quarta-feira, 31 de julho de 2013

As Três Peneiras



                 Dona Flora foi transferida de seção da fábrica em que trabalhava.
                 Para fazer média com o novo chefe, logo no primeiro dia, saiu-se com essa:
                 - Chefe, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito da Zefinha...
                 Nem chegou a terminar a frase porque "seu" Lico perguntou:
                 - Espere um pouco, Dona Flora. O que vai me contar já passou pelas Três Peneiras?
                 - Peneiras? Que peneiras, "seu" Lico?
          - A primeira é a VERDADE.     Tem certeza de que esse fato é absolutamente verdadeiro? 
                 - Não, como posso? O que sei foi o que me contaram, mas acho que...
                 - Então sua história já vazou na primeira peneira.
                 - Vamos à segunda que é a da BONDADE.   O que vai me contar é alguma coisa que gostaria de que os outros dissessem a seu respeito?
                 - Claro que não! Deus me livre!
                 - Então sua história já vazou na segunda peneira.
                 - Vamos ver na terceira que é a da  NECESSIDADE.                A        senhora      acha mesmo necessário contar-me esse fato ou mesmo passá-lo adiante?
                 - Não, chefe.     Passando nestas   três peneiras vi que não sobrou nada do que eu ia contar...
 
Já pensaram com as pessoas seriam mais felizes se todos usassem sempre essas três peneiras? Da próxima vez que surgir um boato por aí, passem-no nas três peneiras antes de obedecer ao impulso de passá-lo adiante.

autoria desconhecida.
 

O Carpinteiro


Um velho carpinteiro estava para se aposentar. Ele contou a seu chefe os seus planos para largar o serviço de carpintaria  e de construção de casas e viver uma vida mais calma com sua família.
 
Claro que ele sentiria falta do pagamento mensal, mas ele necessitava da aposentadoria. 
 
O dono da empresa sentiu em saber que perderia um de seus melhores empregados e pediu a ele que construísse uma última casa como um favor especial.
 
O carpinteiro consentiu, mas com o tempo era fácil ver que seus pensamentos e seu coração não estavam no trabalho. Ele não se empenhou no serviço e se utilizou de mão-de-obra e matéria-prima de qualidade inferior. Foi uma maneira lamentável de encerrar sua carreira.
 
Quando o carpinteiro terminou seu trabalho, o construtor veio inspecionar a casa e entregou a chave da porta ao carpinteiro. " Esta é sua casa ", ele disse, " meu presente a você ".
 
Que choque! Que vergonha! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito completamente diferente, não teria sido tão relaxado.
Agora teria que morar numa casa feita de qualquer maneira!
 
Assim acontece conosco. Nós construímos nossas vidas de maneira distraída, reagindo mais que agindo, desejando colocar menos do que o melhor.
 
Nos assuntos importantes nós não empenhamos nosso melhor esforço. Então, em choque, nós olhamos para a situação que criamos e vemos que estamos morando na casa que construímos. Se soubéssemos disso, teríamos feito diferente. Pense em você como o carpinteiro. Pense sobre sua casa. Cada dia você martela um prego novo. Coloca uma armação ou levanta uma parede.
 
Construa sabiamente! É a única vida que você construirá. Mesmo que você tenha somente mais um dia de vida, este dia merece ser vivido graciosamente e com dignidade.
 
Na placa da parede está escrito: " A vida é um projeto de faça você mesmo! " Quem poderia dizer isso mais claramente? Sua vida hoje é o resultado de suas atitudes feitas no passado. Sua vida de amanhã será o resultado de suas atitudes e escolhas que fizer hoje.
 
autoria desconhecida
 
 

terça-feira, 30 de julho de 2013

Mineiro Dando Notícia Ruim


Madrugada o telefone toca:
 
