sábado, 27 de maio de 2023

Renúncia Plena

 A questão da renúncia aos bens materiais é de muita relevância no comportamento da criatura humana.

Sem ela a vida se torna insuportável, gerando apegos que se transformam em elos de escravidão, jungindo o ser a coisas de valor transitório incapazes de proporcionar plenitude, estado de paz interior.

Por sua vez, o apego às posses, sob o disfarce da necessidade de segurança, é dos mais temíveis adversários do indivíduo, porque responde pelo medo da perda, pela sistemática desconfiança em relação aos amigos e conhecidos, por fim, pela insatisfação que sempre se instala em quem possui, atormentado pelo desejo infrene de ampliar os recursos.

A renúncia impõe-se como medida saudável de equilíbrio, responsável pela preparação do Espírito para o momento da libertação do corpo.

O hábito de renunciar às coisas materiais leva o candidato à necessidade do autoburilamento, da renovação moral, liberando-se das paixões e emoções perturbadoras, a fim de conseguir a própria iluminação, sem a qual os objetivos superiores da vida ficam defraudados.

De certo modo, o treinamento para a renúncia das posses terrenas predispõe a mudanças de atitude moral entre as pessoas e a vida.

Há quem facilmente se desprende de determinados objetos, adotando a generosidade no intercâmbio fraternal, mas tem terrível dificuldade de ceder, quando se trata de valores apaixonantes, caprichos, pontos de vista, orgulho...

Pessoas bondosas sob um aspecto, às vezes, surpreendem pelo rigor do temperamento que não desculpa, não esquece ofensas, mantém ressentimentos, cultiva o ódio, anela por desforço...

O hábito de quebrar cadeias materiais proporciona a saudável oportunidade de renunciar aos propósitos malsãos, inferiores, que denotam dureza de coração, primarismo evolutivo.

Fascinado por Jesus, um jovem rico propôs a segui-lO.

O Mestre, que o conhecia, impôs-lhe ser necessário que ele vendesse tudo quanto possuía, distribuísse o resultado com os pobres, após o que poderia acompanhá-lO.

Reflexionando, o moço deu-se conta de que tal esforço não lhe era demasiado. No entanto,  recordou-se da sua posição social, dos compromissos assumidos, das injunções em que se encontrava e afastou-se desanimado...

Treina a renúncia total, iniciando-a com as coisas de pequena monta.

Libera-te de alguma posse; transfere  recursos que te sobram; doa excessos e te habilitarás a ofertar também o necessário, preparando-te para a renúncia a ti mesmo, responsável pela tua libertação de tudo e de todos.

A renúncia plena começa no gesto pequeno da oferta e do desprendimento aos bens do mundo, a fim de alcançar a doação total.


Retirado do livro Momentos de Iluminação; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 4ª edição, 2015.

domingo, 21 de maio de 2023

Sem Ídolos Nem Cultos

Na busca estúrdia de prazeres e afirmação da personalidade, o homem contemporâneo informa que se libertou da fé religiosa e do culto que dedicavam os seus antepassados aos valores espirituais. 

A mente saudável, segundo este raciocínio, é aquela que se apresenta destituída de submissão a toda e qualquer maneira de direcionamento ético, tendo em vista o futuro do ser, no que diz respeito à sua imortalidade.

O descompromisso com Deus e a vida incita-o à busca incessante do gozo, em desesperada fuga da sua realidade transcendental.

Não obstante esse comportamento, manifesta-se-lhe a existência de forma paradoxal.

Negando-se cultuar o Espírito, adora e idolatra os campeões da futilidade e do engodo, que passam à condição de verdadeiros deuses da antiga mitologia, ora renascidos nos esportes, no teatro, no cinema, na televisão, nas finanças, nas indústrias, na política e até na área sórdida da criminalidade... Os seus gestos e atitudes são imitados, tornando-se modelos que atiram na área do consumismo as suas figuras e modas, verbetes e extravagâncias, que passam a constituir a razão de vida dos seus admiradores e apaniguados.

Uns, logo sucumbem, devorados pela mídia ou derrotados pelo cansaço; outros, são substituídos ou desprezados por novos ambiciosos que lutam por tomar-lhes os espaços, sucedendo-os de imediato, enquanto os modismos mudam de nomes e pessoas, permanecendo as mesmas paixões e cultos exacerbados, caracterizando a decadência da vera cultura e dos nobres ideais humanos.

Em face de tal conduta, o homem, surpreendido pela dor que renteia ao lado de todos os seres, deixando-se acometer pelo desespero e, alucinado, atira-se à consumpção pelos alcoólicos, pelas drogas ou através do suicídio em suas várias formas.

Lentamente, porém, a força do Amor de Deus vence as resistências da obstinação negativa e desvenda-lhe os amplos horizontes da imortalidade, que fascinam e confortam, induzindo-o a uma reavaliação do comportamento e ao compromisso com a ventura, que lhe nasce na harmonia interior e se espraia envolvendo o grupo social e a vida.

Nem ídolos, certamente, nem cultos; porém, despertamento para a realidade e as metas existenciais, que se não podem reduzir aos prazeres vazios e ligeiros da vida corporal, antes à consciência de si mesmo e da sua destinação eterna, na qual já se encontra e cumpre aprimorar com o pensamento posto no seu futuro libertador e feliz.


Retirado do livro Momentos de Harmonia; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador,  3ª Edição, 2014.

sábado, 13 de maio de 2023

Emoções Perturbadoras

O homem que se candidata a uma existência feliz, tem a obrigação de vigiar as suas emoções perturbadoras, a fim de evitar-se desarmonias perfeitamente dispensáveis, na economia do seu processo de evolução.

As emoções perturbadoras decorrem do excesso de autoestima, do apego aos bens materiais e às pessoas, e do orgulho, entre outros fatores negativos.

O excesso de consideração que o indivíduo se concede, leva-o à irritação, ao ciúme, à agressividade, toda vez que os acontecimentos se dão diferentes do que ele espera e supõe merecer.

O apego responde-lhe pela instabilidade emocional, trabalhando-lhe a ganância, a soberba e a ilusão da posse, que concede a falsa impressão de situar-se acima do seu próximo.

O orgulho intoxica-o, levando-o à pressuposição de credenciado pela vida a ocupar uma situação privilegiada e ser alguém  especial, merecedor de homenagens e honrarias, em detrimento dos demais.

Qualquer ocorrência que se apresente contraditória a esses engodos gerados pelo ego insano, e as emoções perturbadoras se lhe instalam, proporcionando desequilíbrios de largo porte, exceto se ele se resolve por digerir a situação e mudar de paisagem mental.

Superar tais emoções que têm raízes no seu passado espiritual, eis o grande desafio.

Assim, cumpre que ele envide todos os esforços para o autodescobrimento e a aplicação das energias em combater a inferioridade que predomina em a sua natureza.

"Não há nada a que o homem não se acostume com o tempo", afirma um velho brocado popular.

A liberação das emoções perturbadoras é resultado dos hábitos insalubres de entregar-se-lhe sem resistência.

Tão comum se faz ao indivíduo a liberação dos instintos perniciosos geradores deles, que este se não dá conta do desequilíbrio em que vive.

Adaptando-se ao autocontrole, eliminará, a pouco e pouco, a explosão dessas emoções perturbadoras.

Mediante pequeno código de conduta, torna-se fácil a assimilação de outros hábitos que são saudáveis e felicitam:

considera a própria fragilidade que te não faz diferença das demais pessoas;

observa o esforço do teu próximo e valoriza-o;

treina a paciência ante as ocorrências desagradáveis;

reflexiona quanto à transitoriedade da posse;

medita sobre a necessidade de ser solidário;

propõe-te a adaptação ao dever, por mais desagradável se te apresente;

aprende a repartir, mesmo quando a escassez caracterizar as tuas horas...

Um treinamento íntimo criará novos condicionamentos, que te ajudarão na formação de uma conduta ditosa e tranquila.

