sábado, 13 de abril de 2024

Tesouros Libertadores

Sempre quando ocorre o pensamento em torno dos tesouros terrestres, a imaginação desborda e passa a relacionar os valores que promovem os indivíduos à situação invejável da posse, da ostentação, da grandeza material.

Gemas preciosas e metais raros, títulos de vária ordem e posições relevantes, que permitem a bajulação e o destaque, quadros de artistas brilhantes e veículos especiais, fora de linha, propriedades fabulosas, residências, iates, aviões e muitos outros valores passam a ter-lhes significado.

Nada obstante, à medida que o tempo passa, enquanto se avolumam os compromissos de negócios, recreações e jogos para novas conquistas, invariavelmente, o tédio ou o estresse dominam os possuidores, que se fazem possuídos por tudo quanto julgam ter, e dão-se conta de que se encontram aprisionados na gaiola dourada da ilusão.

Raramente descobrem-se amados, embora a multidão daqueles que os aplaudem, mais interessados na projeção do próprio ego por estarem ao seu lado, do que por qualquer outro sentimento de afeição e respeito.

Concomitantemente, experienciam necessidades profundas no âmago do ser, que as quinquilharias valiosas não conseguem atender, e descobrem-se num grande vazio existencial, de que procuram fugir mediante comportamentos desregrados, embora às escondidas até o momento do do escândalo, a fuga pela drogadição, pelos devaneios do sexo ultrajante, pelas extravagâncias que chamam atenção e promovem na mídia, sem lograrem acalmar as ansiedades do sentimento nem as inquietações mentais.

Invejados por grande número de pessoas atormentadas, sofrem sorrateiras competições e experimentam os dardos venenosos da inveja que predomina em a sociedade contemporânea, bem vestidos e preocupados sempre com a aparência, recurso com que disfarçam as tristezas, sem que os tormentos interiores encontrem solução.

A gaiola dourada onde se acolhem não deixa de ser uma prisão atormentante que lhes impede a movimentação, a liberdade, a harmonia doméstica.

Cercados de guarda-costas, de funcionários especializados, não fruem o prazer da convivência familiar, porque se encontram sempre sob os holofotes da observação de todos, sem intimidade doméstica e, muito menos consigo próprios.

Essa complicada situação chama-se felicidade terrena, misturada com as bebidas finas e anestesiantes, responsáveis por futuras enfermidades irreversíveis, a que se empresta muito significado nos relacionamentos no mundo.

O interesse que muitos demonstram em participar do seu círculo de amizade tem como polo de atração usufruir das facilidades e das migalhas que excedem na mesa do seu temporário poder.

Quando adoecem e envelhecem são atendidos pelos melhores facultativos que encontram, e, apesar disso, nem sempre têm solucionados os problemas que os  aturdem, os transtornos em que se crucificam, cercados de muitos auxiliares e em tremenda solidão.

Raramente acreditam com certeza na imortalidade da alma, veem passar os anos turbulentos e as oportunidades brilhantes, avizinhar-se a morte sem esperança de perpetuidade na glória que desfrutaram e mais angustiados passam os últimos momentos existenciais dominados pelo medo da fatalidade orgânica - a desencarnação.

Aguardando-os, no entanto, além do pórtico da matéria está a vida exuberante que não souberam construir, a fim de fruí-la nessa nova etapa.

São afortunados de coisas nenhumas, mordomos que se supuseram donos e perderam-se na névoa da ilusão.

Não são esses recursos execráveis, mas sim o uso que deles se faz e a ilusão que proporcionam que merecem exame acurado.

É claro que existem exceções representadas em verdadeiros missionários do Bem, que multiplicam esses tesouros terrestres em bênçãos de progresso, de educação, de erradicação da miséria.

Esses tesouros ocupam espaço, sobrecarregam e ficam no mundo sob a direção de outras mentes também ávidas de poder.

Há outros tesouros que se constituem da cultura, do amor, dos sentimentos bem-conduzidos, com ou sem os recursos da posse temporal, que não ocupam espaço e sempre acompanham os seus possuidores durante o trajeto carnal e após o decesso tumular.

Invariavelmente, cuida-se de acumular recursos que proporcionam os prazeres sensoriais, olvidando-se aqueles transcendentes que preenchem os vazios da alma, as ansiedades do coração e os tormentos mentais.

Nesse sentido, Jesus veio enriquecer a Humanidade com as pérolas raras do sermão da montanha, que deveriam ser as mais ambicionadas para a completude na existência corporal.

As Suas parábolas são gemas preciosas de luz inapagável, que iluminam interiormente e tornam-se estrelas sublimes na escuridão do percurso carnal.

Os seus feitos são poderosos recursos que estão ao alcance de todos aqueles que tenham a coragem de segui-lO, insculpindo as Suas lições no cerne do ser.

Toda a Sua jornada foi uma incomum distribuição de alegrias e de esperanças, em demonstrações de que o sentido real da vida é amar, desde que sem o amor não existe vida.

O mais poderoso tesouro que se conhece é o amor por libertar o Espírito da ignorância e do primarismo, que possui a força de mover o mundo, por conseguir  transformar os metais grosseiros de que se constitui, em decorrência do processo evolutivo, em maleáveis sentimentos de abnegação e de sacrifício.

Os tesouros libertadores estão diante de todos, aguardando ser aplicados nos relacionamentos, utilizados na autotransformação, e se apresentam em incontáveis maneiras de os viver e possuir.


Texto retirado do livro Tesouros Libertadores; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário