sexta-feira, 24 de agosto de 2012

HAIKAI 75


Caquis pendurados para secar -
As sombras do sol da tarde
Enlouquecem nas paredes de papel.

organização: Paulo Franchetti
                  Elza Taeko Doi
                  Luiz Dantas

HAIKAI 67


Nunca se esqueça
Do gosto de solidão
Do orvalho branco.

organização: Paulo Franchetti
                  Elza Taeko Doi
                  Luiz Dantas 

HAIKAI 25


Quando a lua se move para oeste
A sombra das flores
Caminha para leste.

organização: Paulo Franchetti
                  Elza Taeko Doi
                  Luiz Dantas 

HAIKAI 7


As tartarugas do lago
Ora comem, ora não comem,
Nestes longos dias de primavera.


organização: Paulo Franchetti
                  Elza Taeko Doi
                  Luiz Dantas 

sábado, 4 de agosto de 2012

A cidade de outro

                            Klébi Nori

A cidade está tão fora
E você se ocupa dessas coisas
Vive me mandando embora
Pensando que eu sou outra pessoa
O meu beijo é diferente
Acho que você não sente
Mas posso facilitar tudo
Você querendo mesmo eu me mudo
Saio de cabeça ao pé
Deixo tudo como é
Se você não consegue ver
A possibilidade de outro
Azar de você

Música do álbum " Escolhas ", da cantora Klébi lançado em 1999.

Flores e Bocas

                      Fernando Figueiredo

Que bom que você chegou
Trazendo um sorriso de melhor amigo
Sorrisos são bocas em flor

Tão bom ter você do meu lado
Com jeito de apaixonado
Pra gente dividir o indivisível
Sonhar aquele sonho quase impossível

Foi bom você ter chegado
Assim meio inesperado
Eu tava perdido, trancado, sozinho
Contando as gotas da dor

Se você me chama, eu vou
Se você me pede, eu sou
Seu melhor amigo
Responda ao sorriso
Sorrisos são bocas em flor

Agora que a chuva passou
Das nossas sementes
Corações e mentes
Algo de novo brotou
Algo de novo brotou
Seu melhor amigo
Responda ao sorriso
Sorrisos são bocas em flor

Música do álbum " 1º " da cantora Mônica Tomasi gravado em 1996.

sábado, 28 de julho de 2012

O Aleph

              Jorge Luis Borges

        Na ardente manhã de fevereiro em que Beatriz Viterbo morreu, depois duma imperiosa agonia que não cedeu um só instante nem ao sentimentalismo nem ao medo, observei que os painéis de ferro da Plaza Constituición tinham renovado não sei que anúncio de cigarros vermelhos; o fato me desgostou, pois compreendi que o incessante e vasto universo já se afastava dela e que essa mudança era a primeira de uma série infinita. Mudara o universo mas eu não, pensei com melancólica vaidade; sei que, alguma vez, minha vã devoção a exasperara; morta, eu podia consagrar-me à sua memória, sem esperança, mas também sem humilhação. Lembrei-me de que em trinta de abril era seu aniversário; visitar, nesse dia, a casa da Rua Garay para saudar seu pai e Carlos Argentino Daneri, seu primo-irmão, era um ato cortês, irrepreensível, talvez iniludível. De novo eu ficaria aguardando no crepúsculo da abarrotada salinha, de novo iria estudar as circunstâncias de seus muitos retratos. Beatriz Viterbo, de perfil, em cores; Beatriz, com máscara, no carnaval de 1921; a primeira comunhão de Beatriz; Beatriz no dia de seu casamento com Roberto Alessandri; Beatriz, pouco depois do divórcio, num almoço do Clube Hípico; Beatriz, em Quilmes, com Delia San Marco Porcel e Carlos Argentino; Beatriz, com o pequinês dado por  Villegas Haedo; Beatriz, de frente e em três quartos, sorrindo, com a mão no queixo... Não estaria obrigado, como outras vezes, a justificar minha presença com módicas oferendas de livros - livros cujas páginas, finalmente, aprendi a  cortar, para não comprovar, meses depois, que se mantinham intatos.
         Beatriz Viterbo morreu em 1929; desde então não deixei passar um trinta de abril sem voltar à sua casa. Eu costumava chegar às sete e quinze e ficar uns vinte e cinco minutos; cada ano, aparecia um pouco mais tarde e ficava um pouco mais; em 1933, uma chuva torrencial me favoreceu: tiveram de me convidar para comer. Não desperdicei, como é natural, esse bom precedente; em 1934, apareci, já passando das oito, com um alfajor santafecino (espécie de bolo de mel procedente de Santa Fé); com toda a naturalidade, fiquei para comer. Assim, em aniversários melancólicos e inutilmente eróticos, recebi as graduais confidências de Carlos Argentino Daneri.
         Beatriz era alta, frágil, ligeiramente inclinada; havia em seu andar (se for tolerável o oxímoro) uma graciosa lentidão, um princípio de êxtase; Carlos Argentino é rosado, grande, encanecido, de traços finos. Exerce não sei que cargo subalterno numa biblioteca sem leitores dos arrabaldes do Sul; é autoritário, mas também ineficiente; aproveitava, até bem pouco, as noites e as festas para não sair de casa. A duas gerações de distância, o esse italiano e a copiosa gesticulação italiana sobrevivem nele. Sua atividade mental é contínua, apaixonada, versátil e completamente insignificante. É abundante em imprestáveis analogias e em ociosos escrúpulos. Tem (como Beatriz) grandes e afiladas mãos formosas. Durante alguns meses, sofreu a obsessão de Paul Fort, menos por suas baladas que pela ideia de uma glória irrepreensível. " É o Príncipe dos poetas da França ", repetia com fatuidade. " É inútil te voltares contra ele; não o alcançará, nunca, a mais envenenada de tuas setas. "
         No dia trinta de abril de 1941, permiti-me juntar ao alfajor uma garrafa de conhaque nacional. Carlos Argentino provou-o, julgou-o interessante e pôs-se, depois de alguns copos, a fazer uma defesa do homem moderno.
         - Eu o evoco - disse com uma animação um tanto inexplicável - em seu gabinete de estudo, como se dispuséssemos na torre albarrã duma cidade, provido de telefones, de telégrafo, de fonógrafos, de aparelhos de radiotelefonia, de cinematógrafos, de lanternas mágicas, de glossários, de horários, de prontuários, de boletins...
         Observou que, para um homem assim dotado, o ato de viajar era inútil; nosso século XX tinha transformado a fábula de Maomé e da montanha; as montanhas agora convergiam sobre o moderno Maomé.
         Tão tolas me pareceram essas ideias, tão pomposa e tão extensa sua exposição, que logo as relacionei com a literatura; perguntei-lhe porque não as escrevia. Como era de prever, respondeu que já o fizera: esses conceitos, e outros não menos novos, figuravam no Canto Augusto, Canto Prologal ou simplesmente Canto Prólogo de um poema em que trabalhava há muitos anos, sem réclame, sem tumulto ensurdecedor, sempre apoiado nesses dois báculos que se chamam trabalho e solidão. Primeiro, abria as comportas à imaginação; depois, fazia uso da lima. O poema se intitulava A Terra; tratava-se duma descrição do planeta, em que não faltavam, por certo, a pitoresca digressão e a galharda apóstrofe.
         Pedi que me lesse uma passagem, mesmo que fosse breve. Abriu uma gaveta da escrivaninha, tirou um maço volumoso de folhas de bloco com o timbre da Biblioteca Juan Crisóstomo Lafinur e leu com sonora satisfação:
                
