sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Eles não foram felizes para sempre

 Pouco menos de dois séculos. Esse foi o tempo necessário para que a Ordem do Templo se transformasse em uma das maiores redes de influência da Europa. Perto do ano 1300, a organização funcionava como uma espécie de multinacional medieval, que envolvia bancos, transportadoras e uma série de outros serviços ligados à administração, às finanças e ao comércio.

Tal sucesso devia-se a dois fatores principais: ao mesmo tempo em que tornavam suas vitórias e seu idealismo conhecidos, passaram a receber um grande número de doações em dinheiro, terras ou propriedades. Em sua maior parte, as ofertas vinham de nobres e soberanos que, guiados pelo misticismo da época, acreditavam que com esse ato expiariam seus pecados e ganhariam a salvação no Reino dos Céus.

Logo, castelos, terrenos, moinhos, aldeias e outros bens faziam parte da Ordem. Com isenção de impostos, os Templários sabiam como fazê-los render: as terras e as propriedades eram arrendadas e geravam ainda mais dinheiro. Dessa forma, o sucesso dos empreendimentos parecia ir de vento em popa, ainda que os princípios originais, que proibiam os cavaleiros de ostentar qualquer tipo de riqueza, há muito já tivesse sido distorcido.


O Começo do Fim


Enquanto o sucesso financeiro dos cavaleiros aumentava dia a dia, o mesmo não se podia dizer a respeito de suas ações militares, já que cada vez mais amargavam derrotas contra o exército dos muçulmanos. À época, já eram tidos por toda sociedade como ricos, arrogantes e egoístas, pois, aparentemente, serviam apenas aos próprios interesses, e não aos dos cristãos no Oriente Médio.

Com a reputação abalada, os Templários lutavam para se reerguer quando caíram nas garras do poderoso Rei Filipe, o Belo, da França, que decidiu se apoderar da fortuna da Ordem. Determinado a impor sua autoridade sobre todo o país, o rei via nos Templários um verdadeiro entrave ao seu objetivo, afinal, por pertencerem a uma ordem religiosa, respondiam somente ao papa, e não ao monarca. Além disso, a aquisição de todas as posses da Ordem iria ao encontro das necessidades da Coroa francesa, que passava por maus bocados financeiros. Aliado ao papa Clemente V, o soberano tramou uma conspiração para acusar os cavaleiros de hereges, assassinos e adoradores do Diabo.

Em 1307, todos os cavaleiros que estavam em território francês foram investigados e presos por ordem do papa que, embora não aprovasse integralmente as ações de Filipe, temia perder o apoio do Rei. Em pouco menos de cinco anos, a publicação da bula papal Vox in Excelso viria a decretar o fim da Ordem dos Templários em definitivo. Ao final de um processo cheio de irregularidades, os cavaleiros do Templo foram queimados vivos em praça pública e seus bens confiscados pelo rei francês. Jacques De Molay, o último grão-mestre dos Templários, foi um dos quase 500 guerreiros levados à fogueira em Paris. Acabava, com ele, todo o esplendor e a glória da linhagem original desses Cavaleiros.

Transcorridos alguns séculos, atualmente, muitos especialistas acreditam que a perseguição implacável do rei sobre a Ordem nada teve a ver com questões religiosas. Para confirmar essa teoria, recentemente, um documento de 700 anos revelado pela Igreja Católica aponta que, ao fim do inquérito realizado para investigar as ações e a vida dos Templários, o papa Clemente V julgou e absolveu-os da acusação de heresia, embora tenha os condenado pela imoralidade - situação a qual pretendia reverter a partir de uma reforma na organização. Entretanto, subjugado às vontades do monarca, não teria conseguido evitar o fim trágico.


Retirado da revista Especial Templários, Ano I, Editora Selo Qualidade de Vida, São Paulo.

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