sexta-feira, 30 de março de 2012

E Agora?

                  Roberto Shynyashiki

Um grupo de etólogos japoneses fez uma série de estudos sobre o comportamento animal num arquipélago formado de minúsculas ilhas e pôde observar que os macacos da região comiam batatas sem lavar, ou seja, sujas de terra.

Certo dia, um macaco pequeno resolveu lavar sua batata antes de comê-la e gostou do paladar do tubérculo sem terra. Correu para mostrar a descoberta à sua mãe, que lhe deu uns petelecos.

Porém, o macaquinho não desistiu, e seguiu mostrando sua descoberta para outros filhotes. De vez em quando um deles resolvia experimentar e gostava da comida sem terra.

O grupo de macacos jovens que lavava suas batatas ia aumentando. Finalmente conseguiram convencer alguns de seus pais, que também experimentaram. Mas a tarefa era trabalhosa, pois poucos aderiram.

Um belo dia, os pesquisadores observaram que, de um momento para outro, todos os macacos daquela ilha começaram a lavar a batata antes de comê-la, e, para surpresa de todos, constataram que não somente os macacos daquela ilha, mas também de todo o arquipélago, aderiram à novidade.

Os observadores chegaram à conclusão de que o trabalho de conscientização inicialmente é demorado, poucos aderem, a maioria desqualifica. Mas quando um determinado número de elementos de um grupo social atinge a consciência - que no experimento eles denominam " o centésimo macaco " -, a energia que parte deles contagia toda a comunidade.

Assim como o primeiro macaquinho que fez sua descoberta, é importante que cada ser humano persista em sua revolução interior. O nosso planeta ainda vive atolado no egoísmo e no medo, apesar de todos os discursos e textos a respeito da necessidade de uma maior consciência e cooperação.

A nossa capacidade de transformação social vai aumentar quando mudarmos não só nosso discurso, mas principalmente nossos sentimentos, nossa postura e nossa compreensão da vida.

Conscientes do nosso mundo interior, o trabalho deve ser feito de dentro para fora. Só então poderemos participar verdadeiramente na criação do Novo Homem para o Novo Mundo.

Tomemos cuidado para não criar filhos competitivos sob o pretexto de que terão que enfrentar os desafios do mundo. Não iríamos colocá-los em um quarto cheio de fumaça a fim de prepará-los para viver na poluição ambiental, nem os deixaríamos numa redoma, para protegê-los. Isso os levaria à alienação.

Nem gladiadores insensíveis, nem eremitas solitários, mas pessoas concentradas, em interação com seus semelhantes.

A espécie humana percorreu um longo caminho desde que o primeiro primata resolveu apoiar-se somente sobre seus dois pés posteriores e ver o mundo de frente. O próximo passo é o  indivíduo centrado em seu ser com consciência de cooperação global.

A tarefa é ampla, mas é a única saída para esse caos atual. A meta será atingida á medida que cada pessoa aprender a lavar suas batatas, seus sentimentos e suas crenças e, com seu exemplo ajudar outros a atingirem a sua consciência até chegarmos ao " centésimo macaco ".

Se acreditarmos, acontecerá.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Ensaio Sobre A Amizade

                              Lya Luft


Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração. Na tranquilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.

Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas, arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a  passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: " Estou mal, preciso de você ". E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.

Mais reservado do que expansivo num primeiro momento, mais para tímido, tive sempre muitos conhecidos e poucas, mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar. Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e  brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida. Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.

Amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme - o que é, cá entre nós, uma bela vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar, é poder criticar ( com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amigo é aquele a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: o amigo vai, pega junto com os dele ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.

Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia demais, e ele chega confortando, chamando de " meu amigão ", mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: " Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta ". O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que os amigos não nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com... amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.

Quando em certo período o destino havia aparentemente tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram os amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas. E eram pontas ásperas aquelas. Aguentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesmo (como meu amigo Érico Veríssimo, " eu me amo mas não me admiro ") o suficiente para não ficar amargo. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos. Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas, aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade e carinho.

Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada, estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansado, estou burro, estou irritado ou desatinado, pois à vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante, engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos aguenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor.

Travessia

                     Frei Betto

Lá vamos nós, ávidos pelos feriados que se avizinham, na busca frenética da casa de praia, do sítio, do hotel, da montanha, um lugar que nos distancie da cidade e nos faça merecer descanso, ausência de agenda de trabalho, telefonemas, dificuldades e inseguranças. Tudo cessa. A Bolsa de Valores, as intrigas políticas, o relógio que escraviza. Ainda que a estrada durma sob nossos pneus imóveis e os ônibus viajem entupidos e os aeroportos se transformem numa feira oriental, vale a ilusão de que haverá sol, as crianças se comportarão como anjos, não faltarão a mesa farta e os copos repletos. Sobretudo paz, fruto espiritual que insistimos em procurar alhures.

Nada mais profano em nossa sociedade que a Semana Santa, exceto o Carnaval. Eis a Modernidade iconoclasta, dessacralizando hábitos e calendários. Outrora, não havia janelas eletrônicas e as novelas eram transmitidas ao vivo nas ruas atulhadas de romeiros e procissões. Na igreja, a cerimônia do lava-pés sobressaindo-se à instituição da eucaristia. Na Sexta-Feira da Paixão, a música clássica das rádios compungidas, as imagens cobertas de roxo, o Senhor morto desfilando sobre os nossos pecados. Jejum e abstinência para uns, peixes e crustáceos para os mais abastados. No sábado, a espera da noite de Aleluia, que resgatava a alegria da Páscoa. Jesus ressuscitou! Domingo de missa alva e o alívio por saber que Ele venceu a morte.

Páscoa significa " passagem ", da opressão à libertação (a travessia do Mar Vermelho, no Êxodo) e da morte à vida (Jesus). Ainda que nada disso diga respeito ao nosso universo pessoal, tão centrado no próprio umbigo, orbitando na tríade família-trabalho-consumo, somos trespassados pela expectativa de uma travessia. Misteriosa espera de algo ou alguém que nos conduza da mediocridade ao meritório, do vazio à plenitude, da rotina ao sentido, do desencanto ao fascínio. O anjo selou-nos com a fome de transcendência. No mais íntimo, sabemos que do lado de fora de nosso ser nada pode aplacar essa sede de plenitude, exceto o amor e o mergulho despojado no silêncio interior, lá onde um Outro resgata a nossa verdadeira identidade.

