sábado, 16 de abril de 2011

Schopenhauer II

                Não é apenas nos fenômenos completamente semelhantes ao seu próprio, nos homens e nos animais, que ele encontrará, como essência íntima, essa mesma vontade; mas um pouco mais de reflexão o levará a reconhecer que a universalidade dos fenômenos, tão diversos para a  representação, têm uma única e mesma essência, a mesma que lhe é conhecida íntima, imediatamente, e melhor do que qualquer outra, aquela enfim que na sua manifestação mais aparente tem o nome de vontade. Ele a verá na força que faz crescer e vegetar a planta e cristalizar o mineral; que dirige a agulha magnética para o norte; na comoção que experimenta com o contato de dois metais heterogêneos; ele a encontrará nas afinidades eletivas dos corpos que se manifestam sob a forma de atração ou de repulsa, de combinação ou de decomposição; e até na gravidade que age com tanto poder em toda matéria que atrai a pedra para a terra, como a terra para o sol. É refletindo sobre todos estes fatos que, ultrapassando o fenômeno, chegamos à coisa em si: " Fenômeno " significa representação, e mais nada; e toda representação, todo objeto é fenômeno. A coisa em si é unicamente a vontade; nesta qualidade, esta não é de maneira nenhuma representação, difere dela toto genere; a representação, o objeto,  é o fenômeno, a visibilidade, a objetividade da vontade. A vontade é a substância íntima, o núcleo tanto de toda coisa particular, como do conjunto; é ela que se manifesta na força natural cega; ela encontra-se na conduta racional do homem; se as duas diferem tão profundamente, é em grau e não em essência.

Schopenhauer I

                       Suponhamos que nos perdêssemos a contemplar a infinitude do mundo no tempo e no espaço, quer refletíssemos sobre a multidão dos séculos passados e futuros, quer durante a noite o céu nos revele, na sua realidade, mundos sem número, ou que a imensidão do universo oprima, por assim dizer, a nossa consciência: neste caso, sentimo-nos reduzidos ao nada; como indivíduo, como corpo animado, como fenômeno passageiro da vontade, temos a consciência de não ser mais do que uma gota no oceano, isto é,  de nos dissiparmos e de desaparecermos no nada. Mas, ao mesmo tempo, contra a ilusão do nosso nada, contra esta mentira impossível, eleva-se em nós a consciência imediata que nos revela que todos esses mundos existem apenas na nossa representação; eles são apenas modificações do sujeito eterno do puro conhecimento; são apenas aquilo que sentimos em nós, desde que esquecemos a individualidade; em resumo, é em nós que reside o que constitui o suporte necessário e indispensável de todos os mundos e de todos os tempos. A grandeza do mundo, que há pouco espantava-nos, agora reside, serena, em nós mesmos: a nossa dependência em relação a ela está a partir de agora suprimida, visto que presentemente é ela que depende de nós. - No entanto, não fazemos efetivamente todas estas reflexões; limitamo-nos a sentir, de uma maneira completamente irrefletida, que, num certo sentido (só a filosofia pode precisá-lo), somos um com o mundo, e que, por conseguinte, a sua infinitude ergue-nos, ao contrário de nos esmagar. É esta consciência, ainda completamente sentimental, que os Upanixades dos Vedas repetem sob tantas formas variadas e, sobretudo, nesta frase que citamos mais acima:  " Eu sou todas estas criaturas, e por minha causa não há outro ser ". Existe aí um êxtase que ultrapassa a nossa própria individualidade; é o sentimento do sublime.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Humano Demais

                               Fábio de Melo

Eu fico tentando compreender o que nos teus olhos pôde ver
Aquela mulher na multidão que, já condenada, acreditou
Que ainda havia o que fazer, que ainda restara algum valor
E ao se prender em teu olhar, por certo haverá de vencer
E assim fizeste a vida retornar aos olhos dela
E quem antes condenava se percebe pecador
Teu amor desconcertante, força que conserta o mundo
Eu confesso não saber compreender

Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender
Este jeito que escolheste de amar quem não merece
Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender que aqueles que escolheste
E tomaste pela mão, geralmente eu não os quero do meu lado

Eu fico surpreso ao ver-te assim
Trocando os santos por Zaqueu e tantos doutores por Simão
Alguns sacerdotes por Mateus
E, mesmo na cruz, em meio à dor, um gesto revela quem tu és
Te tornas amigo do ladrão só pra lhe roubar o coração
E assim foste o contrário, o avesso do avesso
E por mais que eu me esforce, não sei bem se te conheço
Tu enxergas o profano
Eu insisto em ver a margem
Quando vês o coração, eu vejo a imagem

