sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Filhos de Plutão

 É da natureza do signo

Estar sempre de mal com alguém

Ficar sempre de bem

Não digo ficar zen

Pois isso é impossível


É da natureza do signo

Sentir a dor, fazer doer também

Palavras afiadas

Frase envenenada

O corte incisivo


É agressivo, é progressivo, é instintivo

É corrosivo, decisivo, intensivo

A culpa que ocupa espaço

Já embutida no preço


É dolorido feito um beijo sem abraço

É tão estranho quanto o carnaval cair em março

É o tresloucado trem fora do trilho

É o encontro de dois fios desencapados


Música de Roseli Martins que faz parte do CD Amálgama, gravado em 2003 pela Tratore. 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

O mundo é tentador, rapaz

O mundo é tentador, rapaz

Nem tente bater asas se tem medo de voar

O mundo é tentador, rapaz

É muita vida, é muito riso, muito chão pra explorar


Quero ficar,

Nem vem que não tem

Quando cê foi com a farinha, o pão prontinho te entreguei

Nesse lugar

Não tem reza nem amém

Nem vem falar no meu ouvido, em hedonismo me formei


Tente lembrar

Do dia em que deixei você chegar devagarinho

Sem querer me apegar

Desalinhar

Tua ordem descompor

Eu dou as cartas nesse jogo e viro a mesa sem pudor


O mundo é tentador, rapaz

Nem tente bater asas se tem medo de voar

O mundo é tentador, rapaz

É muita vida, é muito riso, muito chão pra explorar


Pra onde mira teu sentido

Tua libido, os teus ouvidos

Pra onde vai a tua língua, a tua ginga

A tua rima, a tua sina


Eu deito e rolo, me embolo

Em muitos colos, por outros solos,

Deslizo e sinto infinito

Em cada giro, em cada grito, eu admito que...


O mundo é tentador, rapaz

Nem tente bater asas se tem medo de voar

O mundo é tentador, rapaz

É muita vida, é muito riso, muito chão pra explorar


Música de Clara Gurjão gravada no CD Ela, Produção Independente de 2016. 

terça-feira, 31 de agosto de 2021

A Hora e a Vez

 Vê quantas voltas

Tem que dar o amor

Fica com medo de querer chegar

Paga a promessa que não fez

Diz a verdade ao mentir

E não tem volta não

Volta não


Olha no espelho

E só vê o amor

Agora sabe que perdeu a paz

Jogou o laço e se prendeu

O inesperado aconteceu

A vez da caça

E a hora do caçador


Eu não sabia 

Que era pra valer

Até um dia encontrar você

A gente sabe

Que o amor não tem juízo

Mas brinca com feitiço

E quando se vê

Vai ser você...

Vai ser você

Dono do meu coração

Vai ser você!


Música de Cláudio Nucci, Zé Renato e Ronaldo Bastos gravada no disco Pelo Sim Pelo Não, de 1985, pela gravadora CBS.

A Hora e a Vez da Águia

 A construção da nova civilização no Terceiro Milênio passa por um gesto de extrema coragem. A coragem de fazer caminho onde não há caminho. Já e agora. Em momentos cruciais, da prova maior, onde vamos inspirar-nos? De que fundo vamos tirar os materiais para a nova construção?

Devemos imbuir-nos da esperança de que o caos atual prenuncia uma nova ordem, mais rica e promissora de vida para todos. Bem versejava Camões (1524-1580):


"Depois de procelosa tempestade

Soturna noite e cibilante vento

Traz a manhã serena claridade

Esperança de porto e salvamento".


Mas, para que este salvamento ocorra, precisamos ter bem clara a convicção de que este futuro necessário não se fará a partir dos princípios que organizaram o passado. Foram eles que levaram ao impasse atual. Quem ainda persiste em neles crer, labora num profundo equívoco. E desta vez não há tempo para ensaios, equívocos e erros. Pois não haverá possivelmente tempo para correções.

Em contextos assim devemos recorrer às grandes metáforas, cujo sentido emerge cristalino. Voltamos a contar a história de um educador e líder político da pequena República de Gana, na África Ocidental, James Aggrey. Ela foi objeto de nosso primeiro livro A águia e a galinha, uma metáfora da condição humana. Vamos novamente transcrevê-la, dada a sua beleza e sua densidade.

"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/ a rainha de todos os pássaros.

Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.

- De fato - disse o camponês. É águia. Mas eu criei-a como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de envergadura.

- Não - retrucou o naturalista. Ela é e sempre será uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.

- Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergue-a bem alto e desafiando-a disse:

- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!