Um dia um homem peregrinou pela Palestina revelando o que Deus gostaria de nos dizer. Muitos não fizeram caso, a própria família desconfiou de que ficara louco e o poder vigente condenou-o à morte na cruz para que não perturbasse o ordem do Império. Foi crucificado. Em seguida, apareceu vivo a seus discípulos, que nos transmitiram a fé em sua ressurreição.

José Lezama Lima, autor do belo e enigmático Paradiso , fez-se cristão por causa dessa afirmação de Tertuliano: " O filho de Deus foi crucificado: não é vergonhoso porque é infame; o filho de Deus morreu: é ainda mais digno de fé porque é incrível; e depois de morto, ressuscitou: é verdade porque é impossível ".

E, para nós, é vergonhoso crucificar ambições que nos roubam de nós mesmos, acreditar no mistério que ultrapassa a razão e renascer à vida interior e à solidariedade que instaura justiça? O caminho se faz ao caminhar, preveniu-nos Antônio Machado. Talvez renascer no decorrer da vida seja mais atemorizador do que a própria morte. É o lamento de Fernando Pessoa: " Fui o que não sou ". A Páscoa sinaliza que ainda há tempo. Contudo, é preciso não ter medo de ficar descalço, como na Quinta-Feira Santa, e de atravessar a noite escura da Sexta-Feira da Paixão. Então, conheceremos a verdade e a verdade nos libertará, assegura Aquele que é o paradigma.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Perséfone*

                      Flora J. Cooker


Deméter** tinha a seu cuidado todas as plantas, frutas e sementes do mundo. Ensinava os homens a arar os campos e a plantar as sementes. Ajudava-os nas suas colheitas. Eles amavam a bondosa mãe Terra e,  prazerosamente, lhe obedeciam. Gostavam também de sua filha - a bela Perséfone.

Perséfone passeava o dia todo entre as flores dos prados. Onde quer que fosse, os pássaros, cantando alegremente, voavam, em bandos, atrás dela.

O povo dizia: 
- Onde Perséfone estiver, estão os quentes raios de sol; quando ela sorri, as flores desabrocham. Ouçam a sua voz: é como um chilrear de passarinhos.

Deméter queria sempre que a filha estivesse a seu lado. Mas, um dia, Perséfone foi sozinha a uma campina, próxima ao mar. Fez uma grinalda de flores delicadas para os cabelos e colheu todas as que lhe couberam no avental.

Logo, do outro lado do prado, a jovem viu uma flor branca, resplandecente. Correu para ela e verificou que era um pé de narciso, muito mais bonito do que qualquer outro que houvesse visto. Em uma só haste havia umas cem flores. Perséfone procurou apanhar uma, mas a haste não se quebrou. Com toda força, procurou arrancá-la; lentamente, o narciso veio com raiz e tudo.

Ficou, na terra, uma grande cavidade que aos poucos foi aumentando. Logo Perséfone ouviu um reboar como o de um trovão, sob os pés. depois, viu quatro cavalos negros emergindo da cavidade em direção a ela. Atrás deles, vinha um carro feito de ouro e pedras preciosas. Nele estava sentado um homem moreno e  carrancudo. Era Hades.***

Ele vinha das profundezas do seu reino de trevas e protegia os olhos com as mãos. Hades viu Perséfone no campo ensolarado, bela entre as flores. Aproximou-se, tomou-as nos braços e colocou-a na carruagem a seu lado.

As flores caíram-lhe do avental.
- Oh! As minhas lindas flores! gritou. Perdi-as todas.

Então, ela olhou o rosto severo de Hades. Amedrontada,  estendeu as mãos ao gentil Apolo**** que conduzia sua carruagem pelo céu. Clamou por sua mãe, Deméter, para que a socorresse. Ninguém lhe respondeu.

Hades conduziu o coche para o seu lar escuro, nas profundezas da Terra. Os cavalos pareciam voar. Quando entraram nas trevas, Hades procurou consolar Perséfone. Falou-lhe das maravilhas de seu reino, de todo o ouro, prata e pedras preciosas que possuía. À luz mortiça, enquanto seguiam, Perséfone viu pedras luzindo de todos os lados, mas não se importou com elas e chorou amargamente.

- Tenho vivido muito só em meu vasto reino, disse-lhe Hades. Levo-a para o meu palácio a fim de fazê-la minha rainha. Você compartilhará de minhas riquezas.

Perséfone, porém, não queria ser rainha. Desejava apenas estar junto de sua mãe, do sol brilhante e das campinas docemente perfumadas.
Breve chegaram ao palácio de Hades. Perséfone achou-o muito escuro, desolado e também muito frio. Havia um festim preparado para ela, mas a jovem não quis comer coisa alguma. Sabia que aquele que comesse no palácio de Hades nunca mais retornaria à terra. Sentia-se infeliz, embora Hades tentasse, por todos os meios, agradar-lhe.

Tudo sobre a Terra estava triste também.
Uma por uma, as flores fecharam suas corolas e disseram:
- Não podemos desabrochar, porque Perséfone foi embora.
As árvores deixaram cair as folhas e lamentaram-se:
- Perséfone não volta mais, nunca mais.


Os pássaros voaram para longe , queixando-se:
- Não podemos cantar mais, porque Perséfone foi embora.


Deméter estava mais desesperada que todos. Ouvira o apelo de Perséfone e apressara-se a procurá-la. Em vão buscou a filha por todos os cantos da Terra.
Perguntava a todos que encontrava no caminho:
- Viram Perséfone? Onde está Perséfone?


A única resposta que recebia era:
- Foi-se embora. Perséfone não volta mais!


Em pouco tempo, Deméter se tornou uma velha, de rosto enrugado. Ninguém reconhecia nela aquela mãe bondosa que sempre sorria para todos. Envolvera-se de luto, dia e noite; suas grossas lágrimas caíam continuamente sobre o solo frio. Nada mais cresceu na Terra e tudo se tornou triste e estéril.

Era inútil o povo lavrar o solo. Era inútil plantar sementes. Nada poderia medrar sem o auxílio de Deméter e todos se tornaram preguiçosos e melancólicos.

Deméter perambulou por muitas terras e quando se certificou de que ninguém, no mundo, lhe poderia dar notícias de Perséfone voltou os olhos para o céu. Lá, viu Apolo na sua carruagem cintilante. Não ia tão alto como costumava ir, porque não queria ser encoberto pela névoa escura que, por muitos dias, não o deixara ser visto por pessoa alguma.

Deméter estava certa de que ele sabia onde se encontrava Perséfone, porque podia ver todas as coisas na Terra e no Céu.
- Ó grande Apolo! exclamou, tende piedade de mim e dizei-me onde está escondida minha filha.


Apolo, então, lhe disse que Hades a havia levado; que Perséfone estava com ele em seu palácio subterrâneo.
Deméter correu ao grande Pai Zeus***** que podia fazer todas as coisa. Pediu-lhe que mandasse alguém a Hades buscar sua filha. Zeus chamou Hermes******. Ordenou-lhe que fosse, tão depressa quanto o vento, ao palácio de Hades.

Hermes obedeceu, alegremente, e segredou a boa nova a todos os que encontrou no caminho.
Logo chegou ao escuro reino subterrâneo. Entregou a Hades a mensagem de Zeus. Falou das terras estéreis e de como Deméter se cobrira de luto pela filha. Disse que ela não deixaria nada medrar até que Perséfone voltasse.

- O povo morrerá de fome se ela não voltar logo, disse-lhe.

Quando Perséfone soube da visita de Hermes, chorou amargamente, porque, naquele mesmo dia, havia comido uma romã e engolido seis sementes, e lembrou-se de que quem houvesse comido no palácio de Hades não mais podeira voltar à Terra.

Mas Hades teve pena dela e disse:
- Vá, Perséfone, retorne à luz do sol. A lei, porém, deve ser obedecida: terá de voltar todos os anos e ficar comigo seis meses, porque foram seis as sementes que comeu. É só o que peço.


A alegria deu-lhe asas e, tão depressa como o próprio Hermes, Perséfone voou para a luz do sol.
Subitamente, as flores desabrocharam. Os pássaros formaram bandos e cantava; das árvores, nasceram folhas verdes e luzidias. Todos, grandes e pequenos, começaram a dizer, em sua própria linguagem:
- Sejamos felizes, pois Perséfone voltou! Perséfone voltou!


Deméter estava tão mergulhada em seu sofrimento que não atinou, de pronto, com aquelas vozes. Logo, porém, notou as grandes mudanças em redor e ficou confusa.
- Como pode a terra ser tão ingrata! Como pôde, em tão  pouco tempo, esquecer a minha doce Perséfone? disse Deméter.

Não demorou muito, entretanto, para se tornar radiante o seu rosto. Deméter voltou a ser a bondosa mãe Terra, porque tinha de novo, nos braços, a bem-amada filha.

Ao saber que Perséfone só poderia ficar em sua companhia metade do ano, trouxe-lhe os mais ricos tesouros. Sempre que Perséfone chegava, o mundo se enchia de beleza e alegria.

Quando ela se ia, Deméter cobria, cuidadosamente, os rios, os lagos, e estendia um leve lençol sobre a Terra adormecida...

* Perséfone: nome grego de Prosérpina.
** Deméter: nome grego de Ceres, a deusa da agricultura.
*** Hades: nome grego de Plutão, o rei dos infernos.
**** Apolo ou Febo: o deus-Sol.
***** Zeus: nome grego de Júpiter, o pai dos deuses.
****** Hermes: nome grego de Mercúrio, o mensageiro dos deuses.

domingo, 25 de março de 2012

Os Estatutos do Homem

             (Ato Institucional Permanente)
                                             Thiago de Mello


Artigo I: Fica decretado que agora vale a verdade,
             que agora vale a vida,
             e que de mãos dadas,
             trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II: Fica decretado que todos os dias da semana,
              inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
              têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III: Fica decretado que, a partir deste instante,
               haverá girassóis em todas as janelas,
               que os girassóis terão direito
               a abrir-se dentro da sombra;
               e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
               abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV: Fica decretado que o homem
               não precisará nunca mais
               duvidar do homem.
               Que o homem confiará no homem
               como a palmeira confia no vento,
               como o vento confia no ar,
               como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo Único: O homem confiará no homem
                           como um menino confia em outro menino.

Artigo V: Fica decretado que os homens
               estão livres do jugo da mentira.
               Nunca mais será preciso usar
               a couraça do silêncio
               nem a armadura de palavras.
               O homem se sentará à mesa
               com seu olhar limpo
               porque a verdade passará a ser servida
               antes da sobremesa.

Artigo VI: Fica estabelecida, durante dez séculos,
               a prática sonhada pelo profeta Isaías,
               e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
               e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII: Por decreto irrevogável fica estabelecido
                o reinado permanente da justiça e da claridade,
                e a alegria será uma bandeira generosa
                para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII: Fica decretado que a maior dor
                 sempre foi e será sempre
                 não poder dar-se amor a quem se ama
                 e saber que é a água
                 que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX: Fica permitido que o pão de cada dia
               tenha no homem o sinal de seu suor.
               Mas que sobretudo tenha sempre
               o quente sabor da ternura.

Artigo X: Fica permitido a qualquer pessoa,
              a qualquer hora da vida,
              o uso do traje branco.

Artigo XI: Fica decretado, por definição,
               que o homem é um animal que ama
               e que por isso é belo,
               muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII: Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
                Tudo será permitido,
                inclusive brincar com os rinocerontes
                e caminhar pelas tardes
                com um imensa begônia na lapela. 

Parágrafo Único: Só uma coisa fica proibida:
                           amar sem amor.

Artigo XIII: Fica decretado que o dinheiro
                 não poderá nunca mais comprar
                 o sol das manhas vindouras.
                 Expulso do grande baú do medo,
                 o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
                 para defender o direito de cantar
                 e a festa do dia que chegou.

Artigo Final: Fica proibido o uso da palavra liberdade,
                    a qual será suprimida dos dicionários
                    e do pântano enganoso das bocas.
                    A partir deste instante
                    a liberdade será algo vivo e transparente
                    como um fogo ou um rio,
                    e a sua morada será sempre
                    o coração do homem.

Corcovado Sem Seu Senhor

                             Klébi Nori

Redentor desceu pro mar
quis pisar na areia
e pra fazer diferente
eis Redentor pessoalmente
em nova Santa Ceia
Cansou de posar de estátua
quis sentir na veia
pôs boné e havaiana
foi medir Copacabana
guarda-sol, conversa alheia
Ah! Redentor, Redentor
ele mesmo foi quem fotografou
o Corcovado sem seu Redentor
Redentor quis conversar
e chamou sereia
disse que é prevaricação
só ser vista de raspão
na maré baixa indo pra cheia
Redentor foi pra Avenida       
dar sorte pra Mangueira
mas logo saiu da área
foi rezar na Candelária
uma noite inteira
Ah! Redentor...
Redentor deixou seu manto
pra lavar num tanque
de uma boa nega ateia
que se diz lá da Judeia
e quer  ensinar-lhe um funk
Redentor quis posto nove
é simpatizante
mas achou um pouco cedo
ir pra Farme de Amoedo
e também já viu bastante
Ah! Redentor...
Ao Redentor faltou pisar
no seu Maracanã
assim jogou no esqueleto
um sutil vermelho e preto
ficou lá desde manhã
Mas Redentor mostrou cansaço
pensou em viajar
e reivindicando férias
tomou uma ponte aérea
carioca não vai gostar
Ah! Redentor, Redentor
se declarou fã
fã mesmo de Adoniran
e foi assim que deu-lhe um estaulo
Redentor vai se mudar pro Pico do Jaraguá
zona oeste de São Paulo

faixa do CD " Daqui " da cantora paulistana Klébi Nori gravado em 2007.

Outro amor não quero

                       Rildo Hora/ Roque Ferreira

São João, ô São João
Eu pedi a Santo Antônio
Pra fazer meu bem voltar
E o Santo casamenteiro
Sem saber seu paradeiro
Mandou outro em seu lugar
Ô, São João
Acorda, meu São João
Fala aí, com Santo Antônio
Que outro amor não quero não

Hoje eu não pulo fogueira
Hoje eu não solto balão
Nem vou fazer brincadeira
Na beira do ribeirão
Se Santo Antônio tivesse
Seu bem também que nem eu
Ouvindo a minha prece
Não dava o bolo que deu
Ô, João, não me esquece
Manda pra mim o que é meu

Essa noite eu não vou dormir
Ai de mim, São João, tem dó
Só meu bem que me faz sorrir
Só ele, ele só

música presente no CD duplo " Joanna 20 anos ao vivo " lançado em 1999.

sábado, 24 de março de 2012

Cercas ou Pontes

Dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primeira grande desavença em toda uma vida de trabalho lado a lado. Mas agora tudo havia mudado. O que começou com um pequeno mal entendido, finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de total silêncio.

Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta. Era um homem que se dizia um carpinteiro.
- Estou procurando um trabalho, disse a ele. Talvez você tenha algum serviço para mim.

- Sim, disse o fazendeiro. Claro! Vê aquela fazenda ali além do riacho? É do meu vizinho. Na realidade, do meu irmão mais novo. Nós brigamos e não posso mais suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira ali no celeiro?
Pois use para construir uma cerca bem alta.

- Acho que entendo a situação, disse o carpinteiro. Mostre-me onde estão a pá e os pregos. O irmão mais velho entregou o material e foi para a cidade. O homem ficou ali cortando, mediando, trabalhando o dia inteiro.

Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez de cerca, uma ponte foi construída ali, ligando as duas margens do riacho. Era um belo trabalho, mas o fazendeiro ficou enfurecido e falou:

- Você foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo que lhe contei.

Mas as surpresas não pararam aí. Ao olhar novamente para a ponte viu o seu irmão se aproximando de braços abertos. Por um instante permaneceu imóvel do seu lado do rio. O irmão mais novo, então falou:
- Você realmente foi muito amigo, construindo este ponte mesmo depois do que eu lhe disse.

De repente, num só impulso, o irmão mais velho correu na direção do outro e abraçaram-se, chorando no meio da ponte.
O carpinteiro que fez o trabalho partiu com sua caixa de ferramentas.
- Espere, fique conosco! Tenho outros trabalhos para você.
E o carpinteiro respondeu:
- Eu adoraria, mas tenho outras pontes a construir...

autoria desconhecida

A lição dos gansos

Quando um ganso bate as asas, cria um vácuo para o pássaro seguinte. Voando numa formação em " V ", o bando inteiro tem o seu desempenho 71% melhor do que se a ave voasse sozinha!
Lição: Pessoas que compartilham uma direção comum e senso de comunidade, podem atingir seus objetivos mais rápido e facilmente.

Sempre que um ganso sai da formação, sente subitamente a resistência por tentar voar sozinho e, rapidamente, volta para a formação, aproveitando o Vácuo da ave imediatamente a sua frente.
Lição: Se tivermos tanta sensibilidade quanto um ganso, permaneceremos em formação com aqueles que se dirigem para onde pretendemos ir e nos disporemos a aceitar a sua grande ajuda, assim como prestar a nossa ajuda aos outros.

Quando o ganso líder se cansa, muda para trás na formação e, imediatamente, um outro ganso assume o lugar voando para a posição de ponta.
Lição: É preciso acontecer um revezamento das tarefas pesadas e dividir a liderança. As pessoas, assim como os gansos, são dependentes umas das outras.

Os gansos de trás, na formação, grasnam para incentivar e encorajar os da frente a aumentar a velocidade.
Lição: Precisamos nos assegurar de que o nosso " grasno " seja encorajador para que a nossa equipe aumente o seu desempenho.

