Maria Thereza Cunha
O pôr-do-sol é a hora da Yara. Ela mora nu fundo das águas, mas à tardinha vem à tona. Vem colher flores aquáticas para se enfeitar, vem brincar com os peixinhos alegres das margens do rio. Ou vem buscar noivo!
As índias dizem aos filhos:
- Não cheguem perto das águas na hora do pôr-do-sol! A Yara quer moços para afogar!
Os filhos escutam e ficam assustados; sabem que a Yara é linda e canta - e encanta!!
Certo dia, um tapuia valente remava sossegado. O sol ia alto no céu, mas o índio distraiu-se pensando e as horas se passavam...
Os primeiros pássaros voltavam aos ninhos.
Os primeiros sapos coaxavam longe. Anoitecia. O sol, lentamente, parecia afundar-se nas águas do rio.
Subitamente, de dentro d'água, uma flor brotou! Mas cantava! E sacudia, rindo, os negros cabelos, tão negros quanto seus olhos luminosos. Não era flor, era a Yara!
O moço índio virou a canoa e fugiu para a taba.
Mas a Yara já o havia enfeitiçado. Sua voz doce não lhe saía dos ouvidos. Sua lembrança o perseguia sempre.
E, ao pôr-do-sol, o índio tapuia olhava a canoa, louco para sair pelo rio.
- Não vá - pedia-lhe a mãe, chorosa! Ela sabia. Tinha a certeza de que o filho encontrara a linda Yara...
Lá longe, brincando com peixinhos e colhendo flores, a Yara cantava, esperando. Ela também sabia que o tapuia teria que voltar.
E foi o que aconteceu certa tardinha.
Os jasmins exalavam seu perfume.
Os pássaros voltavam para os ninhos.
E o índio, esquecendo sua taba e sua gente, pulou na canoa e remou...
Remou... até encontrar a bela Yara. E a Yara, sempre cantando, levou o índio valente para o fundo das águas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário