quinta-feira, 28 de outubro de 2010

trecho de Erich Fromm

 

As ideias não influenciam o homem
profundamente quando são apenas ensinadas como
ideias e pensamentos. Usualmente, quando
apresentadas de tal maneira, modificam outras ideias;
novos pensamentos assumem o lugar de antigos
pensamentos, novas palavras tomam o lugar de velhas
palavras. Mas tudo o que aconteceu foi uma mudança
de conceitos e nas palavras. Por que seria diferente?
É extremamente difícil para o homem ser mobilizado
por ideias e apreender uma verdade. Para fazê-lo, ele
precisa superar as resistências profundamente
enraizadas da inércia, o medo de estar errado ou de
afastar-se do rebanho. O simples travar
conhecimentos com outras ideias, não é o bastante,
embora essas ideias, em si mesmas, sejam corretas e
poderosas. Mas as ideias só têm, realmente, um efeito
sobre o homem quando vividas por aquele que as
ensina, quando são personificadas pelo professor,
quando a ideia aparece encarnada. Se um homem
expressa a ideia de humildade, aqueles que o escutam
Compreenderão o que é a humildade. Não apenas
compreenderão, como também acreditarão que ele
está falando de uma realidade e não apenas
proferindo palavras. O mesmo se aplica a todas as
ideias que um homem, um filósofo ou um mestre
religioso possam tentar transmitir.

Esse Moço

                    Joanna/Fátima Leão/Elias Muniz

Deus, eu quero ver aquele moço
Bem mais perto de mim
Teus olhos têm o verde
Bem mais verde do que o verde capim
Quando eu lhe vejo
Até pareço um beija-flor de manhã
Sobrevoando os campos
Pra beijar a doce flor da maçã
Deus, por esse moço eu me arrasto
Feito cobra no chão
Escondo meu veneno e me entrego
Com amor e paixão
Sem ele eu me perco
Fico feito sabiá sem laranjeira
Sem ele sou bom dia de ressaca
Em dia de segunda-feira
Sem ele sou alguém pela metade
Sou um grito de saudade
Sufocado e sem razão, sem ele
Sem ele, eu me sinto uma cidade
Destruída na maldade
Pela força de um vulcão
Com ele posso ser um colibri
Canarinho e bem-te-vi
Preso ou livre mundo afora
Com ele sou visita inesperada
Que não tem hora marcada
E nem pressa de ir embora

Esta música pertence ao CD " Alma, Coração e Vida ", gravado pela cantora Joanna em 1993.
Durante muitos anos, tive uma história de amor mal resolvida, platônica, digamos assim, porque o jovem em questão, o tal dos olhos verdes, desapareceu sem deixar sinais. Fiquei com esse sentimento guardado durante muito tempo, sem saber o que fazer com ele (o sentimento). Eu ilustrava com músicas ou poemas para não enlouquecer. Ainda bem que consegui sobreviver!! Recentemente, descobri a pessoa e conversamos muito sobre tudo o que aconteceu... Não sei se consegui resolver , mas pelo menos, pude falar com ele sobre ele (o sentimento) e descobri que era recíproco. Uma pena que não conseguimos viver a história de amor naquele tempo (início dos anos 90), porque hoje somos pessoas diferentes e não seria a mesma coisa...

Iolanda

                 Pablo Milanés & Chico Buarque


Esta canção
Não é mais que mais uma canção
Quem dera fosse uma declaração de amor
Romântica
Sem procurar a justa forma
Do que me vem de forma assim tão caudalosa
Te amo, te amo
Eternamente te amo

Se me faltares
Nem por isso eu morro
Se é pra morrer
Quero morrer contigo
Minha solidão
Se sente acompanhada
Por isso às vezes sei que necessito
Teu colo, teu colo
Eternamente teu colo

Quando te vi
Eu bem que estava certo
De que me sentiria descoberto
A minha pele
Vais se despindo aos poucos
Me abres o peito quando me acumulas
De amores, de amores
Eternamente de amores

Se alguma vez
Me sinto derrotado
Eu abro mão do sol de cada dia
Rezando o credo
Que tu me ensinaste
Olho teu rosto e digo à ventania
Iolanda, Iolanda
Eternamente Iolanda
Iolanda
Eternamente Iolanda
Eternamente Iolanda

Esta música é lindíssima e tem uma história especial pra mim. Quero dedicar a duas pessoas que não estão mais nesse Plano... Espero que estejam no Nosso Lar!!

