domingo, 11 de setembro de 2011

O Poder de um e-mail errado

                            Um paulista deixou as ruas chuvosas de São Paulo para umas férias no Rio de Janeiro. Sua esposa estava viajando a negócios e estava planejando encontrá-lo lá no dia seguinte.
                             Quando chegou ao hotel, ele resolveu mandar um e-mail para sua mulher, mas como não achou o papelzinho em que tinha anotado o e-mail dela, tirou da memória o que lembrava e torceu para que estivesse certo. Infelizmente, ele errou uma letra, a mensagem foi para uma senhora maranhense, cujo marido havia morrido no dia anterior. Quando ela foi checar os seus e-mails, deu uma olhada no monitor, deu um grito de profundo horror e caiu dura e morta no chão. Ao ouvir o grito, sua família correu para o quarto e leu o seguinte na tela do computador:
                              " Querida, acabei de chegar. Foi uma longa viagem. Apesar de só estar aqui há poucas horas, já estou gostando muito. Falei aqui com o pessoal e está tudo preparado para a sua chegada amanhã. Tenho certeza de que você também vai gostar. Beijos do seu eterno e amoroso marido.
P.S.: Está fazendo um calor infernal aqui!!! "

A mosca

                      autoria desconhecida

                                                            Parte I

                               Contam que certa vez duas moscas cairam num copo de leite. A primeira era forte e valente. Assim, logo que caiu, nadou até a borda do copo, mas como a superfície era muito lisa e ela tinha suas asas molhadas, não conseguiu sair. Acreditando que não havia saída, a mosca desanimou, parou de nadar e de se debater e afundou.
                                Sua companheira de infortúnio, apesar de não ser tão forte, era tenaz, e por isso continuou a se debater por tanto tempo, que aos poucos o leite ao seu redor, com toda aquela agitação foi se transformando e formou um pequeno nódulo de manteiga, onde a mosca tenaz conseguiu com muito esforço subir e dali levantar voo para algum lugar seguro.
                                Durante anos, ouvi esta primeira parte da história como um elogio à persistência, que, sem dúvida, é um hábito que nos leva ao sucesso, no entanto...

                                                          Parte II

                                 Tempos depois, a mosca tenaz, por descuido ou acidente, novamente caiu no copo. Como já havia aprendido em sua experiência anterior, começou a se debater, na esperança de que, no devido tempo, se salvaria.
                                  Outra mosca passando por ali e vendo a aflição da compamheira de espécie, pousou na beira do copo e gritou: " tem um canudo ali, nade até ele e suba pelo canudo ".
                                  A mosca tenaz não lhe deu ouvidos, baseando-se na sua experiência anterior de sucesso, continuou a se debater e a se debater, até que, exausta, afundou no copo cheio de... água!!!   


Quantos de nós, baseados em experiências anteriores, deixamos de notar as mudanças no ambiente e ficamos nos esforçando para alcançar os resultados esperados até que afundamos em nossa própria falta de visão? Fazemos isto quando não conseguimos sentir a necessidade de mudanças, quando não existe abertura da nossa parte para nos " reenquadrar " na nova experiência, ficamos paralisados, presos aos velhos hábitos, com medo de errar.
" Reenquadrar " é permitir-se olhar a situação atual como se ela fosse inteiramante diferente de tudo que já vivemos, nos libertar de comparações - é buscar ver através de novos ângulos, de forma a perceber que, fracasso ou sucesso, não importa, é necessário tentar, pois tudo é aprendizado. Desta forma, todo o medo se extingue e toda experiência é como uma nova porta que pode nos levar à energia que precisamos, à motivação de continuar buscando o que queremos. Mas, para isso, é preciso não ficar nos debatendo, e entrar... e sentir... pois ficar do lado de fora da porta não nos motiva e nem nos oferece a visão real.

domingo, 4 de setembro de 2011

Os Três Mal Amados

                              João Cabral de Mello Neto


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,minhas ondas-curtas, meus raios-x. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas. junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares,
cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas  coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em versos.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento do meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

Só Hoje

                     Rogério Flausino/Fernanda Mello

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal
Olhar teus olhos de promessas fáceis
Te beijar a boca de um jeito que te faça rir
Hoje eu preciso te abraçar
Sentir teu cheiro de roupa limpa
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz
Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo
Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia
Que eu faço tudo errado sempre
Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje, só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje

música do grupo Jota Quest, gravada no CD Discotecagem Pop Variada em 2002.