                He visto, como el griego, las urbes de los hombres,
                Los trabajos, los días de varia luz, el hambre;
                No corrijo los hechos, no falso los nombres,
                Pero el voyage que narro, es ... autor de la chambre

         - Estrofe, sob qualquer ângulo, interessante - opinou. - O primeiro verso granjeia o aplauso do catedrático, do acadêmico, do helenista, quando não dos falsos eruditos, setor considerável da opinião; o segundo passa de Homero para Hesíodo (toda uma implícita homenagem, na fachada do flamante edifício, ao pai da poesia didática), não sem remoçar um processo cujo ancestral está na Escritura, a enumeração, congérie ou conglobação; o terceiro - barroquismo, decadentismo, culto depurado e fanático da forma? - consta de dois hemistíquios gêmeos; o quarto, francamente bilíngue, me assegura o apoio incondicional de todo espírito sensível aos desenfadados convites da facécia. Nada direi da rima rara nem da ilustração que me permite, sem pedantismo, acumular em quatro versos três alusões eruditas que abarcam trinta séculos de densa literatura: a primeira à " Odisséia ", a segunda aos " Trabalhos e Dias ", a terceira à bagatela imortal que nos proporcionaram os ócios da pena do saboiano... Compreendo uma vez mais que a arte moderna exige o bálsamo do riso, o scherzo. Decididamente, tem a palavra Goldoni!
          Leu-me muitas outras estrofes, que também obtiveram sua aprovação e seu profuso comentário. Nada de memorável havia nelas; nem sequer as julguei muito piores que a anterior. Em sua redação haviam colaboradores a aplicação, a resignação e o acaso; as virtudes que Daneri lhes atribuía eram posteriores. Compreendi que o trabalho do poeta não estava na poesia; estava na invenção de razões para que a poesia fosse admirável; naturalmente, esse ulterior trabalho modificava a obra para ele, mas não para os outros. A dicção de Daneri era extravagante; sua lentidão métrica, salvo contadas vezes, impediu-o de transmitir essa extravagância ao poema.
     Uma só vez na vida tive a ocasião de examinar os quinze mil dodecassílabos do " Polyolbion ", essa epopéia topográfica na qual Michael Drayton registrou a fauna, a flora, a hidrografia, o orografia, a história militar e monástica da Inglaterra; estou certo de que esse produto considerável, mas limitado, é menos tedioso que a vasta empresa congênere de Carlos Argentino. Este se propunha versificar toda a redondez do planeta; em 1941, já tinha consumido alguns hectares do Estado de Queensland, mais de uma quilômetro do curso do Ob, um gasômetro ao norte de Veracruz, as principais casas de comércio da paróquia de Concepción, a quinta de Mariana Cambaceres de Alvear na Rua Onde de Setiembre, em Belgrano, e um estabelecimento de banhos turcos não longe do renomado aquário de Brighton. Leu-me certas laboriosas passagens da zona australiana de seu poema; esses longos e informes alexandrinos careciam da  relativa agitação do prefácio. Copio uma estrofe:

