segunda-feira, 12 de março de 2012

O Poder da Validação

                                  Stephen Kanitz

Todo mundo é inseguro, sem exceção. Os  superconfiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho. Afinal, ninguém é de ferro. Paulo Autran tremia nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça já tivesse sido encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator relaxava e partia tranquilo para o resto do espetáculo. Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada artigo que escrevo e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que chegam.

Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir essa insegurança?

Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora de nosso controle. Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de " validação ", embora para os estatísticos o significado o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.

Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição.

Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: " Você tem significado para mim ". Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: " Gosto de você pelo que você é ". Quem cunhou a frase " Por trás de uma grande homem existe uma grande mulher " ( e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a própria insegurança que não temos tempo de sair validando os outros. Estamos tão preocupados em mostrar que somos o " máximo " que esquecemos de dizer a nossos amigos, filhos e cônjuges que o " máximo " são eles. Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.

Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se ou dominar os outros em busca de poder.

Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um " valeu, cara, valeu ".

Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Eu Aprendi

                     William Shakespeare

Que a melhor sala de aula do mundo
está aos pés de uma pessoa mais velha.
Que quando você está amando, dá na vista.

Que basta uma pessoa me dizer "você fez  meu dia melhor" 
para ele se iluminar.
Que ter uma criança adormecida em seus braços
é um dos momentos mais pacíficos do mundo.

Que ser gentil é mais importante do que estar certo.
Que nunca se deve negar um presente a uma criança.
Que eu sempre posso orar por alguém quando
não tenho força para ajudá-lo de alguma forma.

Que não importa quanta seriedade a vida exija de você,
cada um de nós precisa de um amigo brincalhão
para se divertir junto.
Que algumas vezes tudo o que precisamos é de uma mão
para segurar e um coração para nos entender.

Que os passeios simples com meu pai em volta
do quarteirão nas noites de verão
quando eu era criança
fizeram maravilhas para mim quando me tornei adulto.

Que deveríamos ser gratos a Deus por não nos
dar tudo que lhe pedimos,
que dinheiro não compra classe. 

Que são pequenos acontecimentos diários que
tornam a vida espetacular.
Que debaixo da "casca grossa" 
existe uma pessoa
que deseja ser apreciada e amada.

Que Deus não fez tudo num só dia!
O que me faz pensar que eu possa?

Que ignorar os fatos não os altera.
Que quando você planeja se nivelar com alguém,
apenas está permitindo que essa pessoa
continue a magoar você.

Que AMOR e não o TEMPO é que cura
todas as feridas.
Que a maneira mais fácil para eu crescer como pessoa
é me cercar de gente mais inteligente do que eu.

Que cada pessoa que a gente conhece deve ser saudada
com um sorriso.
Que ninguém é perfeito até que você se apaixone
por essa pessoa.
Que a vida é dura, mas pode-se ser mais do que ela.
Que as oportunidades nunca são perdidas,
alguém vai aproveitar as que você perdeu.

Que quando  o ancoradouro se torna amargo
a felicidade vai aportar em outro lugar.
Que eu gostaria de ter dito à minha mãe que a amava,
uma vez mais, antes dela morrer.

Que devemos sempre ter palavras doces e gentis
pois amanhã talvez tenhamos que engoli-las.
Que um sorriso é a maneira mais barata
de melhorar a aparência.

Que não posso escolher como me sinto,
mas posso escolher o que fazer a respeito.

Que todos querem viver no topo da montanha, 
mas toda felicidade e crescimento ocorrem quando 
você está escalando-a.
Que se deve dar conselho em duas ocasiões:
quando é pedido ou quando é caso
de vida ou morte.

Que quanto menos tempo tenho,
mais coisas consigo fazer!!

domingo, 4 de março de 2012

Hospital do Senhor

" Fui ao Hospital do Senhor para um check-up de rotina e constatei que estava doente. Quando Jesus mediu minha pressão, verificou que estava baixa de ternura. O termômetro registrou 40 graus de egoísmo. Fiz um eletrocardiograma e diagnosticaram que eu precisava de uma ponte de amor, pois minhas veias estavam bloqueadas por não abastecer meu coração vazio.

Ortopedicamente, tinha dificuldade de andar lado a lado e não conseguia abraçar meus irmãos por ter fraturado o braço ao tropeçar na minha vaidade.

Tinha miopia constatada por não enxergar além das aparências; queixei-me de não poder ouvi-lo, e Ele diagnosticou bloqueio em decorrência das palavras vazias do dia-a-dia.

Obrigado, Senhor, por essa consulta não ter custado nada, pela sua grande misericórdia, mas prometo, após ser medicado e receber alta do hospital, somente usar homeopatia, que são os remédios naturais que me indicou e estão no receituário do Evangelho de Jesus Cristo.

Vou tomar, ao me levantar, chá de Obrigado Senhor ; ao entrar no trabalho, uma colher de sopa de Bom Dia Irmão ; e, de uma em uma hora, um comprimido de Paciência, com meio copo de Humildade. 