Quando um ganso fica doente, ferido ou é abatido, dois gansos saem da formação e seguem-no para ajudá-lo e protegê-lo. Ficam com ele até que ele esteja apto a voar de novo ou morra. Se assim, eles voltam ao procedimento normal, com outra formação ou vão atrás de outro bando.
Lição: Se nós tivermos bom senso tanto quanto os gansos, também estaremos ao lado dos outros nos momentos difíceis.


autoria desconhecida

quarta-feira, 21 de março de 2012

Sentado à beira do caminho

                            Roberto/Erasmo

Eu não posso mais ficar aqui a esperar
Que um dia, de repente, você volte para mim
Vejo caminhões e carros apressados a passar por mim
Estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim
Meu olhar se perde na poeira dessa estrada triste
Onde a tristeza e a saudade de você ainda existem
Esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança
De ao menos ver de perto o seu olhar que eu trago na lembrança

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Eu existo, eu existo

Vem a chuva e molha o meu rosto e então eu choro tanto
Minhas lágrimas e os pingos dessa chuva
Se confundem com meu pranto
Olho pra mim mesmo, me procuro e não encontro nada
Sou um pobre resto de esperança à beira de uma estrada

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Eu existo, eu existo

Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo
Se confunde em minha mente
Minha sombra me acompanha 
E vê que eu estou morrendo lentamente
Só você não vê que eu não posso mais ficar aqui sozinho
Esperando a vida inteira por você
Sentado à beira do caminho

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Eu existo, eu existo

Esta música já é um clássico da MPB; gosto de todas as gravações feitas até hoje (que eu conheço).
Retirei do CD Na Ponta da Língua, de Leila Pinheiro, gravado em 1998. A gravação original é a da dupla de autores em um belo dueto. Além da Leila, outras cantoras também regravaram lindamente a canção: Rosana, Wanderléa e, recentemente, Zizi Possi em um dos DVD's comemorativos dos seus 30 anos de carreira intitulado Cantos e Contos.


ela é um recado...

terça-feira, 20 de março de 2012

Trecho 1 (Livro do Desassossego)

                     Fernando Pessoa

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens havia perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os maiores a haviam tido - sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comumente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.

A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstração do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.

Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito às leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como os débeis do entretimento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida.

Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objetividade ao prazer subjetivo da leitura.

Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também as descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde.

Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incômodo. Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para de distrair, sem mais nada.

Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.


Os signos e a lâmpada

Quantos arianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Apenas um, mas serão necessários muitas lâmpadas.

Quantos taurinos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Nenhum: taurinos não gostam de mudar nada.

Quantos geminianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Dois (é claro). Vai durar o fim de semana inteiro, mas quando estiver pronto, a lâmpada vai fazer o serviço da casa, falar francês e ficar da cor que você quiser.

Quantos cancerianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Somente um, mas levará três anos para um terapeuta ajudá-lo a passar pelo processo.

Quantos leoninos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Um leonino não troca lâmpadas, a não ser que ele segure a lâmpada e o mundo gire em torno dele.

Quantos virginianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Vamos ver: um para girar a lâmpada, um para anotar quando a lâmpada queimou e a data em que ela foi comprada; outro para decidir de quem foi a culpa da lâmpada ter sido queimada e perguntar; dez para decidir como remodelar a casa enquanto o resto troca a lâmpada...

Quantos librianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Bom, na realidade, eu não sei. Acho que depende de quando a lâmpada foi queimada. Talvez só um, se for uma lâmpada comum, mas talvez dois se a pessoa não souber onde encontrar uma lâmpada, ou...

Quantos escorpianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Mas quem quer saber? Por que " você " quer saber? Você é policial?

Quantos sagitarianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- O sol está brilhando, está cedo, nós temos a vida inteira pela frente e você está preocupado em trocar uma lâmpada estúpida?

Quantos capricornianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Nenhum. Capricornianos não trocam lâmpadas - a não ser que seja um negócio lucrativo.

Quantos aquarianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Vão aparecer centenas, todos competindo para ver quem será o único a trazer a luz ao mundo.

Quantos piscianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- O quê? A luz está apagada?

segunda-feira, 19 de março de 2012

Angel of the morning

                                    Chip Taylor


There'll be no strings to bind your hands
not if my love can't bind your heart.
And there's no need to take a stand
for it was I who chose to start.
I see no need to take me home,
I'm old enough to face the dawn.

Just call me angel of the morning, angel
just touch my cheek before you leave me, baby.
Just call me angel of the morning, angel
then slowly turn away from me.

Maybe the sun's light will be dim
and it won't matter anyhow.
If morning's echo says we vw sinned,
well, it was what I wanted now.
And if we're the victims of the nignt,
I won't be blinded by light.

Just call me angel of the morning, angel
just touch my cheek before you leave me, baby.
Just call me angel of the morning, angel
then slowly turn away,
I won't beg you to stay with me
through the tears of the day,
of the years, baby baby baby.
Just call me angel of the morning, angel
just touch my cheek before you leave me , baby.


Não existirão cordas para amarrar suas mãos,
Não se meu amor não puder amarrar seu coração.
Não há necessidade de tomar uma atitude,
Porque fui eu que escolhi começar.
Eu não vejo necessidade de me levar para casa,
Sou velho o suficiente para enfrentar o amanhecer.

Apenas me chame de anjo da manhã, anjo
Apenas toque minha face antes de me deixar, menino.
Apenas me chame de anjo da manhã, anjo
Então lentamente afaste-se de mim.

Talvez a luz do sol esteja embaçada
E isso não vai importar, de qualquer modo.
Se o eco da manhã disser que nós pecamos,
Bem, era o que eu queria neste momento.
E se nós formos vítimas da noite,
Eu não serei ofuscado pela luz.

Apenas me chame de anjo da manhã, anjo
Apenas toque em minha face antes de me deixar, menino.
Apenas me chame de anjo da manhã, anjo.
Então, lentamente afaste-se...
Eu não te pedirei para ficar comigo,
Em meio às lágrimas do dia, dos anos, menino.

Apenas me chame de anjo da manhã, anjo
Apenas toque em minha face antes de me deixar, menino.
Apenas me chame de anjo da manhã, anjo
Apenas toque em minha face antes de me deixar, querido.

Apenas me chame de anjo da manhã, anjo.
Apenas toque em minha face antes de me deixar, querido.

