domingo, 4 de setembro de 2011

Rubens

                      Mário Manga

Eu nunca quis te dizer
Sempre te achei bacaninha
O tempo todo sonhando
A tua vida na minha
O teu rostinho bonito
Um jeito diferentão
De olhar no olho da gente
E de criar confusão
O teu andar malandrinho
O meu cabelo em pé
O teu cheirinho gostoso
A minha vida de ré
Você me dando uma bola
E eu perdido na escola
Essa fissura no ar
Parece que eu tô correndo
E sem vontade de andar
Quero te apertar
Quero te morder e já
Quero mas não posso, não, porque:
- Rubens, não dá
A gente é homem
O povo vai estranhar
Rubens, para de rir
Se tua família descobre
Eles vão querer nos engolir
A sociedade não gosta
O pessoal acha estranho
Nós dois brincando de médico
Nós dois com esse tamanho
E com essa nova doença
O mundo todo na crença
Que tudo isso vai parar
E a gente continuando
Deixando o mundo pensar
Minha mãe teria um ataque
Teu pai, uma paralisia
Se por acaso soubessem
Que a gente transou um dia
Nossos amigos chorando,
A vizinhança falando,
O mundo todo em prece
Enquanto a gente passeia,
Enquanto a gente esquece
Quero te apertar
Quero te morder, me dá
Só que eu sinto uma
Dúvida no ar:
- Rubens, será que dá?
A gente é homem
O povo vai estranhar
Rubens, para de rir
Se a tua família descobre
Eles vão querer nos engolir
Rubens, eu acho que dá pé
Esse negócio de homem com homem
Mulher com mulher.

música do grupo Premeditando o Breque, depois conhecido como Premê e que foi gravada em 1986 no disco Grande Coisa.

Extravios

                        Dalto/Antônio Cícero


Eu sei que os extravios
São necessários sim
A necessária parte
Do meu caminho sozinho
Então nem vou tentar
Pra que tentar fugir
Se existe algum fogo
Ou foco
Pra mim

Quando eu curto certas horas
O som da multidão
Não se preocupe não
E nem me procure uma cura
Sou íntimo do tempo
E ele se abre assim
E manda algum fogo
Ou foco
Pra mim

Então encoste este ombro no meu braço
Ocasionalmente infiel
E faça-me sentir no seu abraço
Um pouco além
De algumas gotas de chanel

música do disco Próxima Parada de Marina, gravado em 1989.

Reflexões de Schopenhauer

                     " Tentou-se, de diversas maneiras, fazer compreender à inteligência de cada um a imensidão do mundo, e viu-se nisso um pretexto para considerações edificantes, como, por exemplo, sobre a pequenez relativa da terra e do homem, e, por outro lado, sobre a grandeza da inteligência desse mesmo homem tão fraco e tão miserável que pode conhecer, apreender e medir mesmo essa imensidão do mundo; e outras reflexões deste gênero. Tudo isto está muito bem; mas, para mim que considero a grandeza do mundo, o importante de tudo isso é que o Ser em si do qual o mundo é o fenômeno - qualquer que ele possa ser - não pode ser dividido, retalhado assim no espaço ilimitado, mas que toda esta extensão infinita apenas pertence ao seu fenômeno, e que ele próprio está totalmente presente em cada objeto da natureza, em cada ser vivo. Também não se perde nada se nos limitarmos a um único objeto, e não necessário, para adquirir a verdadeira sabedoria, medir todo o universo, ou, o que seria mais racional, percorrê-lo pessoalmente; vale mais estudar um só objeto, com a intenção de aprender a conhecê-lo e apreender-lhe perfeitamente a verdadeira essência. "

Retorno

                 Quando criei o Blog, minha ideia era a de que eu pudesse escrever aqui tudo o que me desse vontade, sem nenhuma preocupação se alguém iria ler , mesmo porque, estou anônimo e ninguém virá xeretar para depois sair contando. Seria o meu fluxo de consciência, assim como Clarice fez tantas vezes!! Inicialmente, consegui me organizar para sempre escrever, mas chegou um tempo em que deixou de ser prazeroso para ser uma obrigação: " tenho que escrever no Blog ". E não era isso que eu queria... Resolvi, então, parar e dar um tempo para ver se conseguiria me reorganizar! E funcionou! Sempre fui disciplinado com minhas coisas, mas não estava conseguindo cumprir " meus prazos interiores ". Há pouco mais de duas semanas, tomei a decisão de não me angustiar com exigências externas. Não vou fazer aquilo que não der conta; vou respeitar o meu ritmo e planejar somente o que eu perceber que consigo realizar. Optei por seguir duas linhas de trabalho: de segunda à sexta, terei uma organização e uma execução específicas! No sábado e no domingo terei outras atividades que poderão ou não complementar a primeira. Será tudo sem cobrança e sem nenhum stress. O prazer e o bem-estar em primeiro lugar!! Grande abraço

sábado, 16 de abril de 2011

Schopenhauer II

                Não é apenas nos fenômenos completamente semelhantes ao seu próprio, nos homens e nos animais, que ele encontrará, como essência íntima, essa mesma vontade; mas um pouco mais de reflexão o levará a reconhecer que a universalidade dos fenômenos, tão diversos para a  representação, têm uma única e mesma essência, a mesma que lhe é conhecida íntima, imediatamente, e melhor do que qualquer outra, aquela enfim que na sua manifestação mais aparente tem o nome de vontade. Ele a verá na força que faz crescer e vegetar a planta e cristalizar o mineral; que dirige a agulha magnética para o norte; na comoção que experimenta com o contato de dois metais heterogêneos; ele a encontrará nas afinidades eletivas dos corpos que se manifestam sob a forma de atração ou de repulsa, de combinação ou de decomposição; e até na gravidade que age com tanto poder em toda matéria que atrai a pedra para a terra, como a terra para o sol. É refletindo sobre todos estes fatos que, ultrapassando o fenômeno, chegamos à coisa em si: " Fenômeno " significa representação, e mais nada; e toda representação, todo objeto é fenômeno. A coisa em si é unicamente a vontade; nesta qualidade, esta não é de maneira nenhuma representação, difere dela toto genere; a representação, o objeto,  é o fenômeno, a visibilidade, a objetividade da vontade. A vontade é a substância íntima, o núcleo tanto de toda coisa particular, como do conjunto; é ela que se manifesta na força natural cega; ela encontra-se na conduta racional do homem; se as duas diferem tão profundamente, é em grau e não em essência.