Tudo é do Pai

                               Frederico Cruz

Eu pensei que podia viver por mim mesmo
Eu pensei que as coisas do mundo
Não iriam me derrubar

O orgulho tomou conta do meu ser
E o pecado devastou o meu viver

Fui embora, disse ao Pai:
" Dá-me o que é meu!
Dá-me a parte que me cabe da herança! "
Fui pro mundo, gastei tudo, me restou só o pecado
E hoje eu sei que nada é meu
Tudo é do Pai

Tudo é do Pai!
Toda honra e toda glória
É dele a vitória alcançada em minha vida
Tudo é do Pai!
Se sou fraco ou pecador
Bem mais forte é o meu Senhor
Que me cura por amor!


Contrários

                          Fábio de Melo

Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar

Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo para lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
E o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema, a solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz

Só quem soube duvidar pôde, enfim, acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco se encontrou, aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar

Só quem perdoou, na vida, sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite que o amor pode nascer

Humano Amor de Deus

                                 Fábio de Melo

Tens o dom de ver estradas onde eu vejo o fim
Me convences quando falas: " não é bem assim! "
Se me esqueço, me recordas; se não sei, me ensinas
E se perco a direção, vens me encontrar

Tens o dom de ouvir segredos mesmo se me calo
E, se falo, me escutas, queres compreender
Se pela força da distância tu te ausentas
Pelo poder que há na saudade, voltarás!

Quando a solidão doeu em mim
Quando o meu passado não passou por mim
Quando eu não soube compreender a vida
Tu vieste compreender por mim

Quando os meus olhos não podiam ver
Tua mão segura me ajudou a andar
Quando eu não tinha mais amor no peito
Teu amor me ajudou a amar

Quando os meus sonhos vi desmoronar
Me trouxeste outros pra recomeçar
Quando me esqueci que era alguém na vida
Teu amor veio me relembrar

Que Deus me ama, que não estou só
Que Deus cuida de mim quando fala pela tua voz
E me diz: " coragem! "

sábado, 5 de março de 2011

Dandalunda

                      Carlinhos Brown
                              refrão extraído do domínio público
Bem pertinho da entrada do guetho
Um terreiro de Angola e ketu
Mãe maiamba, que comanda o centro
Dona Oxum dançando Óxossi no tempo
Lá em cima no tamarineiro
Mariinha da pipoca ajoelha
Em janeiro, no dia primeiro
Desce o dono do terreiro
Coquê
Dandalunda, Maimbanda, coquê
Seu Zumbi é santo sim que eu sei
Caxixi, agdavi, capoeira
Casa de batuque, toque na mesa
Linda, santa, Iansã da pureza
Vira fogo, atraca, atraca, se chegue
Vi Nanã dentro da mata de gegê
Brasa acesa na pisada do frevo
Arrepia o corpo inteiro
Coquê
Dandalunda, Maimbanda, coquê

Dandalunda
Paira na beira
Dandalunda
Da cachoeira
Dandalunda
Paz e água fresca
Dandalunda
Doura dendê

música do CD Afropopbrasileiro de Margareth Menezes gravado em 2001.

