sábado, 27 de fevereiro de 2021

Modelo de Perfeição

 Não há notícia alguma sobre uma pessoas que Lhe haja sido igual.

Sábio incomum, manteve-se por quase trinta anos em silêncio, apenas uma vez interrompido, quando contava  somente doze anos, demonstrando sua ímpar capacidade intelecto-moral.

Com um pequeno grupo de doze homens simples, quase sem cultura, fundou um Colégio em contato com a Natureza, ali ministrando em breve tempo a mais ampla gama de conhecimentos gerais de que se tem informação, que se fundamentavam na lição viva do amor.

Transitou entre os vários fogos da inveja e da impiedade, enfrentando a astúcia e a perversidade, sem nunca deixar-se chamuscar.

Compôs com ternura o mais perfeito Código de Justiça Espiritual, que é a canção incomparável das Bem-aventuranças.

Conviveu com a miséria social, moral e econômica do mundo, sem fazer-se mesquinho ou revoltado.

Conheceu os poderosos em trânsito no mundo, os ricos e dominadores, sem os invejar ou combater.

Ecologista nato, tomou como modelo as expressões vivas da Terra: as aves, as serpentes, os lobos, os peixes, os lírios do campo, o mar, a mostarda, para compor insuperáveis parábolas em respeito ao equilíbrio vigente em tudo.

Estabeleceu na fraternidade a mais salutar experiência social para a convivência humana mediante trocas, sem destaque de indivíduo ou de posse, concitando a uma experiência em comum, que resultou em êxito incomum.

Não desperdiçou palavras nem agiu com insensatez, sendo sempre comedido.

Amou a infância, os pecadores e mesmo os inimigos.

Mestre, não retirou a oportunidade da aprendizagem saudável de cada um, ensinando como ser feliz e concedendo espaço para que os discípulos aprendessem a lográ-la.

Terapeuta eficiente, curou enfermidades e explicou como erradicá-las, advertindo os pacientes sobre as recidivas e novas complicações.

Jamais ostentou os poderes de que era portador, ou os ocultou.

Disciplinado, submeteu-se à vontade de Deus, sem queixas ou receios injustificáveis até o extremo da renúncia pessoal.

E por amar em demasia entregou-se à crucificação e à morte, para ressurgir, logo depois, a fim de confirmar todos os Seus ensinamentos e voltar à convivência afetuosa com as criaturas, aquelas mesmas que duvidaram, fugiram e negaram-nO.

Por isso, e muito mais, Jesus "é o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de modelo e guia", conforme afirmaram os Espíritos a Allan Kardec.


Texto retirado do livro Momentos de Harmonia, Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Silêncio Interior

 Há muito ruído, muita perturbação no mundo.

Na confusão estabelecida, as criaturas se agitam, se agridem, se desgastam.

Degeneram os ideais superiores, por falta de suportes morais; desencantam-se os lidadores entusiastas, por lhes faltarem cooperação; desistem ativistas das boas obras, por fenecerem as forças desgovernadas pelos choques enfrentados.

Como efeito, o desequilíbrio arma os corações de suspeita e medo, produzindo uma legião de infelizes.

A onda cresce e a bulha aumenta.

As harmonias cedem lugar aos sons de altos decibéis e as mentes em descompassos adotam ritmos alucinados.

Muita falta faz o silêncio no mundo.

Silêncio em derredor; silêncio interior.

Silêncio que propicie calma; silêncio que faculte reflexão.

O silêncio é fundamental para o equilíbrio fisiopsíquico do homem.

Atua como terapia refazente; é estímulo à renovação.

Fala-se muito, demasiadamente, sem necessidade. E os temas são frívolos, queixosos, lamentáveis.

Mediante o falatório desenfreado, eliminam-se toxinas que são reabsorvidas e produzem envenenamento geral.

Os comentários pessimistas, dissolventes, aleivosos, apenas deslustram, enfermam.

Necessário fazer silêncio para pensar, para agir.

Sem reflexão anterior, a ação torna-se precipitada, resultado de impulso incontrolado, normalmente malsucedida.

O silêncio contribui para a harmonia geral.

É também uma forma de respeito ao direito do outro.

Silêncio não significa falta de conversação, na acepção que desejamos dar. É ausência de gritaria, não de diálogo fraterno e iluminativo.

Nasce na paz interna e externa-se como cooperação em favor das demais pessoas.

Para ser eficiente no exterior, é preciso que seja habitual no mundo íntimo do homem.

Acostuma-se a fazer silêncio mental, harmonizando-te interiormente, cultivando ideias saudáveis que resultem em construções felizes.

Concentra-te em pensamentos bons e edificantes, de modo a fixares as ideias melhores. Habituado a tal conduta, evoluirás da concentração è meditação e desta à paz real.

Quietação nem sempre é silêncio.

Há a quietude pantanosa, que guarda miasmas e morte para os incautos que se iludem com a sua aparência.

Mantém a serenidade como resultado do hábito de silenciar a futilidade e as reações negativas, e como reflexo da conquista do teu  autoconhecimento.

Jesus, em silêncios homéricos, ensinou, falando o suficiente para a felicidade do homem, demonstrando, sem palavras, a própria grandeza; enquanto outros, atribulados, por muito se permitirem os excessos da palavra, vieram a perder-se.


Texto retirado do livro Momentos de Esperança, Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Necessário Despertar

Inúmeros candidatos ao conhecimento das informações espíritas - portadoras dos relevantes mecanismos para a reforma íntima - detêm-se, inconsequentes, na expectativa de milagres, que os não há, para a solução de problemas que eles próprios criaram e continuam gerando, ou esperam que a simples adesão formal a uma sociedade, onde se divulga o Espiritismo, é suficiente para plenificá-los.

Fixados ao atavismo do maravilhoso e do sobrenatural, perseveram na crença leviana de que os Espíritos desencarnados tudo sabem, tudo podem, com a missão expressa de resolver as dificuldades humanas, desse modo, candidatando as criaturas à ignorância e ao atraso.

Acostumados às notícias extravagantes do misticismo que envolve a mediunidade e dos tabus em torno das comunicações espirituais, negam-se ao estudo sério, ou intentam-no, logo o abandonando, apoiados às bengalas psicológicas do comodismo de que lhes parece difícil a absorção do conhecimento espiritual, seja pela impossibilidade de manter a atenção, ou por deficiência de memória, ou ainda por perturbações de vária ordem, que os afligem, adormecem, incomodam.

A argumentação simplista não procede, porquanto, em outras áreas do comportamento, seja no trabalho, no relacionamento interpessoal, nas pesquisas e cursos, se não houver um sincero interesse e legítima dedicação, ocorrem os mesmos fenômenos perturbadores, desestimulantes.

Toda experiência nova é desafio, caracterizado por dificuldades superáveis, que mais desperta os valores morais de quem o deseja vivenciar. No que diz respeito àquelas experiências de complexidade profunda, quais as de transformação do homem velho em um novo ser, os patamares a conquistar são múltiplos, revestidos de compreensíveis impedimentos.

Não se alteram hábitos doentios, perniciosos, de um momento para outro, com apenas a disposição, sem o correspondente esforço para consegui-lo.

A transformação interior para melhor, que o conhecimento espírita propicia, é precedida de um necessário despertar para a aceitação de novos e preciosos valores morais, que satisfazem e harmonizam a criatura.

Desse modo, ao desejo de crescimento, devem aliar-se o esforço contínuo e o devotamento às ideias renovadoras, trabalhando-se por entender as diretrizes que se lhe apresentam, experimentando e insistindo na sua implantação no mundo íntimo.

A vitória de qualquer tentame chega após a permanência na sua execução.

Substitui, mediante as informações libertadoras do Espiritismo, os velhos hábitos, um a um, adotando novo comportamento mental, e, depois, vivencial, a fim de que a renovação se te faça contínua, incessante.

Fixa-te no propósito de vencer os velhos condicionamentos e adota as propostas de ação positiva, que te auxiliarão no crescimento íntimo.

Liberta-te dos instrumentos frágeis de justificação, evitando as fugas psicológicas à realidade, à responsabilidade.

Insiste na lapidação das arestas grosseiras da personalidade e adapta-se ao novo modo de entender e ser, incorporando à conduta as diretrizes espirituais.

Dar-te-ás conta dos benefícios imediatos que advirão, das soluções aos problemas que surgirão, enfim, de que o empenho se coroa de êxito na razão direta do esforço encetado.

Não foi fácil a Simão Pedro transferir-se do mar da Galileia, onde pescava com simplicidade, para a experiência difícil no oceano tumultuado da humanidade...

Foi grandemente dolorosa a transferência psíquica, emocional e humana de Saulo de Tarso, da exaltação judaica e da opulência do Sinédrio, bem como de uma família abastada, para a atividade áspera de artesão e apóstolo de Jesus...

Macerada foi a conduta da equivocada de Magdala, ao adotar as lições do Mestre como regra de iluminação íntima, que conseguiu a duras penas...

A História está repleta de heróis da transformação para melhor, que todos respeitam, porém, são incontáveis os conquistadores anônimos do continente da alma, que estavam perdidos e se encontraram.

O Espiritismo, hoje, revivendo Jesus ontem, oferece os valiosos esclarecimentos para a felicidade, a autodescoberta, a iluminação íntima libertadora.

Para consegui-lo é, primeiro, necessário despertar.


