sábado, 29 de janeiro de 2022

O Bem é a Meta

    Surge a Era Nova.
    O sol da esperança desbasta as trevas da ignorância.
    Pequenos grupos de servidores verdadeiros do Evangelho, no silêncio da renúncia, estão levantando os pilotis sobre os quais será erguida a Era Nova.
    Sem alarde, em luta ingente, esses corações convidados constituem segurança para o mundo melhor de amanhã.
    Não obstante o vendaval, as ameaças do desequilíbrio e o predomínio aparente das forças da violência, o bem, como fluido de libertação, penetra todo o organismo terrestre preparando o mundo novo.
    Não engrossam as fileiras dos desanimados, nem aplaudem a insensatez dos perversos ou apoiam a estultícia dos vitoriosos da ilusão.
    Quem aprendeu a confiar em Jesus põe as suas raízes na verdade. São minoria, não, porém, grupo ao abandono.
    Todos os grandes ideais da Humanidade surgem em pequeninos núcleos, que se alargam em gerações após gerações.
    O Cristianismo restaurado, por sua vez, é a doutrina do amanhã, no enfoque espírita, porque a mensagem de Jesus teve de destruir as bases do paganismo para erguer o santuário do amor, o Espiritismo deve apenas erigir, sobre o     Cristianismo, o templo luminoso da caridade.
    Chamados para este ministério, não duvidam, alegrando-se por terem seus nomes inscritos, como diz o Evangelho, no livro do Reino dos céus e serem conhecidos do Senhor.
    Nossa casa tem ação. É hoje reduto festivo, santuário que alberga Espíritos mensageiros da luz, oficina onde se trabalha, escola de educação e hospital de recuperação de vidas.
    Com outros Obreiros aqui temos estado, mantendo a chama da verdade acesa - como ocorria com os antigos faróis com a flama ardente, apontando a entrada dos portos e mais tarde dando notícias dos recifes e perigos do mar.
    Filhos da alma, nunca desistam de fazer o bem, em face do aparente triunfo do mal em desgoverno, em torno de suas vidas.
    Passada a tempestade, a luz volta a fulgir.
    A sombra é somente ausência da claridade. Não é real.
    Só Deus é Vida; somente o Bem é meta.

Texto retirado do livro Momentos Enriquecedores; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora; Salvador, 2015, 2ª Edição.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Uma Noite no Paraíso

     Certa vez, dois amigos inseparáveis fizeram o seguinte juramento: aquele que casasse primeiro chamaria o outro para padrinho, mesmo que esse outro estivesse no fim do mundo

    Pois bem: um dos amigos morre e o outro, que estava noivo, não sabendo o que fazer, vai pedir conselhos ao seu confessor. O pároco assegura que a palavra deve ser mantida. Então o noivo vai até o túmulo do amigo convidá-lo para o casamento.

    O morto aceita o convite de muito bom grado. No dia da cerimônia, não diz uma palavra sobre o que vira no outro mundo.

    No final do banquete, ele fala:

    - Amigo, como lhe fiz este favor, você agora deve me acompanhar um pouquinho até a minha morada.

    O recém-casado, não resistindo à curiosidade, pergunta como era a vida do outro lado.

    O morto, fazendo um pouco de suspense, responde desta forma:

    - Se quiser saber, venha você também ao paraíso.

    O outro concorda. O túmulo se abre e o vivo segue o morto.

    A primeira coisa que vê é um lindo palácio de cristal, onde os anjos tocavam para os beatos dançarem e São Pedro, muito feliz, dedilhava seu contrabaixo. Mais adiante, o amigo lhe apresenta nova maravilha: um jardim onde as árvores, em vez de folhas, tinham pássaros de todas as cores que cantavam.

    - Vamos em frente - diz o morto ao amigo, que fica cada vez mais deslumbrado. - Agora vou levá-lo para ver uma estrela.

    O recém-casado percebe que não se cansaria nunca de admirar as estrelas, os rios, que em vez de água eram de vinho, e a terra, que era de queijo.

    De repente o noivo cai em si, lembra-se da noiva que ficara a esperá-lo e pede:

    - Compadre, preciso voltar para casa, minha esposa deve estar preocupada.

    - Como preferir.

    Assim dizendo, o morto o acompanha até o túmulo, sumindo logo a seguir.

    Ao sair do túmulo, o vivo fica assombrado com o que vê ao seu redor: no lugar daquelas casinhas de pedra meio improvisadas há palácios, bondes, automóveis, as pessoas todas vestidas de modo diferente. Para se certificar, pergunta o nome da cidade a um velhinho que por ali passava.

    - Sim, é esse o nome desta cidade.

    No entanto, ao chegar à Igreja é atendido por um bispo muito importante que, consultando os arquivos existentes ali, descobre que trezentos anos atrás um noivo havia acompanhado o padrinho ao túmulo e não tinha voltado nunca mais.


Uma Lenda Italiana. Texto de Sylvia Manzano. Retirado da revista Nova Escola, maio de 1994. Fundação Victor Civita, Editora Abril.

Oxumarê

 Oxumarê é o segundo filho de Nanã, irmãos de Ossain, Ewá e Obaluaiê, orixás associados ao mistério da morte e do renascimento. Ele é a "serpente arco-íris" com múltiplas características e funções.


Embora Oxumarê seja conceituado como um orixá masculino, existe também a ideia de que seja macho e fêmea ao mesmo tempo. Essa dupla natureza seria vivida de forma alternada, de seis em seis meses, e se encontra representada nas cores vermelha e azul.

Segundo os mitos, Oxumarê é um servidor de Xangô. O seu trabalho consiste em recolher a água que cai na terra durante a chuva e levá-la de volta às nuvens, por meio do arco-íris. Além disso, tem como obrigação dirigir as forças que produzem o movimento.

Narra a lenda que Oxumarê vivia num grande estado de penúria, quando foi chamado por uma rainha de um reino vizinho, Olocum, cujo filho sofria de uma doença estranha. Oxumarê curou a criança. A rainha ficou feliz e lhe deu muitos presentes. Olofin, o rei do reino em que Oxumarê habitava, ficou muito espantado com o seu esplendor repentino e lamentou não ter sido o primeiro rei a prestigiar Oxumarê. Para não ser considerado um rei avarento e mesquinho, Olofin também lhe deu muitos presentes. Oxumarê ficou rico e respeitado. Por isso, ele também é um orixá associado à cura.

Oxumarê é o símbolo da continuidade e da permanência, e é representado, muitas vezes, por uma serpente que se enrosca e morde a própria cauda. Segundo os mitos, ele se enrola em volta da Terra para impedir que ela se separe. Alguns sacerdotes relacionam o seu movimento circular com a dinâmica da vida e do Universo - o movimento de rotação da Terra e sua translação em torno do Sol.

Para os iorubás, ele é a divindade que traz a riqueza aos homens. Ele representa as polaridades - o masculino e o feminino, o bem e o mal, o dia e a noite.

O seu culto no Brasil foi muito distorcido e combatido devido à sua relação com a serpente, pois não há animal mais peçonhento e maldito do que a cobra, segundo os conceitos cristãos propagados no Ocidente.

No Brasil, as pessoas dedicadas a Oxumarê usam colares de contas de vidro amarelas e verdes. Elas usam também o brajá, longos colares de búzios enfiados de forma que lembram as escamas da serpente.

O dia da semana consagrado a ele é terça-feira. Na Bahia, é sincretizado com São Bartolomeu. Sua festa acontece no dia 24 de agosto, ocasião em que seus devotos se banham em uma cascata coberta por uma neblina, onde o sol faz brilhar o arco-íris.


Arquétipo


Oxumarê é o arquétipo da renovação, da necessidade de mudança. Demonstram desejo por riquezas e são pacientes e persistentes em seus empreendimentos. Não medem sacrifícios para atingir seus objetivos. Quando atingem o sucesso, tornam-se facilmente orgulhosos e fazem questão de demonstrar sua grandeza. São de certa forma generosos, pois dificilmente negam ajuda àqueles que necessitam. Agitados e observadores, procuram constantemente o equilíbrio e a harmonia. Suas grandes forças são e eloquência e a inteligência, armas que usam com muita habilidade em situação de ataque ou defesa. Quando estão calmas, são pessoas fáceis de se lidar. Entretanto, quando estão aborrecidas ou com raiva, agem de forma impulsiva e até mesmo violenta.


Texto retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Iemanjá

 Iemanjá é um orixá muito popular no novo mundo, principalmente no Brasil. Considerada a "Rainha do Mar", é uma divindade maternal, sempre disposta a zelar por seus filhos.


