sábado, 2 de outubro de 2021

Conduta de Misericórdia

 Este cavalheiro insolente, agressivo, que parece dominador, e que tomando o caminho, investe contra os teus direitos, encontra-se gravemente enfermo, não tendo dimensão do mal que o consome.

Aquela dama, frívola e irreverente, que parece desejar submeter o mundo aos seus pés, assinalada pelo excesso de joias e tecidos caros, tem o coração dilacerado por terríveis frustrações, que não consegue superar.

Esse jovem rebelde, que desdenha as leis e assoma na tua senda com o cinismo afivelado à face, padece conflitos íntimos que o vergastam e dos quais não pode fugir.

Estoutro senhor, de cenho carrancudo e aspecto amargo, que não logra dissimular a arrogância de que se vê objeto, tem medo de ser conhecido pelas fraquezas morais que carrega interiormente.

Esta moça, quase despida, que exibe o corpo e a alma ao comércio da luxúria, invejada por uns e por outros malsinada, vive ralada pela carência de um amor verdadeiro que a dulcifique e felicite.

O rapaz que expõe o corpo para o jogo exaustivo dos prazeres fáceis, símbolo e modelo de beleza, vive aturdido na timidez que o neurotiza, obrigado a uma exteriorização que o aniquila a pouco e pouco.

No festival dos sorrisos humanos, no banquete dos triunfos sociais e na passarela da fama as criaturas não são o que demonstram, mas, sim, um simulacro do que não conseguem tornar-se.

É certo que há exceções, como não poderia deixar de ser, o que mais afirma a regra geral.

A pobreza andrajosa, a polidez da face de bom comportamento, a voz melíflua, suave, certamente não significam personalidades humildes e resignadas, a um passo do triunfo sobre as vicissitudes.

Muitas provêm de incontida revolta, de sentimentos desesperados, de vidas em estiolamento pela mágoa e pela rebeldia.

Por isso, não julgues ninguém pela aparência, ou melhor, não te arvores a julgamento algum com desconhecimento da causa real.

Torna-te tolerante, embora sem conivir.

O problema de cada um, a cada qual pertencer.

Sê um momento de esperança para quem te busque, ou uma oportunidade de renovação para quem te perturbe ou desafie, mantendo-te em paz contigo mesmo em qualquer situação.

Da mesma forma que o teu exterior não te reflete a realidade interna, os passantes pelo teu caminho igualmente vivem essa  dicotomia de comportamento.

Jesus, que identificava a causa das aflições humanas e penetrava o âmago dos corações, por isso mesmo não julgava, não condenava, não desconsiderava ninguém.

Seguindo-Lhe o exemplo e exercendo misericórdia para com o teu próximo, quando, por tua vez, necessites de apoio, não te faltará o socorro da compreensão e da amizade que alguém te dispensará.


Texto retirado do livro Momentos de Coragem; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 8ª Edição, 2014.

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