quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sobre a Afinidade

                           Arthur da Távola

Afinidade não é o mais brilhante, mas é o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
Não importa o tempo, a ausência, os adiantamentos, as
distâncias, as impossibilidades.
Quando não há afinidades, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto onde foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediante a vida. É vitória do
adivinhado sobre o real, do subjetivo sobre o objetivo, do
permanente sobre o passageiro, do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro mas quando ela existe não precisa
de códigos verbais para se manifestar.
Ela existia antes do conhecimento, irradia e permanece
depois que as pessoas deixaram de estar juntas.

Afinidade é ficar longe, pensando parecido a respeito dos
mesmos fatos que impressionam, comovem, mobilizam.

Afinidade é receber o que vem do outro com uma aceitação
anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para.
Sentir com é não ter necessidade de explicação do que está
sentindo.
É olhar e perceber.

Afinidade é um sentimento singular, discreto e independente.
Pode existir a quilômetros de distância, mas é adivinhado
na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.

Afinidade é retomar a relação no tempo em que parou:
porque ele ( o tempo) e ela (a separação) nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pelo tempo, para que
a maturação pudesse ocorrer e que cada pessoa pudesse ser cada
vez mais e mais...

A expressão do outro sob forma ampliada e refletida do seu " Eu"
individual e aprimorado.

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