Esta é outra canção estrangeira que fez parte da minha adolescência e que ainda hoje me é muito importante.
Busquei a letra e a tradução e confirmei a sua beleza. Bela voz a da cantora, Juice Newton. A música é de 1981.

domingo, 18 de março de 2012

Tornerai Tornerò

                      Pareti/ Vecchioni/ Wermar

La piazzetta del mercado e'ancora là,
Le magliette sono uguali a un anno fa
Mi ricordo che, la volevi tu
Quella con " ti amo " scritto su

Con gli amici passo il tempo solo un po'
E se chiedono ridendo con chi sto
Io rispondo che, amo sempre te
Che da un momento all'altro arriverai

Tornerai tornerò
Con il tempo non si può scommettere mai
E quello che succede non lo sai
Ti perdo ad ogni giorno sempre un po'

Tornerai tornerò
Ridicolo pensarci amore mio
Al primo incontro è stato già un addio
Tornerai tornerò...

Ti ricordi il prato della ferrovia
Rotolavi sporca d'erba e di allegria
Erano le sei, io ti ho chiesto; " vuoi? "
Poi cantavi nel venire via
Tornerai Tornerò...


A praça do mercado ainda está lá
As camisas ainda são as mesmas de há um ano
Eu me lembro que você queria
A única escrita " eu te amo "

Com os amigos eu passo um pouco do tempo
E se perguntar como estou indo
Eu respondo que te amo para sempre
Que a qualquer momento você vai chegar

Você vai voltar, vai voltar?
Com o tempo, você não pode apostar nunca
E você não sabe o que acontece
Te perco um pouco mais a cada dia

Você vai voltar, vai voltar?
Ridículo pensar sobre o meu amor
No primeiro encontro já foi um adeus

Você vai voltar, vai voltar?
Recordo do gramado da ferrovia
Rolamos de alegria na grama suja
Era seis e eu perguntei: você quer?
Depois saímos cantando pela rua

Acho que esta canção foi o meu primeiro contato com a música estrangeira; não me lembro como foi que a ouvi; eu não entendia nada, mas meu inconsciente já sabia de minha ascendência italiana... não sei ao certo, mas esta música deve ser de 1975 ou 1976. Um quarteto masculino chamado Homo Sapiens interpretava a canção.

sábado, 17 de março de 2012

Aula de sociologia política para crianças

- Pai, eu preciso fazer um trabalho para a escola. Posso te fazer uma pergunta?
- Claro, meu filho. Qual é a pergunta?
- O que é política, pai?
- Bem... Política envolve:
1- Povo

2- Governo

3- Poder Econômico

4- Classe Trabalhadora

5- Futuro do país

- Não entendi. Dá pra explicar?
- Bem, vou usar a nossa casa como exemplo:
- Sou eu quem traz dinheiro para casa. Então, eu sou o poder econômico.
  Sua mãe administra, gasta o dinheiro. Então ela é o governo.
  Como nós cuidamos das suas necessidades, você é o povo.
  Seu irmãozinho é o futuro do país e a Zefinha, a babá dele, é a classe trabalhadora.
- Entendeu, filho?
- Mais ou menos, pai. Vou pensar!

Naquela noite, acordado pelo choro do irmão neném, o menino foi ver o que havia de errado. Descobriu que o neném tinha sujado a fralda e estava todo emporcalhado. Foi ao quarto dos pais e sua mãe estava num sono muito pesado. Foi ao quarto da babá e viu, através da fechadura, o pai na cama transando com ela. Como os dois nem percebiam as batidas que o menino dava na porta, ele voltou para o quarto e dormiu. 
Na manhã seguinte, na hora do café, ele falou para o pai:
- Pai, agora acho que entendi o que é política.
- Ótimo, meu filho! Então me explica com suas palavras.
- Bom, pai, acho que é assim:
- Enquanto o poder econômico fode a classe trabalhadora, o governo dorme profundamente. O povo é totalmente ignorado e o futuro do país fica na merda...

Sabe o que é o amor??

" O amor não é algo que o faz sair do chão e o transporta para lugares que você nunca viu. "
O nome disso é avião. O amor é outra coisa.

" O amor não é uma coisa que você esconde dentro de si e não mostra para ninguém. "
Isso se chama vibrador tailandês de três velocidades. O amor é outra coisa.

" O amor não é uma coisa que te faz perder a respiração e a fala. "
O nome disso é bronquite asmática. O amor é  outra coisa.

" O amor não é uma coisa que chega de repente e o transforma em refém. "
Isso se chama sequestrador. O amor é outra coisa.

" O amor não é uma coisa que voa alto no céu e deixa sua marca por onde passa. "
Isso se chama pombo com caganeira. O amor é outra coisa.

" O amor não é uma coisa que você pode prender ou botar pra fora de casa quando bem entender. "
Isso se chama cachorro. O amor é outra coisa.

" O amor não é uma coisa cinza que lançou uma luz sobre ti, o levou pra ver estrelas e o trouxe de volta com algo dele dentro de você. " Isso se chama alienígena. O amor é outra coisa.

" O amor não é uma coisa que desapareceu e que, se encontrado, poderia mudar o que está diante de você. " Isso se chama controle remoto da TV. O amor é outra coisa.

O japonês bom de História

Suzuki, o garoto japonês craque em História.

