sábado, 25 de março de 2023

Pessoas Inamistosas

Estão em toda parte.

Multiplicam-se com facilidade, quais cogumelos em clima próprio.

Surgem de forma inesperada nos mais diversos lugares.

Enxameiam no lar, no trabalho, no grupo social, nas ruas do mundo.

Criam embaraços, quando poderiam facilitar as ocorrências. Separam os indivíduos, ao invés de os unir.

Promovem guerras surdas e declaradas.

São pertinazes e parecem invencíveis.

Mudam de postura e de situação, permanecendo com os mesmos vis objetivos.

Instalam a insegurança emocional entre aqueles que os cercam.

Referimo-nos às pessoas inamistosas, que preferem tornar-se adversárias, gratuitas ou não. Aliás, nunca há motivo para que alguém se torne inimigo de outrem.

Vige esta situação, em face da psicosfera reinante entre os homens, ainda imperfeitos.

Embora o convite da vida à saúde e ao bem, um grande número dessas pessoas prefere a odiosidade, porque estão indispostas contra si mesmas.

Enfermaram intimamente e não o perceberam.

Extravasam o mal-estar que as atormenta, agredindo, gerando antipatia, projetando sombra, perturbando os demais e perturbando-se.

Não lhes ofereças o combustível do teu sofrimento, deixando-as atingir-te.

Desliga-te, mentalmente, da vibração negativa com que te envolvem, e, mediante uma ação serena de amor, revida às suas ondas mentais com os teus pensamentos cordiais e de compaixão.

Elas sofrem e desejam que todos participem da sua aflição.

Ignoram as admiráveis possibilidades que têm à disposição para a própria saúde e a felicidade pessoal.

Enlouqueceram, vitimados pela ignorância, pelo egoísmo, pela inveja, pelo ciúme...

Não te cabe sintonizar com elas.

Ninguém lhes escapa à sanha, que termina por envolvê-las umas contra as outras.

Sê, tu, a pessoa amistosa para com todos.

A tua simpatia gera afeição e, a ti, faz muito bem.

Diante dos reacionários, dos que desejam tornar-se teus inimigos - pessoas inamistosas - silencia e passa.

Jesus, que é um Ser perfeito, pregando e vivendo o amor, não lhes ficou indene à perseguição e ao desafeto; entretanto, mesmo assim, não as amou menos, ensinando-nos como agir diante delas e das circunstâncias difíceis que criam.


Texto retirado do livro Momentos de Harmonia; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.

sábado, 18 de março de 2023

Teoria e Prática

O conhecimento liberta da ignorância. Todavia, somente a sua aplicação liberta do sofrimento.

Há uma expressiva diferença entre a teoria e a prática, em todos os segmentos da Humanidade.

A teoria ensina. Porém, a prática afere-lhe o valor.

Não basta saber. É imprescindível utilizar o que se conhece.

O conhecimento, em verdade, amplia os horizontes do entendimento. Não obstante, a sua aplicação alarga as paisagens da vida.

A mente conhecedora deve movimentar as mãos no uso desses valiosos recursos.

O conhecimento de importância é aquele que pode mover essas conquistas em favor do bem do seu possuidor, assim como do meio social onde este se encontra.

Nula é a informação que não produz bênçãos, nem multiplica as disposições da pessoas para a ação útil.

Conhecendo, saberás que a tua renúncia auxilia a comunidade, sem que esperes a abnegação dos outros a teu benefício.

O conhecimento superior estimula à imediata atividade.

Acumular informações sem finalidade prática, transforma-a em erudição egoísta, que trabalha em benefício da presunção.

Tens a obrigação de conhecer para viver. Simultaneamente, deves viver praticando os salutares esclarecimentos que armazenas, contribuindo para uma existência  realizadora, humana e feliz.

Quando leias, exercita a praticidade do contributo cultural que assimilas.

O tempo urge, e as oportunidades de aplicação constituem tuas chances de progresso como de paz.