            Sepan. A manderecha del poste rutinario
            (Viniendo, claro está, desde el Nornoroeste)
            Se aburre una osamenta - ?Color? Blanquiceleste -
            Que da al corral de ovejas catadura de osario.

          - Duas audácias! - gritou com exultação - libertadas, te ouço resmungar, para o sucesso! Admito, admito. Uma, o epíteto rutinario, que certeiramente denuncia, en passant, o inevitável tédio inerente às fainas pastoris e agrícolas, tédio que nem as " Geórgicas " nem nosso já laureado " Don Segundo ! se atreveram jamais a denunciar assim, ao vivo. Outra, o enérgico prosaísmo se aburre una osamenta, que o melindroso quererá excomungar com horror mas que o crítico de gosto viril apreciará mais que a própria vida. Todo o verso, de resto, é de muito alto quilate. O segundo hemistíquio trava animadíssima conversação com o leitor; se antecipa à sua viva curiosidade, coloca-lhe uma pergunta na boca e a satisfaz... na hora. E que me dizes desse achado, blanquiceleste? O pitoresco neologismo sugere o céu, que é elemento importantíssimo da paisagem australiana. Sem essa evocação resultariam demasiado sombrias as tintas do esboço e o leitor se veria compelido a fechar o volume, com a alma profundamente ferida de incurável e negra melancolia.
         Por volta da meia-noite me despedi.
       Dois domingos depois, Daneri me chamou por telefone, penso que pela primeira vez na vida. Propôs que nos reuníssemos às quatro, " para tomar leite juntos, no salão-bar conjugado que o progressismo de Zunino e de Zungri - os proprietários de minha casa, estarás lembrado - inaugura na esquina e que te importará conhecer ". Aceitei, mais com resignação que com entusiasmo. Foi-nos difícil encontrar mesa; o " salão-bar ", inexorávelmente moderno, era apenas um pouco menos vasto que minhas previsões; nas mesas vizinhas, o excitado público mencionava as quantias gastas sem regatear com Zunino ou com Zungri. Carlos Argentino fingiu assombrar-se com não sei que primores da instalação da luz (que já conhecia, sem dúvida) e me disse com certa severidade:
         - Mesmo que não queiras, tens de reconhecer que este local se compara aos mais sofisticados de Flores.
         Releu, depois, quatro ou cinco páginas do poema. Corrigira-as de acordo com um depravado princípio de ostentação verbal: onde antes escrevera azulado, agora abundava azulino, azulenco e até mesmo azulillo. A palavra lechoso não era bastante feio para ele; na impetuosa descrição de um lavadouro de lã, preferia lactario, lacticinoso, lactescente, lecha... Insinuou os críticos com amargura; depois, mais benigno, comparou-os a essas pessoas " que não dispõem de metais preciosos nem tampouco de prensas a vapor, laminadores e ácidos sulfúricos para a cunhagem de tesouros, mas que podem indicar aos outros o lugar de um tesouro ". Em seguida, censurou a prologomania, " da qual já se fez mofa, no donairoso prefácio do Quixote, o Príncipe do Engenhos ". Admitiu, porém, que no frontispício da nova obra convinha o prólogo vistoso, a ajuda firmada pelo plumífero de forte prestígio. Acrescentou que pensava publicar os cantos iniciais de seu poema. Compreendi então o  singular convite telefônico: o homem ia pedir-me que prefaciasse o seu aranzel. Meu temor era infundado: Carlos Argentino observou, com admiração rancorosa, que não acreditava errar de epíteto ao qualificar de sólido o prestígio logrado em todos os círculos por Álvaro Melián Lafinur, homem de letras, e que, se eu me empenhasse, iria prefaciar com embelezamento o poema. Para evitar o mais imperdoável dos fracassos, eu tinha de me fazer porta-voz de dois méritos incontestáveis: e perfeição formal e o rigor científico, " porque esse extenso jardim de tropos, de figuras, de elegâncias, não tolera um só detalhe que não confirme a severa verdade ". Acrescentou que Beatriz sempre se havia divertido com Álvaro.
           Assenti, assenti profusamente. Esclareci, para maior verossimilhança, que não falaria com Álvaro na segunda-feira, mas na quinta: na pequena ceia que costuma coroar toda reunião do Clube de Escritores. (Não existem tais ceias, mas é irrefutável que as reuniões ocorrem nas quintas-feiras, fato que Carlos Argentino Daneri podia comprovar nos jornais e que dotava a frase de certa realidade.) Disse, entre adivinhatório e sagaz, que antes de abordar o tema do prólogo, descreveria o curioso plano da obra. Despedimo-nos; ao passar pela Rua Bernardo de Irigoyen, encarei com toda imparcialidade o futuro que me restava: a. a falar com Álvaro e dizer-lhe que o primo-irmão aquele de Beatriz (esse eufemismo explicativo me permitiria mencioná-la) elaborara um poema que parecia estender até o infinito as possibilidades de cacofonia e dos caos; b. não falar com Álvaro. Previ, com lucidez, que minha desídia optaria por b.