A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.

O camponês comentou:

- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!

- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no telhado da casa. Sussurrou-lhe:

- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!

Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.

O camponês sorriu e voltou à carga:

- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!

- Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:

- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!

A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do Sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.

Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com  o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... Voou... Até confundir-se com o azul do firmamento...

E terminou conclamando: 

- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar". 

Antecipando uma reflexão, já podemos dizer: todos nós temos, de um jeito ou de outro, uma dimensão-galinha e uma dimensão-águia dentro de nós.

A dimensão-galinha é o sistema social imperante, o nosso arranjo existencial, a nossa vida cotidiana, os hábitos estabelecidos e o horizonte de nossas preocupações. São também as limitações, os enquadramentos e formações histórico-sociais que, quando absolutizados, se transformam em impasses, em descaminhos, em falta de perspectiva e em desesperança para as pessoas e para as coletividades.

A dimensão-águia são os sonhos, os projetos, os anelos, os ideais e as utopias que, mesmo frustrados, nunca morrem em nós porque sempre de novo ressuscitam. Eles representam a águia em nós, águia que nos ergue continuamente para o alto, para descobrir novos caminhos e direções diferentes. Para recordar-nos o chamado do novo possível.

Ai de quem deixa morrer a águia dentro de si ou permite que ela se transforme numa galinha! Ou indiferentemente aceita que uns poucos se organizem para reduzir todos a simples galinhas. Somos águias! Águias feitas para as alturas!

O momento atual significa a hora e a vez da águia. Não pede uma reflexão específica sobre a galinha. A dimensão-galinha é dominante nos tempos atuais. O que importa é resgatar a dimensão-águia, articulada com a dimensão-galinha. Esta opção pela águia é a condição de nossa sobrevivência e da inauguração promissora da nova civilização e do Terceiro Milênio. Ou então seremos condenados a continuar galinhas ou águias que foram domesticadas e desnaturadas para permanecer junto às galinhas.


Trecho do livro O Despertar da Águia, de Leonardo Boff, Editora Vozes, Rio de Janeiro, 25ª Edição, 2015.

sábado, 28 de agosto de 2021

Equipamento da Oração

Quando os problemas se avolumarem, ameaçando-te a paz, ou a dor moral procurar amesquinhar-te, conduzindo-te quase ao desespero, ou os teus sofrimentos físicos atingirem o ápice, ou os infortúnios e o destrambelho da tua emoção chegarem a extremos quase insuportáveis, antes de sucumbires na alucinação, ou no desalento, ou na rebeldia, levanta o pensamento a Deus, mediante os fios invisíveis da oração, e pede-Lhe socorro.

A prece é a solução final para os momentos que precedem o paroxismo, a perplexidade, o descalabro da loucura, oferecendo, de imediato, resposta às solicitações.

De início, interrompe o tropel das desgraças; depois, proporciona claridade mental para entendê-las, e, por fim, acalma, conforta e propõe os métodos para contornar e resolver, quaisquer que sejam as dificuldades.

Certamente, não impede o sofrimento, porque este tem a sua razão de ser, tornando-se necessária advertência, ou convite à reflexão; porém, propicia recursos para  enfrentar a situação amarga.

A prece é a mais eficaz terapia que se conhece, por ser útil nos mais variados processos de aflição, brindando lucidez e refrigério.

Quando alguém ora, desloca-se mental e  emocionalmente da coarctação que o sofrimento lhe impõe, permitindo-se alcançar as regiões felizes, onde haure energias portadoras de forças que regularizam os distúrbios afligentes.

O processo da oração ocorre mediante a sintonia das aspirações humanas com as concessões divinas.

Penetrando a onda mental nas fontes generosas do Poder, aí se auferem a vitalidade e a inspiração para o prosseguimento da luta.

Sem a oração, faz-se difícil a marcha e quase impossível o êxito, na empresa da reencarnação.

A oração é fenômeno moral, emocional e espiritual, que deve suceder de forma consciente.

Não poucas vezes, no entanto, dá-se inconscientemente.

Sem fórmulas estabelecidas, é o grito de fé da alma necessitada, buscando apoio em Deus.

São as atitudes dignas, inspiradas no bem e no dever.

É a comunhão mental, programada com o Doador Celeste.

Tão habitual se pode tornar que, ao invés dos momentos de súplica, ela se transforma em uma constante vinculação com Deus, por meio dos pensamentos superiores que retratam as nobres aspirações do ser.

Orar é um ato que se deve converter em hábito.