Iemanjá é uma das rainhas das águas do mar - sua morada - local onde costuma receber os presentes e oferendas de seus devotos. O seu nome deriva da expressão YéYé Omó Ejá que significa "mãe cujos filhos são peixes". Na África, era cultuada pelos egbá, nação iorubá da região de Ifé e Ibadan, onde se localiza o rio Yemojá.

Seguindo os mitos, Iemanjá era filha de Olokun, deus (em Benin) ou deusa (em Ifé) do mar. Narra a lenda que seu primeiro marido foi Orunmilá, deus das adivinhações, e que se casou também com Olofin, rei de Ifé.

Os domínios de Iemanjá são os das profundezas das águas, de onde emerge para atender seus fiéis, principalmente as mulheres que possuem problemas de fertilidade e fecundidade. Seu axé é assentado sobre pedras marinhas e conchas, e são guardadas numa porcelana azul.

Iemanjá é maternal e está sempre pronta para amamentar as crianças que estão sob seus cuidados. Ela é uma figura extremamente simples, se comparada com as outras divindades do panteão africano, sendo representada com o aspecto de uma matrona, de seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva.

Iemanjá simboliza o espelho do mundo. Ela é a mãe que orienta e mostra os caminhos, que educa e sabe explorar as potencialidades de seus filhos.

No Brasil, Iemanjá é uma divindade muito popular, e é sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição, festejada no dia 8 de dezembro. Embora ela seja associada à água salgada, na Bahia ela é homenageada no dia 2 de fevereiro, numa das festas mais populares do ano em que milhares de pessoas, trajadas de branco, saem em procissão ao templo-mor, localizado próximo à foz do Rio Vermelho, onde depositam variedades de presentes e oferendas (espelhos, bijuterias, perfumes, comidas, etc).

No Rio de Janeiro, Santos e Porto Alegre, é reverenciada durante a última noite do ano, quando centenas de milhares de adeptos, perto da meia-noite, acendem velas ao longo das praias e jogam flores e presentes no mar. Essa celebração também inclui as tradicionais "sete ondas" que os fiéis pulam, fazendo pedidos a Iemanjá para o ano que se inicia.

Ela é frequentemente representada sob a forma de uma sereia, com longos cabelos soltos ao vento. Chamam-na, também, Dona Janaína, ou mesmo Princesa ou Rainha do Mar. O sábado é o dia da semana que lhe é consagrado. Seus adeptos usam colares de contas de vidro transparentes e vestem-se, de preferência, de azul-claro.


Arquétipo


O arquétipo de Iemanjá é o de pessoas que prezam o lar e a família, que se preocupam com os filhos. Existe muito carinho e respeito na relação com os filhos. Quando a segurança dos mais próximos está em jogo, podem agir de forma agressiva ou traiçoeira. Possuem apego ao lar e gostam de viver num ambiente confortável. A força e determinação fazem parte de seu caráter. São solidários e prezam pelas amizades. Não se preocupam muito com a carreira e nem fazem planos para o futuro. Geralmente, possuem um círculo restrito de amigos porque demoram muito para confiar nas pessoas. Muitas vezes põem à prova as amizades que lhe são devotadas, demoram a perdoar uma ofensa e, se a perdoam, não a esquecem jamais.


Texto retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Obá

 Obá é um orixá feminino iorubá, cultuado em toda a África como a deusa protetora do poder feminino. Capaz de grandes sacrifícios pessoais, era uma mulher forte, que comandava as demais e desafiava o poder masculino.


Obá, orixá do rio de mesmo nome, foi esposa de Ogum e, mais tarde, a terceira mulher de Xangô. Tudo relacionado a ela é envolto em mistérios. Muito enérgica, era fisicamente mais forte que muitos orixás masculinos. Embora ela tenha se transformado num rio, é considerada uma deusa relacionado ao fogo.

Obá é um orixá que raramente se manifesta, e existem poucos estudos sobre ela. Consciente do seu poder, ela luta e reivindica os seus direitos, e enfrenta qualquer homem, menos aquele que tomar o seu coração.

Entre as esposas de Xangô, ela ocupava o último posto. Sentia-se inferior em relação às outras mulheres por julgar-se incompetente nas tarefas cotidianas, como o preparo de alimentos. Com espírito dócil, geralmente tolerava muitas coisas que a desagradavam.

A deusa é bastante conhecida por ter seguido um "conselho" de Oxum para agradar Xangô. Decepou a própria orelha e a ofereceu em um ensopado a Xangô, acreditando que isso o faria apaixonar-se por ela. O marido, ao receber o prato ficou revoltado e desprezou Obá. Por esse motivo, Oxum e Obá brigaram de forma violenta. Desde então Obá sempre se apresenta  escondendo seu defeito com a mão.

Obá muitas vezes é associada ao ciúme. Entretanto, ela representa o amor, as paixões e todos os possíveis dissabores e tristezas que o sentimento pode provocar. Se ela tem ciúmes é porque ama. Há quem diga que ela canaliza toda a energia das suas paixões frustradas para a guerra, tornando-se uma guerreira que nenhum homem ousa enfrentar. Sua cor é o vermelho e sua dança é de guerreira: ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo na outra. Suas oferendas consistem em cabras, patos e galinhas d'angola. Ela é associada à Santa Catarina e o dia da semana consagrado a ela é quarta-feira.


Arquétipo


O arquétipo de Obá é o de pessoas que, embora possuam valor, são incompreendidas. Algumas vezes são extremistas em seus conceitos, com atitudes determinadas e agressivas. Entretanto, a sua agressividade é puramente defensiva, pois desconfia muito das pessoas pelas experiências infelizes do passado. Muitas vezes sofrem de complexo de inferioridade e julgam que as pessoas se aproximam apenas para tirar proveito de alguma coisa. Embora sejam bons companheiros e amigos fiéis, são possessivos e ciumentos no amor e, por isso, não conseguem alcançar a felicidade. Quando se apaixonam, nunca são senhores do relacionamento, pois abdicam de todas suas convicções e ideais por amor, pois Obá é a mulher que se anula completamente quando ama. Apesar de seu emocional ser um pouco perturbado, encontra compensação para suas frustrações no sucesso material. Investe sua energia em sua carreira, como uma forma de resgate pessoal.


Texto retirado da revista Sexto Sentido Especial: Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

sábado, 22 de janeiro de 2022

Oxum

 Oxum é o orixá do Rio de mesmo nome que corre na Nigéria. Conhecida no Brasil popularmente como "Mamãe Oxum", ela rege particularmente as águas em movimento.


Apesar de ser comum a associação entre rios e orixás femininos, Oxum é considerada a dona da água doce, reinando sobre todos os rios. As lendas a descrevem com ricas vestes e objetos de uso pessoal. Sua imagem é quase sempre associada à maternidade, sendo comum ser invocada com a expressão "Mamãe Oxum".

As mulheres que desejam ter filhos dirigem-se a Oxum, pois ela controla a fecundidade, sendo de sua responsabilidade o cuidado com os fetos em gestação e com as crianças que nascem, até quando aprendem a falar.

Conta-se que, quando os deuses chegaram à Terra, se reuniam sem a presença das mulheres. Aborrecida com a situação, Oxum teria provocado a esterilidade em todas as mulheres como uma forma de vingança. Os orixás, ao buscarem ajuda de Olodumaré, descobriram que, sem a presença de Oxum em suas reuniões, nada daria certo na Terra. A fecundidade só voltou quando Oxum aceitou o convite para se reunir com os deuses.

Considerada uma das figuras mais belas dos mitos africanos, Oxum tem como domínio a sensualidade e a atividade sexual. Os fiéis procuram sua ajuda para a solução de problemas afetivos, pois ela é a responsável pelas uniões amorosas. Ela também auxilia as pessoas em suas finanças, tanto que, muitas vezes é chamada Senhora do Ouro.

Oxum também é o símbolo da sensibilidade. Muitas vezes, ao incorporar, derrama lágrimas, característica que se transmite aos seus filhos, identificado por "chorões".

Segundo a tradição iorubá, sua cor é azul-claro e ouro, seu metal é o cobre, metal mais nobre conhecido na época. Oxum gosta de riquezas materiais, mas não no sentido de usura ou mesquinhez. É sensual e exibicionista, consciente de sua rara beleza, e se utiliza desses atributos com jeito e carinho para seduzir as pessoas e conseguir seus objetivos.

No Brasil, seus adeptos usam colares de contas de vidro de cor amarelo-ouro e numerosos braceletes de latão. O dia da semana consagrado a ela é o sábado. A sua dança lembra o comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora. Ela é sincretizada com Nossa Senhora das Candeias, na Bahia, e no sul do Brasil com Nossa Senhora da Conceição.


Arquétipo


O arquétipo de Oxum é o de pessoas elegantes, graciosas, com bom gosto, apaixonadas por joias, perfumes e roupas caras. Simbolizam o charme e a beleza feminina. Possuem muita sensualidade, porém são recatadas. Existe sob sua aparência graciosa e sedutora um grande desejo de ascensão social. O arquétipo psicológico associado a Oxum se assemelha à imagem que temos de um rio, em que a aparência de calmaria pode esconder muitas coisas. São persistentes em sua buscas, chegando muitas vezes à obstinação. Gostam muito da vida social, festas e dos prazeres em geral.

Devido a sua sensibilidade, muitas vezes esquecem as ofensas recebidas e procuram reatar os laços de amizade. Tem também como característica a generosidade, pois não gostam de presenciar pessoas em dificuldades.


Texto retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

Censura Injustificável

 Pessoas bem-intencionadas estranham a conduta de muitos companheiros nas escolas de educação espírita, a qual não condiz com os postulados da Doutrina que eles se empenham por esposar.

Arrimados aos conceitos admiráveis do Espiritismo, eles derrapam, não obstante, na maledicência contumaz, na acusação gratuita, na calúnia insensata, dando margem ao surgimento de facções que competem, umas contra as outras, no mesmo Núcleo onde se reúnem.

Tal comportamento sugere ignorância do conteúdo doutrinário, ainda não penetrado, embora esses amigos se abeberem da fonte generosa e rica da Codificação...

Quando alguém se destaca ou cresce em ação dignificadora, é, quase sempre, ferozmente atacado, seja por meio dos artifícios da hipocrisia ou mediante a agressão frontal demolidora, qual se o outro fosse um inimigo figadal, que devesse ser exterminado...

Sem dúvida, é lamentável a paisagem moral ainda reinante na Terra, e, como consequência, presente em todos os arraiais, inclusive onde jamais deveria surgir.

O homem, porém, encontra-se enfermo da alma, necessitado de maior soma de tolerância e de carinho.

Sem qualquer pretensão de nossa parte, buscando justificar esses anômalos comportamentos, devemos ter em conta que, sendo a Mensagem Espírita o excelente medicamento para os males humanos, são os doentes mais graves que o buscam, e,  enquanto não se dá a cura, permanecem ou repontam as mazelas do paciente.

Felizmente, esses enfermos já recorreram à terapia correta, sendo factível esperar-se que, logo mais, se encontrem saudáveis.

Por outro lado, tenhamos em mente que a ocorrência desagradável se dá sob a ação recuperadora; imagine-se quão graves compromissos seriam assumidos, se eles se encontrassem distanciados das técnicas de iluminação?!

Não tomes a ninguém como teu modelo.

O companheiro mais esclarecido e dedicado é tão frágil e falível quanto o és tu mesmo.

Tem os mesmos direitos de errar e emendar-se, qual ocorre contigo.

Estimula-te ante as suas ações nobilitantes, mas não transfiras para ele a conduta que não podes viver.

Ajuda-o, também, com gentileza e compreensão, a fim de que ele disponha de forças para alcançar a meta a que se propõe.

Se ele tomba, distende-lhe a mão amiga e não o esbordoes com o erro cometido, porquanto ele o sabe e o sofre.

Sê sempre aquele que não censura, nem agride, porém capaz de entender e ajudar sem descanso.

Dia chegará, não remoto, em que a Terra fulgirá na constelação dos mundos felizes e os seus habitantes, vestidos com a túnica nupcial, realizarão as bodas com a felicidade e a plenitude que perseguem e ainda não lograram fruir.


Texto retirado do livro Momentos de Coragem; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 8ª Edição, 2014.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Oiá-Iansã

 Filha de Nanã, Oiá-Iansã é a deusa do Rio Níger, o orixá dos ventos, das tempestades, dos tufões. Conhecida como Iansã, é justiceira e destemida e a "senhora" dos espíritos dos mortos.


Guerreira e agitada como o próprio vento, Oiá-Iansã tinha um temperamento  ardente e impetuoso. Sensual e extrovertida, viveu com Ogum e depois se tornou a primeira mulher de Xangô. Segundo as tradições, foi com Ogum que aprendeu o uso das armas e a enfrentar os campos de batalha.

De acordo com os mitos, Iansã foi a única mulher de Xangô que, ao final do seu reinado, seguiu-o para Tapá. Quando Xangô se recolheu para baixo da terra em Kôsso, ela fez o mesmo em Irá.

Destemida e justiceira, Iansã tem ligações com o mundo subterrâneo. Ela é considerada a "Senhora" absoluta dos Eguns (espíritos dos mortos) e, segundo os mitos, compete somente a ela conduzi-los para longe ou perto dos seres vivos. Devido a esses atributos, ela também é conhecida como a "Deusa dos Cemitérios".

Iansã também favorece a fecundidade, pois, como deusa das tempestades, contribui para a fertilidade do solo. Embora sua figura seja associada à sensualidade, ela guarda uma boa distância dos outros orixás femininos da mitologia africana, aproximando-se mais dos terrenos consagrados ao homem. Suas emoções sempre foram intensas, reagindo de forma dramática a qualquer situação perturbadora. Ela sempre está distante do lar, presente nos campos de batalha e nos caminhos repletos de aventuras. Entretanto, uma grande ofensa a Iansã é a agressão, de qualquer espécie, aos seus filhos.

Iansã é um orixá muito famoso no Brasil e é associada à figura católica de Santa Bárbara. Nas cerimônias, Iansã sempre surge, quando incorporada a seus filhos, como autêntica guerreira, brandindo sua espada, ameaçando os outros, prometendo a guerra, a justiça.

As pessoas dedicadas a Iansã usam colares de contas de vidro grená. A quarta-feira é o dia da semana consagrado a ela, o mesmo dia de Xangô, seu marido. Seus símbolos são os chifres de búfalo e um alfanje. Suas danças são guerreiras com movimentos sinuosos e rápidos, que evocam as tempestades e os ventos.


Arquétipo


O arquétipo de Oiá-Iansã é o de mulheres guerreiras e audaciosas que, apesar de serem leais em certos momentos, são facilmente levadas pela cólera quando contrariadas. De temperamento sensual, são dadas a aventuras amorosas. Podem repentinamente mudar o rumo de sua vida por um ideal ou por amor. Acreditam que com coragem e disposição podem vencer qualquer tipo de obstáculo. Suas atitudes imprevisíveis costumam fascinar os que os cercam porque são francas e sinceras. São amigos leais e fiéis, francos e sinceros e expressam suas alegrias e tristezas sem muito pudor. Em geral, são pessoas alegres, intrigantes, autoritárias e depreendidas. Quando negativas, tendem a ter depressão e ciúmes em excesso.


Texto retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Ossain

 Ossain é o orixá que detém todos os segredos das folhas e de seus preparos, sem esse conhecimento, nenhuma cerimônia aos orixás pode ser realizada.


Ossain é o deus das plantas medicinais e litúrgicas. Sua importância é essencial, pois ele sabe os mistérios e os poderes das ervas, a forma como devem ser utilizadas e as palavras de poder que despertam seus poderes secretos nos rituais aos deuses. Ele é o detentor do axé (poder, vitalidade, energia e força), de que nem mesmo os orixás podem privar-se. Esse axé encontra-se em folhas e ervas específicas. As folhas nascidas das árvores e as plantas constituem uma emanação direta do poder  sobrenatural da terra fertilizada pela chuva (água-sêmen). Dessa forma, o poder das plantas são múltiplos e usados para diversos fins. Muitas lendas afirmam que, devido ao seu conhecimento, Ossain fazia com que os outros orixás dependessem dele em todos os cultos.

As áreas consagradas a Ossain são os pequenos recantos, onde apenas os sacerdotes podem entrar. Nesses locais, as plantas crescem de maneira selvagem.

Ossain é considerado o orixá da cor verde, do contato mais íntimo com a natureza. Seu domínio estende-se particularmente às folhas, nas quais corre o seu sumo. Graças a esse domínio, Ossain é figura marcante porque o "sangue dos vegetais" é usado em todos os rituais importantes.

Ele é o orixá a quem se pede ajuda para diferentes problemas, seja a doença, sejam os encantamentos. Alguns dizem que ele vive na floresta de Aroni, um anãozinho semelhante ao saci-pererê, que tem uma única perna e fuma permanentemente um cachimbo feito de casca de caracol.