            A partir de sexta-feira, à primeira hora, começou a importunar-me pelo telefone. Indignava-me que esse instrumento, que noutros dias reproduziu a voz irrecuperável de Beatriz, pudesse rebaixar-se a receptáculo das inúteis e talvez coléricas queixas desse enganado Carlos Argentino Daneri. Felizmente, nada aconteceu - salvo o rancor inevitável que me inspirou aquele homem que me havia imposto uma delicada missão e depois me esquecia.
        O telefone perdeu seus terrores, mas em fins de outubro Carlos Argentino falou comigo. Estava agitadíssimo; não identifiquei sua voz, a princípio. Com tristeza e com raiva, murmurou que aqueles já ilimitados Zunino e Zungri, a pretexto de ampliar sua desmedida confeitaria, iam demolir a casa.
           - A casa de meus pais, minha casa, a velha casa enraizada da Rua Garay! - repetiu, talvez esquecendo seu pesar na melodia da voz.
         Não me foi muito difícil compartilhar da aflição. Já completos os quarenta anos, qualquer mudança é um símbolo detestável da passagem do tempo; além disso, tratava-se duma casa que, para mim, aludia infinitamente a Beatriz. Quis esclarecer esse delicadíssimo aspecto; meu interlocutor não me ouviu. Disse que se Zunino e Zungri persistissem naquele propósito absurdo, o Dr. Zunni, seu advogado, os processaria ipso facto por danos e prejuízos e os obrigaria ao pagamento de cem mil nacionales.
             O nome de Zunni me impressionou; sua banca, em Caseros y Tacuarí, é de uma seriedade proverbial. Perguntei se ele já se havia encarregado do assunto. Daneri disse que iria falar-lhe naquela mesma tarde. Vacilou e com voz plana, impessoal, à qual costumamos recorrer para confiar algo muito íntimo, disse que para terminar o poema a casa lhe era indispensável, pois num ângulo do porão havia um Aleph. Esclareceu que um Aleph é um dos pontos do espaço que contém todos os pontos.
            - Está no porão da sala de jantar - explicou, com a voz aligeirada pela angústia. - É meu, é meu; eu o descobri na infância, antes da idade escolar. A escada do porão é empinada, meus tios me tinham proibido descer, mas alguém me falou que havia um undo no porão. Referia-se, soube-o depois, a um baú, mas eu compreendi que havia um mundo. Desci secretamente, rolei pela escada proibida, caí. Ao abrir os olhos, vi o Aleph.
            - O Aleph? - perguntei.
          - Sim, o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os lugares do mundo, vistos de todos os ângulos. A ninguém revelei minha descoberta, mas voltei. O menino não podia compreender que lhe fosse concedido esse privilégio para que o homem burilasse o poema! Zunino e Zungri não me despojarão, não e mil vezes não. De código em punho, o Dr. Zunni provará que é inalienável o meu Aleph.
          Procurei raciocinar.
         - Mas não é muito escuro o porão?
         - A verdade não penetra num entendimento rebelde. Se todos os lugares da terra estão no Aleph, ali  estarão todas as luminárias, todas as lâmpadas, todas as fontes de luz.
            - Irei vê-lo imediatamente.
       - Desliguei, antes que ele pudesse fazer uma proibição. Basta o conhecimento de um fato para se perceber no ato uma série de traços confirmatórios, antes insuspeitados; espantou-se não ter compreendido até esse momento que Carlos Argentino era um louco. De resto, todos esses Viterbo... Beatriz (eu mesmo costumo repetir isso) era uma mulher, uma menina de uma clarividência quase implacável, mas havia nela negligências, distrações, desdéns, verdadeiras crueldades, que talvez reclamassem uma explicação patológica. A loucura de Carlos Argentino encheu-me de maligna felicidade; no fundo, sempre nos havíamos detestado.
         Na Rua Garay, a criada me disse que tivesse a bondade de esperar. O menino estava no porão, revelando fotografias. Junto ao vaso de flor, no piano inútil, sorria (mais intemporal que anacrônico) o grande retrato de Beatriz, em pesadas cores. Ninguém nos podia ver; num desespero de ternura, aproximei-me do retrato e disse:
       - Beatriz, Beatriz Elena, Beatriz Elena Viterbo, Beatriz querida, Beatriz perdida para sempre, sou eu, sou Borges. 
        Carlos entrou pouco depois. Falou com secura; compreendi que não podia pensar em mais nada senão na perda do Aleph.
       Um copinho de falso conhaque - ordenou - e mergulharás no porão. Já sabes, é indispensável o decúbito dorsal. Também o são a escuridão, a imobilidade, certa acomodação ocular. Tu te encostas no piso de tijolos e fixas o olhar no décimo nono degrau de tal escada. Saio, baixo o alçapão e ficas sozinho. Algum rato te mete medo - não tem importância! Em poucos minutos vês o Aleph. O microcosmo de alquimistas e cabalistas, nosso concreto amigo proverbial, o multum in parvo! 
             Já na sala de jantar, acrescentou 
       - É claro que, se não o vês, tua incapacidade não invalida meu testemunho... Desce; muito em breve poderás estabelecer um diálogo com todas as imagens de Beatriz. 