A princípio, pode parecer difícil, em razão da mente desligar-se do propósito que deve sustentar; depois, por aparente falta de estímulo e fixação.

Como qualquer outra atividade, especialmente na área mental, exige frequência, intensidade, interesse. Só então se converte em clima de harmonia interior e de sintonia constante.

Soluciona os teus problemas com a inspiração da prece.

Refugia-te da dor nas paisagens da oração.

Seja qual for o desafio aflitivo que se te apresente, na oração encontrarás os equipamentos hábeis para te consolares e te concederes paz.

Orando, galgarás o monte da própria redenção, apoiado por Deus e por Ele conduzido, porque, através da prece Lhe falarás e, por meio da inspiração e da resistência que te advirão, Ele te responderá.


Texto retirado do livro Momentos de Felicidade; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2014, 5ª Edição.

sábado, 21 de agosto de 2021

Conhecimento das Leis

 A ignorância, proposita ou não, das soberanas Leis da Vida, é a grande responsável pelo sofrimento dos homens, e, por efeito, da sociedade que ele constitui.

Geradora do egoísmo, que os separa uns dos outros, é estimuladora dos fatores dissolventes da individualidade a favor da personalidade transitória.

A si mesmo se atribuindo méritos e direitos que não possui, o ególatra rebela-se ante tudo quanto o desagrada, engendrando mecanismos de autopromoção, à custa, não raro, do sacrifício dos outros, que ele desconsidera.

Vivendo para os próprios prazeres, não aceita os naturais fenômenos de desgaste, envelhecimento e morte corporal, que se lhe apresentam como punição indébita ou martírio a que vai submetido contra a vontade.

Narcisista e ambicioso, infelicita-se a cada dia mais.

As Leis da Vida funcionam com ou sem a anuência dos homens.

A estes, superiores são-lhes as causas dos fenômenos e acontecimentos que se lhes sucedem.

Fatalistas e inamovíveis, porque constituem as forças gravitacionais da ordem universal que se apresentam em toda parte, são inderrocáveis.

Desrespeitadas, tornam-se motivo de sofrimento.

Quando conhecidas, fazem-se aceitas e propiciam os recursos para que sejam evitados danos, ao tempo em que fomentam a felicidade, por encaminharem ao bem e à paz.

São a manifestação do Pensamento Divino em ação incessante.

À medida que as criaturas saem do instinto para a inteligência, a razão pode entendê-las e até conduzir algumas, especialmente na área moral, que as tem centralizada na de amor, por ser natural e básica.

Graças ao amor, todos os graves acontecimentos mudam de diretriz, ensejando a conquista de valores espirituais, que dão sentido à existência humana.

Ela fomenta o progresso, porque estimula ao trabalho; favorece a paz, porque ensina tolerância; mantém a ordem, porque faculta a disciplina. É a alma da ação enobrecida...

Procura conhecer as razões pelas quais te encontras na Terra, o que vieste fazer e por que sofres.

Estas informações que defluem das Leis soberanas da Vida, dar-te-ão sentido à existência e te farão tranquilo em qualquer situação.


Texto retirado do livro Momentos de Esperança; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis; Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2014, 3ª Edição.

sábado, 14 de agosto de 2021

Autoencontro

 A ansiosa busca de afirmação da personalidade leva o indivíduo, não raro, a encetar esforços em favor das conquistas externas, que o deixam frustrado, normalmente insatisfeito.

Transfere-se, então, de uma para outra necessidade que se lhe torna meta prioritária, e,  ao ser conseguida, novo desinteresse o domina, deixando-o aturdido.

A sucessão de transferências termina por exauri-lo, ferindo-lhe os interesses reais que ficam à margem.

Realmente, a existência física é uma proposta oportuna para a aquisição de valores que contribuem para a paz e a realização do ser inteligente. Isso, porém, somente será possível quando o centro de interesse não se desviar do tema central, que é a evolução.

Para ser conseguida, faz-se imprescindível uma avaliação de conteúdos, a fim de saber-se o que realmente é transitório e o que é de largo curso e duração.

Essa demorada reflexão selecionará os objetivos reais dos aparentes, ensejando a escolha daqueles que possuem as respostas e os recursos plenificadores.

Hoje, mais do que antes, essa decisão se faz urgente, por motivos óbvios, pois que enquanto escasseiam o equilíbrio individual e o coletivo, a saúde e a felicidade, multiplicam-se os desaires e as angústias ceifando os ideais de enobrecimento humano.

Se de fato anelas pela conquista da felicidade, tenta o autoencontro.