Conta-se que célebre monge budista, estudando algumas suras, descobriu que se não devia utilizar da pele de animais para conforto pessoal.

De imediato, levantou-se do catre e dali retirou o couro de um urso que lhe servia de apoio macio sobre as ripas da enxerga áspera.

Prosseguindo a leitura, porém, encontrou assinalado que, no entanto, se poderia usar a pele dos animais, quando se estivesse enfermo, esquálido ou envelhecido, a fim de ter diminuídas as penas e dores.

Ato contínuo, tomou da mesma com respeito, colocou-a no lugar de onde a retirara, sentou-se sobre ela e continuou a ler...

Conhecimento que se não transforma em utilidade, pode ser qual "sepulcro caiado por fora", ocultando vérmina e morte por dentro, responsáveis pelo bafio do orgulho e da ostentação.


Retirado do livro Momentos de Felicidade; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 5ª Edição, 2014.

sábado, 11 de março de 2023

Cristão em sofrimento

O testemunho da fé é a láurea de quem serve com honradez a qualquer ideal.

A demonstração de inteireza moral, ante a provação que testa as resistências do homem que abraça aspirações superiores, confere-lhe a coroa da vitória sobre a própria fragilidade.

O esforço estoico no desempenho da tarefa responde pela grandeza íntima de quem se entrega ao ministério, no qual se movimenta.

Mede-se, portanto, a identidade do idealista em relação ao seu ideal, mediante o esforço que desenvolve por mantê-lo e graças à firmeza na dor, preservando a sua legitimidade.

Em todos os campos de ação o homem é convidado à aferição dos valores íntimos, de modo a confirmar aquilo em que acredita.

Por mais expressivo e engrandecedor seja o ideal, este sempre provoca reações  correspondentes à sua extensão e força.

Quantos abracem estes comportamentos, são compelidos a confirmar nos atos a excelência deles.

Assim, multiplicam-se os mártires e heróis em todos os ramos do conhecimento e da beleza, além daqueles que passam anônimos, igualmente espezinhados e perseguidos.

A alavanca do progresso derruba também as construções viciadas e decadentes, dando campo às reações violentas da corrupção, do vício e do primitivismo.

Os cristãos do passado, fiéis à Doutrina pura, experimentaram o opróbrio, a calúnia, a persistente angústia, o cárcere, o martírio...

A história do vero Cristianismo é a saga de toda uma comunidade sacrificada através dos tempos.

Lentamente, porém, as conquistas humanas, culturais e sociais vêm banindo os métodos bárbaros de impedimentos dos ideais da Humanidade.

Apesar de ainda existirem presídios e ultrajes, processos vis para extorquir informações e atemorizar; os direitos humanos se vão incorporando e as liberdades de culto, de crença, de ação, de palavra e movimentos acenam dias felizes para o futuro.

Os cristãos gozam de cidadania e suas minorias fazem-se respeitadas e até mesmo amadas.

Como será possível a cada indivíduo, porém, demonstrar o vigor da fidelidade aos postulados de fé vivenciados?

As antigas arenas foram derrubadas e as feras estão esquecidas.

Apesar disso, outros fenômenos têm lugar, convidando os decididos lidadores ao heroísmo, à evolução.

A dor íntima, os conflitos gerados na ação abnegada, as incompreensões propositadas, o cerco da maledicência e da acusação indébita os ferem e os angustiam, ensejando recuperação, crescimento para Deus, ao mesmo tempo constituindo-se testemunho à fé.

Sob os açoites da enfermidade ou excruciado pelas dores de qualquer natureza, recorda-te da fé cristã, e alegra-te.

Este é o teu instrumento de flagício libertador, de que a Vida se utiliza para a tua felicidade futura.

Sob as chuvas de sarcasmo dos amigos de ontem, agora perseguidores cruéis, ou padecendo injúrias e acusações venenosas, vitaliza-te com a fé cristã e demonstra-a na resignação e na coragem com que suportarás todas as injunções, sofrendo as feras multiplicadas na arena ampliada do teu relacionamento social.

O testemunho à fé chega-te agora de maneira diversa daquela que assinalou os apóstolos e mártires primitivos, não menos dolorosa, porém.

Não malbarates, pois, a concessão divina do sofrimento, nem percas essa bênção que te permite ascender.

Cristão, sofrendo, é Espírito em depuração rumando na direção do Cristo, que nos aguarda, confiante.


Retirado do livro Momentos de Esperança; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª edição, 2014.

domingo, 5 de março de 2023

Sobreviverás

Multimilenária questão perturbadora, ela permanece na ceifa dos corpos, espalhando angústias, mutilando aspirações, levando ao desvario.

Muitas vezes, paradoxal, adentra-se no lar e rouba o ser saudável, deixando o enfermo; recolhe o jovem, olvidando o ancião, sem qualquer respeito pelas afeições e anelos humanos.

Sorrateira, decepa alegrias, ou violenta, interrompe os planos de vida, assinalando sua passagem com o luto e a dor.

Para entendê-la, surgiram correntes filosóficas que se multiplicaram, debatendo sua realidade, sem conclusão definitiva.

A morte continua, apesar das admiráveis conquistas do pensamento e da inteligência, ameaçando os seres e assinalando-os com os ferretes da frustração, quando se acerca e toma nas mãos alguém que aspirava a continuar na vida física.

Em mecanismos escapistas, a sociedade vestiu-a de aparatos e adornou-a de rituais, em vãs tentativas de modificar-lhe o impacto ou diminuir-lhe o choque.

Solenidades e cerimoniais, longos quão inúteis, são apresentados para anular-lhe o efeito, ou servirem de recurso consolador em memória daqueles que foram arrebatados.

A morte, no entanto, dispensa todas as conceituações pessimistas dos que a consideram como o fim da vida, bem assim as roupagens com que procuram disfarçá-la, brindando com regalias os que seguem na sua barca.

Morrer é somente interromper o ciclo biológico, permanecendo na vida.

O Espírito, que vitaliza a matéria, preexiste e sobrevive a ela, sendo-lhe a causa, a força que a aciona e lhe dá espontaneidade.

A sobrevivência do ser à disjunção molecular pela morte é incontestável.

Em toda parte, e em tudo, ocorrem transformações sem aniquilamento. Da mesma forma, o ser humano, enquanto sua indumentária carnal se modifica sob a ação da adaga da morte, prossegue no rumo do Grande Lar de onde veio.

Pensa com frequência no fenômeno da morte, a fim de te habituares com a ideia e não seres surpreendido, quando a depares em alguém amado ou a enfrentes.

Fatalidade biológica, ela virá, hoje ou mais tarde, e terás que te submeteres ao seu imperativo.

Vive de tal forma, que a qualquer momento te encontres em condições de aceitar-lhe a presença.

A morte liberta aquele que está encarcerado no corpo, cuja existência digna credencia-o à felicidade.

Da mesma forma, conserva aprisionado quem se deixou intoxicar pelos vapores da delinquência, derrapando no crime e na insensatez.

Cada qual sobrevive ao corpo conforme nele se conduziu.

Desse modo, a plenitude futura deve ser exercitada desde a viagem carnal, mediante a conduta mental, moral e vivencial a que se entrega o indivíduo.

Não temas a morte, nem lamentes os que partiram.

Evita a rebeldia e a mágoa diante dela, considerando que somente há vida, embora em níveis vibratórios diferentes e faixas diferenciadas de evolução.

Recorda que o momento culminante da vida de Jesus Cristo foi o da Sua ressurreição, somente possível porque, antes, houve a morte.

Assim, vive, cada instante, libertando-te das paixões primitivas, até ocorrer a tua morte, certo, porém, de que sobreviverás


Retirado do livro Momentos Enriquecedores; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2ª Edição, 2015.