria das coisas a sua volta, ria de seus problemas, de seus erros, ria da vida.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Como Girafinha Flor fez uma descoberta

                                                Terezinha Casassanta

                        Girafinha Flor era a girafa mais solitária e triste do mundo.
                        Ela não tinha pais nem irmãozinhos.
                        Vivia sozinha lá no meio da floresta.
                        Girafinha Flor morava em uma bonita casinha e tinha muitas coisas gostosas para comer. Mas cada dia se tornava mais solitária e triste.
                        Até que uma bela tarde, Girafinha Flor falou:
                        - Deve haver um remédio para curar a solidão. Eu vou à cidade para descobrir.
                        Assim pensando, pôs um lenço no pescoço, um chapéu na cabeça e lá se foi pelo caminho.
                        Ela havia andado só um pouquinho quando encontrou um macaco:
                        - Boa tarde, disse o macaco. Onde você vai?
                        - Eu vou à cidade descobrir um remédio para curar a solidão, respondeu a Girafinha.
                        - Está bem, mas volte depressa, disse o macaco. Eu ficarei esperando por você.
                        Girafinha Flor continuou a andar.
                        Numa curva do caminho viu um coelho cinzento que saltitava contente.
                        - Boa tarde, disse o coelho. Onde você vai?
                        - Vou à cidade descobrir um remédio para curar a solidão, respondeu a Girafinha.
                        - Está bem, mas volte depressa, disse o coelho cinzento. Eu ficarei esperando por você.
                        Girafinha Flor continuou novamente o seu caminho. Atravessou um campo verde e encontrou uma cabrinha pintada.
                        - Boa tarde, disse a cabrinha. Onde vai você?
                        - Vou à cidade descobrir um remédio para curar a solidão, disse a Girafinha.
                        - Está bem! Mas volte depressa, disse a cabrinha. Eu ficarei esperando por você.
                        E mais uma vez, Girafinha Flor continuou o seu caminho. Mas quando ela alcançou a estrada de asfalto preto e brilhante, parou de repente e exclamou:
                        - Eu já descobri o que procurava!
                        - Eu nem preciso ir à cidade mais!
                        E assim pensando, ela voltou para trás e correu o mais depressa que pôde de volta à floresta.
                        Do alto de uma árvore, um papagaio avistou-a e gritou:
                        - Corra, corra, Girafinha, senão a noite chega e você não acha o caminho!
                        Girafinha Flor começou a correr. Mas o dia acabou. A noite chegou. A lua não apareceu.
                        - E agora? perguntou a Girafinha aflita. Como é que vou achar minha casa?
                        - Com seu pescoço comprido, ela espiou por entre os galhos das árvores para pedir ajuda aos passarinhos.
                        Mas os passarinhos dormiam quietinhos e quentinhos nos seus ninhos...
                        Desanimada, a Girafinha baixou a cabeça. E o que você pensa que ela viu?
                        Um bando de vagalumes com suas luzinhas brilhantes que enfeitavam a noite, como se fossem diamantes.
                        - Ajudem-me, por favor! - pediu Girafinha Flor.
                        Os vagalumes se reuniram e formaram uma fita brilhante que piscando dentro da noite indicava o caminho adiante.
                        Girafinha Flor foi seguindo o colar de luzinhas, foi seguindo, até encontrar o seu caminho.
                        Naquela noite, Girafinha Flor dormiu um sono tão gostoso!
                        Sonhou que brincava de roda com os vagalumes, que corria atrás da cabrinha pintada, que conversava com o papagaio.
                        No dia seguinte, Girafinha Flor acordou bem cedinho. Foi para a cozinha e fez doces e salgadinhos. Fez um bolo gostoso e sucos de frutas também.
                        - Eu hoje vou dar uma festa, disse a Girafinha.
                        Uma festa para o meu amigo macaco, o meu amigo coelho cinzento, a minha amiga cabrinha pintada, o meu amigo papagaio, os meus amigos vagalumes...
                        Depois, Girafinha Flor escreveu bonitos convites para a festa e colocou-os na caixa do Pombo-Correio, o carteiro da floresta.
                        Colocou na porta da casa uma tabuleta que dizia: " Sejam bem-vindos, amigos ". Escrito em letras azuis.
                        Foi uma festança! Os amigos cantaram, dançaram, brincaram, comeram, beberam e riram felizes. Depois, todos ajudaram a Girafinha Flor a arrumar a casa.
                        Agora, Girafinha Flor já não é a girafinha mais triste e solitária do mundo. Ela descobriu o remédio para curar a sua solidão. Girafinha Flor encontrou AMIGOS.
                        E você, já encontrou amigos também??