Utilizando-te da meditação prolongada, penetrar-te-ás, descobrindo o ser real, imortal, que aguarda ensejo de desdobramento e realização.

Certamente, os primeiros tentames não te concederão resultados apreciáveis.

Perceberás que a fixação da mente na interiorização será interrompida, inúmeras vezes, pelas distrações habituais do intelecto e da falta de harmonia.

Desacostumado a uma imersão, a tua tentativa se fará prejudicada pela irrupção das ideias arquivadas no inconsciente, determinantes de tua conduta inquieta, irregular, conflitiva.

Concordamos que a criatura é conduzida, na maior parte das vezes, pelo inconsciente, que lhe dita o pensamento e as ações, como resultado normal da próprias construções mentais anteriores.

A mudança de hábito necessita de novo condicionamento, a fim de mergulhares nesse oceano tumultuado, atingindo-lhe o limite que concede acesso às praias da harmonia, do autodescobrimento, da realização interior.

Nessa façanha, verás o desmoronar de muitas e vazias ambições, que cultivas por ignorância ou má-educação; o soçobrar de inúmeros engodos; o desaparecer de incontáveis conflitos que te aturdem e devastam.

Amadurecerás lentamente e te acalmarás, não te deixando mais abater pelo desânimo, nem exaltar pelo entusiasmo dos outros.

Ficarás imune à tentação do orgulho e à pedrada da inveja, à incompreensão gratuita e à inimizade perseguidora, porque somente darás atenção à necessidade de valorização do ser profundo e indestrutível que és.

Terminarás por venceres, e essa será a tua mais admirável vitória.

Não cesses, portanto, logo comeces a busca interior, de dar-lhe prosseguimento se as dificuldades e distrações do ego se te apresentarem perturbadoras.

Medita, pois, orando, quanto te seja possível, e conseguirás a meta maior - o autoencontro.


Texto retirado do livro Momentos Enriquecedores, Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2015, 2ª Edição.

sábado, 7 de agosto de 2021

Silêncio Necessário

 O silêncio faz grande falta na civilização contemporânea.

Fala-se em demasia e, por conseguinte, fala-se do que não se deve, não se sabe, não convém, apenas pelo hábito de falar.

Na falta de um assunto edificante, ou com indiferença para com ele, utilizam-se de temas negativos, prejudiciais ou sórdidos, envilecendo a própria alma, enxovalhando o próximo e consumindo-se energias valiosas.

Há uma preocupação muito excessiva em falar, opinar, mesmo quando se desconhece a questão.

Parece de bom-tom a postura de referir-se a tudo, de tudo estar a par.

Aumenta, assim, a maledicência, confundem-se as opiniões, entorpecem-se os conteúdos morais das palavras.

Se cada pessoa falasse apenas o necessário e no momento oportuno, haveria um salutar silêncio na Terra.

Faze silêncio diante de observações pejorativas, de assuntos prejudiciais, matando, ao surgir, a informação malsã.

Quando te tragam opiniões infelizes, reclamações, queixas que põem mal diante de ti ausente, seja ele quem for, não te deixes contaminar pelo morbo da palavra insensata.

Há pessoas que se autonomeiam fiscais do próximo e não se detêm a examinar a conduta, deste modo, reprochável.

Raramente, falam bem, referem-se ao lado bom das pessoas e dos acontecimentos.

Porque não era visível a antiga face oculta da lua, isso dava margem às mais variadas conjecturas, sempre exageradas, fantasistas.

Todas as pessoas possuem o seu lado oculto, certamente negativo em umas, quanto admirável noutras.

A observação sob alta dose de má vontade apenas vê o que quer e fala o de que gosta.

Não opines mal a respeito de ninguém, mesmo que o outro mereça.

Tampouco, te deixes emaranhar pelos que falam mal do próximo. Eles terminarão por submeter-te à opinião que lhes apraz, armando-te contra aqueles com quem não simpatizam.

Falar bem ou mal é um hábito.

Quando as referências são acusadoras, levam a alma da vítima à morte, porém, suicida-se também aquele que sempre aponta o erro.

Usa o silêncio necessário.

Não a mudez caprichosa, vingadora. Mas a discreta atitude de quietação e respeito.

O silêncio faz bem àquele que o conserva.

Jesus calou muito mais do que falou. Os Seus silêncios sábios são o atestado mais expressivo do Seu amor pela Humanidade.

Pensa nEle, quando chamado a falar insensatamente e imita-O.


Texto retirado do livro Momentos de Coragem; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2014, 8ª Edição.

sábado, 31 de julho de 2021

Lei da Vida

Ninguém se evade das consequências dos próprios atos. Estas são inevitáveis no processo evolutivo de todas criaturas.