Outras lendas dizem que, da mesma forma que outros magos, Ossain vive sozinho, em estreita e diária ligação com as plantas, como um misterioso e solitário ermitão.

No Brasil, os filhos de Ossain usam colares de contas verdes e brancas. Sábado é o dia consagrado a ele. O ritmo dos seus cantos e das danças é particularmente rápido, saltitante e ofegante.


Arquétipo


O arquétipo de Ossain é o de pessoas equilibradas, que não permitem que suas simpatias e antipatias pessoais intervenham em suas decisões ou influenciem suas opiniões sobre o universo à sua volta. Não é introvertido, mas também não faz muita questão de convívio social. Reservado, não intervém em questões que não lhe digam respeito. Existe sempre uma certa aura de mistério envolvendo sua história passada. Muitas vezes, podem ser julgados individualistas por não se preocuparem com o que acontece fora da sua esfera. São pessoas meticulosas que não se deixam levar pela pressa. Geralmente não gostam de trabalhar em conjunto e o fazem apenas quando o trabalho em grupo pode gerar o resultado esperado. A religiosidade e seus aspectos ritualísticos despertam seu interesse, assim como os costumes e tradições.


Texto retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás; nº 46, Mythos Editora, São Paulo, 2010.

domingo, 16 de janeiro de 2022

O Último Suspiro

 No dia 22 de março de 1312, em Vienne, França, o papa Clemente V publicou a bula Vox in Excelso para destruir os Cavaleiros Templários. Os extratos da bula revelam os crimes imputados aos Templários e as ações tomadas por Clemente para suprimir a Ordem.


"Pouco tempo atrás, à época de nossa eleição como sumo pontífice e antes de virmos a Lyon para nossa coroação, e depois, tanto lá como em outros lugares, recebemos notificações secretas contra o mestre, preceptores e outros irmãos da Ordem dos Cavaleiros Templários de Jerusalém e, também, contra a ordem em si. Tais homens foram alocados em terras do ultramar para a defesa do patrimônio de Nosso Senhor Jesus Cristo; e como guerreiros especiais da fé católica e defensores da Terra Santa pareciam os grandes responsáveis pela estabilidade da mencionada região. Por esse motivo, a santa igreja romana honrou tais irmãos e a ordem com seu apoio especial, armando-os com o símbolo da cruz contra os inimigos de Cristo... Portanto, foi contra o próprio Senhor Jesus Cristo que eles praticaram o ímpio pecado da apostasia, o abominável vício da idolatria, o crime mortal dos sodomitas e diversas heresias. Ainda assim, não era esperado nem parecia crível que homens tão devotos, que muitas vezes foram extraordinários a ponto de derramar o próprio sangue por Cristo e repetidas vezes foram vistos expor suas pessoas a perigos mortais, que ainda com maior frequência foram vistos dando grandes sinais de devoção tanto em termos de adoração divina, no jejum e em outras práticas, seriam tão negligentes de sua salvação ao cometer tais crimes.

Então veio a intervenção de nosso dileto filho em Cristo, Filipe, o ilustre rei da França. Os mesmos crimes haviam sido relatados a ele. Filipe não agiu motivado pela cobiça. Ardente no zelo pela fé ortodoxa, ele seguiu os bem marcados passos de seus ancestrais. Ele extraiu o máximo de informação permitida por lei. A seguir, para nos lançar mais luz sobre o tema, Filipe nos enviou valiosas informações por meio de enviados e cartas. Crescia o escândalo contra os Templários em si e sua Ordem no que tange aos crimes já mencionados.

Houve até um dos cavaleiros, um homem de sangue nobre e conhecida reputação na Ordem, que testemunhou secretamente sob juramento diante de nossa presença, que, quando de sua admissão, o cavaleiro que o recebeu o instou a negar a Cristo, o que ele fez, na presença de outros cavaleiros do Templo; ademais, ele cuspiu na cruz estendida para ele por esse cavaleiro que o admitira. Ele também disse ter visto o grão-mestre, que ainda está vivo, admitir certo cavaleiro num capítulo da Ordem no ultramar. A admissão se deu da mesma maneira, nomeadamente com a negação de Cristo e o cuspe na cruz, na presença de cerca de 200 irmãos da Ordem. A testemunha ainda afirmou ter ouvido dizerem que aquele era o modo costumeiro de admitir novos membros: instado pela pessoa que admite a profissão ou por seu representante, o neófito nega Jesus Cristo e, para insultar o Cristo crucificado, cospe na cruz apresentada a ele, e os dois cometiam outros atos ilegais contrários à moral cristã, como a própria testemunha confessou em nossa presença.

Estávamos moralmente obrigados por nosso ofício a prestar atenção ao rumor de tão graves e repetidas acusações... Como nós, indignamente, representamos Cristo na Terra, consideramos que deveríamos, seguindo seus passos, fazer uma investigação. Convocamos à nossa presença muitos dos preceptores, padres, cavaleiros e outros irmãos da Ordem que eram de sabida reputação. Sob juramento, foram conjurados com insistência pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo; exigimos, em virtude da santa obediência, invocando o julgamento divino com a ameaça da danação eterna, que pura e simplesmente contassem a verdade. Salientamos, então, a eles que se encontravam em local seguro e adequado onde nada tinham a temer apesar das confissões que haviam feito diante de outros. Exprimimos nosso desejo que tais confissões não lhes causariam prejuízos. Desse modo procedemos nosso interrogatório e examinamos 72, muitos dos nossos irmãos estavam presentes e obedeciam cuidadosamente aos procedimentos. Em nossa presença, as confissões foram anotadas pelo notário e registradas como documentos autênticos...

A seguir, buscando fazer uma investigação pessoal (...) convocamos o grão-mestre, o visitador da França e os preceptores-chefe de Ultramar, Normandia, Aquitânia e Poitou a comparecerem diante de nós enquanto estávamos em Poitiers...

Tomando por base essas confissões, depoimentos escritos e relatórios, descobrimos que o mestre, o visitador e os preceptores de Ultramar, Normandia, Aquitânia e Poitou muitas vezes cometeram ofensas graves, embora alguns tenham transgredido com menos frequência que outros. Nós consideramos que esses crimes medonhos não poderiam nem deveriam ficar impunes sem insultar ao Deus todo-poderoso e a todos os católicos. Aconselhados por nossos irmãos, decidimos instaurar uma averiguação dos acima citados crimes e transgressões. Assim que foram concluídas e enviadas para nosso exame, as investigações foram lidas e examinadas com cuidado, algumas por nós mesmos e outras por nossos irmãos, cardeais da santa igreja romana e outros ainda por homens de grande saber, tementes a Deus, prudentes e confiáveis...

Mais adiante, viemos a Vienne, onde já encontravam reunidos vários patriarcas, arcebispos, bispos escolhidos, abades recolhidos e não recolhidos, outros prelados da igreja...

Havia duas opiniões: alguns diziam que a sentença deveria ser pronunciada imediatamente, condenando a ordem por seus alegados crimes; já outros objetavam que, tendo por base os procedimentos seguidos até então, a sentença contra a Ordem não podia ser simplesmente enunciada. Após longa e ponderada deliberação, tendo apenas Deus em nossa mente e o bem da Terra Santa, sem tomar partido por ninguém, optamos por proceder pelo caminho da providência e da ordenação, dessa forma o escândalo seria removido, os perigos evitados e a propriedade salva para ajuda da Terra Santa...

Portanto, com o coração pesaroso, não pela sentença final, mas pela providência e ordenação apostólicas, com a aprovação do sagrado conselho, nós extinguimos a Ordem dos Templários, suas regras, hábitos e nome, por meio de um édito perpétuo e inviolável e proibimos que de agora em diante alguém seja admitido na Ordem, receba ou vista seu hábito ou pretenda se comportar como um Templário. Quem agir de outra forma incorrerá em excomunhão. Ademais, reservamos as pessoas e propriedades à nossa disposição e da Sé Apostólica (...)".


Retirado da revista Especial Templário, Ano I; Editora Selo Qualidade de Vida, São Paulo.

sábado, 15 de janeiro de 2022

Em Soledade

 A tua não é uma soledade única.

A Terra se encontra repleta de pessoas que, por uma ou outra razão, foram conduzidas à solidão.

Este fugiu do mundo, receando agressão, marcado por dores íntimas que o acompanham desde a infância.

Esse afastou-se do convívio social por haver sofrido o que considera uma injustiça.

Aquele deixou-se cair na depressão e buscou o seu mundo íntimo, onde se refugia, cerrando a porta à solidariedade.

