domingo, 17 de outubro de 2010

Fragmentos de Clarice Lispector

" Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem
tentou sabe. Perigo de mexer no que está oculto -
e o mundo não está à tona, está oculto em suas
raízes submersas em profundidades do mar. Para
escrever tenho que me colocar no vazio. Neste
vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio
terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um
escritor que tem medo da cilada das palavras: as
palavras que digo escondem outras - quais?
talvez eu diga. Escrever é uma pedra lançada no
poço fundo. "

" Tenho que ter paciência para não me perder
dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso
de paciência porque sou vários caminhos, inclusive
o fatal beco-sem-saída. "

" O que me atormenta é que tudo é 'por enquanto',
nada é 'sempre'. A vida - a partir do momento em que
se nasce - é guiada, idealizada pelo sonho. "

" Eu abro caminho por mim mesmo. Vivo sem modelos.
Escrevo sem modelos. Ser livre é o que me dá essa
grande responsabilidade. "

" Voar baixo para não esquecer o chão. Voar alto e
selvagemente para soltar as minhas grandes asas. "

" Estou sofrendo de amor feliz. Só aparentemente é
que isso é contraditório. Quando se sente amor,
tem-se uma funda ansiedade. É como se eu risse e
chorasse ao mesmo tempo. "

(fragmentos do livro Um Sopro de Vida)

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