Mulheres do Brasil

                             Joyce

No tempo em que a maçã foi inventada
Antes da pólvora, da roda e do jornal
A mulher passou a ser culpada
Pelos deslizes do pecado original
Guardiã de todas as virtudes
Santas e megeras, pecadoras e donzelas
Filhas de Maria ou deusas lá de Hollywood
São irmãs porque a mãe natureza fez todas tão belas
Tão belas...
Ó mãe, ó mãe,
Nossa mãe
Abre teu colo generoso
Parir, gerar, criar e provar nosso destino valoroso,
São donas de casa, professoras, bailarinas,
Moças, operárias, prostitutas, meninas
Lá do breu das brumas vem chegando a bandeira
Saúda o povo e pede passagem à mulher brasileira.

Música do disco " Maria " de Maria Bethânia, gravado em 1988

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quem Te Viu, Quem Te Vê

                            Chico Buarque


Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era meste-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só, seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante, onde eu não sou convidado

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Uma das músicas mais bonitas do Chico. Observe as rimas internas e externas.
Coisa de gênio... Demais!!

Tá Combinado

                      Caetano Veloso


Então tá combinado, é quase nada
É tudo somente sexo e amizade
Não tem nenhum engano, nem mistério
É tudo só brincadeira e verdade.
Podermos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos
Nos sabermos sós sem estarmos sós.
Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.
Então tá tudo dito
E é tão bonito
E eu acredito
Num claro futuro
De música, ternura e aventura
Pro equilibrista em cima do muro.

Mas e se o amor pra nós chegar
De nós, de algum lugar
Com todo o seu tenebroso esplendor?
Mas e se o amor já está,
Se há muito tempo que chegou
E só nos enganou?
Então não fale nada,
Apague a estrada
Que seu caminhar já desenhou
Porque toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor.

Música do disco " Maria " de Maria Bethânia, lançado em 1988.

Espanhola

                   Flávio Venturini & Guttemberg Guarabyra

Por tantas vezes
Eu andei mentindo
Só por não poder
Te ver chorando

Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Se for chorar
Te amo

Sempre assim
Cai o dia e é assim
Cai a noite e é assim
Essa lua sobre mim
Essa fruta sobre o meu paladar

Nunca mais
Quero ver você me olhar
Sem me entender em mim
Eu preciso lhe falar
Eu preciso eu tenho que lhe contar

Esta música dispensa comentários. Desde novo, eu a ouço constantemente...
Uma das muitas ouvidas nos bares da minha cidade!!

Ajoelha e Reza

                    Carlos Rennó/Arnaldo Black


E aí ele disse pra mim, como vai?
E aí eu me disse, taí minha chance
Respondi, tudo bem e você onde vai?
Foi daí que saímos dali prum romance
E de repente, na nossa história
De amor e de glória
Ele vem e me agarra, eu me amarro
Ele ajoelha e reza e então me confessa
Que tá na maior paixão
E nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim
E assim, o que ele me faz pode ser
Pode sim, pode até parecer uma cena
Mas pra mim, é uma cena real, radical
Tão real, que parece igual no cinema
E nesse filme de amor e ventura
Verdade e mentira
Um pornô com ternura
Ele vem e se atira, eu morro
E depois me comovo
Quando me diz de novo
Que tá na maior paixão

Esta música foi gravada em 1995 por Tetê Espíndola... Aliás, uma belíssima canção!!