Cristificação Pelo Amor

                                      Joanna de Angelis


                       É certo que gostarias de ser amado, recebendo a afetividade de outrem em demonstrações de carinho conforme as necessidades que acreditas te afligirem.
                       Talvez fosse melhor que te chegassem ao sentimento as expressões retributivas do amor que esparzes, diminuindo-te as carências íntimas, acalmando-te as ansiedades, alegrando-te.
                       O problema, porém, é geral.
                       Não há indivíduo algum que se encontre referto na Terra, nessa área.
                       Quem recebe amor de determinadas pessoas, aspira pelo afeto de outras, que não aquelas que se lhe acercam.
                       Tens o pensamento dirigido para alguém que, possivelmente, não te corresponde, assim como outrem te anela, sem que sintas algo de especial por ele.
                       Se as pessoas se correspondessem na mesma faixa de ternura; se os corações se manifestassem na mesma onda de sentimento; se os afetos se exteriorizassem na mesma vibração de trocas, a Terra já seria o Paraíso desejado. Há, no entanto, infinidade de graus, nos quais se manifestam as emoções. Ninguém, todavia, que viaje a sós.
                       Possivelmente, não te associas com a pessoa de quem gostas, ou não recebes a companhia do ser amado. Todavia, se espraiares o olhar de bondade compreensiva identificarás companhias outras agradáveis, que se encontravam solitárias, porque anelavam por ti e não logravam aproximar-se. São os aparentemente inexplicáveis paradoxos da existência corporal, cujas causas se encontram na conduta passada, quando de outras reencarnações.
                       Ama, desse modo, sem impor-te, sem exigir retribuições. Experiemente querer bem pelo prazer de fazê-lo e descobrirás um filão de ouro atraente, que te propiciarás uma grande fortuna, em forma de paz e de satisfação pessoal.
                       O melhor do amor é amar, e não somente ser amado. A preparação de uma viagem, não raro, é sempre mais agradável do que esta em si mesma ou a chegada que, às vezes, causa frustração e desencanto.
                       As chamadas " pessoas maravilhosas " , por quem te apaixonas, assim o são, porque as desconheces.
                       Todos os homens têm problemas, limitações, defeitos, necessidades.
                       O insucesso das uniões conjugais, na maioria dos casos, resulta da precipitação na escolha, da imaturidade na busca, do apego às ilusões e da efetividade por ídolos de pés de barro, que se despedaçam facilmente.
                       Enobrece-te com o amor, irradiando-o em forma de simpatia, de gentileza, de serviço pelo próximo, de abnegação. Não há quem resista à força do amor sem interesse imediato, sem aprisionamento.
                       Ama, portanto, libertando.
                       Cristifica-te através do amor. Talvez, para conseguí-lo, seja-te necessário crucificar-te nas traves da renúncia e da sublimação. Todavia, somente por meio da crucificação é que alguém se pode cristificar. E o amor, sem dúvida, ainda é o mais suave, perfeito e eficaz instrumento para consegui-lo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Recado ao Senhor 903

                                    Rubem Braga


                          Vizinho -
                          Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em emu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o  senhor ainda teria so seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito, a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 - que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos, apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45 e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está numerada totalmente. E reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio.
                            ... Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: " Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou " e o outro respondesse: " entra vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos para bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela ".
                            E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

Vida Toda Linguagem

                          A vida e a linguagem são inseparáveis. Você sabe: vivemos entre as palavras, fazemos a vida com as palavras. Não há registro de nenhuma sociedade humana que se organize sem linguagem. As palavras atravessam praticamente todas as dimensões de nossa existência, desde os mais secretos sinais dos nossos sonhos até as situações mais objetivas do trabalho cotidiano. Inumeráveis redes de comunicação verbal tecem nossa história, cada dia. Pensamos para falar, falamos para pensar. Por isso, as palavras: para comunicar o vivido e o por viver, para resgatar a memória como também para enunciar desejos, as esperanças, as várias formas de se fecundar o presente e gestar o futuro. O que vivemos. O que amamos. O que sofremos. Existe também o não dito. Não é possível, dizer tudo, ainda que desejasse. Muitas vezes, é difícil dizer algo. Em muitos momentos, lutamos com as palavras - para esclarecer e organizar as nossas próprias ideias, assim como para a travessia de comunicação com os outros. Para que a nossa existência faça sentido. Para que o outro nos reconheça. E também para reconhecer o outro. A nossa voz. As outras vozes. E, apesar de todos os esmagamentos e de todas as desfigurações, vamos praticando as nossas palavras. Somos - todos - capazes de linguagem. Pensamos e falamos as relações da vida cotidiana. De algum modo, fazemos ouvir a nossa voz, ainda que timidamente, ainda que precariamente. Mas, ao escrever, muitas vezes, inumeráveis vezes, não conseguimos expressar nossas ideias, as nossas emoções, nossas palavras!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Reinvenção