A você que faz parte da minha vida há mais de um ano. O meu muito obrigado por tudo que já me ensinou, mesmo sem saber que o fazia... Grande beijo

Rubens

                      Mário Manga

Eu nunca quis te dizer
Sempre te achei bacaninha
O tempo todo sonhando
A tua vida na minha
O teu rostinho bonito
Um jeito diferentão
De olhar no olho da gente
E de criar confusão
O teu andar malandrinho
O meu cabelo em pé
O teu cheirinho gostoso
A minha vida de ré
Você me dando uma bola
E eu perdido na escola
Essa fissura no ar
Parece que eu tô correndo
E sem vontade de andar
Quero te apertar
Quero te morder e já
Quero mas não posso, não, porque:
- Rubens, não dá
A gente é homem
O povo vai estranhar
Rubens, para de rir
Se tua família descobre
Eles vão querer nos engolir
A sociedade não gosta
O pessoal acha estranho
Nós dois brincando de médico
Nós dois com esse tamanho
E com essa nova doença
O mundo todo na crença
Que tudo isso vai parar
E a gente continuando
Deixando o mundo pensar
Minha mãe teria um ataque
Teu pai, uma paralisia
Se por acaso soubessem
Que a gente transou um dia
Nossos amigos chorando,
A vizinhança falando,
O mundo todo em prece
Enquanto a gente passeia,
Enquanto a gente esquece
Quero te apertar
Quero te morder, me dá
Só que eu sinto uma
Dúvida no ar:
- Rubens, será que dá?
A gente é homem
O povo vai estranhar
Rubens, para de rir
Se a tua família descobre
Eles vão querer nos engolir
Rubens, eu acho que dá pé
Esse negócio de homem com homem
Mulher com mulher.

música do grupo Premeditando o Breque, depois conhecido como Premê e que foi gravada em 1986 no disco Grande Coisa.

Extravios

                        Dalto/Antônio Cícero


Eu sei que os extravios
São necessários sim
A necessária parte
Do meu caminho sozinho
Então nem vou tentar
Pra que tentar fugir
Se existe algum fogo
Ou foco
Pra mim

Quando eu curto certas horas
O som da multidão
Não se preocupe não
E nem me procure uma cura
Sou íntimo do tempo
E ele se abre assim
E manda algum fogo
Ou foco
Pra mim

Então encoste este ombro no meu braço
Ocasionalmente infiel
E faça-me sentir no seu abraço
Um pouco além
De algumas gotas de chanel

música do disco Próxima Parada de Marina, gravado em 1989.

Reflexões de Schopenhauer

                     " Tentou-se, de diversas maneiras, fazer compreender à inteligência de cada um a imensidão do mundo, e viu-se nisso um pretexto para considerações edificantes, como, por exemplo, sobre a pequenez relativa da terra e do homem, e, por outro lado, sobre a grandeza da inteligência desse mesmo homem tão fraco e tão miserável que pode conhecer, apreender e medir mesmo essa imensidão do mundo; e outras reflexões deste gênero. Tudo isto está muito bem; mas, para mim que considero a grandeza do mundo, o importante de tudo isso é que o Ser em si do qual o mundo é o fenômeno - qualquer que ele possa ser - não pode ser dividido, retalhado assim no espaço ilimitado, mas que toda esta extensão infinita apenas pertence ao seu fenômeno, e que ele próprio está totalmente presente em cada objeto da natureza, em cada ser vivo. Também não se perde nada se nos limitarmos a um único objeto, e não necessário, para adquirir a verdadeira sabedoria, medir todo o universo, ou, o que seria mais racional, percorrê-lo pessoalmente; vale mais estudar um só objeto, com a intenção de aprender a conhecê-lo e apreender-lhe perfeitamente a verdadeira essência. "