- Alô, Sô Carlos? Aqui é o Uóshito, caseiro do sítio.
- Pois não, seu Washington. Que posso fazer pelo senhor? Houve algum problema?
- Ah! Eu só tô ligando para avisá pro sinhô que o seu papagaio morreu.
- Meu papagaio? Morreu? Aquele que ganhou o concurso?
- É, ele mesmo!
- Puxa! Que desgraça! Gastei uma pequena fortuna com aquele bicho!
- Mas... ele morreu de quê?
- Di cumê carne estragada.
- Carne estragada?
- Quem fez essa maldade? Quem deu carne para ele?
- Ninguém. Ele comeu a dum cavalo morto.
- Cavalo morto? Que cavalo morto, seu Washington?
- Aqueles puro-sangue que o sinhô tinha! Eles morreram de tanto puxá carroça d'água!
- Tá louco? Que carroça d'água?
- Pra apagá o incêndio!
- Mas que incêndio, meu Deus?
- Na sua casa... uma vela caiu, aí pegô fogo nas curtina!
- Caramba, mas aí tem luz elétrica! Que vela era essa?
- Do velório!
- De quem?
- Da sua mãe! Ela apareceu aqui sem avisá e eu dei um tiro nela pensando que fosse ladrão!
 
autoria desconhecida

Para o Resto de Nossas Vidas!


Existe coisas pequenas e grandes, coisas que levaremos para o resto de nossas vidas. Talvez sejam poucas, quem sabe sejam muitas, depende de cada um, depende da vida que cada um de nós levou. Levaremos lembranças, coisas que sempre serão inesquecíveis para nós, coisas que nos marcarão, que mexerão com a nossa existência em algum instante. Provavelmente iremos pela vida afora colecionando essas coisas, colocando em ordem de grandeza cada detalhe que nos foi importante, cada momento que interferiu nos nossos dias, que deixou marcas, cada instante que foi cravado no nosso peito como uma tatuagem.

Marcas, isso... serão marcas, umas mais profundas, outras superficiais, porém, com algum significado também. Serão detalhes que guardaremos dentro de nós e que se contarmos para terceiros, talvez não tenha a menor importância, pois só nós saberemos o quanto foi incrível vivê-los. Poderá ser uma música, quem sabe um livro, talvez uma poesia, uma carta, um e-mail, uma viagem, uma frase que alguém tenha dito num momento certo. Poderá ser um raiar de sol, um buquê de flores que se recebeu, um cartão de natal, uma palavra amiga num momento preciso. Talvez venha a ser um sentimento que foi abandonado, uma decepção, a perda de alguém querido, um certo encontro casual, um desencontro proposital. Quem sabe uma amizade incomparável, um sonho que foi alcançado após muita luta, um que deixou existir por puro fracasso. Pode ser simplesmente um instante, um olhar, um sorriso, um perfume, um beijo.

Para o resto de nossas vidas levaremos pessoas guardadas dentro de nós. Umas porque nos dedicaram um carinho enorme, outras porque foram o objeto do nosso amor, ainda outras por terem nos magoado profundamente, quem sabe haverá algumas que deixarão marcas profundas por terem sido tão rápidas em nossas vidas e terem conseguido ainda assim plantar dentro de nós tanta coisa boa.

Lá na frente é que poderemos realmente saber a qualidade de vida que tivemos, a quantidade de marcas que conseguimos carregar conosco e a riqueza que cada uma delas guardou dentro de si. Bem lá na frente é que poderemos avaliar do que exatamente foi feita a nossa vida, se de amor ou de rancor, se de alegrias ou tristezas, se de vitórias ou derrotas, se de ilusões ou realidades.

Pensem sempre que hoje é só o começo de tudo, que se houver algo errado ainda está em tempo de ser mudado e que o resto de nossas vidas, de certa forma, ainda está em nossas mãos.

autoria desconhecida

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eu Te Odeio

            Fátima Guedes


Nem com você...
Nem sem você...
O amor deve ser
qualquer coisa que eu não saiba.
O que quer que seja
me deixou completamente nua.

Um perfume,
um veneno.
Não se pode querer,
não se pode trazer de volta.

Seja o que for
o que me penetra e depois me solta
não pode esperar desculpa.
O amor me causou revolta.

O amor deve ser
a pergunta que não se faz.
Uma dúvida que jamais
é saciada.
Eu não entendi nada.

Nada por mim...
Nada sem mim...
É, você me deixou
tão confusa e transtronada

Que hoje a coisa
mais firme que creio é que eu te odeio
e é esse ódio que eu mais choro.
Eu te adoro, eu te adoro.

Gravado no então LP de 1983 de Fátima Guedes intitulado Muito Prazer. Em 1993, Verônica Sabino fez um bonita regravação em seu CD Verônica.