Conforme seja a ação, desencadeia-se a reação. Por isso mesmo, o homem vive segundo age.

Nem sempre, porém, os resultados se fazem imediatos.

Há tempo para semear, quanto o há para colher.

A trilha de cada criatura é percorrida com os pés do esforço pessoal.

Indispensável, portanto, pensar antes de agir, de modo a não se arrepender, ao raciocinar depois.

Produze, a cada momento, uma sementeira de amor, deixando pela estrada percorrida os sinais da esperança e do bem.

Talvez retornes pelo mesmo caminho, realizando uma nova experiência. E, se, por acaso, não volveres por aí, aqueles que irás percorrer te bendirão o labor realizado.

Sê tu aquele que acende luzes na treva do minante.

A viagem evolutiva se faz assinalar pelas conquistas incessantes, que respondem pela promoção moral e espiritual do indivíduo.

Há quem se compraz na ignorância, porque o conhecimento lhe é estranho.

Teimam, muitos homens, pela permanência na arbitrariedade.

Pessoas agem, equivocadamente, no disfarce do oculto, acreditando-se dribladoras da honestidade, do correção, do dever.

Sorriem, enganadas, supondo-se livres do escândalo, ou, escamoteando a verdade, creem-se indenes ao escárnio, à cobrança pelas suas vítimas.

Quiçá permaneçam ignoradas pelos demais as suas ações ignóbeis; nunca, no entanto, pela própria consciência, que reflete a presença de Deus em todos os indivíduos.

É até mesmo provável que o culpado não venha a ser acusado publicamente, e passe pela vida respeitado por todos.

Isso, todavia, não é importante.

Ele jamais fugirá de si mesmo, das suas recordações.

O tempo não para, mas os efeitos de cada um permanecem.

Um dia ressumam dos arquivos da memória os lances dos atos perpetrados. E, se por acaso se demoram anestesiados, as lembranças prosseguem vivas, aguardando o momento próprio.

De uma existência se transfere para outra o somatório das experiências.

A reencarnação é lei natural da vida.

Através dela cada Espírito avança, conquistando, palmo a palmo, o campo do progresso pessoal.

Graças aos seus impositivos, o que parecia oculto faz-se revelado, o desconhecido torna-se público, o errado se faz corrigir.

Assim, não cesses de produzir no bem, com o bem e para o bem.

Se te enganas ou a alguém prejudicas, apressa-te para retificá-lo e reabilitar-te.

Com muita propriedade, afirma a lição evangélica, ensinando que "nada há de oculto que não venha a ser revelado".


Texto retirado do livro Momentos de Alegria; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 4ª edição, 2014.

sábado, 24 de julho de 2021

Ciência do Bem Viver

 Tranquilamente, confiante, avança, passo a passo, pelo caminho da evolução.

Não busques nem fujas dos fenômenos da existência física.

Intenta ser o controlador dos teus impulsos e sentimentos, de maneira que o insucesso não te infelicite nem o êxito te exalte.

Na paz interior descobrirás a libertação das dores, porque lograrás vencer as paixões.

Utilizando-te de uma consciência equânime, aceita as ocorrências positivas e negativas com a mesma naturalidade, sem sofreguidão nem indiferença.

Mantém-te interiormente livre em qualquer circunstância, adquirindo a ciência verdadeira do viver.

A ilusão fascina, mas se desvanece.

A posse agrada, porém se transfere de mãos.

O poder apaixona, entretanto transita de pessoa.

O prazer alegra, todavia é efêmero.

A glória terrestre exalta e desaparece.

O triunfador de hoje passa, mais tarde, vencido...

A dor aflige, mas passa.

A carência aturde, porém um dia se preenche.

A debilidade orgânica deprime, todavia liberta da paixão.

O silêncio que entristece leva à meditação, que felicita.

A submissão aflige, entretanto engrandece e enrija o caráter.

O fracasso espezinha, ao mesmo tempo ensina o homem a conquistar-se.

Todas as situações no mundo sensorial passam, mudam de posição e de forma.

A essência da realidade, porém, permanece sempre a mesma.

Nada é definitivo na aparência.

Apenas o que tem valor intrínseco é duradouro.

Quem, espontaneamente, se abstém dos sentidos e das exterioridades, sem mágoa nem frustração, encontrou a ciência do bem viver.


Texto retirado do livro Momentos de Meditação; Divaldo Franco pelo espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 3ª Edição, 2014.