         Desci com rapidez, farto de suas palavras insubstanciais. No porão, pouca coisa mais largo que a escada, havia muito de poço. Com uma olhada, busquei o baú de que me falara Carlos Argentino. Alguns caixões com garrafas e algumas bolsas de lona escureciam um ângulo. Carlos pegou uma bolsa, dobrou-a e a acomodou num lugar preciso.
         - A almofada é humilde - explicou - mas, se a levanto um só centímetro, não verás nada e ficas confundido e envergonhado. Refestela esse corpanzil no chão e conta dezenove degraus.
           Cumpri suas ridículas exigências; por fim, saiu. Fechou cautelosamente o alçapão; embora houvesse uma fresta que depois distingui, a escuridão pareceu-me total. Subitamente, compreendi meu perigo: deixara-me soterrado por um louco, depois de tomar veneno. As bravatas de Carlos evidenciavam seu íntimo terror de que eu não visse o prodígio; Carlos, para defender seu delírio, para não saber que estava louco, tinha de matar-me. Senti um vago mal-estar, que tratei de atribuir à rigidez, e não ao efeito do narcótico. Fechei os olhos, abri-os. Então vi o Aleph.
          Chego, agora, ao inefável centro de meu relato; começa aqui meu desespero de escritor. Toda linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício pressupõe um passado que os interlocutores compartem; como transmitir aos outros o infinito Aleph, que minha tímida memória mal e mal abarca? Os místicos, em transe semelhante, gastam os símbolos: para significar a divindade, um persa fala de um pássaro que, de algum modo, é todos os pássaros; Alanus de Insulis fala de uma esfera cujo centro está em todas as partes e a circunferência em nenhuma; Ezequiel fala de um anjo de quatro asas que, ao mesmo tempo, se dirige ao Oriente e ao Ocidente, ao Norte e ao Sul. (Não é em vão que rememoro essas inconcebíveis analogias; alguma relação elas têm com o Aleph.) É possível que os deuses não me negassem o achado de uma imagem equivalente, mas este informe ficaria contaminado de literatura, de falsidade. Mesmo porque o problema central é insolúvel: a enumeração, sequer parcial, de um conjunto infinito. Nesse instante gigantesco, vi milhões de atos agradáveis ou atrozes; nenhum me assombrou mais que o fato de todos ocuparem o mesmo ponto, sem superposição e sem transparência. O que os meus olhos viram foi simultâneo; o que transcreverei será sucessivo, pois a linguagem o é. Algo, entretanto, registrarei.
           Na parte inferior do degrau, à direita, vi uma pequena esfera furta-cor, de brilho quase intolerável. Primeiro, supus que fosse giratória; depois, compreendi que esse movimento era uma ilusão produzida pelos vertiginosos espetáculos que encerrava. O diâmetro do Aleph seria de dois ou três centímetros, mas o espaço cósmico ali estava, sem diminuição de tamanho. Cada coisa (o cristal do espelho, digamos) era infinitas coisas, porque eu a via claramente de todos os pontos do universo. Vi o populoso mar, vi a aurora e a tarde, vi as multidões da América, vi uma prateada teia de aranha no centro de uma negra pirâmide, vi um roto labirinto (era Londres), vi intermináveis olhos próximos perscrutando em mim como num espelho, vi todos os espelhos do planeta e nenhum me refletiu, vi num pátio da Rua Soler os mesmos ladrilhos que, há trinta anos, vi no saguão duma casa de Frey Bentos, vi cachos de uva, neve, tabaco, listras de metal, vapor de água, vi convexos desertos equatoriais e cada um de seus grãos de areia, vi em Inverness uma mulher que não esquecerei, vi a violenta cabeleira, o altivo corpo, vi um câncer no peito, vi um círculo de terra seca numa vereda onde antes existira uma árvores, vi numa quinta de Androgué um exemplar da primeira versão inglesa de Plínio, a de Philemon Holland, vi, ao mesmo tempo, cada letra de cada página (em pequeno, eu costumava maravilhar-me com o fato de as letras de um livro fechado não se misturarem e se perderem no decorrer da noite), vi a noite e o dia contemporâneo, vi um poente em Querétaro que parecia refletir a cor de uma rosa em Bengala, vi meu dormitório sem ninguém, vi num gabinete de Alkmaar um globo terrestre entre dois espelhos que o multiplicam indefinidamente, vi cavalos de crinas redemoinhadas, numa praia do Mar Cáspio, na aurora, vi a delicada ossatura de uma mão, vi os sobreviventes de uma batalha, enviando bilhetes postais, vi numa vitrina de Mirzapur um baralho espanhol, vi as sombras oblíquas de alguns fetos no chão de uma estufa, vi tigres, êmbolos, bisontes, marulhos e exércitos, vi todas as formigas que existem na terra, vi um astrolábio persa, vi numa gaveta da escrivaninha (e a letra me fez tremer) cartas obscenas, claras, incríveis, que Beatriz dirigira a Carlos Argentino, vi um adorado monumento na Chacarita, vi a relíquia cruel do que deliciosamente fora Beatriz Viterbo, vi a circulação de meu escuro sangue, vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph e no Aleph a terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetural cujo nome os homens usurpam, mas nenhum homem tem olhado: o inconcebível universo.
