sábado, 30 de outubro de 2021

Defecções Morais

Não raro, sempre que o homem bem-intencionado formula programas de edificação renovadora e de elevado alcance espiritual, acontecem-lhe insucessos e problemas com os quais não contava.

Atividades, cuidadosamente planejadas, apresentam-se, no momento azado, com surpresas desagradáveis que não eram esperadas.

Realizações fascinantes, que objetivam o bem, repentinamente tomam curso não desejado, gerando aflições com as quais não se contava.

Ações de benemerência pensadas com lucidez, à hora de concretizarem-se, sofrem influências perniciosas e deixam de ser executadas.

É comum, então, em face de tais ocorrências, o abandono de tarefas e a deserção aos deveres.

As defecções morais são comuns nos momentos dos testemunhos, quando da necessidade de atestar-se a excelência dos valores éticos nos ideais que se esposam.

Acostumado à desistência e à fuga, o homem, considerando a gravidade dos compromissos libertadores, diante deles sofre os condicionamentos a que se entregou.

É necessário, entretanto, que se revista de coragem e enfrente as circunstâncias, mesmo aquelas que se lhe apresentem como ingratas ou causticantes.

Vencida uma primeira etapa, mais facilmente se apresentará a próxima, aguardando solução.

O mau hábito de não perseverar predispõe a boas planificações e nenhuma realização.

Somente a insistência nos objetivos anelados, e a luta que se faz natural, credenciam a criatura aos cometimentos superiores.

Vigia as tuas atitudes, consolidando os teus anelos nobres, a fim de que logres êxitos nos empreendimentos morais libertadores.

Se, por acaso, fracassares, diante de uma situação ou compromisso, vitimado pelos defeitos que te martirizam, não te desalentes. Refaze os propósitos e intenta outra vez.

Elaborado um plano de bem proceder, se tropeças e te comprometes, não transfiras a responsabilidade para os Espíritos maus que te impulsionaram ao erro. Assume os efeitos do ato infeliz e, mesmo que tenhas tombado em uma cilada, aceita que assim ocorreu em razão da tua sintonia com esses adversários do Bem.

Se retornares aos atos viciosos, quando encetavas atividades dignificadoras, retempera as forças e volta ao tentame sadio.

Não te entristeçam as defecções morais.

Levanta-te do erro quantas vezes se te façam necessárias, e não desistas de trabalhar o mundo íntimo, nele instalando as balizas de luz que definirão as tuas fronteiras espirituais.

Lutador que desiste, não se torna, sequer, candidato, por comodidade e covardia..

Sê, tu, quem reconheça as próprias debilidades e se esforça por vencê-las, insistindo e agindo sem cessar, até que o bem se torne atitude e estado comuns, naturais, em tua existência, que não mais sofrerá defecções morais.


Texto retirado do livro Momentos de Harmonia; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª edição, 2014.

sábado, 23 de outubro de 2021

Em favor dos Enfermos

 Na grande área dos serviços fraternais de socorro ao próximo, demandando a ação da caridade, a cura das mazelas orgânicas, emocionais e mentais é de vital importância.

O ideal, portanto, é trabalhar-se os valores íntimos do homem, de cuja harmonia deriva o bem-estar. Entretanto, na impossibilidade de conseguir-se a realização plena, no campo das causas, o empenho por minimizar-se os efeitos perniciosos assume significação relevante, por propiciar requisitos que facultam a instalação das fontes saudáveis na organização perispiritual.

Para que se logrem resultados favoráveis na terapia curativa, é indispensável que o agente possua condições mínimas que sejam, a saber: harmonia interior, que decorre de uma conduta sadia; sentimentos de amor, que propiciem vibrações positivas; espírito de abnegação; saúde física e mental, de modo que a bioenergia, que se deseje doar, carreie forças restauradoras e atue nos centros vitais, gerando células sãs, portadoras de equipamentos harmônicos.

Ocorre, às vezes, que alguns instrumentos das curas contradizem esses itens mínimos, porém, eles próprios são pacientes, nos quais as enfermidades ainda não se manifestaram, apesar de já instaladas.

Agem para o bem, sem consciência do que lhes pode fazer bem.

Toda e qualquer pessoa forrada de bons propósitos pode e deve auxiliar o seu próximo, quando enfermo.

Não é exigível que aplique esta ou aquela técnica, sempre dispensável. Mas é essencial que se haja educado para o mister e procure, sinceramente, ajudar.

A irradiação da mente concentrada no bem, em favor de alguém, opera admiráveis resultados.

Unida à aplicação dessa energia, com as mãos distendidas, sem ruído ou ritual, a magnetização da água completa a operação socorrista, ao ser ingerida pelo paciente.

A sociedade, como um todo, necessita do equilíbrio e da saúde, no entanto, é no homem, como célula valiosa, que se deve iniciar o labor terapêutico.

É claro que muitos atletas, portadores de saúde física, são, por outro lado, expressões de conduta infeliz, perniciosa.

Os apologistas das raças superiores preocupam-se com os físicos ideais e portadores de linhas que expressem a procedência genética, despreocupados com os valores éticos e morais.

A saúde real é resultado da homeostase, vigente no homem, na qual o físico e o emocional se harmonizam perfeitamente.

Jesus curava e concedeu aos discípulos a faculdade de recuperar os enfermos.

Mantinha, no entanto, uma regra severa para a preservação da saúde, que era a recomendação em favor da conduta moral de modo que não lhes acontecesse nada pior.

A mente é fonte geradora de energias que esparze conforme as inclinações do espírito, sendo fator de infortúnio, como de felicidade, para si mesmo e para os demais.

Assim, orando, exercita os teus recursos latentes, canalizando-os em favor dos enfermos e recomendando-lhes mudanças de comportamento mental e moral para melhor, assim contribuindo para que a sociedade humana seja mais feliz.


Texto retirado do livro Momentos de Felicidade; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2014, 5ª Edição.

sábado, 16 de outubro de 2021

Em relação à angústia

Acautela-te quanto às injunções da angústia.

À semelhança de erva daninha, ela se entranha suavemente nas raízes do sentimento, estrangulando-as com vigor.

Insinuante, encontra fáceis argumentos para instalar-se na mente e emaranhar-se no coração, tornando-se infortúnio de difícil erradicação.

Afirma-se que a angústia é resultado de sofrimentos íntimos mal digeridos.

Às vezes, aí se origina. Invariavelmente, porém, torna-se desdita que consome, tendo a sua procedência em nonadas que tomam vulto e são aceitas como fatores de alta consideração.

Não te impressiones com os insucessos nas atividades que empreendes. Eles fazem parte dos cometimentos e são lições preciosas, a fim de que aprendas a não reincidir nos seus gravames.

Quem desconhece o fracasso não tem condições de viver êxitos.

Demorar-se no malogro, entre lamentações e rebeldias, é abrir-se ao desequilíbrio, à angústia.

Perder é fenômeno natural em todo empreendimento, de modo a poder-se lucrar depois, satisfatoriamente.

A existência carnal, por isso mesmo, é um investimento que experimenta todos os tipos de riscos existentes.

Enfrentá-los com naturalidade, eis o dever de todos, nunca se deixando atemorizar ou fugir da responsabilidade que apresentam.

Entre os antídotos eficazes para a angústia, o trabalho edificante e nobre de toda procedência, tem primazia.

Ele estabelece motivações para continuar-se a viver e a lutar, emulando ao contínuo esforço de crescimento com vistas ao progresso social, moral e espiritual.

Ao seu lado, a leitura instrutiva, consoladora, e a prece constituem terapias eficazes, substituindo, na mente os clichês viciosos e pessimistas por ideias novas, construtivas.

Abrindo espaços para conjunturas e realizações saudáveis, reeduca os hábitos mentais negativos, facultando entusiasmos, renovação interior, libertação.

A ação do bem a favor do próximo é, também, de valor inestimável, por gerar simpatia e desenvolver o amor que restabelecem a paz íntima, restituindo a alegria existencial.

Habitua-te com a felicidade e não a desprezes, aceitando as insinuações da angústia que te espreita.

Faze sol íntimo e esparze-o onde te encontres.

Jamais tropeçarás em trevas se o mantiveres.


Retirado do livro Momentos de Esperança; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.

sábado, 9 de outubro de 2021

Realização Interior

Enquanto o homem não se convencer de que lhe é necessário conquistar as paisagens íntimas, suas realizações externas deixá-lo-ão em desencanto, sob frustrações que se sucederão, tantas vezes quantas sejam as glórias alcançadas no mundo de fora.

À semelhança de uma semente, na qual dormem incontáveis recursos, que surgem a partir da germinação, cabe ao ser humano desatar os valores que lhe dormem inatos, facultando-se as condições de desenvolvimento, graças às quais logrará sua plenitude.

Muitas vezes, as dificuldades que o desafiam são fatores propiciatórios para o desabrochar dos elementos adormecidos, e para que sua destinação gloriosa seja alcançada.

O homem de bem, que reúne os valores expressivos da honra e da ação edificante, faz-se caracterizar pelo esforço, pelo empenho que desenvolve, realizando o programa essencial da vida que é sua iluminação íntima.

Somente essa identificação com o si profundo facultar-lhe-á a tranquilidade, meta próxima a ser conseguida. Partindo dela, novas etapas surgirão, convidativas, ensejando o crescimento moral e intelectual proporcionador da felicidade real.

Todas as conquistas externas - moedas, projeção social, objetos raros, moradia, eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos - não obstantes úteis para a comodidade, a automação e sintonia com o mundo, bem como a sociedades, não podem acompanhar o ser, quando lhe ocorre a fatalidade biológica da morte.

Cada qual desencarna com os recursos morais e intelectivos que amealhou, liberando-se ou não dos grilhões emocionais que o prendem às quinquilharias a que atribui valor.

Na luta pela aquisição das coisas, as batalhas se tornam renhidas, graças à competição às angustiantes expectativas das disputas, nas quais o crime assume papel preponderante, com resultados quase sempre funestos.

Na grande transição, tudo aquilo que constitui motivo de luta insana perde o significado, passando a afligir mais do que antes...

Não te descures da autoiluminação.

Se buscas a consolidação da estrutura socioeconômica pessoal e familiar, vai mais longe, e intenta a conquista dos tesouros íntimos.

Exercita as virtudes que possuis em germe, dando-lhes oportunidade de se agigantarem, arrastando outros corações.

Recorda-te, a cada instante, da brevidade do corpo físico e reivindica o treino para a morte, mantendo-te em serenidade, reflexão e ação iluminativa.

Vida interior é conquista possível, e está ao teu alcance. Logra-a, quanto antes, e sentirás a imensa alegria da plenificação.


Texto retirado do livro Momentos Enriquecedores; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2015, 2ª Edição.

domingo, 3 de outubro de 2021

Um sorriso nos lábios

Vidro moído ou areia no café da manhã

E um sorriso nos lábios

Ensopadinho de pedra no almoço e jantar

E um sorriso nos lábios

O sangue, o roubo, a morte, um negro em cada jornal

E um sorriso nos lábios

Noventa e cinco sorrisos suando na condução

E um sorriso nos lábios


Mas sonha que passa

Ou toma cachaça

Aguenta firme, irmão

Na oração Deus tudo vê e Deus dará

Ou então acha graça

É tão pouca a desgraça

Mas no fim do mês

Lembra de pagar a prestação

Desse sorriso nos lábios

É...

Desse sorriso nos lábios

Pois é...