Schopenhauer I

                       Suponhamos que nos perdêssemos a contemplar a infinitude do mundo no tempo e no espaço, quer refletíssemos sobre a multidão dos séculos passados e futuros, quer durante a noite o céu nos revele, na sua realidade, mundos sem número, ou que a imensidão do universo oprima, por assim dizer, a nossa consciência: neste caso, sentimo-nos reduzidos ao nada; como indivíduo, como corpo animado, como fenômeno passageiro da vontade, temos a consciência de não ser mais do que uma gota no oceano, isto é,  de nos dissiparmos e de desaparecermos no nada. Mas, ao mesmo tempo, contra a ilusão do nosso nada, contra esta mentira impossível, eleva-se em nós a consciência imediata que nos revela que todos esses mundos existem apenas na nossa representação; eles são apenas modificações do sujeito eterno do puro conhecimento; são apenas aquilo que sentimos em nós, desde que esquecemos a individualidade; em resumo, é em nós que reside o que constitui o suporte necessário e indispensável de todos os mundos e de todos os tempos. A grandeza do mundo, que há pouco espantava-nos, agora reside, serena, em nós mesmos: a nossa dependência em relação a ela está a partir de agora suprimida, visto que presentemente é ela que depende de nós. - No entanto, não fazemos efetivamente todas estas reflexões; limitamo-nos a sentir, de uma maneira completamente irrefletida, que, num certo sentido (só a filosofia pode precisá-lo), somos um com o mundo, e que, por conseguinte, a sua infinitude ergue-nos, ao contrário de nos esmagar. É esta consciência, ainda completamente sentimental, que os Upanixades dos Vedas repetem sob tantas formas variadas e, sobretudo, nesta frase que citamos mais acima:  " Eu sou todas estas criaturas, e por minha causa não há outro ser ". Existe aí um êxtase que ultrapassa a nossa própria individualidade; é o sentimento do sublime.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Humano Demais

                               Fábio de Melo

Eu fico tentando compreender o que nos teus olhos pôde ver
Aquela mulher na multidão que, já condenada, acreditou
Que ainda havia o que fazer, que ainda restara algum valor
E ao se prender em teu olhar, por certo haverá de vencer
E assim fizeste a vida retornar aos olhos dela
E quem antes condenava se percebe pecador
Teu amor desconcertante, força que conserta o mundo
Eu confesso não saber compreender

Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender
Este jeito que escolheste de amar quem não merece
Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender que aqueles que escolheste
E tomaste pela mão, geralmente eu não os quero do meu lado

Eu fico surpreso ao ver-te assim
Trocando os santos por Zaqueu e tantos doutores por Simão
Alguns sacerdotes por Mateus
E, mesmo na cruz, em meio à dor, um gesto revela quem tu és
Te tornas amigo do ladrão só pra lhe roubar o coração
E assim foste o contrário, o avesso do avesso
E por mais que eu me esforce, não sei bem se te conheço
Tu enxergas o profano
Eu insisto em ver a margem
Quando vês o coração, eu vejo a imagem

Tudo é do Pai

                               Frederico Cruz

Eu pensei que podia viver por mim mesmo
Eu pensei que as coisas do mundo
Não iriam me derrubar

O orgulho tomou conta do meu ser
E o pecado devastou o meu viver

Fui embora, disse ao Pai:
" Dá-me o que é meu!
Dá-me a parte que me cabe da herança! "
Fui pro mundo, gastei tudo, me restou só o pecado
E hoje eu sei que nada é meu
Tudo é do Pai

Tudo é do Pai!
Toda honra e toda glória
É dele a vitória alcançada em minha vida
Tudo é do Pai!
Se sou fraco ou pecador
Bem mais forte é o meu Senhor
Que me cura por amor!


Contrários

                          Fábio de Melo

Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar

Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo para lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
E o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema, a solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz

Só quem soube duvidar pôde, enfim, acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco se encontrou, aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar

Só quem perdoou, na vida, sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite que o amor pode nascer

Humano Amor de Deus

                                 Fábio de Melo

Tens o dom de ver estradas onde eu vejo o fim
Me convences quando falas: " não é bem assim! "
Se me esqueço, me recordas; se não sei, me ensinas
E se perco a direção, vens me encontrar

Tens o dom de ouvir segredos mesmo se me calo
E, se falo, me escutas, queres compreender
Se pela força da distância tu te ausentas
Pelo poder que há na saudade, voltarás!

Quando a solidão doeu em mim
Quando o meu passado não passou por mim
Quando eu não soube compreender a vida
Tu vieste compreender por mim

Quando os meus olhos não podiam ver
Tua mão segura me ajudou a andar
Quando eu não tinha mais amor no peito
Teu amor me ajudou a amar

Quando os meus sonhos vi desmoronar
Me trouxeste outros pra recomeçar
Quando me esqueci que era alguém na vida
Teu amor veio me relembrar

Que Deus me ama, que não estou só
Que Deus cuida de mim quando fala pela tua voz
E me diz: " coragem! "