domingo, 24 de outubro de 2010

Escreva

    
                   As pessoas estão se esquecendo de escrever. Escrever mesmo. Também pudera: é muito video, muito digital, muita impessoalidade. O ato de escrever, hoje em dia, se resume à frieza dos memorandos assépticos e dos bilhetes lacônicos. Mas escrever é botar - preto no branco - uma emoção vermelha de paixão, um sonho verde de esperança, um sorriso amarelo, sem medo do lugar - comum ou ridículo, percebeu?
                   Escrever é invadir com todos os nossos fantasmas, aquele espaço branco, inocente, descompromissado - e se expor. Com nossos erros, nossa fragilidade, nossas dúvidas ortográficas.
                     Escrever é lançar uma ponte sobre o imponderável, é arriscar uma tentativa de resposta, um toque assim: socorro, estou vivo! Você está? Por tudo isto é que vale a pena escrever. Agora. Imediatamente. Inadiavelmente.
                     Escreva para aquela mulher e diga que você não aguenta mais. Ou escreva para aquela mulher e diga que você não a aguenta mais: muito cuidado, portanto, com os pronomes!
                     Escreva na última página do caderno amassado do seu filho dizendo que você se emociona com os cadernos amassados dele, que você tem sido um idiota que passa a vida enfiado no trabalho e está sempre adiando aquele papo de homem para homem, regado a sorvete de flocos e carinho.
                      Escreva para um velho amigo uma carta boba, sem propósito especial, só para relembrar os bons tempos de colégio. Seja incomum: escreva um bilhete carinhoso e ousado e deixe no parabrisas do carro dele. Anônimo, é claro!
                     Escreva com raiva: bote pra fora tudo que você sempre quis dizer ao gerente de marketing, ao supervisor de orçamentos, ao chefe da controladoria, ao seu psicanalista, ao namorado, ao bispo, ao Criador.
                     Escreva e peça perdão. Há sempre alguém parado no tempo, à espera de um perdão justo que você não teve coragem de pedir. Só assim a vida prossegue.
                     O silêncio pode ser ouro. Quem cala, pode, eventualmente, consentir. Quem fala muito arrisca-se a receber em troca uma saudação equina. Mas sempre vale a pena. Mesmo porque, a primeira coisa que fizemos, logo ao nascer, foi botar a boca no mundo. E a última, com toda certeza, será um grande, infinito e definitivo silêncio!!

(autoria desconhecida)

O Pote Rachado

 
                Um carregador de água na Índia, levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessado em seu pescoço.
                 Um dos potes tinha uma rachadura. Enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe, o outro chegava apenas com a metade da água.
                 Foi assim por dois anos, diariamente: o carregador entregando um pote e meio de água na casa do chefe.
                 Claro que o pote estava orgulhoso de suas realizações.
                 Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas metade do que ele havia designado a fazer.
                 Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem, um dia a beira do poço:
                 - Estou envergonhado e quero pedir-lhe desculpas.
                 - Por que? perguntou o homem.
                 - De quê você está envergonhado?
                 - Nestes dois anos eu fui capaz de entregar apenas a metade de minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa de seu senhor.
                 - Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho e não ganha o salário completo dos seus esforços, disse o pote.
                  O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão, falou:
                  - Quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.
                   De fato, a medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou as flores selvagens ao longo do caminho, e isto lhe deu certo ânimo.
                   Mas ao final da estrada, o pote rachado ainda se sentia mal porque tinha a metade e de novo, pediu desculpas ao homem por sua falha.
                   Disse, então, o homem ao pote:
                   - Você notou que pelo caminho só havia flores do seu lado? Eu, ao conhecer o seu defeito, tirei vantagem dele e lancei sementes de flores no seu caminho. E cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava... Por dois anos, eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Sem você ser do jeito que é, ele não poderia ter esta beleza para dar graça a sua casa.
                  Então...