Motivação

                      Aristóteles Onassis

Hoje acordei para vencer.
A automensagem positiva logo pela manhã é um estímulo que pode mudar seu humor, fortalecer sua autoconfiança e, pensando positivamente, você reunirá forças para vencer os obstáculos.
Não deixe que nada afete seu estado de espírito.
Envolva-se pela música: cante ou ouça.
Comece a sorrir mais cedo.
Ao invés de reclamar quando o relógio despertar, agradeça a Deus pela oportunidade
de acordar mais um dia.
O bom humor é contagiante; espalhe-o. Fale coisas boas, de saúde, de sonhos
com quem você encontrar.
Não se lamente, ajude-se e também ajude as outras pessoas a perceberem o que há de bom dentro de si.
Não viva emoções mornas e vazias.
Cultive seu interior, extraia o máximo das pequenas coisas.
Seja transparente e deixe que as pessoas saibam que você as estima e precisa delas.
Repense seus valores e dê de si mesmo a chance de crescer e ser mais feliz.
Tudo o que merece ser feito merece ser bem feito.
Torne suas obrigações atraentes, tenha garra e determinação.
Mude, opine, ame o que você faz.
Não trabalhe só por dinheiro e sim, pela satisfação da " missão cumprida ".
Lembre-se: nem todos têm a mesma oportunidade.
Pense no melhor e espere pelo melhor.
Transforme seus momentos difíceis em oportunidades.
Seja criativo, buscando alternativas e apresentando soluções ao invés de problemas.
Veja o lado positivo das coisas e assim você tornará seu otimismo uma realidade.
Não inveje. Admire!
Seja entusiasta com o sucesso alheio como seria como seu próprio.
Idealize um modelo de competência e faça a sua autoavaliação para saber o que está lhe faltando para chegar lá.
Ocupe o tempo crescendo, desenvolvendo sua habilidade e seu talento. Só assim não terá tempo
para criticar os outros.
Não acumule fracassos e sim experiências.
Tire proveito de seus erros e amplie seus conhecimentos.
Dimensione seus problemas e não se deixe abater por eles.
Você pode tudo o que quiser.
Perdoe.
Seja grande para os aborrecimentos, nobre para a raiva, forte para vencer o medo e feliz para permitir
a presença de momentos infelizes.
Não viva só para o trabalho.
Tenha outras atividades paralelas, como esportes, leitura.
Cultive amigos.
O trabalho é uma das contribuições que damos para a vida, mas não devemos jogar nele todas as nossas
expectativas e realizações.
Finalmente, ria das coisas a sua volta, ria de seus problemas, de seus erros, ria da vida.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Como Girafinha Flor fez uma descoberta

                                                Terezinha Casassanta

                        Girafinha Flor era a girafa mais solitária e triste do mundo.
                        Ela não tinha pais nem irmãozinhos.
                        Vivia sozinha lá no meio da floresta.
                        Girafinha Flor morava em uma bonita casinha e tinha muitas coisas gostosas para comer. Mas cada dia se tornava mais solitária e triste.
                        Até que uma bela tarde, Girafinha Flor falou:
                        - Deve haver um remédio para curar a solidão. Eu vou à cidade para descobrir.
                        Assim pensando, pôs um lenço no pescoço, um chapéu na cabeça e lá se foi pelo caminho.
                        Ela havia andado só um pouquinho quando encontrou um macaco:
                        - Boa tarde, disse o macaco. Onde você vai?
                        - Eu vou à cidade descobrir um remédio para curar a solidão, respondeu a Girafinha.
                        - Está bem, mas volte depressa, disse o macaco. Eu ficarei esperando por você.
                        Girafinha Flor continuou a andar.
                        Numa curva do caminho viu um coelho cinzento que saltitava contente.
                        - Boa tarde, disse o coelho. Onde você vai?
                        - Vou à cidade descobrir um remédio para curar a solidão, respondeu a Girafinha.
                        - Está bem, mas volte depressa, disse o coelho cinzento. Eu ficarei esperando por você.
                        Girafinha Flor continuou novamente o seu caminho. Atravessou um campo verde e encontrou uma cabrinha pintada.
                        - Boa tarde, disse a cabrinha. Onde vai você?
                        - Vou à cidade descobrir um remédio para curar a solidão, disse a Girafinha.
                        - Está bem! Mas volte depressa, disse a cabrinha. Eu ficarei esperando por você.
                        E mais uma vez, Girafinha Flor continuou o seu caminho. Mas quando ela alcançou a estrada de asfalto preto e brilhante, parou de repente e exclamou:
                        - Eu já descobri o que procurava!
                        - Eu nem preciso ir à cidade mais!
                        E assim pensando, ela voltou para trás e correu o mais depressa que pôde de volta à floresta.
                        Do alto de uma árvore, um papagaio avistou-a e gritou:
                        - Corra, corra, Girafinha, senão a noite chega e você não acha o caminho!
                        Girafinha Flor começou a correr. Mas o dia acabou. A noite chegou. A lua não apareceu.
                        - E agora? perguntou a Girafinha aflita. Como é que vou achar minha casa?
                        - Com seu pescoço comprido, ela espiou por entre os galhos das árvores para pedir ajuda aos passarinhos.
                        Mas os passarinhos dormiam quietinhos e quentinhos nos seus ninhos...
                        Desanimada, a Girafinha baixou a cabeça. E o que você pensa que ela viu?
                        Um bando de vagalumes com suas luzinhas brilhantes que enfeitavam a noite, como se fossem diamantes.
                        - Ajudem-me, por favor! - pediu Girafinha Flor.
                        Os vagalumes se reuniram e formaram uma fita brilhante que piscando dentro da noite indicava o caminho adiante.
                        Girafinha Flor foi seguindo o colar de luzinhas, foi seguindo, até encontrar o seu caminho.
                        Naquela noite, Girafinha Flor dormiu um sono tão gostoso!
                        Sonhou que brincava de roda com os vagalumes, que corria atrás da cabrinha pintada, que conversava com o papagaio.
                        No dia seguinte, Girafinha Flor acordou bem cedinho. Foi para a cozinha e fez doces e salgadinhos. Fez um bolo gostoso e sucos de frutas também.
                        - Eu hoje vou dar uma festa, disse a Girafinha.
                        Uma festa para o meu amigo macaco, o meu amigo coelho cinzento, a minha amiga cabrinha pintada, o meu amigo papagaio, os meus amigos vagalumes...
                        Depois, Girafinha Flor escreveu bonitos convites para a festa e colocou-os na caixa do Pombo-Correio, o carteiro da floresta.
                        Colocou na porta da casa uma tabuleta que dizia: " Sejam bem-vindos, amigos ". Escrito em letras azuis.
                        Foi uma festança! Os amigos cantaram, dançaram, brincaram, comeram, beberam e riram felizes. Depois, todos ajudaram a Girafinha Flor a arrumar a casa.
                        Agora, Girafinha Flor já não é a girafinha mais triste e solitária do mundo. Ela descobriu o remédio para curar a sua solidão. Girafinha Flor encontrou AMIGOS.
                        E você, já encontrou amigos também??