(Desse sorriso nos lábios)


O jogo, a nega, a loteca e o futebol

E um sorriso nos lábios

A taça, a vida, a dureza, viva a beleza do sol

E um sorriso nos lábios

Os olhos fundos sem sono, os corpos como lençol

E um sorriso nos lábios

O cerco, a vida, o circo, o silêncio, um medo anormal

E um sorriso nos lábios


Mas sonha que passa...


Pois o Rio de Janeiro continua lindo!

Põe um sorriso nos lábios

São Paulo, ah, São Paulo continua lindo

Põe um sorriso nos lábios

Sorria, sorria

Põe um sorriso nos lábios...

Põe um sorriso!

Olha o sol, olha o céu, olha o mar, olha a vida...

Põe um sorriso nos lábios

Põe um sorriso nos lábios

Sorria, sorria!

Põe um sorriso nos lábios


Música de Gonzaguinha gravada em compacto lançado em 1973 pela Odeon. Verônica Ferriani fez uma bonita regravação em seu CD de estreia de 2008. A faixa abre o disco dela...

sábado, 2 de outubro de 2021

Conduta de Misericórdia

 Este cavalheiro insolente, agressivo, que parece dominador, e que tomando o caminho, investe contra os teus direitos, encontra-se gravemente enfermo, não tendo dimensão do mal que o consome.

Aquela dama, frívola e irreverente, que parece desejar submeter o mundo aos seus pés, assinalada pelo excesso de joias e tecidos caros, tem o coração dilacerado por terríveis frustrações, que não consegue superar.

Esse jovem rebelde, que desdenha as leis e assoma na tua senda com o cinismo afivelado à face, padece conflitos íntimos que o vergastam e dos quais não pode fugir.

Estoutro senhor, de cenho carrancudo e aspecto amargo, que não logra dissimular a arrogância de que se vê objeto, tem medo de ser conhecido pelas fraquezas morais que carrega interiormente.

Esta moça, quase despida, que exibe o corpo e a alma ao comércio da luxúria, invejada por uns e por outros malsinada, vive ralada pela carência de um amor verdadeiro que a dulcifique e felicite.

O rapaz que expõe o corpo para o jogo exaustivo dos prazeres fáceis, símbolo e modelo de beleza, vive aturdido na timidez que o neurotiza, obrigado a uma exteriorização que o aniquila a pouco e pouco.

No festival dos sorrisos humanos, no banquete dos triunfos sociais e na passarela da fama as criaturas não são o que demonstram, mas, sim, um simulacro do que não conseguem tornar-se.

É certo que há exceções, como não poderia deixar de ser, o que mais afirma a regra geral.

A pobreza andrajosa, a polidez da face de bom comportamento, a voz melíflua, suave, certamente não significam personalidades humildes e resignadas, a um passo do triunfo sobre as vicissitudes.

Muitas provêm de incontida revolta, de sentimentos desesperados, de vidas em estiolamento pela mágoa e pela rebeldia.

Por isso, não julgues ninguém pela aparência, ou melhor, não te arvores a julgamento algum com desconhecimento da causa real.

Torna-te tolerante, embora sem conivir.

O problema de cada um, a cada qual pertencer.

Sê um momento de esperança para quem te busque, ou uma oportunidade de renovação para quem te perturbe ou desafie, mantendo-te em paz contigo mesmo em qualquer situação.

Da mesma forma que o teu exterior não te reflete a realidade interna, os passantes pelo teu caminho igualmente vivem essa  dicotomia de comportamento.

Jesus, que identificava a causa das aflições humanas e penetrava o âmago dos corações, por isso mesmo não julgava, não condenava, não desconsiderava ninguém.

Seguindo-Lhe o exemplo e exercendo misericórdia para com o teu próximo, quando, por tua vez, necessites de apoio, não te faltará o socorro da compreensão e da amizade que alguém te dispensará.


Texto retirado do livro Momentos de Coragem; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 8ª Edição, 2014.