(desconheço a autoria)

Crítica

             Tradicionalmente, tem-se afirmado que o homem é um animal racional. Com essa afirmação pretende-se dizer que ele não é apenas inteligente, mas possui alguma capacidade que o torna diferente dos outros animais, revelada em atos inteligentes, mas com uma dimensão muito peculiar.
              Ser racional significa, em princípio, ser dotado de razão ou ter possibilidade de raciocinar: inferindo, analisando, demonstrando e projetando o pensamento. Acima de tudo, raciocinar é ser capaz de criticar.
               Criticar não é só sinônimo de " pixar ", " difamar " ou " denegrir "; criticar é, antes de tudo, a mais nobre prova da racionalidade e implica analisar aspectos positivos e negativos de uma coisa, ideia ou situação, avaliar esses aspectos e sobre eles emitir um julgamento. Em síntese, criticar é julgar e o próprio ato de julgar induz a uma tomada de decisão ou a assumir uma posição diante de uma situação, ideia ou coisa.
                Assim, a crítica desponta como uma atividade intelectual indispensável à vida humana, porque a cada hora todo homem é chamado a decidir e tomar posição.
                Evidentemente, quando se fala de crítica como atividade racional, não é possível entendê-la como " destrutiva " ou " construtiva ", pois toda ela se constitui como a desnudação de algo para, deixando de lado a simples aparência, penetrar nos aspectos essenciais de uma situação, ideia ou coisa.
                De fato, o ser humano normal, sobretudo adulto, deve aprender a criticar e receber crítica, as duas coisas são como faces de uma mesma moeda: uma não existe sem a outra. Receber e oferecer crítica se constituem, pois, como o mais pleno exercício da racionalidade e o não realizar esse exercício já implica    " abrir mão ", mesmo que temporariamente, da capacidade de ser racional.
                Algumas pessoas, por falta de aprendizagem, omitem-se em relação à crítica e admitem que ela representa um prejuízo ou um desvalor. É claro: essas pessoas ainda não atingiram a maturidade e, por isso, não são capazes de realizar o mais fácil, que é a autocrítica.
                A autocrítica é o primeiro estágio da atividade intelectual de criticar e aqueles que não ultrapassam esse primeiro estágio necessitam ser apoiados, para aprender a exercer a plena racionalidade.

(desconheço o autor)

No caminho com Maiakovsky

                                   Eduardo Alves da Costa


Na primeira noite
eles se aproximam
e colhem uma flor
de nosso jardim.
E não dizemos nada!

Na segunda noite,
já não se escondem:
pisam as flores,
matam o nosso cão
e não dizemos nada!

Até que um dia
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada!!

sábado, 23 de outubro de 2010

trecho de Olavo Bilac


Anular a capacidade de um indivíduo
é roubar-lhe a própria essência de viver.
Eliminar as dificuldades e os problemas
que lhe cercam a sobrevivência
é privar o seu raciocínio e inibir
a sua criatividade,
alienando-o no comodismo
e jogando-o no tédio.
Pois, somente
se compreende a vida
como luta constante,
quando a esperança do amanhã
e a vontade de participar e realizar
estejam presentes em cada gesto e virtude,
porque é o desafio que nos difere
das demais espécies.
Temos a capacidade de pensar, produzir,
realizar, guiar
nosso próprio futuro
pelas nossas próprias mãos...

Fumo & Fanatismo

                       Florbela Espanca

Longe de ti são ermos os caminhos
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninho!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E é ele, ó meu amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...



Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isso, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...

Estes dois sonetos são de autoria da poetisa portuguesa Florbela Espanca e foram musicados pelo Fagner no início dos anos 80.

A minha primeira homenagem a você. Te amo...

Jesus é Verbo, Não Substantivo

                                 letra em português: Gê e Sérgio Sá


Jesus é mais que uma simples e pura teoria
Jesus é mais do que ler a bíblia todo dia
Pois tudo que foi nela escrito se resume em amor
Vamos praticá-lo
Jesus, meus amigos, é verbo, não substantivo

Jesus é mais que um templo de luxo com tendência barroca
Ele sabe que isso, no fundo importa tão pouco
Igreja a gente leva na alma
E se constroi com atos, os seus altares
Jesus, meus amigos, é verbo, não substantivo

Jesus é mais que estas senhoras de negra consciência
Que pretendem ganhar o céu com festas de beneficência
Que fazem grandes campanhas em nome de Deus pelo fim da miséria
Engordam suas contas na Suíça passando férias

Jesus é mais que ajoelhar-se e benzer-se com veemência
Ele sabe que, decerto, por dentro lhe doi a consciência
Jesus é mais que uma flor no altar a perdoar os pecados
Jesus, meus amigos, é verbo e não substantivo

Jesus foi o exemplo maior do que deixou ensinado
Mostrou que a casa de seu pai não pode ser mercado
Provou que por um gesto de amor
Qualquer desejo de fé se torna realizado
Jesus, meus amigos, é verbo e não substantivo

Jesus, certamente, não entende tanta hipocrisia
De quem, em seu nome, explora o seu irmão dia-a-dia
Jesus não aceita o pastor que acumula riqueza pregando o seu nome
Jesus, meus irmãos, é verbo e não substantivo

No meu bairro, a mais religiosa era Dona Julinha
Que falava de amor dividindo o pouco que tinha
Eu fui aprendendo aos poucos
A gente que sabe o que pra nós é certo
Não é proibido pensar, nem tudo foi escrito

Me batizaram quando eu tinha dois meses
E não me avisaram:
A vida pode ser diferente do que nos ensinaram
Me batiza agora, Jesus, por favor, assim entre amigos
Você queria mesmo ser verbo e não substantivo

Senhores
Não dividam a fé em fronteiras e países
Neste munda o há mais religiões que meninos felizes
Jesus se tornará visível
Se aprendermos, de fato, a viver como irmãos
E a paz repousar nas palmas de todas as mãos

Jesus é a maior testemunha do amor que lhe professo
Se há homens que jamais se arrependem,
Por que se confessam?
Rezando o padre-nosso assassino
Não ressuscita aquele que matou
Jesus, meus irmãos, é verbo e não substantivo

Jesus, não desça à Terra e fique por aí
Os que pensam como você já não estão mais aqui
Os homens e as palavras passam, mas não morrem seus ideais
Partiram com um sorriso nos lábios porque foram verbo e não substantivo.

Esta música pertence ao repertório da cantora Amelinha e foi gravada em seu CD de 1994.

Os Indiferentes

                         Antonio Gramsci
            
               Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel, acredito que " viver significa tomar partido ". Não podem existir apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é falta de vontade, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
                A indiferença é peso morto da história, é a bala de chumbo para o inovador e a matéria inerte em que se afogam frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, o fosso que circunda a velha cidade.
                Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contras a todos eles de maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs cotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram, e sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo, pulsar a atividade da cidade futura, que estamos a construir.

                

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Trecho de Hermann Hesse

           A massa de que é feito um verdadeiro
ser humano parece ser menos compreendida
hoje do que em qualquer outra época.
E os homens cada um representando uma experiência
única é valiosa por parte da natureza - estão sendo fuzilados
aos bandos em nossos dias. Se não fôssemos seres únicos,
e se cada um pudesse ser eliminado por uma simples bala de revólver,
desapareceria o propósito de contar histórias.
Mas cada homem é mais do que apenas ele mesmo:
representa também o ponto especial, significativo e extraordinário
no qual se cruzam os fenômenos
do mundo, somente uma vez, de uma certa maneira e nunca mais.
É por isso que a história de cada homem é importante, eterna, sagrada.
É por isso que, enquanto viver e cumprir os desígnios
da natureza, cada homem continuará sendo extraordinário
e merecedor de toda consideração.

Toda Uma História

                          Luiz Avellar & Zizi Possi

Se é verão ou inverno
Não importa a estação pra ter
Clareado o desejo de estar são para viver
Toda beleza de ser uma só vez
Toda uma história
Que alguém um dia fez
Enquanto houver tempo
De sentir a cor e a luz
Terei em meu coração
Um invisível fio
Que me conduz.

Todos sabem a excelente intérprete que Zizi Possi sempre foi. Apesar de hoje ser adorada e idolatrada pela crítica, no passado já torceram o nariz para ela e seu repertório, hoje considerado de muitíssimo bom gosto.
Em 1983, ela lançou o delicado e ao mesmo tempo forte LP " Pra sempre e mais um dia ", arriscando mais uma vez escrever a letra de uma música. Sua primeira experiência como letrista foi fazendo uma versão para o seu disco de 1980. No ano seguinte, motivada por alguns amigos, voltou a fazer parcerias em três músicas para seu disco anual, intitulado " Um Minuto Além ". Em 1982, para o álbum  " Asa Morena ", ela arriscou fazer outra versão. Em 1984, com o seu então marido, o guitarrista Liber Gadelha, compôs uma música que fecharia o disco " Dê Um Rolê ". Em 1986, ela compôs, também com o músico, a última música de sua breve carreira de compositora. Não sei se ela tem algo guardado...

Meu Namorado

                      Edu Lobo & Chico Buarque

Ele vai-me possuindo
Não me possuindo
Num canto qualquer
É como as águas fluindo
Fluindo até o fim
É bem assim que ele me quer
Meu namorado
Meu namorado
Minha morada é onde for morar você.

Ele vai-me iluminando
Não iluminando
Um atalho sequer
Sei que ele vai-me guiando
Guiando de mansinho
Pro caminho que eu quiser
Meu namorado
Meu namorado
Minha morada é onde for morar você.

Vejo meu bem com seus olhos
E é com meus olhos que o meu bem me vê.

Esta belíssima canção é de 1982 e foi gravada originalmente pela cantora Simone para o igualmente belo " O Grande Circo Místico " . As músicas foram especialmente feitas pela dupla para o Ballet Teatro Guaíra de Curitiba. O LP foi lançado pela gravadora Som Livre e relançado em formato CD pelo pequeno selo Velas em 1993.

Mulheres

                        Toninho Geraes

Já tive mulheres de todas as cores
De várias idades, de muitos amores
Com umas até certo tempo fiquei
Pra outras apenas um pouco me dei.

Já tive mulheres do tipo atrevida
Do tipo acanhada, do tipo vivida
Casada, carente, solteira, feliz
Já tive donzela e até meretriz

Mulheres cabeça, e desequilibradas
Mulheres confusas, de guerra e de paz
Mas nenhuma delas me fez tão feliz
Como você me faz

Procurei em todas as mulheres
A felicidade
Mas eu não encontrei e fiquei
Na saudade
Foi começando bem,
Mas tudo teve um fim

Você é o sol da minha vida,
A minha vontade
Você não é mentira, você é verdade
É tudo o que um dia eu sonhei pra mim.

Esta música pertence ao CD " Tá Delícia, Tá Gostoso " de 1995, do grande Martinho da Vila.

Guardar

                              Antônio Cícero

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama o poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

Antônio Cícero é irmão e parceiro da cantora Marina em suas belas canções.

Sobre a Afinidade

                           Arthur da Távola

Afinidade não é o mais brilhante, mas é o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
Não importa o tempo, a ausência, os adiantamentos, as
distâncias, as impossibilidades.
Quando não há afinidades, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto onde foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediante a vida. É vitória do
adivinhado sobre o real, do subjetivo sobre o objetivo, do
permanente sobre o passageiro, do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro mas quando ela existe não precisa
de códigos verbais para se manifestar.
Ela existia antes do conhecimento, irradia e permanece
depois que as pessoas deixaram de estar juntas.

Afinidade é ficar longe, pensando parecido a respeito dos
mesmos fatos que impressionam, comovem, mobilizam.