Este outro, temendo não ter forças para resistir ao contato com as pessoas, transferiu-se para as montanhas e praias da meditação, afastando-se de todos.

Mais alguém, cansado da batalha diária, renunciou ao movimento geral e aquietou-se, quase se alienando.

A tua soledade, porém, é feita de amargura, porque, no meio dos indivíduos felizes e atraentes, ninguém tem tempo para ti, nem despertas a amizade ou o interesse de outrem.

Esta situação afligente é causa de martírio. No entanto, reconsidera a situação e acerca-te do teu próximo.

Ele talvez se encontre em estado equivalente ao teu.

Não é feliz, apenas parece.

Faz ruído para dissimular o que se passa no íntimo.

Chama a atenção por necessidade e, preocupado com os próprios problemas, não dispõe de capacidade mental e emocional para identificar os teus.

Acerca-te dele, com discrição e bondade, constatando que doar afeto resulta em recebê-lo.

Toda oferta espontânea se transforma em intercâmbio, no qual cada um reparte um pouco daquilo de se dispõe.

Mesmo que o vazio interior permaneça, preenche-o de ação positiva pelo teu próximo, dando-te conta que, o bem que lhe propicias e que gostarias de receber, já se encontra em ti.

A estrada de todos aqueles que buscam a Verdade é caracterizada pelo silêncio, pela soledade.

Gandhi, que a milhões de vidas beneficiou, na soledade interior construiu as resistências morais para doar com alegria a existência à Causa abraçada.

Teresa de Ávila, fascinada pela fé e malvista no Monastério, seguiu sozinha até o pleno encontro com Jesus.

Pasteur, ridicularizado pela presunção dos falsamente doutos, insistiu nas suas pesquisas até oferecer à Humanidade a demonstração das suas descobertas.

Os ocupados com a busca do bem não dispõem de tempo para repartir com os ociosos, os saciados, os gozadores.

Liberta-te das ataduras da autocompaixão, renova-te e avança no rumo dos objetivos elevados, em soledade talvez, porém, ao encontro de Jesus Cristo que, da solidão da montanha onde se refugiava, após haurir forças com o Pai, descia à turbamulta para ajudá-la a que ascendesse, superando os obstáculos que criava, fruindo da liberdade que Ele oferecia.

Em soledade, porém com Ele, alçarás voo ao país da alegria, onde comungarás com todos aqueles que te precederam na conquista da Luz.


Retirado do livro Momentos de Alegria; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 4ª Edição, 2014.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Eles não foram felizes para sempre

 Pouco menos de dois séculos. Esse foi o tempo necessário para que a Ordem do Templo se transformasse em uma das maiores redes de influência da Europa. Perto do ano 1300, a organização funcionava como uma espécie de multinacional medieval, que envolvia bancos, transportadoras e uma série de outros serviços ligados à administração, às finanças e ao comércio.

Tal sucesso devia-se a dois fatores principais: ao mesmo tempo em que tornavam suas vitórias e seu idealismo conhecidos, passaram a receber um grande número de doações em dinheiro, terras ou propriedades. Em sua maior parte, as ofertas vinham de nobres e soberanos que, guiados pelo misticismo da época, acreditavam que com esse ato expiariam seus pecados e ganhariam a salvação no Reino dos Céus.

Logo, castelos, terrenos, moinhos, aldeias e outros bens faziam parte da Ordem. Com isenção de impostos, os Templários sabiam como fazê-los render: as terras e as propriedades eram arrendadas e geravam ainda mais dinheiro. Dessa forma, o sucesso dos empreendimentos parecia ir de vento em popa, ainda que os princípios originais, que proibiam os cavaleiros de ostentar qualquer tipo de riqueza, há muito já tivesse sido distorcido.


O Começo do Fim


Enquanto o sucesso financeiro dos cavaleiros aumentava dia a dia, o mesmo não se podia dizer a respeito de suas ações militares, já que cada vez mais amargavam derrotas contra o exército dos muçulmanos. À época, já eram tidos por toda sociedade como ricos, arrogantes e egoístas, pois, aparentemente, serviam apenas aos próprios interesses, e não aos dos cristãos no Oriente Médio.

Com a reputação abalada, os Templários lutavam para se reerguer quando caíram nas garras do poderoso Rei Filipe, o Belo, da França, que decidiu se apoderar da fortuna da Ordem. Determinado a impor sua autoridade sobre todo o país, o rei via nos Templários um verdadeiro entrave ao seu objetivo, afinal, por pertencerem a uma ordem religiosa, respondiam somente ao papa, e não ao monarca. Além disso, a aquisição de todas as posses da Ordem iria ao encontro das necessidades da Coroa francesa, que passava por maus bocados financeiros. Aliado ao papa Clemente V, o soberano tramou uma conspiração para acusar os cavaleiros de hereges, assassinos e adoradores do Diabo.

Em 1307, todos os cavaleiros que estavam em território francês foram investigados e presos por ordem do papa que, embora não aprovasse integralmente as ações de Filipe, temia perder o apoio do Rei. Em pouco menos de cinco anos, a publicação da bula papal Vox in Excelso viria a decretar o fim da Ordem dos Templários em definitivo. Ao final de um processo cheio de irregularidades, os cavaleiros do Templo foram queimados vivos em praça pública e seus bens confiscados pelo rei francês. Jacques De Molay, o último grão-mestre dos Templários, foi um dos quase 500 guerreiros levados à fogueira em Paris. Acabava, com ele, todo o esplendor e a glória da linhagem original desses Cavaleiros.

Transcorridos alguns séculos, atualmente, muitos especialistas acreditam que a perseguição implacável do rei sobre a Ordem nada teve a ver com questões religiosas. Para confirmar essa teoria, recentemente, um documento de 700 anos revelado pela Igreja Católica aponta que, ao fim do inquérito realizado para investigar as ações e a vida dos Templários, o papa Clemente V julgou e absolveu-os da acusação de heresia, embora tenha os condenado pela imoralidade - situação a qual pretendia reverter a partir de uma reforma na organização. Entretanto, subjugado às vontades do monarca, não teria conseguido evitar o fim trágico.


Retirado da revista Especial Templários, Ano I, Editora Selo Qualidade de Vida, São Paulo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Seguidores de uma Ordem

 Os Templários: quem eram afinal? Homens santos ou apenas guerreiros corrompidos por uma religião?


Levar uma vida inteiramente regida por valores cristãos e, ao mesmo, dispor-se a guerrear até a morte para eliminar os inimigos desses valores pode parecer contraditório. Um conflito como esse já evidencia que, definitivamente, viver como um templário não deveria mesmo ser uma tarefa fácil. Para seguirem a vida monástica associada à missão militar, os integrantes da Ordem submetiam-se a um conjunto de regras bastante rígido. Além do voto de castidade e de pobreza, renunciavam a qualquer material ou objeto que pudesse representar ostentação, bem como abriam mão por completo dos prazeres físicos e materiais. No livro Sociedades Secretas: Templários (Universo dos Livros), o autor Sérgio Pereira Couto revela toda a trajetória da Ordem, desde o início até os dias de hoje, e relata também como era a vida de um templário. A seguir, você confere um trecho dessa obra.


O Dia


O relógio bate 4 horas da manhã. Começam as matinas, o primeiro serviço religioso do dia. Os cavaleiros levantam-se e vão para a capela da igreja, a fim de realizar seu primeiro compromisso: rezar 28 Pai-Nosso, 14 representando as horas do dia e outros 14 para a Virgem Maria. Sempre que possível, repetiam essa rotina, pelo menos mais quatro vezes durante o dia. Depois, às 06 horas da manhã, é hora da Prima, e, às 11h30, da missa.

As refeições do dia variam de duas a três. Quando a primeira refeição do dia fica pronta, cada templário deverá ter rezado 60 Pai-Nosso, 30 para os vivos e 30 para os mortos poderem sair do purgatório. Começa, então, a refeição, em absoluto silêncio, quebrado apenas pelas palavras do prior, responsável por abençoar a refeição, e as do clérigo, que lê a Bíblia em voz alta. Há três grupos distintos em mesas separadas: cavaleiros, empregados e padres. Não há nenhuma forma de comunicação verbal e vários sinais são usados para evitar a conversa. Quem transgredir a Regra tem como punição comer sozinho.

O cardápio apresentava carne (de carneiro, vaca, cabra, vitela ou peixe) três vezes por semana e verduras, leite, queijo e pão nos outros dias da semana.