Ah! Senhor, ao chegar em casa, vou tomar uma injeção de Amor e, ao me deitar, duas cápsulas de Consciência Tranquila. Assim, tenho certeza, não ficarei doente e todos os dias serão Natal. 


Prometo prolongar este tratamento preventivo por toda a minha vida, para que, quando me chamar, seja por morte natural.

Obrigado, Senhor, e perdoe-me por ter tomado o Seu tempo. Do seu eterno cliente, Eu. "

Saudade

                      Álvares de Azevedo

Foi por ti que num sonho de ventura
A flor da mocidade consumi,
E às primaveras digo adeus tão cedo
E na idade do amor envelheci!

Vinte anos! Derramei-os gota a gota
Num abismo de dor e esquecimento...
De fogosas visões nutri meu peito...
Vinte anos!... Não vivi um só momento!

Contudo, no passado uma esperança
Tanto amor e ventura prometia,
E uma virgem tão doce, tão divina
Nos meus sonhos junto a mim
Adormecia!...

E quantas vezes o luar tardio
Não viu nossos amores inocentes?
Não embalou-se da morena virgem
No suspirar, nos cânticos ardentes?

Eu sonhei tanto amor, tantas venturas,
Tantas noites de febre e d'esperança!
Mas hoje o coração desbota, esfria,
E do peito no túmulo descansa!

Pálida sombra dos amores santos,
Passa, quando eu morrer, no meu jazigo;
Ajoelha-te ao luar e canta um pouco,
E lá na morte eu sonharei contigo!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Tempo Rei

                      Gilberto Gil

Não me iludo
Tudo permanecerá do jeito
Que tem sido transcorrendo, transformando
Tempo espaço navegando todos os sentidos
Pães de Açúcar, Corcovados
Fustigados pela chuva e pelo eterno vento
Água mole, pedra dura
Tanto bate que não restará nem pensamento
Transcorrei ó tempo rei ó tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me ó pai o que eu ainda não sei
Mãe senhora do perpétuo socorrer
Pensamento mesmo fundamento singular
Do ser humano, de um momento para o outro
Poderá não mais fundar nem gregos nem baianos
Mães zelosas, pais corujas
Vejam como as águas de repente ficam sujas
Não se iludam, não me iludo
Tudo agora mesmo pode estar por um segundo
Transcorrei ó tempo rei ó tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me ó pai o que eu ainda não sei
Mãe senhora do perpétuo socorrer.

canção gravada originalmente por Amelinha em seu disco " Água e Luz " de 1984. 

O que não se recupera

                                      Frei Betto

Existem quatro coisas na vida que não se recuperam: a pedra depois de atirada; a palavra de pois de proferida; a ocasião depois de perdida; e o tempo depois de passado. A pedra é a  fera adormecida em cada um de nós, o ímpeto agressivo, a sanha assassina, a dor que não se aplaca, a ferida aberta, o orgulho machucado, o ressentimento aflorado, o ódio incontido, a raiva acumulada, a emoção esgarçada.

A pedra no meio do caminho, como assinalou o poeta. Pedra na qual tropeçamos e, humilhados, apanhamos para transferir a outrem os próprios erros. Por isso Jesus, em sua sabedoria, desafiou os que acusavam a mulher adúltera a atirar a primeira pedra. Todos baixaram as mãos e o rosto. Um a um foram se afastando, envergonhados. Seus pecados não eram menores que os dela.

A palavra é a essência do humano diante do silêncio do Universo. As estrelas, o mar, as flores e os pássaros proferem o mesmo dizer, sem jamais ofender. Nós, seres humanos, fazemos da palavra arte ou agressão, ternura ou injúria, poesia ou acidez. E raramente agimos como aquela índia aimara que, à beira do lago Titicaca, na fronteira do Peru com a Bolívia, levou quinze minutos refletindo antes de responder à pergunta que eu lhe fizera.

Foi a palavra que criou o mundo e se fez carne. É a palavra insana que destrói a criação e promove guerras, dissemina discórdia, semeia a morte. " Lavra a tua palavra e lava a tua língua antes de pronunciar o teu dizer ",  disse-me canuto, camponês de Cordisburgo, a terra que gerou Guimarães Rosa, que recriou a palavra.

A ocasião é o cavalo encilhado que passa à frente. Monta-se ou perde-se. Mas também é ela que faz o ladrão, sobretudo quando não se tem princípios éticos, caráter,  refinamento espiritual, coerência de vida. Esses abraçam a ocasião equivocada e morrem de vergonha quando se torna pública.

A ocasião exige atenção, critério, discernimento, coragem. Sem ousadia não se abraça uma oportunidade, uma causa, um ideal, a utopia. Deixam escapar a boa ocasião os pusilânimes, os inseguros, os que dão mais ouvidos à boca alheia que à voz do coração.

A matéria prima da Bíblia é o tempo, argila da historicidade. Javé não é um deus qualquer. É o Deus de uma determinado percurso no tempo: o Deus " de Abraão, Isaac e Jacó ". Ao contrário de outros deuses, que em sua onipotência criariam de modo instantâneo (deuses-café solúvel). Javé criou a prazo, em sete dias.

Isso faz sentido se considerarmos que o contrário do tempo não é a eternidade. É o  amor. Ao irromper no tempo histórico como presença viva de Deus-Amor, Jesus nos convocou a nada mais esperar. " Esgotou-se o tempo " (Marcos 1,15), como quem proclama: " Já não há o que aguardar. Resta amar ". E, " se o amor faz passar o tempo e o tempo faz passar o amor ", como diz o provérbio italiano, nada mais irreconciliável com o tempo do que o amor. Bem o sabem os amantes, que gostariam de parar no infinito os ponteiros de seus relógios.

A modernidade, entretanto, nos faz escravos do tempo, ao contrário dos antigos e dos índios aldeados, donos do tempo. Basta observar que trazemos no pulso a algema do tempo, dividido em horas, minutos e segundos. Assim, já não nos damos tempo, nem temos tempo: para meditar, conversar, amar, divertir. É como se fôssemos náufragos perdidos em alto-mar, lutando sofregamente para sobreviver às ondas avassaladoras do tempo que ameaçavam nos afogar.

Bem vale lembrar o sábio poema de frei Antônio das Chagas (1831-1882): " Deus pede estrita conta do meu tempo/ e eu vou do meu tempo dar-lhe conta/ mas como dar, sem tempo, tanta conta,/ eu que gastei, sem conta, tanto tempo?/ Para ter minha conta feita a tempo,/ o tempo me foi dado e não fiz conta/ não quis, sobrando tempo, fazer conta,/ hoje quero acertar conta e não há tempo./ Ó vós que tendes tempo sem ter conta,/ não gasteis vosso tempo em passatempo./ Cuidai, enquanto é tempo, de vossa conta,/ pois aqueles que sem conta gastam o tempo,/ quando o tempo chegar de prestar contas,/ chorarão, como eu, o não ter tempo ". 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Raios de Luz

                          Cristóvão Bastos/Abel Silva

Você chegou
E iluminou
O meu olhar
Teus olhos nus
Raios de luz
No azul do mar
Meu coração
Que sempre quis acreditar
Bateu feliz
Foi só você chegar
Sei que a paixão
Apaga o chão
Rareia o ar
Ser e não ser
Negar querer
Fugir ficar
Mas não fui eu quem quis assim
Aconteceu você pra mim
E eu não vou negar o que
O acaso quis pra nós
A chama desse amor me faz
Sorrir, cantar,
Te quero mais
Te chamo só
Pra repetir
Te amo!

música de abertura do CD Raio de Luz da cantora Simone, gravado em 1991.

não tive a oportunidade de dizer isso a você pessoalmente, então, fica o recado...

Você Vai Ficar na Saudade

                                Benito Di Paula

Você cortou o barato do meu amor
Você mentiu, iludiu e me deixou por fora
Você é a culpada do meu samba entristecer
Ah! Eu vou-me embora
Agora eu entrego os pontos e vou dizer porque
Você é mulher e é bonita e eu não posso esquecer
Você vai ficar na saudade, minha senhora
Ah! Eu vou-me embora
Adeus, amor, eu vou partir...

Além de Tudo

                      Benito Di Paula

Você  ficou sem jeito e encabulada
Ficou parada sem saber de nada
Quando eu falei que gosto de você
Você olhou pra mim e decididamente
Você falou tão delicadamente
Que eu não devia gostar de você
Mas a vida é essa e apesar de tudo
Gosto de você e que se dane o mundo
Quem sabe se nessas voltas que essa vida dá
Você pode mudar de ideia e me procurar
Vou esperar!

Eu vou ficar aqui até madrugada voltar
E trazer você pra mim
Vou ficar aqui!

Nossa Senhora

                             Roberto/Erasmo

                                                            E àqueles que fiz sofrer
                                                            Peço perdão... 


Cubra-me com seu manto de amor
Guarda-me na paz desse olhar
Cura-me as feridas e a dor
Me faz suportar
Que as pedras do meu caminho
Meus pés suportem pisar
Mesmo ferido de espinhos
Me ajude a passar
Se ficaram mágoas em mim
Mãe, tira do meu coração
E àqueles que fiz sofrer
Peço perdão
Se eu curvar meu corpo na dor
Me alivia o peso da cruz
Interceda por mim, minha mãe
Junto a Jesus

Nossa Senhora
Me dê a mão
Cuida do meu coração
Da minha vida, do meu destino

Nossa Senhora
Me dê a mão
Cuida do meu coração
Da minha vida, do meu destino
Do meu caminho, cuida de mim

Sempre que meu pranto rolar
Ponha sobre mim suas mãos
Aumenta minha fé e acalma
O meu coração
Grande é a procissão a pedir
A misericórdia, o perdão
A cura do corpo e pra alma
A salvação
Pobres pecadores, oh mãe
Tão necessitados de vós
Santa mãe de Deus, tem piedade de nós
De joelhos aos vossos pés
Estendei a nós vossas mãos
Rogai por todos nós, vossos filhos
Meus irmãos!

faixa do CD Joanna em Oração gravado em 2001.