Cristificação Pelo Amor

                                      Joanna de Angelis


                       É certo que gostarias de ser amado, recebendo a afetividade de outrem em demonstrações de carinho conforme as necessidades que acreditas te afligirem.
                       Talvez fosse melhor que te chegassem ao sentimento as expressões retributivas do amor que esparzes, diminuindo-te as carências íntimas, acalmando-te as ansiedades, alegrando-te.
                       O problema, porém, é geral.
                       Não há indivíduo algum que se encontre referto na Terra, nessa área.
                       Quem recebe amor de determinadas pessoas, aspira pelo afeto de outras, que não aquelas que se lhe acercam.
                       Tens o pensamento dirigido para alguém que, possivelmente, não te corresponde, assim como outrem te anela, sem que sintas algo de especial por ele.
                       Se as pessoas se correspondessem na mesma faixa de ternura; se os corações se manifestassem na mesma onda de sentimento; se os afetos se exteriorizassem na mesma vibração de trocas, a Terra já seria o Paraíso desejado. Há, no entanto, infinidade de graus, nos quais se manifestam as emoções. Ninguém, todavia, que viaje a sós.
                       Possivelmente, não te associas com a pessoa de quem gostas, ou não recebes a companhia do ser amado. Todavia, se espraiares o olhar de bondade compreensiva identificarás companhias outras agradáveis, que se encontravam solitárias, porque anelavam por ti e não logravam aproximar-se. São os aparentemente inexplicáveis paradoxos da existência corporal, cujas causas se encontram na conduta passada, quando de outras reencarnações.
                       Ama, desse modo, sem impor-te, sem exigir retribuições. Experiemente querer bem pelo prazer de fazê-lo e descobrirás um filão de ouro atraente, que te propiciarás uma grande fortuna, em forma de paz e de satisfação pessoal.
                       O melhor do amor é amar, e não somente ser amado. A preparação de uma viagem, não raro, é sempre mais agradável do que esta em si mesma ou a chegada que, às vezes, causa frustração e desencanto.
                       As chamadas " pessoas maravilhosas " , por quem te apaixonas, assim o são, porque as desconheces.
                       Todos os homens têm problemas, limitações, defeitos, necessidades.
                       O insucesso das uniões conjugais, na maioria dos casos, resulta da precipitação na escolha, da imaturidade na busca, do apego às ilusões e da efetividade por ídolos de pés de barro, que se despedaçam facilmente.
                       Enobrece-te com o amor, irradiando-o em forma de simpatia, de gentileza, de serviço pelo próximo, de abnegação. Não há quem resista à força do amor sem interesse imediato, sem aprisionamento.
                       Ama, portanto, libertando.
                       Cristifica-te através do amor. Talvez, para conseguí-lo, seja-te necessário crucificar-te nas traves da renúncia e da sublimação. Todavia, somente por meio da crucificação é que alguém se pode cristificar. E o amor, sem dúvida, ainda é o mais suave, perfeito e eficaz instrumento para consegui-lo.