Após a refeição da tarde, os templários se encontram na capela para dar graças. Na sequência, vem a Nona (14h30) e as Vésperas (18h). A refeição noturna é uma repetição da anterior, em completo silêncio. Vêm, então, as Completas e, depois, um "momento de descontração", no qual o mestre da casa liberava certas doses de água ou vinho diluído para os irmãos. O silêncio, atributo levado ao pé da letra, deveria ser absoluto, principalmente no período entre as Completas e as Matinas.

Por não poderem ficar ociosos, os irmãos ocupavam-se, quando não estavam comendo, rezando ou em batalhas, de trabalhos externos nos campos ou outros tipos de tarefas simples (como cuidar de seus cavalos - cada templário tinha direito a três - ou, em tempos de expedições, preparar seu equipamento de batalha).

A parte dedicada à aparência pessoal era um capítulo à parte. Cada membro deveria seguir a Regra, que estabelecia cabelos curtos e barba crescida. E nada de banho, pois, além de a aparência desleixada dar um ar selvagem que contribuía para assustar o inimigo, um templário não deveria nunca ver seu corpo despido. Numa sociedade masculina, temiam-se práticas homossexuais, por isso os irmãos deveriam dormir sempre com as luzes acesas, a fim de impedir pensamentos libidinosos e afugentar a escuridão.

Também era rígida a conduta para as mulheres. Nenhum deles podia se tornar padrinho de ninguém, nem entrar num recinto onde houvesse uma mulher, pois a Regra considerava perigoso olhar constantemente para mulheres. Beijar também era proibido, fosse mulher viúva, virgem, mãe, irmã, tia ou qualquer outra. As freiras não faziam da Ordem, e ter empregadas só era permitido em casos de extrema necessidade, com nenhuma outra alternativa disponível. Uma observação da Regra foi a causa primordial de uma das acusações de Filipe, o Belo, contra a Ordem: era absolutamente proibido beijar uma mulher na boca, o que geraria as acusações de prática de homossexualidade.

Todos os cavaleiros deveriam, também, fazer jejum antes do Natal e da Páscoa por 40 dias, outra resolução da Regra, com exceção para casos em que o alimento fosse necessário antes da batalha ou se o grão-mestre decidisse que não deveria ser realizada a abstinência.

Os casos de expulsão da Ordem aconteciam se um cavaleiro era pego abusando de seus privilégios, roubando, cometendo heresias, matando um cristão ou revelando detalhes de seu capítulo.


Retirado da revista Templários Especial, Ano 1, nº 1; Editora Selo Qualidade de Vida, São Paulo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Os Templários (Os fatos por trás dos mitos)

 Sociedade secretas, tesouros sagrados, grandes conspirações... A saga dos templários têm os elementos de uma boa história de aventura e mistério. Mas, afinal, é possível separar a realidade da ficção?


Muitos são os enigmas que envolvem a Ordem dos Pobres de Cristo e do Templo de Salomão. Ainda hoje em dia, quase tudo o que se sabe sobre esses guerreiros monásticos se perde em um confuso emaranhado de lendas e suposições.

Mais conhecidos como cavaleiros templários, durante muito tempo eles foram vistos como homens de fé e coragem, que arriscavam a vida para proteger os cristãos na Terra Santa. Mas essa não foi a única  imagem que deixaram: em sua trajetória, chegaram a ser apontados como negociantes oportunistas que negavam a moral cristã e estavam interessados apenas em consolidar seu poderio na Europa Medieval e, ainda, como sábios do ocultismo, iniciados nos princípios da alquimia e em milenares conhecimentos esotéricos.

Enquanto os estudiosos não encontram respostas definitivas, o acirrado debate sobre o verdadeiro propósito da Ordem do Templo desafia os séculos, ao lado de outras questões intrigantes, como a hipótese de que a reunião dos antigos cavaleiros teria se transformado em uma sociedade secreta e suspeita de que ela guardaria tesouros de valor incalculável - como o Santo Graal (o cálice que recolheu o sangue de Jesus) ou a Arca Perdida (com os mandamentos ditados por Deus a Moisés). Nenhuma dessas teorias, no entanto, possui sustentação histórica. A seguir, descubra os fatos por trás de tantos mitos, na história desses guerreiros tão singulares.


Homens de fé e coragem, negociantes oportunistas ou sábios do ocultismo? ainda hoje, historiadores tentam desvendar a verdadeiro face dos templários.


E assim tudo começou...


A Ordem dos Templários, que se tornou uma das mais poderosas e controversas organizações da história, foi fundada em 1119, quando nove cavaleiros franceses, entre eles Hugo de Payns e André de Montbard, anunciaram ao Rei Balduíno I de Jerusalém a intenção de criar uma ordem de monges guerreiros para escoltar e defender os peregrinos cristãos que viajavam à Terra Santa.

Estávamos no tempo das Cruzadas, em que os cristãos tinham não apenas conquistado importantes cidades sagradas, como Jerusalém, Trípoli e Antioquia, mas também promovido uma verdadeira carnificina, matando milhares de seguidores de Maomé (chamados também de sarracenos, islâmicos, mouros ou muçulmanos), sem poupar nem mesmo mulheres e crianças.

Em busca de vingança, agora era z vez de os sarracenos atacarem os cristãos, assaltando ou matando os peregrinos que se propunham a se aventurar nas estradas que levavam aos lugares santos. Nascia, assim, a justificativa ideal para a criação de uma ordem militar da Igreja Católica, que prometia entregar-se de corpo e alma à luta contra os infiéis.


Sinais de uma irmandade


Entre os muitos símbolos dos cavaleiros templários, a cruz vermelha aplicada sobre um esvoaçante manto branco se tornou o mais conhecido. Concedida à Ordem em 1148, pelo papa Eugênio III, a cruz devia ser colocada sempre acima do coração e, segundo alguns historiadores, seus quatro lados iguais representavam o equilíbrio perfeito entre a realidade material e espiritual.

O manto branco, por sua vez, simbolizava pureza e castidade, assim como uma pesada pele de carneiro que os cavaleiros eram obrigados a usar sob as roupas. Se um templário perdesse uma dessas vestes sagradas, imediatamente recebia uma rígida punição, que poderia chegar até à autoflagelação.

Além da cruz e do manto, um dos mais famosos símbolos dos monges guerreiros era o emblema da Ordem, que trazia o desenho de um cavalo com dois cavaleiros, representando a irmandade e a humanidade.


Sangue e Fé


Tão logo a Ordem do Templo foi criada, instaurou-se a polêmica a seu respeito. Sendo a primeira organização militar da história da Igreja Católica, esbarrava em uma complicada contradição: como conciliar o derramamento de sangue com os ensinamentos de amor e não-violência de Jesus Cristo?

A resposta estava na devoção religiosa. Ao entrar para a ordem, os cavaleiros faziam votos de castidade, obediência e pobreza, jurando abandonar as tentações do mundo em nome de uma verdade espiritual. Movidos pelo idealismo cristão, eles não tinham outro motivo para lutar senão combater as forças do mal.

Em uma época carente de heróis e imersa em conflitos políticos e religiosos, não demorou muito para que esses monges guerreiros passassem a ser vistos como cavaleiros honrados e destemidos, dispostos a tudo para proteger sua fé.


Templários do ano 2000?


Segundo o Vaticano, existem cerca de 400 segmentos neotemplários na atualidade. Não há qualquer rivalidade entre eles, apenas diferenças de opiniões, símbolos e rituais, ou seja, são segmentos independentes que simpatizam com o mesmo estudo. Porém, é importante deixar claro que nenhum desses segmentos pode afirmar que é a continuidade da Ordem de origem, mas apenas que simpatizam com seus ideais.


Retirado da revista Templários Especial, Ano 1; Selo Qualidade de Vida, São Paulo.

sábado, 8 de janeiro de 2022

Oxóssi

 Oxóssi é um orixá muito popular no Brasil e em Cuba, embora seu culto esteja praticamente extinto na África. É o deus responsável pela caça e pela manutenção da tribo.


Muitos africanos do Ketu que cultuavam Oxóssi chegaram ao Novo Mundo como escravos, após a região ter sido invadida pela tropas do rei Daomé. No Candomblé, ele se tornou o rei da nação Ketu e é muito popular na Bahia. Na Umbanda ele é o patrono da linha dos caboclos.

Oxóssi é o orixá responsável pela caça e protetor dos caçadores. Em muitas expedições, ele  descobria regiões que eram favoráveis à plantação. Nesses locais ele fundava vilarejos onde mantinha uma grande autoridade sobre as pessoas que se estabeleciam no local.

