terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Exú

 Exú é provavelmente um dos orixás mais polêmicos do panteão africano, pois apresenta características múltiplas e muitas vezes contraditórias.


Exú é a divindade da fertilidade, o regulador do cosmos, e esteve presente em nosso planeta desde o princípio. Ele é o  elemento dinâmico de tudo o que existe, o princípio da expansão e da comunicação. No mito cosmogônico, é o responsável pela conservação do axé, o poder com o qual as divindades conseguem realizar suas atividades sobrenaturais.

Com características múltiplas e muitas vezes contraditórias, é Exú quem coloca barreiras e traça os caminhos que devem ser seguidos pelo homem. Entretanto, não cabe a ele decidir o que é certo ou errado do que lhe é pedido, já que o homem tem em seu poder o livre arbítrio.

Exú faz a ligação entre o mundo material e espiritual. Sua principal atividade mítica é a de mensageiro, aquele que leva  pedidos e oferendas do homem aos orixás e que traduz a linguagem humana para as divindades. Por essa razão é que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas, antes de qualquer outro orixá.

Cabe a Exú, por exemplo, transmitir a resposta dos orixás ao babalorixá na leitura de Búzios, assim como iniciar qualquer cerimônia, trabalho ou festa nos cultos afro-brasileiros. Sua função de figura-limite entre o astral e a matéria se revela em suas cores, o negro (ausência de cor) e o vermelho (forte iluminação).

Exú se revela o mais "humano" dos orixás: nem completamente bom, nem completamente maus. Representa a bipolaridade e os opostos, como o certo e o errado, o dia e a noite, o homem e a mulher, o bem e o mal. Brinca e se diverte, possibilitando prazeres ao homem, mas também provoca o mal e acontecimento dramáticos. Por ter o conhecimento das energias mais densas e ser o orixá da abertura dos caminhos, a ele se pede a interferência nas situações do mundo físico.

No Brasil, o Exú foi sincretizado com o diabo. Acredita-se que os antigos missionários cristãos o identificaram como a representação do diabo, por apresentar-se nu exibindo um falo ereto. Na tradição iorubá é fundamental a descendência, e o falo simboliza a procriação, assim como o fogo das paixões.

O lugar consagrado a Exú é,  geralmente ao ar livre ou no interior de uma pequena choupana isolada ou, ainda, atrás da porte da casa. A segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. As pessoas que procuram a sua proteção usam colares de contas pretas e vermelhas.


Arquétipo

O arquétipo de Exú pode ser encontrado facilmente na nossa sociedade. Ele se apresenta nas pessoas que são boas e más ao mesmo tempo. Ardilosos e sedutores, geralmente inspiram grande confiança nas pessoas. Essas características muitas vezes são usadas em benefício próprio. Possuem facilidade e inteligência para compreender os problemas dos outros, dando conselhos ponderados. As artimanhas intelectuais enganadoras e as intrigas políticas são armas que usam para alcançar o sucesso desejado. Maleáveis e pragmáticos, enfrentam cada situação de forma independente, pois acreditam que cada problema ou situação deve ser tratado de forma exclusiva.


Retirado da revista Sexto Sentido Especial - Orixás, nº 46; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

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