Texto retirado do livro Momentos Enriquecedores, Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2ª Edição, 2015.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

De volta Ao Começo

E o menino com o brilho do sol
Na menina dos olhos sorri e estende a mão
Entregando o seu coração
E eu entrego o meu coração

E eu entro na roda
E canto as antigas cantigas de amigo irmão
As canções de amanhecer
Lumiar a escuridão

E é como se eu despertasse de um sonho
Que não me deixou viver
E a vida explodisse em meu peito
Com as cores que eu não sonhei

E é como se eu descobrisse
Que a força esteve o tempo todo em mim
E é como se então de repente
Eu chegasse ao fundo do fim
De volta ao começo

De volta ao começo
De volta ao começo
Ao fundo do fim
De volta ao começo
Ao fundo do fim

Música que deu título ao então LP de Gonzaguinha lançado em 1980 pela Odeon, mais tarde, fundida com outra gravadora passou a ser EMI-Odeon. Gal Costa, em 1984, regravou a canção em seu LP "Profana", lançado pela RCA, mais tarde BMG-Ariola.

Solidão de Amigos

Lenha na fogueira
Lua na lagoa
Vento da poeira
Vai rolando à toa
A cantiga espera
Quem lhe dê ouvidos
A viola entoa
Solidão de amigos

A saudade lembra
De lembranças tantas
Que por si navegam
Nessas águas mansas

Quando a cachoeira
Desce nos barrancos
Faz a várzea inteira
Se encolher de espanto
Lenha na fogueira
Luz de pirilampos
Cinzas de saudades
Voam pelos campos

Regravação feita por Amelinha em seu então LP Caminho do Sol, lançado pela CBS em 1985. Gravação original feita pelo Jessé.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Benfeitora

Floresce, espontânea, em toda parte, independendo dos fatores que lhe propiciam o desabrochar.

Inesperadamente aparece nos solos áridos, nos quais os sentimentos não medram.

Nas terras encharcadas da emotividade abundante, também surge sem qualquer programação...

Sua presença é percebida, logo de início, convidando à atenção que nela se fixa, a partir desse momento.

Em todas as épocas, ei-la presente estabelecendo diretrizes e caracterizando pessoas, grupos e nações.

Detestada, não teme as reações, tornando o seu apelo mais forte.

Aceita, diminui a agudeza dos seus efeitos, suavizando-os.

Estudada por teóricos e práticos, todos se lhe referem de maneira variada, sem chegarem a uma conclusão unânime.

A verdade, porém, é que se faz conhecida sempre, e ninguém pode impedir-lhe a presença.

Depois que encerra um ciclo, prepara, para um novo cometimento, a sua oportuna aparição.

Nenhum recurso a impede, porque, por enquanto, ela é a única maneira de conduzir o homem na conquista dos Altos Cimos da Vida, desde que o amor não logre fazê-lo.

Esta flor abençoada, que surge nos terrenos de todas as vidas, é a dor.

Este homem padece de injunções socioeconômicas e tem a alma em desalinho.

Aquele experimenta a abundância de valores amoedados e sofre a solidão afetiva que o dinheiro não pode comprar.

Esse, arde nas brasas do desejo, insatisfeito, e, lasso, entrega-se ao frenesi da promiscuidade.

Este outro, esgrime o ódio e sofre-lhe a rebeldia dilacerante nos tecidos íntimos do ser.

Aqueloutro caminha chancelado pelas etiquetas das patologias cruéis.

Uns definham nas garras afiadas de enfermidades irreversíveis.

Outros derrapam em alucinações inimagináveis...

Todos, porém, sofrendo a constrição das dores de variada expressão, amargurando, lapidando, despertando para novos valores da vida, que permanecem desprezados.

A dor é benfeitora anônima, que a todos visita.

Cessados os seus efeitos perturbadores, quantas conquistas morais e espirituais!

Os prepotentes, que a desconsideram, não chegam ao termo da jornada, sem experimentar-lhe a companhia.

Os ingratos, que se supõem felizes, não lhe fogem à presença.

Os orgulhosos, que a desprezam, considerando-se inatingíveis, encontram-na adiante...

Ela verga toda cerviz e submete, sem exceção, todas as criaturas.

O seu cerco é invencível e ela sai-se sempre vencedora.

É instrumento da Lei, que o próprio homem vitaliza e necessita.

Tu, que conheces Jesus, recebe sem rebeldia essa benfeitora.

Não se trata de um masoquismo, mas, sim, da inevitabilidade de sofrer, transformando esse estado em formosa aquisição de bênçãos.

Há os testemunhos à fé e os resgates que procedem do passado.

Seja qual for o motivo, transforma-o em oportunidade iluminativa, porque estás na Terra para crescer e evoluir, adquirindo experiências de profundidade.

A dor, que a muitos amesquinha, envilece e atordoa, deve constituir-te em estímulo para a grande vitória sobre ti mesmo.

Não te preocupes com mais nada, e,  sob o seu jugo, confiante, avança com a dor até conseguires o teu momento de plena libertação.


Texto de Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis retirado do livro Momentos de Felicidade, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 5ª Edição, 2014.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Livro

Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou - o que é muito pior - por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

Música de Caetano Veloso que dá título ao seu CD lançado em 1997, pela PolyGram Discos.