segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Centopéia

Um cara vivia sozinho, até que decidiu que sua vida seria melhor se ele tivesse um animalzinho  de estimação como companhia. Assim, ele foi até uma loja, falou com o dono que queria um bichinho que fosse incomum.
Depois de um tempo, chegaram à conclusão de que ele deveria ficar com uma centopéia. Centopéia seria mesmo um bichinho incomum...
Um bichinho tão pequeno, com cem pés... é realmente incomum!! A centopéia veio dentro de uma caixinha branca, que seria usada para ser a sua casinha...
Bem, ele levou a caixinha para casa, achou um bom lugar para colocar tão pequenina caixinha, e pensou que o melhor começo para sua nova companhia seria levá-la até o bar, para tomarem uma cervejinha... Assim, ele perguntou à centopéia, que estava dentro da caixinha: - Gostaria de ir comigo até o Frank's tomar uma cerveja? Mas não houve resposta da sua nova amiguinha.
Isto deixou-o meio chateado. Esperou um pouco e perguntou de novo: - Que tal ir comigo até o bar tomar uma cervejinha, heim? Mas, de novo, nada de resposta da nova amiguinha... De novo ele esperou mais um pouco, pensando e pensando sobre o que estava acontecendo... Decidiu perguntar de novo, mas desta vez, chegou o rosto bem perto da caixinha e gritou: - EI, VOCÊ AÍ!!! QUER OU NÃO QUER IR COMIGO ATÉ O FRANK'S TOMAR UMA CERVEJA? 
Uma pequena voz veio de lá de dentro da caixinha: - Eu já ouvi desde a primeira vez, CARA! Estou calçando os sapatos, PORRA!

autoria desconhecida

Eu Vou Estar

             Dinho Ouro Preto/Alvin L.   


Eu não vou pro inferno
Eu não iria tão longe por você
Mas vai ser impossível não lembrar
Vou estar em tudo em que você vê:

Nos seus livros, nos seus discos
Vou entrar na sua roupa
E onde você menos esperar
Eu vou estar

Eu não vou pro céu também
Eu não sou tão bom assim
E mesmo quando encontrar alguém
Você ainda vai me ver a mim

Nos seus livros, nos seus discos
Vou entrar na sua roupa
E onde você menos esperar

Embaixo da cama
Nos carros passando
No verde da grama
Na chuva chegando
Eu vou voltar

Nos seus livros, nos seus discos
Vou entrar na sua roupa
E onde você menos esperar
Eu vou estar...

Música incluída como bônus no CD Sortimento de Zélia Duncan, lançado em 2001.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Se as coisas fossem mães

                  Sylvia Orthof

Se a lua fosse mãe, seria mãe das estrelas,
o céu seria sua casa, casa das estrelas belas.

Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,
o mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.

Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,
conversaria com a lua sobre as crianças estrelas,
falaria de receitas, pasteis de vento, quindins,
emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins!

Se a terra fosse mãe, seria a mãe das sementes,
pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.

Se uma fada fosse mãe, seria a mãe da alegria,
toda mãe é um pouco fada... Nossa mãe fada seria.

Se uma bruxa fosse mãe,
seria mãe gozada:
seria a mãe das vassouras, da Família Vassourada!

Se a chaleira fosse mãe, seria a mãe da água fervida,
faria chá e remédio para as doenças da vida.

Se a mesa fosse mãe,
as filhas, sendo cadeiras,
sentariam comportadas,
teriam " boas maneiras ".

Cada mãe é diferente: mãe verdadeira, ou postiça,
mãe vovó e mãe titia, Maria, Filó, Francisca, Neide,
Gertrudes, Malvina, Alice, toda mãe é como eu disse.

Dona Mamãe ralha e beija,
erra, acerta, arruma a mesa,
cozinha, escreve, trabalha fora,

ri, esquece, lembra e chora,
traz remédio e sobremesa...

Tem até pai que é " tipo mãe "...
esse, então, é uma beleza!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ser

            Carlos Drummond de Andrade

O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.

Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apóia em meu ombro
seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?

Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste,
contudo chamava-te
como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.

O filho que não fiz
faz-se por si mesmo.

Trecho do Livro do Desassossego (passagem 10)

                               Fernando Pessoa

E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados.

sábado, 2 de junho de 2012

O Ron-Ron do Gatinho

                  Ferreira Gullar


O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pelo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alegria
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho.

A Fala do Gato

             Ferreira Gullar


O gato siamês
tem uns vinte miados:
alguns são suaves,
outros exaltados;
há os miados graves
e há os engasgados.

É quase um idioma
que ainda não entendo
mas o gato bem sabe
o que está dizendo.

E até falou comigo
em linguagem de gente.
Disse: " meu amigo ",
assim de repente.

Então eu acordei
feliz e contente!
Era sonho, claro.
Mas, como se sabe,
é no sonho que ocorre
o que se deseja
e no mundo não cabe.

Gato Pensa?

                 Ferreira Gullar


Dizem que gato não pensa
mas é difícil de crer.
Já que ele também não fala
como é que se vai saber?

A verdade é que o Gatinho,
quando mija na almofada,
vai depressa se esconder:
sabe que fez coisa errada.

E se a comida está quente,
ele, antes de comer,
muito calculadamente,
toca com a pata pra ver.

Só quando a temperatura
da comida está normal,
vem ele e come afinal.

E você pode explicar
como é que ele sabia
que ela ia esfriar?

O Gatinho Curioso

                     Ferreira Gullar




Era uma vez era uma vez
um gato siamês.


Por ser muito engraçadinho,
é chamado de Gatinho.


Além de ser carinhoso,
ele é muito curioso.


Nada se pode fazer
que ele não deseje ver.


Se alguém mexe na estante,
está lá no mesmo instante.


Se vão consertar a pia,
está ele lá de vigia.


E o resultado é que quando
viu seu dono consertando


a tomada da parede,
meteu-se, com tanta sede,


a cheirar tudo que - nhoque!
levou um baita choque!


E pensa que ele aprendeu?
Mais fácil aprendia eu!


Mantém-se o mesmo abelhudo
que quer dar conta de tudo.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Meu Mundo E Nada Mais

                     Guilherme Arantes


Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia
Só sobraram restos
E eu não me esqueci
Toda aquela paz que eu tinha


Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado à meia-noite
À meia luz sonhando
Daria tudo por um modo de esquecer


Eu queria tanto estar
No escuro do meu quarto
À meia-noite
À meia luz sonhando
Daria tudo por meu mundo
E nada mais


Não estou bem certo
Se ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura
Como ser mais livre
Como ser capaz
De enfrentar um novo dia


Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado à meia-noite
À meia luz sonhando
Daria tudo por um modo de esquecer


Eu queria tanto estar
No escuro do meu quarto
À meia-noite
À meia luz sonhando
Daria tudo por meu mundo
E nada mais