Sabrás Que Te Quiero

             Teddy Fragoso

Que te quiero
Sabrás que te quiero
Cariño como este jamás existió
Que mis ojos jamás han llorado
Como en aquella tarde
Que te dije adiós
Que deseo
 Volver a tu lado
Tenerte conmigo
Vivir nuestro amor
Que te quiero
Sabrás que te quiero
Porque eres mi vida
Mi cielo y mi Dios

Belíssima regravação de Zizi Possi em seu CD " Bossa ", de 2001.
 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Pablo Neruda (Noite)

  
Há que voar neste tempo, aonde?
Sem asas, sem avião, voar sem dúvida:
já os passos passaram sem remédio,
não alçaram os pés do passageiro.

Há que voar a cada instante como
as águias, as moscas e os dias, 
há que vencer os olhos de Saturno
e estabelecer ali novos sinos.

Já não bastam sapatos nem caminhos,
já não servem a terra aos errantes,
já cruzaram a noite as raízes,

e tu aparecerás em outra estrela
determinadamente transitória
por fim em papoula convertida.

Pablo Neruda (Tarde)

 Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.
 
Te quero só porque a ti te quero,
te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
e a medida de meu amor viageiro
é não ver-te e amar-te como um cego.
 
Talvez consumirá a luz de janeiro
seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.
 
Nesta história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor a sangue e fogo.

Pablo Neruda (Meio-dia)

 Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo todavia.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desditoso.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Pablo Neruda (Manhã)


Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pelo,
e pelas ruas vou sem nutrir-me, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desequilibra,
busco o som líquido de teus pés no dia.

Estou faminto de teu riso resvalado, 
de tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer tua pele como uma intacta amêndoa.

Quero comer o raio queimado em tua beleza,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de tuas pestanas

e faminto venho e vou olfateando o crepúsculo
buscando-te, buscando teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratúe.
 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A história de D.Péssima e de D. Ótima

          Sônia Mara Rodrigues Centomo

Eis os acontecimentos de um dia, na vida de duas senhoras. Uma delas é um amor de pessoa, tranquila, gosta do que faz e sente-se feliz. Já a outra, é o mau humor em pessoa. Resmunguenta, reclama de tudo, briga com todo mundo e nunca está contente.

Ambas levam uma vida simples e com muita dificuldade financeira. Vou chamá-las, carinhosamente, de Dona Péssima e de Dona Ótima.

Num determinado dia, ambas levantaram cedo e, após darem o café a seus familiares, saíram para comprar algumas coisinhas de que necessitavam.

D. Péssima pegou o ônibus e logo esbravejou, por não haver lugar para sentar-se. Afinal, estava cansada. Irritou-se com o congestionamento e ficou resmungando o tempo todo: " Será que essas pessoas não têm o que fazer "? Dizia ainda que estava perdendo muito de seu precioso tempo por causa delas. E continuou lá, em pé, xingando e reclamando da vida. De como sua vida era difícil!

D. Ótima também pegou o ônibus lotado e, por causa do congestionamento, aproveitou o tempo para fazer uma análise da sua vida. Sentia-se muito bem. Saudável, com ótimos filhos e com esperança de um futuro melhor. Pôs-se a olhar as outras pessoas e ficou perguntando: " Quantas delas são felizes como eu? Por trás daquelas aparências, quantos problemas estarão escondidos? "

D. Péssima continuou sua dura viagem e chegando ao local das compras, havia muita gente, o que a fez ficar meio perdida. Entrou numa loja para adquirir certa mercadoria e, porque aquela já havia acabado, brigou com o vendedor e saiu à procura em outros lugares, ficando mais cansada, mais irritada e, por fim, acabou levando outra mercadoria, que não era de seu agrado. Achou tudo muito caro e lamentou a sorte de ter tão pouco dinheiro.

D. Ótima, entrando na loja e não encontrando o que desejava, ouviu a opinião do vendedor, que lhe ofereceu uma mercadoria parecida e até de menor valor. Resolveu levá-la e, logo, havia terminado as compras satisfeita com o que tinha feito e, até, economizado.