No primeiro dia de aulas numa escola secundária dos EUA, a professora apresentou aos alunos um novo colega, Sakiro Suzuki, do Japão.
A aula começa e a professora:
- Vamos ver quem conhece a história americana.
- Quem disse: " Dê-me a liberdade ou a morte? "
Silêncio total na sala.
Então Suzuki levanta a mão e diz:
- Patrick Henry em 1775 em Filadélfia.
- Muito bem, Suzuki. E quem disse: " O estado é o povo, e o povo não pode afundar-se? "
Suzuki:
- Abrahan Lincoln em 1863 em Washington.
A professora olha os alunos e diz:
- Vocês não têm vergonha? Suzuki é japonês e sabe mais sobre a história americana que vocês!
Então, ouve-se uma voz baixinha, lá no fundo:
- Vai tomar no cu, japonês de merda!
Mas a professora ouviu.
- Quem foi?, grita a professora.
Suzuki levanta a mão e, sem esperar, responde:
- General McArthur em 1942 em Guadalcanal, e Lee Iacocca em 1982 na Assembleia Geral da Chrysler.
A turma fica supersilenciosa, apenas ouve-se do fundo da  sala:
- Acho que vou vomitar.
A professora grita:
- Quem foi?
E Suzuki:
- George Bush (pai) ao Primeiro-Ministro Tanaka durante um almoço, em Tókio, em 1991.
Um dos alunos grita:
- Chupa o meu pau!
E a professora irritada:
- Acabou-se! Quem foi agora?
E Suzuki, sem hesitações:
- Bill Clinton a Mônica Lewinsky, na Sala Oval da Casa Branca, em Washington, em 1997.
E outro aluno se levanta e grita:
- Suzuki é uma merda!
E Suzuki responde:
- Valentino Rossi no Grande Prêmio de Moto no Rio de Janeiro em 2002.
A turma fica histérica, a professora desmaia, a porta se abre e entra o diretor, que diz:
- Que merda é essa? Nunca vi uma confusão dessas! "
Suzuki:
- Lula para o ministro da Casa Civil, José Dirceu, após as denúncias de corrupção do assessor Waldomiro Diniz, em fevereiro de 2004, em Brasília.

"Foda-se"

                  Millor Fernandes

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se" que  ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?? O "foda-se" aumenta minha autoestima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. " Não quer sair comigo? Então foda-se! ". " Vai querer decidir essa merda sozinho mesmo? Então foda-se! ". O direito ao " foda-se " deveria estar assegurado na Constituição Federal. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. " Pra caralho ", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade do que " Pra caralho "? " Pra caralho " tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do " Pra Caralho ", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso " Nem Fodendo! ". O " Não, não é não! " é tão pouco ou nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade " Não, absolutamente não! " o substituem.
O " Nem Fodendo " é irretorquível  liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca sua paciência. Solte logo um definitivo " Marquinhos, presta atenção, filho querido, Nem Fodendo! " . O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o " Porra Nenhuma! " atendeu tão plenamente às situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um " é PHD porra nenhuma! ", ou " ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma! ".
O " porra nenhuma ", como vocês podem ver, nos prove sensações de incrível bem estar interior. É como se estivessem os fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos " aspone ", " chepone ", " repone " e mais recentemente, o " prepone " - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um " Puta-que-pariu! ", ou seu correlato " Puta-que-o-pariu! ", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante qualquer um " puta-que-o-pariu " dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso " vai tomar no cu "? E sua maravilhosa e reforçadora " vai tomar no olho do seu cu "? Já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: " Chega! vai tomar no olho do seu cu ". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua autoestima. Desabotoa a camisa e sai na rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: " Fodeu ". E sua derivação mais avassaladora ainda: " Fodeu de vez! ". Você conhece a definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? " Fodeu de vez! ".

Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Foda-se!!!


segunda-feira, 12 de março de 2012

Trecho de Rubem Alves

As coisas do mundo humano apresentam uma curiosa propriedade. Já sabemos que elas são diferentes daquelas que constituem a natureza. A existência da água e do ar, a alternância entre o dia e a noite, a composição do ácido sulfúrico e o ponto de congelamento da água em nada dependem da vontade do homem. Ainda que ele nunca tivesse existido, a natureza estaria aí, passando muito bem, talvez melhor... Com a cultura, as coisas são diferentes. A transmissão da herança, os direitos sexuais dos homens e das mulheres, atos que constituem crimes e castigos que são aplicados, os adornos, o dinheiro, a propriedade, a linguagem, a arte culinária, tudo isto surgiu da atividade dos homens. Quando os homens desaparecerem, estas coisas desaparecerão também.

Aqui está a curiosa propriedade a que nos referimos: nós nos esquecemos de que as coisas culturais foram inventadas e que, por esta razão, elas aparecem aos nossos olhos como se fossem naturais. Na gíria filosófica-sociológica este processo recebe o nome de reificação. Seria mais fácil se falássemos em coisificação, pois é isto mesmo que a palavra quer dizer, já que ela deriva do latim res, rei, que quer dizer " coisa ". Isto acontece, em parte, porque as crianças, ao nascerem, já encontram um mundo social pronto, tão pronto e tão sólido quanto a natureza. Elas não viram este mundo saindo das mãos dos seus criadores, como se fosse cerâmica recém moldada nas mãos do oleiro. Além disto, as gerações mais velhas, interessadas em preservar o mundo frágil por elas construído com tanto cuidado, tratam de esconder dos mais novos, inconscientemente, a qualidade artificial (e precária) das coisas que estão aí. Porque, caso contrário, os jovens poderiam começar a ter ideias perigosas... De fato, se tudo o que constitui o mundo humano é artificial e convencional, então este mundo pode ser abolido e refeito de outra forma. Mas quem se atreveria a pensar pensamentos como este em relação a um mundo que tivesse a solidez das coisas naturais?

Isto se aplica de maneira peculiar aos símbolos. De tanto serem repetidos e compartilhados, de tanto serem usados, com sucesso, à guisa de receitas, nós os reificamos, passamos a a tratá-los como se fossem coisas. Todos os símbolos que são usados com sucesso experimentam esta metamorfose. Deixam de ser hipóteses da imaginação e passam a ser tratados como manifestações da realidade. Certos símbolos derivam o seu sucesso do seu poder para congregar os homens, que os usam para definir sua situação e articular um projeto comum de vida. Tal é o caso das religiões, das ideologias, das utopias. Outros se impõem como vitoriosos pelo seu poder para resolver problemas práticos, como é o caso da magia e da ciência. Os símbolos vitoriosos, e exatamente por serem vitoriosos, recebem o nome de verdade, enquanto que os símbolos derrotados são ridicularizados como superstições ou perseguidos como heresias.

O Poder da Validação

                                  Stephen Kanitz

Todo mundo é inseguro, sem exceção. Os  superconfiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho. Afinal, ninguém é de ferro. Paulo Autran tremia nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça já tivesse sido encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator relaxava e partia tranquilo para o resto do espetáculo. Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada artigo que escrevo e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que chegam.

Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir essa insegurança?

Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora de nosso controle. Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de " validação ", embora para os estatísticos o significado o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.

Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição.

Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: " Você tem significado para mim ". Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: " Gosto de você pelo que você é ". Quem cunhou a frase " Por trás de uma grande homem existe uma grande mulher " ( e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a própria insegurança que não temos tempo de sair validando os outros. Estamos tão preocupados em mostrar que somos o " máximo " que esquecemos de dizer a nossos amigos, filhos e cônjuges que o " máximo " são eles. Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.

Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se ou dominar os outros em busca de poder.

Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um " valeu, cara, valeu ".

Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Eu Aprendi

                     William Shakespeare

Que a melhor sala de aula do mundo
está aos pés de uma pessoa mais velha.
Que quando você está amando, dá na vista.

Que basta uma pessoa me dizer "você fez  meu dia melhor" 
para ele se iluminar.
Que ter uma criança adormecida em seus braços
é um dos momentos mais pacíficos do mundo.

Que ser gentil é mais importante do que estar certo.
Que nunca se deve negar um presente a uma criança.
Que eu sempre posso orar por alguém quando
não tenho força para ajudá-lo de alguma forma.

Que não importa quanta seriedade a vida exija de você,
cada um de nós precisa de um amigo brincalhão
para se divertir junto.
Que algumas vezes tudo o que precisamos é de uma mão
para segurar e um coração para nos entender.

Que os passeios simples com meu pai em volta
do quarteirão nas noites de verão
quando eu era criança
fizeram maravilhas para mim quando me tornei adulto.

Que deveríamos ser gratos a Deus por não nos
dar tudo que lhe pedimos,
que dinheiro não compra classe. 

Que são pequenos acontecimentos diários que
tornam a vida espetacular.
Que debaixo da "casca grossa" 
existe uma pessoa
que deseja ser apreciada e amada.

Que Deus não fez tudo num só dia!
O que me faz pensar que eu possa?

Que ignorar os fatos não os altera.
Que quando você planeja se nivelar com alguém,
apenas está permitindo que essa pessoa
continue a magoar você.

Que AMOR e não o TEMPO é que cura
todas as feridas.
Que a maneira mais fácil para eu crescer como pessoa
é me cercar de gente mais inteligente do que eu.

Que cada pessoa que a gente conhece deve ser saudada
com um sorriso.
Que ninguém é perfeito até que você se apaixone
por essa pessoa.
Que a vida é dura, mas pode-se ser mais do que ela.
Que as oportunidades nunca são perdidas,
alguém vai aproveitar as que você perdeu.

Que quando  o ancoradouro se torna amargo
a felicidade vai aportar em outro lugar.
Que eu gostaria de ter dito à minha mãe que a amava,
uma vez mais, antes dela morrer.

Que devemos sempre ter palavras doces e gentis
pois amanhã talvez tenhamos que engoli-las.
Que um sorriso é a maneira mais barata
de melhorar a aparência.

Que não posso escolher como me sinto,
mas posso escolher o que fazer a respeito.

Que todos querem viver no topo da montanha, 
mas toda felicidade e crescimento ocorrem quando 
você está escalando-a.
Que se deve dar conselho em duas ocasiões:
quando é pedido ou quando é caso
de vida ou morte.

Que quanto menos tempo tenho,
mais coisas consigo fazer!!

domingo, 4 de março de 2012

Hospital do Senhor

" Fui ao Hospital do Senhor para um check-up de rotina e constatei que estava doente. Quando Jesus mediu minha pressão, verificou que estava baixa de ternura. O termômetro registrou 40 graus de egoísmo. Fiz um eletrocardiograma e diagnosticaram que eu precisava de uma ponte de amor, pois minhas veias estavam bloqueadas por não abastecer meu coração vazio.

Ortopedicamente, tinha dificuldade de andar lado a lado e não conseguia abraçar meus irmãos por ter fraturado o braço ao tropeçar na minha vaidade.

Tinha miopia constatada por não enxergar além das aparências; queixei-me de não poder ouvi-lo, e Ele diagnosticou bloqueio em decorrência das palavras vazias do dia-a-dia.

Obrigado, Senhor, por essa consulta não ter custado nada, pela sua grande misericórdia, mas prometo, após ser medicado e receber alta do hospital, somente usar homeopatia, que são os remédios naturais que me indicou e estão no receituário do Evangelho de Jesus Cristo.

Vou tomar, ao me levantar, chá de Obrigado Senhor ; ao entrar no trabalho, uma colher de sopa de Bom Dia Irmão ; e, de uma em uma hora, um comprimido de Paciência, com meio copo de Humildade. 


Ah! Senhor, ao chegar em casa, vou tomar uma injeção de Amor e, ao me deitar, duas cápsulas de Consciência Tranquila. Assim, tenho certeza, não ficarei doente e todos os dias serão Natal. 


Prometo prolongar este tratamento preventivo por toda a minha vida, para que, quando me chamar, seja por morte natural.

Obrigado, Senhor, e perdoe-me por ter tomado o Seu tempo. Do seu eterno cliente, Eu. "

Saudade

                      Álvares de Azevedo

Foi por ti que num sonho de ventura
A flor da mocidade consumi,
E às primaveras digo adeus tão cedo
E na idade do amor envelheci!

Vinte anos! Derramei-os gota a gota
Num abismo de dor e esquecimento...
De fogosas visões nutri meu peito...
Vinte anos!... Não vivi um só momento!

Contudo, no passado uma esperança
Tanto amor e ventura prometia,
E uma virgem tão doce, tão divina
Nos meus sonhos junto a mim
Adormecia!...

E quantas vezes o luar tardio
Não viu nossos amores inocentes?
Não embalou-se da morena virgem
No suspirar, nos cânticos ardentes?

Eu sonhei tanto amor, tantas venturas,
Tantas noites de febre e d'esperança!
Mas hoje o coração desbota, esfria,
E do peito no túmulo descansa!

Pálida sombra dos amores santos,
Passa, quando eu morrer, no meu jazigo;
Ajoelha-te ao luar e canta um pouco,
E lá na morte eu sonharei contigo!