Foram as emoções perturbadoras que levaram Pedro, temeroso, a negar o Amigo, e Judas, o ambicioso, a vendê-lO aos inimigos da Verdade.

O controle delas, sob a luz da humildade e da fé, proporcionou à Humanidade o estoicismo de Estêvão, a dedicação até o sacrifício de Paulo - que as venceram - e toda a saga de amor e grandeza do homem abnegado de todos os tempos.


Retirado do livro Momentos de Felicidade; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 5ª Ediçã, 2014.

sábado, 6 de maio de 2023

A César e a Deus

Conforme a narrativa de Mateus, Jesus encerrou o diálogo, no qual os adversários tentavam envolvê-lO, em torno da legalidade ou não do pagamento do tributo ao Imperador de Roma, elucidando: - " Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus."

Rico de conteúdo, o pensamento-resposta do Mestre, leva-nos a acuradas e oportunas reflexões.

César e Deus podem significar, num sentido mais amplo, o humano e o divino, ou o material e o espiritual, ou ainda, o imediato e o mediato.

Pelo impositivo das circunstâncias terrestres, o homem sempre se afadiga pela feição orgânica e social da vida, deixando de lado o seu dever de zelar pela face moral, transcendente...

Graças a isto, aplica todas as horas, ou quase todas, aos compromissos e impositivos materiais, e, mesmo quando é obrigado ao repouso, a fim de libertar-se da fadiga, tem em mira a restauração das forças com o objetivo de continuar a faina ou o prazer, momentaneamente interrompidos.

Programa a existência como se esta não viesse a extinguir-se pela circunstância inevitável da desencarnação.

Cuida do amanhã próximo, preparando os equipamentos fisiológicos para fruir maior quinhão das conquistas fúteis, com que se ilude, intoxicando-se dos vapores das sensações desgastantes, numa volúpia ensandecedora.

Quando se vê compelido a deixar a carcaça física, ainda aí, pela falta do hábito de elevação, continua na fixação perturbadora do cadáver, que para nada mais lhe serve.

A oportunidade passa e a dor permanece.

Essa é a resposta de César, àqueles que se lhe submetem em caráter de dedicação exclusiva.

O homem, vivendo em sociedade, tem deveres para com ela, cumprindo-lhe contribuir para o seu progresso, participando ativamente do programa estabelecido.

Alienar-se, a pretexto de servir a Deus, portanto, à vida espiritual, jamais se justifica, não encontrando apoio no exemplo que o próprio Mestre ofereceu, Ele que jamais se escusava.

Participou de uma boda, santificando-a; das festas habituais do povo, não se imiscuindo nas venalidades um cobrador de impostos, que O convidara, dignificando-lhe o lar; hospedou-se com a família de Betânia, inúmeras vezes, alargando o círculo da fraternidade; albergou no coração a mulher equivocada, lecionando solidariedade; esteve no Templo e na Sinagoga reiteradas vezes, sem preconceito nem desprezo, e todos os Seus atos se fizeram caracterizar pela naturalidade, discrição e honorabilidade.

Nasceu num período festivo - a ocasião do recenseamento - e morreu durante as alegrias evocativas da Páscoa, demonstrando que a vida é um poema de júbilos em nome do Amor.

Nunca, tampouco, se apartou de Deus e do dever.

Dá a tua contribuição a Deus.

Não, através de coisas ou palavras.

Sejam:

a tua hora de  misericórdia - o momento de Deus;

o teu instante de reflexão elevada - o de união com Deus;

o teu silêncio ante a ofensa - o de cooperação com Deus;

a tua ação caridosa - a de contributo a Deus;

a tua dedicação ao próximo - a dádiva que encaminhas a Deus;

o teu sofrimento resignado - a demonstração de confiança em Deus...

Todos os teus recursos morais canalizados para a verdade e a elevação, constituam o teu concurso - oferenda a Deus.

Viver no mundo, amando a vida e servindo ao mundo sem escravidão e a Deus com emoção, eis o ideal para que o homem alcance a finalidade excelente para a qual se encontra reencarnado.


Retirado do livro Momentos de Esperança; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.