Retorno

                 Quando criei o Blog, minha ideia era a de que eu pudesse escrever aqui tudo o que me desse vontade, sem nenhuma preocupação se alguém iria ler , mesmo porque, estou anônimo e ninguém virá xeretar para depois sair contando. Seria o meu fluxo de consciência, assim como Clarice fez tantas vezes!! Inicialmente, consegui me organizar para sempre escrever, mas chegou um tempo em que deixou de ser prazeroso para ser uma obrigação: " tenho que escrever no Blog ". E não era isso que eu queria... Resolvi, então, parar e dar um tempo para ver se conseguiria me reorganizar! E funcionou! Sempre fui disciplinado com minhas coisas, mas não estava conseguindo cumprir " meus prazos interiores ". Há pouco mais de duas semanas, tomei a decisão de não me angustiar com exigências externas. Não vou fazer aquilo que não der conta; vou respeitar o meu ritmo e planejar somente o que eu perceber que consigo realizar. Optei por seguir duas linhas de trabalho: de segunda à sexta, terei uma organização e uma execução específicas! No sábado e no domingo terei outras atividades que poderão ou não complementar a primeira. Será tudo sem cobrança e sem nenhum stress. O prazer e o bem-estar em primeiro lugar!! Grande abraço

sábado, 16 de abril de 2011

Schopenhauer II

                Não é apenas nos fenômenos completamente semelhantes ao seu próprio, nos homens e nos animais, que ele encontrará, como essência íntima, essa mesma vontade; mas um pouco mais de reflexão o levará a reconhecer que a universalidade dos fenômenos, tão diversos para a  representação, têm uma única e mesma essência, a mesma que lhe é conhecida íntima, imediatamente, e melhor do que qualquer outra, aquela enfim que na sua manifestação mais aparente tem o nome de vontade. Ele a verá na força que faz crescer e vegetar a planta e cristalizar o mineral; que dirige a agulha magnética para o norte; na comoção que experimenta com o contato de dois metais heterogêneos; ele a encontrará nas afinidades eletivas dos corpos que se manifestam sob a forma de atração ou de repulsa, de combinação ou de decomposição; e até na gravidade que age com tanto poder em toda matéria que atrai a pedra para a terra, como a terra para o sol. É refletindo sobre todos estes fatos que, ultrapassando o fenômeno, chegamos à coisa em si: " Fenômeno " significa representação, e mais nada; e toda representação, todo objeto é fenômeno. A coisa em si é unicamente a vontade; nesta qualidade, esta não é de maneira nenhuma representação, difere dela toto genere; a representação, o objeto,  é o fenômeno, a visibilidade, a objetividade da vontade. A vontade é a substância íntima, o núcleo tanto de toda coisa particular, como do conjunto; é ela que se manifesta na força natural cega; ela encontra-se na conduta racional do homem; se as duas diferem tão profundamente, é em grau e não em essência.

Schopenhauer I

                       Suponhamos que nos perdêssemos a contemplar a infinitude do mundo no tempo e no espaço, quer refletíssemos sobre a multidão dos séculos passados e futuros, quer durante a noite o céu nos revele, na sua realidade, mundos sem número, ou que a imensidão do universo oprima, por assim dizer, a nossa consciência: neste caso, sentimo-nos reduzidos ao nada; como indivíduo, como corpo animado, como fenômeno passageiro da vontade, temos a consciência de não ser mais do que uma gota no oceano, isto é,  de nos dissiparmos e de desaparecermos no nada. Mas, ao mesmo tempo, contra a ilusão do nosso nada, contra esta mentira impossível, eleva-se em nós a consciência imediata que nos revela que todos esses mundos existem apenas na nossa representação; eles são apenas modificações do sujeito eterno do puro conhecimento; são apenas aquilo que sentimos em nós, desde que esquecemos a individualidade; em resumo, é em nós que reside o que constitui o suporte necessário e indispensável de todos os mundos e de todos os tempos. A grandeza do mundo, que há pouco espantava-nos, agora reside, serena, em nós mesmos: a nossa dependência em relação a ela está a partir de agora suprimida, visto que presentemente é ela que depende de nós. - No entanto, não fazemos efetivamente todas estas reflexões; limitamo-nos a sentir, de uma maneira completamente irrefletida, que, num certo sentido (só a filosofia pode precisá-lo), somos um com o mundo, e que, por conseguinte, a sua infinitude ergue-nos, ao contrário de nos esmagar. É esta consciência, ainda completamente sentimental, que os Upanixades dos Vedas repetem sob tantas formas variadas e, sobretudo, nesta frase que citamos mais acima:  " Eu sou todas estas criaturas, e por minha causa não há outro ser ". Existe aí um êxtase que ultrapassa a nossa própria individualidade; é o sentimento do sublime.