                  Cecília Meireles

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo... - mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só - na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Poema Só Para Jaime Ovalle

                              Manuel Bandeira

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

O Menino Louco

                     Mário Quintana

Eu te paguei minha pesada moeda,
Poesia...
Ó teus espelhos deformantes e límpidos
Como a água! Sim, desde menino,
Meus olhos se abriam insones como flores no escuro
Até que, longe, no horizonte, eu via
A Lua vindo, esbelta como um lírio...
Às vezes numa túnica de Infanta
Sonâmbula... Às vezes virginalmente nua...
E era branca como as nozes que os esquilos
descascam na mata...
Pura como um punhal de sacrifício...
(Em meus lábios queimava-se, ignorada, a palavra mágica!)

Desejo

                   Garcia Lorca

Só o teu coração quente,
e nada mais.

Meu paraíso um campo
sem rouxinol
nem liras,
com um rio discreto
e uma fontezinha.

Sem a espera do vento
sobre a fronde,
nem a estrela que quer
ser folha.

Uma enorme luz
que fosse
pirilampo
de outra,
num campo de
olhadas partidas.

Um repouso claro
e ali nossos beijos,
lunares sonoros
do eco,
se abririam muito longe.

E teu coração quente,
nada mais.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Abre Alas

                       Ivan Lins/Vitor Martins

Abre alas pra minha folia
Já está chegando a hora
Abre alas pra minha bandeira
Já está chegando a hora

Apare teus sonhos que a vida tem dono
Ela vem te cobrar
A vida não era assim, não era assim
Não corra o risco de ficar alegre
Pra nunca chorar
A gente não era assim, não era assim

Abre alas...

Encoste esta porta
Que a nossa conversa não pode vazar
A vida não era assim, não era assim
Bandeira arriada
Folia guardada pra não se usar
A festa não era assim, não era assim

Abre alas...


música gravada pelo Quarteto Em Cy em 1975 em plena época de repressão do regime militar; uma letra bem contundente para aquele período...

Imorais

                  Christiaan Oyens/Zélia Duncan

Os imorais
Falam de nós
Do nosso gosto
Nosso encontro
Da nossa voz
Os imorais
Se chocam
Por nós
Nosso brilho
Nosso estilo
Nossos lençóis
Os imorais
Sorriram pra nós
Fingiram trégua
Fizeram média
Venderam paz
Mas um dia, eu sei
A casa cai
E então
A moral da história
Vai estar sempre na glória
De fazermos o que nos satisfaz


faixa do CD Acesso de Zélia Duncan gravado em 1998.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Eu Sei, Mas Não Devia

                               Marina Colasanti

                  Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia.
                  A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque se acostuma a não ter vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o ar, esquece o sol, esquece a amplidão.
                A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá tempo para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
               A gente se acostuma a abrir o jornal e ler sobre a guerra. E aceitando a guerra aceita os mortos
e que haja números para os mortos. E aceitando os números aceita acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
               A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
               A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho para ganhar mais dinheiro para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
               A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
               A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado, o cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. A contaminação da água do mar. A lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
               A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir e ainda fica contente porque tem sempre o sono atrasado.
              A gente se acostuma para não ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, feridas, para esquivar-se da faca, da baioneta, para poupar o peito.
              A gente se acostuma para poupar a vida, que aos poucos se gasta de tanto acostumar e se perde de si mesma.

Metade

                          Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme da calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Texto de Roque Schbeider

Muitas pessoas são ilógicas,
desconcertantes, egocêntricas.
Assim mesmo, dê a elas um voto de confiança.
Praticando o bem,
haverá quem acuse você de interesses ocultos, egoístas.
Assim mesmo, plante bondade.
Se você obtém êxito,
ganhará falsos amigos e verdadeiros inimigos.
Assim mesmo, triunfe.
A honestidade e a franqueza nos tornam vulneráveis.
Assim mesmo, seja honesto e franco.
Os benefícios que fazemos hoje
serão esquecidos amanhã.
Assim mesmo, beneficie seus irmãos.
O melhor homem com as melhores ideias
pode ser destruído pelo homem mesquinho,
de mente acanhada, sem ideias nenhuma.
Assim mesmo, pense e aja com magnanimidade.
Sentimos compaixão pelos fracos,
mas preferimos os fortes.
Assim mesmo, defenda os fracos e necessitados.
O que a gente constrói com anos e anos de trabalho
pode ser derrubado da noite para o dia.
Assim mesmo, continue construindo.
Todos necessitam, realmente, de ajuda.
Não raro, nos atacam, se os ajudamos.
Assim mesmo, continue prestando ajuda.
Se damos ao mundo o melhor de nós mesmos,
talvez a resposta seja uma pedrada, a ingratidão.
Assim mesmo, dê ao mundo o melhor de si mesmo,
o que você possui de mais sagrado,
tudo o que você é.
Ser bom ainda é o melhor!
É necessário que alguns batalhem,
sofram, construam e acreditem
para que muitos sejam felizes!

O Periquito Cor de Lua

                     pesquisa de Diana Pequeno

                 Era uma vez um periquito lindo, encantado. E tinha no canto um som celestial e, nas penas, uma cor indefinível, quase transparente. Uma cor de sonho.
                 De janelinha em janelinha ia o periquito cantando. E as pessoas, fascinadas pelo seu canto, ficavam a sonhar com a Lua.
                 Mas o periquito tinha na Lua sua eterna companheira, uma misteriosa amiga da qual ele queria receber sua luz, aprender mais coisas.
                 Um dia, com as árvores ainda orvalhadas, o periquito encontrou a nuvem Cintila e pediu ajuda:
                 - Eu quero ir para a Lua - disse ele.
                 Cintila ficou assustada e pediu que ele continuasse na Terra.
                 Só que o periquito não desistiu. E saiu voando pelo céu, pousando de nuvem em nuvem, perguntando como poderia ir à Lua. Pousou na Anaconda, na Florisbela (duas nuvens amigas) e elas pediram que desistisse da ideia.
                 - Seu lugar é na Terra, periquito, - elas disseram.
                 Mesmo assim pediram para que ele procurasse Dona Ursa Menor, uma estrela sábia do Universo, sempre sonolenta.
                 - Esqueça, meu periquito, disse Dona Ursa Menor bocejando.
                 Mas o periquito não desistia. Assim, ela, ainda bocejando, disse que procurasse o Cruzeiro do Sul, uma casinha com várias estrelas, senhoras sábias do Universo.
                 ... e o periquito voou até o Cruzeiro do Sul, numa viagem muito longa. E foi à sua Estrela do Norte, a mais distante de todas. Depois de contar o que queria, ela respondeu:
                 - O brilho da Lua não precisa ser visto de perto.
                 E não ensinou o caminho. Nem as estrelas do Leste e Oeste também quiseram dar, pelo menos, uma pista.
                 Foi quando a Estrela do Sul, vendo que o periquito não iria desistir, resolveu ensinar-lhe o caminho.
                 O periquito voou feliz, seguindo a trilha indicada pela estrela. E finalmente chegou a uma Terra estranha, escura, deserta, onde nada brilhava. Só ele. Achou que estava errado, pensou que estivesse em Mércurio ou Plutão, nunca na Lua. Correu para uma areiazinha e perguntou:
                 - Areiazinha, você é da Lua?
                 Ela respondeu que sim, era da Lua. E uma pedrinha, também muito branca, disse:
                 - Eu também sou uma pedra da Lua!
                 O periquito não se conformou. Ele não sabia onde estava o brilho da Lua. " A Lua não brilha? " perguntou a si próprio. " Claro que brilha, claro! " Mas a pedra e  areiazinha eram opacas, não eram brilhantes.
                 Assim chegou a noite, com o periquito muito solitário e triste, andando cabisbaixo. O silêncio era imenso, não havia nenhum ruído. Foi quando encontrou uma árvore, também solitária, e que tinha nos galhos um pássaro cujo canto se parecia com o vento.
                 O periquito enxergou a si próprio, vendo sua imagem na Terra, cantando em suas janelinhas.
                 A árvore, silenciosa, disse:
                 - Não se entristeça, periquitinho. Você apenas viu que o brilho da Lua não precisa ser tocado ou visto de perto. Ele somente existe.
                 A árvore tossiu. Depois continuou:
                 - A realidade é sonho. E tu és um mensageiro do sonho. É seu canto mais sua cor que transportam as pessoas até a Lua, pela emoção.
                 E o periquito percebeu que ele mesmo brilhava muito, mesmo não estando ma Lua. Bastava apenas cantar. Assim, resolveu voltar pra Terra, pensando em cantar novamente nas janelinhas.
                 E assim voou de volta, deixando um rastro brilhante, cor de Lua...