Afinidade é receber o que vem do outro com uma aceitação
anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para.
Sentir com é não ter necessidade de explicação do que está
sentindo.
É olhar e perceber.

Afinidade é um sentimento singular, discreto e independente.
Pode existir a quilômetros de distância, mas é adivinhado
na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.

Afinidade é retomar a relação no tempo em que parou:
porque ele ( o tempo) e ela (a separação) nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pelo tempo, para que
a maturação pudesse ocorrer e que cada pessoa pudesse ser cada
vez mais e mais...

A expressão do outro sob forma ampliada e refletida do seu " Eu"
individual e aprimorado.

domingo, 17 de outubro de 2010

Fragmentos de Clarice Lispector

" Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem
tentou sabe. Perigo de mexer no que está oculto -
e o mundo não está à tona, está oculto em suas
raízes submersas em profundidades do mar. Para
escrever tenho que me colocar no vazio. Neste
vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio
terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um
escritor que tem medo da cilada das palavras: as
palavras que digo escondem outras - quais?
talvez eu diga. Escrever é uma pedra lançada no
poço fundo. "

" Tenho que ter paciência para não me perder
dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso
de paciência porque sou vários caminhos, inclusive
o fatal beco-sem-saída. "

" O que me atormenta é que tudo é 'por enquanto',
nada é 'sempre'. A vida - a partir do momento em que
se nasce - é guiada, idealizada pelo sonho. "

" Eu abro caminho por mim mesmo. Vivo sem modelos.
Escrevo sem modelos. Ser livre é o que me dá essa
grande responsabilidade. "

" Voar baixo para não esquecer o chão. Voar alto e
selvagemente para soltar as minhas grandes asas. "

" Estou sofrendo de amor feliz. Só aparentemente é
que isso é contraditório. Quando se sente amor,
tem-se uma funda ansiedade. É como se eu risse e
chorasse ao mesmo tempo. "

(fragmentos do livro Um Sopro de Vida)

Poema Em Linha Recta

                                Álvaro de Campos/Fernando Pessoa

" Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado.
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infante de vileza. "

Os Amantes

                              Lygia Fagundes Telles

" Estranho, sim. As pessoas ficam desconfiadas, ambíguas
diante dos apaixonados. Aproximam-se deles, dizem
coisas amáveis, mas guardam certa distância, não invadem
o casulo imantado que envolve os amantes e que pode explodir
como um terreno minado, muita cautela ao pisar nesse terreno.
Com sua disciplina indisciplinada, os amantes são seres diferentes
e o ser diferente é excluído porque vira desafio, ameaça. Se o amor
na sua doação absoluta os faz mais frágeis, ao mesmo tempo
os protege como uma armadura. Os apaixonados voltaram ao Jardim do Paraíso,
provaram da Árvore do Conhecimento e agora sabem. "

(em A Disciplina do Amor - fragmentos)

Canção Em Volta do Fogo

" Se o amor então se cansou
Durma que a lua eu vigio
Se o céu te parece ruir
Em pedaços de vidro
Dançaremos em volta do fogo
Subiremos com a maré
E amanheceremos de novo

Se o nosso olhar se perder
Em horizontes tão estranhos
E o mundo insistir em girar
Como numa ciranda
Deixaremos as luzes acesas
E abriremos as portas da casa
Para termos então a certeza

Que toda noite será
Eterna como um sonho
Que insistimos em ter
Então durma, durma
Que o dia não demora a sangrar
Com o canto do primeiro galo
Então durma, durma
Que o dia não demora a sangrar
Quando o primeiro galo cantar. "

Esta música do Marcelo Hayena e do Cal pertence ao repertório da cantora Eliana Printes. É a 7ª música de seu terceiro CD intitulado " O Próximo Beijo ". Sempre gostei dela e resolvi, então, tomar emprestado para nomear o Blog. A ideia dele surgiu naturalmente... Vamos ver como será!!