           Senti infinita veneração, infinita lástima.
           - Ficarás tonto por bisbilhotar assim onde não és chamado - disse uma voz enfadonha e alegre. - Mesmo que queimes o juízo, não me pagarás num século esta revelação. Que observatório formidável, hein, Borges!
         Os pés de Carlos Argentino ocupavam o degrau mais alto. Na brusca penumbra, consegui levantar-me e balbuciar:
            - Formidável. Sim, formidável.
        A indiferença de minha voz causou-me estranheza. Ansioso, Carlos Argentino insistia:
            - Viste tudo bem, em cores?
        Nesse instante, concebi minha vingança. Benévolo, manifestamente apiedado, nervoso, evasivo, agradeci a Carlos Argentino a hospitalidade de seu porão e instei com ele para aproveitar a demolição da casa e afastar-se da perniciosa metrópole, que a ninguém - creia-me, a ninguém! - perdoa. Neguei-me, com suave energia, a discutir o Aleph; abracei-o, ao despedir-me, e repeti que o campo e a serenidade são dois grandes médicos.
         Na rua, nas escadarias de Constituición, no metrô, pareceram-me familiares todas as faces. Tive medo de que não restasse uma só coisa capaz de surpreender-me, tive medo de que jamais me abandonasse a impressão de voltar. Felizmente, depois de algumas noites de  insônia, agiu outra vez sobre mim o esquecimento.
         Pós-escrito de primeiro de março de 1943 - Seis meses após a demolição do imóvel da Rua Garay, a Editora Procusto não se deixou amedrontar pela extensão do descomunal poema e lançou ao mercado uma seleção de " trechos argentinos ". Vale a pena repetir o ocorrido;  Carlos Argentino Daneri recebeu o Segundo Prêmio Nacional de Literatura. O primeiro foi dado ao Dr. Aita; o terceiro, ao Dr. Mario Bonfanti; incrivelmente, minha obra " Os Naipes do Trapaceiro " não conseguiu um único voto. Mais uma vez, triunfaram a  incompreensão e a inveja! Já faz muito tempo que não consigo ver Daneri; os  jornais dizem que em breve nos vai dar outro volume. Sua pena afortunada (não mais perturbada pelo Aleph) consagrou-se a versificar os epítomes do Dr. Acevedo Díaz.
            Quero acrescentar duas observações: uma, sobre a natureza do Aleph; outra, sobre seu nome. Este, como se sabe, é o da primeira letra do alfabeto da língua sagrada. Sua aplicação ao círculo da minha história não parece casual. Para a Cabala, essa letra significa o En Soph, a ilimitada e pura divindade; também se disse que tem a forma de um homem que assinala o céu e a terra, para indicar que o mundo inferior é o espelho e o mapa do superior; para a Mengenlehre, é o símbolo dos números transfinitos, nos quais o todo não é maior que qualquer das partes. Eu queria saber: Carlos Argentino escolheu esse nome, ou o leu, aplicado a outro ponto para onde convergem todos os pontos, em algum dos inumeráveis textos que lhe revelou o Aleph de sua casa? Por incrível que pareça, eu acredito que exista (ou que tenha existido) outro Aleph, eu acredito que o Aleph da Rua Garay era um Falso Aleph.
            Dou minhas razões. Por 1867, o Cap. Burton exerceu o cargo de cônsul britânico no Brasil; em julho de 1942, Pedro Henríquez Ureña descobriu numa biblioteca de Santos um manuscrito seu que versava sobre o espelho que atribui o Oriente a Iskandar Zu al-Karnayn, ou Alexandre Bicorne da Macedônia. Em seu cristal refletia-se o universo inteiro. Burton mencionava outros artifícios semelhantes - o sétuplo cálice de Kai Jorsu, o espelho que Tarik Benzeyad encontrou numa torre (" Mil e Uma Noites ", 272), o espelho que Luciano de Samosata pôde examinar na lua (" História Verdadeira ", I, 26), a lança especular que o primeiro livro do " Satiricon " de Capella atribui a Júpiter, o espelho universal de Merlin, " redondo e oco e semelhante a um mundo de vidro " (" The Faerie Queene ", III, 2, 19) - e acrescenta estas curiosas palavras: " Mas os anteriores (além do defeito de não existirem) são meros instrumentos de ótica. Os fiéis que acorrem á mesquita de Amr, no Cairo, sabem muito bem que o universo está no interior de uma das colunas de pedra que rodeiam o pátio central... Ninguém, é claro, pode vê-lo, mas os que aproximam o ouvido da superfície declaram perceber, em pouco tempo, seu atarefado rumor... A mesquita data do século VII; as colunas procedem de outros templos de religiões anteislâmicas, pois como escreveu Abenjaldun: Nas repúblicas fundadas por nômades, é indispensável o concurso de forasteiros para que tudo o que seja alvenaria. "
            Existe esse Aleph no íntimo de uma pedra? Vi-o quando vi todas as coisas e o esqueci? Nossa mente é porosa para o esquecimento; eu mesmo estou falseando e perdendo, sob a trágica erosão dos anos, os traços de Beatriz.