À noite, no jantar, diante daquela refeição simples de todos os dias, os filhos de D. Péssima perguntaram-lhe como tinha sido seu dia. Ela, então, pôs-se a reclamar que lhe doíam as costas, as pernas, os pés, a cabeça, e que tudo dera errado, que o dinheiro era pouco e, ainda por cima, só tinha aquela miséria para o jantar. COMO SOU INFELIZ! exclamou.

D. Ótima disse aos filhos que teve um dia maravilhoso. Aproveitou para muitas coisas, fez boas compras e, ainda, teve tempo para refletir sobre sua vida. Agradeceu a Deus pela família maravilhosa, pelos bons sentimentos que todos tinham e pelo jantar que saboreavam juntos. COMO SOU FELIZ! exclamou.

Dificuldades e problemas, todos temos bastante. Façamos deles uma experiência para o nosso progresso. O melhor aprendizado é aquele que tiramos de nossa própria vida.

domingo, 14 de julho de 2013

Todo o Poder da Palavra

           Lucília Garcez

A escrita permeia toda a nossa vida. Embora muitos tenham sido sistematicamente espoliados em seu direito de se expressar pela escrita, seja pelas condições sociais, seja por um perverso mecanismo escolar de destruição da autoestima, usufruir dos bens simbólicos que a escrita proporciona é um direito de todos. Mas um dos mais insidiosos complexos que os indivíduos vão acumulando durante a vida é o de não saber se expressar por escrito. É muito frequente ouvir de profissionais que estão em plena atividade, e que precisam escrever relatórios e outros documentos, a confissão de que sofrem para escrever porque não têm talento, como se a escrita cotidiana dependesse de algum dom divino.

Para desfazer esse mito é necessário compreender que o processo de escrever é naturalmente o de reescrever, e que a primeira versão de um texto, apesar de tão privilegiada na escola, é apenas um rascunho, não traz mais que o embrião das ideias. O processo de reavaliar, reestruturar e reescrever é que constitui a essência da escrita, embora esta comece muito antes, no momento em que o redator tem o desejo de escrever. Desejar já é escrever, pois implica elaboração mental, processamento interior, busca, decisões e escolhas em diversos níveis. Colocar essas escolhas em linguagem verbal exata para transmitir as ideias, rompendo a distância entre o que pensamos e o que escrevemos, é apenas uma das etapas da escrita. O próprio ato de produzir o texto vai recortando o mundo para o redator de uma maneira surpreendente, imprevisível.

Nesse sentido, escrever é descobrir, é desvendar, é construir, é dar forma às evanescentes sensações, emoções, representações, significações e interpretações do mundo. A trajetória humana vai sendo filtrada pela escrita e muitas vezes é o processo de escrever que nos mostra a nós mesmos o que somos e o que sabemos. Marguerite Duras considera: "Escrever significa tentar saber aquilo que se escreveria se fôssemos escrever - só se pode saber depois - antes, é a pergunta mais perigosa que se pode fazer. Mas também é a mais comum."

Somos escritos pela escrita. O ato de escrever torna explícitos pensamentos e saberes submersos, e refazer a escrita é retomar essas formulações, refletir sobre elas e reformulá-las, o que corresponde a uma reformulação de nossos fragmentos interiores.

Qualquer tipo de texto exige esse trabalho árduo. Escritores consagrados refazem seus textos incessantemente. Gabriel Garcia Márquez reescreve seus livros mais de 10 vezes, Mempo Giardinelli chega a refazer seus contos mais de 30 vezes, e Murilo Rubião modificava seus textos a cada nova edição. Ricardo Piglia afirma: " Escrever é sobretudo corrigir (...), quando o texto está pronto há um trabalho de revisão bastante singular. A gente faz um esforço para se colocar no lugar de uma espécie de leitor perfeito, capaz de detectar todas as falhas e nós do texto, e tenta ler o que escreveu como se fosse outro. Nesse sentido, a revisão é uma leitura utópica e tão interminável como a própria escrita. "

Em qualquer serviço editorial, antes de um texto ser levado ao público sofre pelo menos quatro revisões minuciosas. Mesmo jornalistas que escrevem diariamente, desenvolvem a habilidade de reformular rapidamente textos antes de publicá-los. Apenas a escola enfatiza a primeira versão, e, assim, passa para o estudante uma visão equivocada do processo de escrever e consolida um mito que é preciso destruir para viver a escrita em sua plenitude, como uma forma de liberdade e de felicidade.