Conta-se que nas antigas tribos da África cabia ao caçador, além de penetrar o mundo além da aldeia e descobrir locais novos para o grupo, trazer tanto a caça como também folhas medicinais. Dessa forma, Oxóssi também passou a simbolizar a transmissão de conhecimento devido às suas descobertas.

O combate cotidiano de Oxóssi está nas matas, onde caça animais com o intuito de abastecer as tribos. Embora seja um caçador, ele não aprova a matança pura e simples, a caça predatória, pois considera que a morte de animais deve ter como objetivo a alimentação dos humanos ou os rituais aos orixás. Dessa forma, uma de suas responsabilidades é garantir a vida dos animais para que eles possam ser caçados no momento oportuno.

Oxóssi é conhecido como o "caçador de uma flecha só", pois consegue atingir o seu alvo com grande precisão. Conta a lenda que, certa vez, um pássaro maligno ameaçava a tribo e Oxóssi era o único caçador que ainda tinha uma flecha para abatê-lo. Todos os outros caçadores haviam errado o alvo e perdido todas as suas flechas. Conta-se que Oxóssi atirou contra o pássaro e salvou toda a aldeia.

Oxóssi é calmo, tranquilo e paciente, enquanto seus irmãos Exú e Ogum têm temperamentos opostos. Ele representa a firmeza de propósito, a determinação, a objetividade e a concentração. Em seus devotos, ele age espiritualmente, eliminando seus defeitos e despertando suas qualidades.

Na Bahia ele é sincretizado com São Jorge e no Rio de Janeiro com São Sebastião. Quinta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Seus iniciados usam colares de contas azul-esverdeadas. Suas danças imitam os gestos da caça, da perseguição do animal e do atirar da flecha. Seu símbolo é, como na África, um arco e flecha em ferro forjado.


Arquétipo


O arquétipo de Oxóssi é o de pessoas observadoras, ágeis, espertas, rápidas, alertas e em movimento. O forte sentido de responsabilidade faz com que se preocupem com o bem-estar da família e com o sustento da tribo. Inovadoras, não temem mudanças de qualquer tipo, mesmo aquelas que envolvem a casa ou o trabalho. Gostam de realizar trabalhos que possam ser feitos de forma independente, sem a participação de muitas pessoas. Em suas atividades profissionais necessitam de silêncio e concentração. Além de respeitarem o espaço de cada um, não têm o hábito de prejulgar qualquer situação ou pessoa.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás, Mythos Editora, São Paulo, 2010.

Arte e ciência de ajudar

 A indiferença ante a dor do próximo é congelamento da emoção, que merece combate.

À medida que que o homem cresce espiritualmente, mais se lhe desenvolvem no íntimo os sentimentos nobres.

Certamente não se deve confundi-los com os desregramentos da emotividade; igualmente não se pode controlá-los a ponto de tornar-se insensível.

No bruto, a indiferença é o primeiro passo para a crueldade, porta que se abre na emoção para inúmeros outros estados de primitivismo.

A indiferença coagula as expressões da fraternidade e da solidariedade, ensejando a morte do serviço beneficente.

O antídoto para esse mal, que reflete o egoísmo exacerbado, é o amor.

Se não pretendes partilhar do sofrimento alheio, ao menos minora-o com migalhas do que te excede.

Se não queres conviver com a dor do teu irmão, ajuda-o a tê-la diminuída com aquilo que te esteja ao alcance.

Se defrontas multidões de necessitados e não sabes como resolver o problema, auxilia o primeiro que te apareça, fazendo a tua parte.

Se te irrita a lamentação dos que choram, silencia-a com o teu contributo de amizade.

Imagina-te no lugar de algum deles e saberás o que fazer, como efeito natural do que gostarias que alguém fizesse por ti.

Ninguém está seguro de nada, enquanto se encontra na Terra.

A roda das ocorrências não para.

Quem hoje está no alto, amanhã terá mudado de lugar e vice-versa.

E não só por isso.

Quem aprende a abrir a mão em solidariedade, termina por abrir o coração em amor.

Dá o primeiro passo, o mais difícil. Repete-o, treina os sentimentos e te adaptarás à arte e ciência de ajudar.

Há quem diga que os infelizes de hoje estão expiando os erros de ontem, na injunção de carmas dolorosos. Ajudá-los, seria impedir que os resgatassem.

É correto que a dor de agora procede de equívocos anteriores, porém, a indiferença dos enregelados, por sua vez, lhes está criando situações penosas para mais tarde.

Quem deve, paga, é da Lei. Mas quem ama dispõe dos tesouros que, quanto mais se repartem, mais se multiplicam. É semelhante à chama que acende outros pavios e sempre faz arder, repartindo-se, sem nunca diminuir de intensidade.

Faze, pois, a tua opção de ajudar, e o mais a Deus pertence.


Texto retirado do livro Momentos de Meditação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador,  3ª Edição, 2014.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Ogum

 Ogum é um orixá muito popular no Brasil. É considerado o deus dos guerreiros e de todos aqueles que trabalham com instrumentos de metal, pois ele é também o orixá do ferro.


No Brasil, Ogum é conhecido como o deus dos guerreiros, perdendo a posição de protetor dos agricultores que tinha na África. Segundo a tradição, Ogum era caçador e costumava descer de orum por meio de uma teia de aranha para caçar. Dizem também que, quando as divindades chegaram ao mundo, competiu a ele abrir clareiras na selva com o seu facão considerado mágico. Devido a isso ele foi aclamado como chefe entre as divindades, Osin Imale.

Filho de Iemanjá e Odudua, o fundador do Ifé, foi regente do reino de Ifé quando seu pai ficou temporariamente cedo. No entanto, não se preocupava muito com a administração do reino, pois não gostava de ficar quieto e trancado dentro do palácio. Com uma vida amorosa agitada, foi o primeiro marido de Oiá-Iansã, que se tornaria mais tarde mulher de Xangô, e teve também relações com Oxum e Obá.

Ogum é muito mais emoção do que razão, perdoando facilmente seus amigos e destruindo seus inimigos. Ataca pela frente, de peito aberto, como o clássico guerreiro. Ele simboliza o trabalho, a atividade criadora do homem sobre a natureza, a produção e a expansão, a busca de novas fronteiras, aquele que desbrava as matas e derrota os inimigos. Qualquer contrato ou juramento feito em seu nome deves er cumprido. Conta-se que se por um acaso o compromisso não for honrado, o faltoso sofrerá sérias consequências.

Considerado o deus de ferro, é o padroeiro daqueles que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros, açougueiros, marceneiros, caçadores, mecânicos, maquinistas de trem. O seu culto é bastante difundido nos territórios de língua iorubá e em certos países vizinhos, sendo provavelmente um dos deuses mais respeitados e temidos.

Ele tem como símbolos mais importantes o ferro, a rocha e fragmentos de metal. O seu nome é sempre mencionado por ocasião de sacrifícios dedicados aos deuses, no momento em que a cabeça do animal é cortada com uma faca da qual ele é o senhor absoluto.

No sincretismo é associado a Santo Antônio de Pádua, na Bahia, e a São Jorge, no Rio de Janeiro. Os lugares consagrados a Ogum ficam ao ar livre, na entrada dos palácios dos reis, nos mercados e nos templos de outros orixás.

O dia da semana que lhe é consagrado é a terça-feira, e os seus adeptos usam colares de contas de vidro azul-escuro e, algumas vezes, verde. Seus domínios são os caminhos, os combates e as demandas de toda ordem.


Arquétipo


Ogum representa as pessoas impulsivas, explosivas, obstinadas, teimosas e que sentem prazer em estar com os amigos e com o sexo oposto. Muitas vezes têm dificuldade em perdoar as ofensas que lhe são feitas. Perseguem seus objetivos de forma enérgica e não se desencorajam facilmente. Dificilmente perdem a esperança, mesmo nos momentos difíceis. Seu humor geralmente é instável, alternando a agitação e a tranquilidade. Muitas vezes o ser representado por Ogum é julgado como um ser arrogante, impetuoso e até mesmo indiscreto. Por outro lado, sua franqueza e sinceridade fazem com que seja admirado pelas pessoas. A rotina para ele é um castigo, pois gosta de agitação, novidades e de tudo o que é moderno.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Exú

 Exú é provavelmente um dos orixás mais polêmicos do panteão africano, pois apresenta características múltiplas e muitas vezes contraditórias.


Exú é a divindade da fertilidade, o regulador do cosmos, e esteve presente em nosso planeta desde o princípio. Ele é o  elemento dinâmico de tudo o que existe, o princípio da expansão e da comunicação. No mito cosmogônico, é o responsável pela conservação do axé, o poder com o qual as divindades conseguem realizar suas atividades sobrenaturais.