o autor dedicou o texto à Estela Canto; eu dedico à professora Suzana Machado. 
              

Antoninha

                     Bartyra Soares

      No final da rua, num terreno da prefeitura, destoando da paisagem suntuosa da Boa Viagem, lá estava o quarto de Antoninha. Era um exíguo espaço, uma única porta circundada por uma trepadeira de flores miúdas - nada mais.
      Todas as manhãs, com saias de baiana superpostas uma sobre as outras, o branco contrastando com a pele acobreada, os pés nus, de turbante e colares coloridos, Antoninha dançava quase flutuante pela rua, entoando canções que afirmavam ter ter suas raízes na voz das pretas escravas - suas antepassadas. Por vezes executava estranhos passos que ninguém jamais soube se acompanhavam o ritmo do vento ou das ondas espraiando-se ali perto.
      Todo aquele bamboleio enlevava os moradores da rua que saíam para a caminhada ou espreitavam-na das janelas dos edifícios e casas. Era um bailado de pássaro, ondulante, suave, os pés mal tocando o chão, como se fossem deslizar no horizonte que delimitava o verde-azul da distância.
       Não se sabia se Antoninha chegara a Boa Viagem com suas ruas asfaltadas, de mansões e edifícios luxuosos. Invadira o terreno e instalara-se sob velhas caixas de papelão, pedaços de madeira e lona.
       Na verdade, havia sido ela uma das primeiras moradoras daquela rua. Quando edifícios e casas foram construídos, os primeiros moradores olhavam-na constrangidos, intranquilos, cheios de restrições.
       Mas logo acostumaram-se à sua presença discreta. Enfim, ela era uma espécie de patrimônio da rua. Não raro sua dança se estendia até as avenidas adjacentes. Ninguém se atrevia a enxotá-la. Havia aquele cantar de palavras enigmáticas, o bailado de insuspeitada beleza.
        Alimentava-se do que lhe ofereciam às portas, a todos chamando de preto ou preta. De poucas palavras, raramente saía de seu mutismo para exibir aos passantes, amarelados papéis catados nos monturos assegurando que eram cartas de políticos influentes a ela endereçadas. Um dia, alguém providenciara a contrução daquele minúsculo quarto e a partir de então, à noite, viam-na sentada à soleira, balbuciando preces, ou quem sabe? Talvez dialogando com seres só por ela reconhecidos, os olhos cheios de tristeza acompanhando a trajetória da lua.
       Entretanto, ficava profundamente inquieta quando à guisa de brincadeira perguntavam-lhe pelo prédio. Comentava-se ser o manicômio de onde ainda muito jovem evadira-se para escapar do estrangulamento de uma louca.
       Naquelas ocasiões, recolhia-se ao seu quarto com uma dor inalcançável dentro de si, diluindo-se em lágrimas e não aparecia sequer para apanhar algum prato de comida deixado à sua porta.
        Outro fato que desnorteava era quando alguns meninos assediavam-na perguntando-lhe, maliciosos, se já havia pago o condomínio do quarto.
         - Condomínio? - Os olhos escancaravam-se aflitos.
         - Sim, Antoninha. Todo mundo paga. E retiravam-se às gargalhadas.
         Ela postava-se ainda mais silenciosa. a palavra girando dentro do seu corpo como uma ferida semovente, dilacerando-lhe as entranhas:
          - Condomínio?! Condomínio?!
          Porém, mal amanhecia, esquecida de tudo, seguia outra vez pela rua cantarolando suas toadas, bailando ao ritmo das ondas (ou do vento?). As saias esvoaçantes, um meio-sorriso abrindo clareira entre as canções, o sol naufragando-lhe nos olhos muito abertos.
          Uma noite, aproximou-se dela um homem maltrapilho e não foram necessárias palavras. Antoninha retirou o olhar da lua fitando os dele e logo estavam abraçados.
          Certa manhã, foram vistos um defronte ao outro, ela tentando ensinar-lhe alguns passos de dança. O homem, desajeitado, sem ritmo, a barriga desdobrando-se sobre a bermuda rota arrastava os pés, os braços abertos, a cabeça inclinada. A cena sacudiu alguns dos espectadores para risadas incontroláveis e a outros deixou imersos num silêncio imposto pela compaixão. Só a voz de Antoninha enchia de suavidade a rua. Fora um canto tão triste que mais pareceu uma súplica fluindo de uma flauta doce.
          Aquela foi a última vez que o viram. Quando indagada sobre ele, era lacônica:
          - Quem não tem coração de passarinho não aprende a voar.
          - Voar, Antoninha?
          Mas o silêncio era um felino de passos mansos esgueirando-se de seu olhar deixando os curiosos sem mais perguntas.
          E assim, à noite, voltou a sentar-se à porta do quartinho, seguindo, os olhos fiando água, o itinerário da lua.
          Numa manhã, o sol já escalara alguns patamares no caminho das horas e Antoninha não apareceu. O vento redemoinhava nas árvores, arrancando-lhes folhas e o mar jogava-se afoito por sobre o calçadão como que, ambos a reclamarem daquela ausência.
          Alguns moradores aproximaram-se do seu quarto e empurraram a porta semicerrada: estava vazio. No chão algumas saias, os colares e o turbante soltos em desalinho.
          De imediato a rua inteira soube e começaram a surgir as conjeturas. O que acontecera? Teria sido a polícia que, numa ronda, a encontrara com seus passos de bailarina vagando pela noite? Falava-se que possuía alguns parentes. Tinham sido eles que a vieram buscar abrasados pelo remorso? Ou ela teria sido vítima da sanha desvairada de algum marginal? daquele maltrapilho que com ela dividira algumas noites de amor?
          - Quem não tem coração de passarinho... - Relembraram alguns.
          Um meninozinho explicava a todo momento, nervoso, as mãos agitadas atritando-se uma de encontro à outra, como se a ausência de Antoninha fosse uma tragédia para a humanidade:
           - Juro! Nunca mais perguntei a ela pelo prédio!
           Sem respostas, com o passar do tempo, os habitantes da rua, imersos nas suas atividades foram-na esquecendo. A rua passou a dormitar indiferente aos movimentos da Lua, do Sol, do vento.
             Numa madrugada, contudo, Antoninha surgiu como que saída do mar. Seus passos ritmados com o balanço das ondas (ou do vento?), flutuantes como nunca, ágeis, determinados, ao mesmo tempo suaves e sinuosos percorreram toda a rua, a voz clara enchendo o espaço de encantamento, trazendo consigo o anúncio de que breve o sol nasceria das águas. E como se nada estivesse acontecendo dirigiu-se para o seu quartinho.
              Alguns madrugadores saindo para a caminhada, surpresos seguiram-na, dela aproximando-se cheios de indagações. Onde estivera? O que fizera? Com quem andara?
               Antoninha sorridente retirou de um bolso da saia um papel amarrotado, exibindo-lhes uma cédula de R$ 1,00 em tamanho gigante, reproduzida num jornal de intensa circulação na cidade e esclareceu com um gesto gracioso de bailarina:
               - Agora posso pagar o condomínio.
               Naquela noite, sequer apareceu para acompanhar o trajeto da lua cheia.
        

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Saudade

                   Chrystian

Você sempre fez os meus sonhos
Sempre soube do meu segredo
Isso já faz muito tempo
Eu nem me lembro quanto tempo faz

O meu coração não sabe contar os dias
E a minha cabeça já está tão vazia
Mas a primeira vez, ainda me lembro bem
Talvez eu seja no seu passado
Mais uma página, que foi, do seu diário arrancada

Sonho, choro e sinto
Que resta alguma esperança
Saudade
Quero arrancar esta página
Da minha vida

Música do já citado disco de 1988 de Chrystian & Ralf intitulado apenas " Volume VI ".

Desculpa

        Martinha/Iranfe

Desculpa esse meu jeito indelicado
É sem querer que te magoo o coração
Sei que nem sempre faço tudo o que sinto
Coisas de amor
Que não tem explicação

Desculpa
Pelas vezes que eu disfarço
Na tentativa de esconder meus sentimentos
Quando estou triste eu procuro seu abraço
Então descubro onde estão meus bons  sentimentos

Eu te quero mais do que quero querer
Eu sou seu mais do que sou mesmo de mim
Eu às vezes me confundo com você
E me desespero ao me ver tão seu assim

Desculpa
Por deixar esta saudade
Que muitas vezes sei que faz você sofrer
Eu me arrependo quando sinto na verdade
Que a minha vida vale a pena por você

Desculpa
Pelas coisas que eu não faço
Querendo sempre não fazer tanta bobagem
Covardemente corro sempre pros seus braços
Desculpe agora
Esta falta de coragem

Música do então LP de " Chrystian & Ralf " intitulado apenas " Volume VI " lançado em 1988.