Com características múltiplas e muitas vezes contraditórias, é Exú quem coloca barreiras e traça os caminhos que devem ser seguidos pelo homem. Entretanto, não cabe a ele decidir o que é certo ou errado do que lhe é pedido, já que o homem tem em seu poder o livre arbítrio.

Exú faz a ligação entre o mundo material e espiritual. Sua principal atividade mítica é a de mensageiro, aquele que leva  pedidos e oferendas do homem aos orixás e que traduz a linguagem humana para as divindades. Por essa razão é que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas, antes de qualquer outro orixá.

Cabe a Exú, por exemplo, transmitir a resposta dos orixás ao babalorixá na leitura de Búzios, assim como iniciar qualquer cerimônia, trabalho ou festa nos cultos afro-brasileiros. Sua função de figura-limite entre o astral e a matéria se revela em suas cores, o negro (ausência de cor) e o vermelho (forte iluminação).

Exú se revela o mais "humano" dos orixás: nem completamente bom, nem completamente maus. Representa a bipolaridade e os opostos, como o certo e o errado, o dia e a noite, o homem e a mulher, o bem e o mal. Brinca e se diverte, possibilitando prazeres ao homem, mas também provoca o mal e acontecimento dramáticos. Por ter o conhecimento das energias mais densas e ser o orixá da abertura dos caminhos, a ele se pede a interferência nas situações do mundo físico.

No Brasil, o Exú foi sincretizado com o diabo. Acredita-se que os antigos missionários cristãos o identificaram como a representação do diabo, por apresentar-se nu exibindo um falo ereto. Na tradição iorubá é fundamental a descendência, e o falo simboliza a procriação, assim como o fogo das paixões.

O lugar consagrado a Exú é,  geralmente ao ar livre ou no interior de uma pequena choupana isolada ou, ainda, atrás da porte da casa. A segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. As pessoas que procuram a sua proteção usam colares de contas pretas e vermelhas.


Arquétipo

O arquétipo de Exú pode ser encontrado facilmente na nossa sociedade. Ele se apresenta nas pessoas que são boas e más ao mesmo tempo. Ardilosos e sedutores, geralmente inspiram grande confiança nas pessoas. Essas características muitas vezes são usadas em benefício próprio. Possuem facilidade e inteligência para compreender os problemas dos outros, dando conselhos ponderados. As artimanhas intelectuais enganadoras e as intrigas políticas são armas que usam para alcançar o sucesso desejado. Maleáveis e pragmáticos, enfrentam cada situação de forma independente, pois acreditam que cada problema ou situação deve ser tratado de forma exclusiva.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás, nº 46; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Reconstrução Nacional

 Num ato de reconstrução nacional

Doutores, mendigos, tupis, guaranis

Vieram até o planalto central

Trabalhadores, pivetes, senis

E falaram de coisas sublimes, gentis

das coisas que fazem tão grande este país


Alguém fez menção a Dom Pedro I

O ilustre imperador

Que "Estrada" e Francisco inspirados

fizeram este hino de amor

Falaram também da princesa heroína

que a sina do negro mudou

Do "Xavier" que foi traído, do "Zumbi" lutador

Nossa história tem imagens, personagens imortais


E hoje não tão diferente traz exemplos geniais

Um certo "Betinho" convoca a nação

E diz que o que ainda mata não é só inflação

E se não dá o pão...

O amor... a mão a um irmão

Um povo com fome não é soberano

E nem patriota será

Não dá pra curvar-se ao pendão

Sem poder levantar


Música de Flávio Oliveira, Marcelo do Rosário e Miro Barbosa gravada por Renata Jambeiro em 2009 no CD intitulado Jambeiro em uma Produção Independente.

História Sem Fim

 Misteriosa vida

Quem sou eu, pra onde vou

A velha pergunta de qualquer mortal

Talvez seja verdade

Uma bela mentira

A resposta que sempre nunca vou saber

Milagres acontecem

Teatro de dor e prazer

Um eterno duelo entre o bem e o mal

O destino de Deus

Está escrito na palma da minha mão

Destruo e salvo o mundo

Todo milênio, cada segundo

Tal qual criador, tal qual criação

Uma história sem fim...


Música de Rita Lee & Roberto de Carvalho que fecha o CD 3001, gravado e lançado em 2000 pela gravadora Universal Music.

sábado, 1 de janeiro de 2022

Rumo ao Porto Seguro

 O homem necessita emergir dos condicionamentos negativos a que se entrega, buscando a realização pessoal e o desenvolvimento da sociedade da qual é membro relevante.

Para esse fim, torna-se-lhe indispensável o conhecimento da própria personalidade, o controle dos impulsos e resíduos dos hábitos antigos, a busca do Eu eterno e uma programação saudável para a reconstrução da sua identidade.

O conhecimento da própria personalidade é um desafio admirável e estimulante, que não deve ser adiado.

Não basta um exame complacente das debilidades, tampouco uma análise severa dos deveres, transferindo-se para estados patológicos de fuga pela depressão ou mediante a rebeldia.

Faz-se necessária uma busca das causas do comportamento consciente e dos fatores que o induzem aos estados infelizes.

Isso será feito através de uma penetração no inconsciente, para ali encontrar os fantasmas persistentes das frustrações e medos, dos problemas infantis não solucionados, e até mesmo de algumas matrizes de outras reencarnações que interferem no comportamento atual. Todos esses mecanismos retidos no inconsciente são responsáveis pelo exaurimento das suas forças, pela paralisação dos esforços em favor do equilíbrio e por ideias obsessivas, perturbadoras.

Serão identificadas, ao mesmo tempo, as imensas possibilidades adormecidas, os tesouros da criatividade e da coragem, as vocações e capacidades que permanecem esmagadas por medos injustificáveis e conflitos facilmente superáveis.

O controle dos impulsos e resíduos dos hábitos antigos é de grande importância, porquanto estabelece novas metas a serem conquistadas e conduz à superação de todo o lixo acumulado na personalidade, a exsudar miasmas.

O que o indivíduo desconhece, funciona como força dominadora, embora se possa controlar tudo quanto consegue levar à desidentificação.

O conhecimento de uma fraqueza moral, às vezes, leva-o a admitir que está  vencido, o que é um erro básico, ou que não dispõe de forças para a batalha. Há sempre energias desconhecidas, em potencial, que podem e devem ser movimentadas.

Todo impulso pode ser canalizado de forma positiva, e os resíduos ancestrais devem ser diluídos mediante as novas ações estabelecidas.

Indispensável, pois, desintegrar as imagens residuais perniciosas e conduzir bem as energias liberadas.

O verdadeiro Eu é imortal e evolve através das reencarnações, atuando pelo amor e pelo conhecimento para o desabrochar do Deus interno, que nele jaz aguardando oportunidade.

Para esse cometimento, os valores espirituais e religiosos desempenham papel importante, por facultarem métodos de introspecção e ação capazes de vencer o ego e abrir espaços para as identificações ideais.

Esse esforço, ao invés de isolar os indivíduos, aproxima-os uns dos outros, desenvolvendo a solidariedade e o interesse de iluminação que devem a todos atingir.

Aquele que empreende esse desiderato, a ele se afeiçoa de tal forma, que passa a viver em sua função, sem abandonar, naturalmente, os demais deveres que executa com alegria, maneira feliz de exteriorizar a sua identidade superior, iluminada.

Por fim, elabora um programa de comportamento para a sua plena identificação, sua realização psicológica, sua libertação.

As dores não mais o mortificam nem desanimam. Antes, motivam-no a crescer conforme afirmou Heine: "O meu grande sofrimento eu converto em pequenas canções"; ou Milton, cego, escrevendo com júbilo o seu incomparável Paraíso Perdido; ou Mesmer, expulso de Viena, prosseguindo com as suas experiências em torno do fluidismo e do magnetismo.

Certamente, não atingirás de uma vez esta meta.

O esforço desenvolvido e o exercício continuado te auxiliarão a prosseguir, graças às pequenas vitórias que irás registrando e ao bem-estar de que te sentirás inundado.

Urge que rompas as amarras com a comodidade ou a depressão, com a revolta ou a má vontade; que te resolvas crescer e ser feliz.

Jesus viveu em toda plenitude o amor e ensinou como se poderá segui-lO através das lições que nos legou.

Assim, não te detenhas no passado, porquanto hoje é dia novo e amanhã é o porto feliz que deves conquistar a partir de agora.


Retirado do livro Momentos de Iluminação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 4ª Edição, 2015.