sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Desejos



Desejo primeiro que você ame, e que amando, também seja amado.
E que se não o for, seja breve em esquecer, e que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim... Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos, que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis, e que pelo menos em um deles você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo, ainda, que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom usso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer, e que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo, por sinal, que você seja triste, não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom.
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra com o máximo de urgência,
Acima  e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo, ainda, que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal, porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo, também, que você plante uma semente, por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que, pelo menos uma vez por ano, coloque um pouco dele
Na sua frente e diga " Isso é meu " só para que fique claro quem é o dono de quem.

Desejo, também, que nenhum de seus afetos morra por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo, por fim, que você sendo homem, tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher, tenha um bom homem,
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor pra recomeçar.

E se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a te desejar. "

autoria desconhecida

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Idiota e a Moeda


Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas.

Diariamente, eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 réis e outra menor de 2.000 réis. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.

Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

- Eu sei, respondeu o " tolo ". Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e  não vou mais ganhar minha moeda.

Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa.

A primeira: quem parece idiota, nem sempre é;
A segunda: quais eram os verdadeiros idiotas da história?
A terceira: se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.

Mas a conclusão mais interessante é que a percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.
Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos.
O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente.
Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação, porque sua consciência é o que você é; sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam... é problema deles! 

sem identificação de autoria

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Vertigem

                    Caio Sílvio/Graco

Eu sou o que me pede o coração
Na hora que a saudade me desperta
E me deixa sem razão
Desenho o teu rosto na paisagem
Na face escura da cidade
Te contemplo com a mesma paixão
Como se o último beijo
Fosse o primeiro
Como um romance, um cinema
Assisto ao drama impossível
Sem querer me entregar
A vertigem de perder-te

Te foste como as cores
De uma velha aquarela
Deixaste tantas sombras
Samambaias na janela
Que na lembrança ainda me refazem
Me devolvem teu perfume
Se o passado é tão presente
Em cada instante, em cada cena
Não é passado
É somente minha vida que estancou
E como louca (o) ouço valsas
Noites, beijos na varanda
Tua voz dizer-me coisas
És um soneto antigo

faixa de abertura do então LP de Joanna intitulado " Vidamor ", lançado em 1982.

domingo, 2 de setembro de 2012

Forjando a Armadura

               Rudolf Steiner

Nego submeter-me ao medo,
Que tira a alegria de minha liberdade,
Que não me deixa arriscar nada,
Que me torna pequeno e mesquinho,
Que me amarra,
Que não me deixa ser direto e franco,
Que me persegue,
Que ocupa negativamente a minha imaginação
Que sempre pinta visões sombrias.

No entanto, não quero levantar barricadas por
medo do medo.

Eu quero viver, não quero encerrar-me.
Não quero ser amigável por medo de ser sincero.
 
Quero pisar firme porque estou seguro
E não porque encobri meu medo.

E quando me calo, quero fazê-lo por amor
E não por temer as consequências de minhas palavras.

Não quero acreditar em algo só por medo de acreditar.
Não quero filosofar por medo de que algo
possa atingir-me de perto.

Não quero dobrar-me só porque tenho medo
de não ser amável.

Não quero impor algo aos outros
Pelo medo de que possam impor algo a mim.

Por medo de errar, não quero tornar-me inativo.

Não quero fugir de volta para o velho,
O inaceitável,
Por medo de não me sentir seguro no novo.

Não quero fazer-me de importante porque
 Tenho medo de que senão poderia ser ignorado.

Por convicção e amor, quero fazer
O que faço e deixar de fazer
O que deixo de fazer.

Do medo, quero arrancar o domínio e dá-lo
Ao amor.
E quero crer no reino que existe em mim.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

HAIKAI 75


Caquis pendurados para secar -
As sombras do sol da tarde
Enlouquecem nas paredes de papel.

organização: Paulo Franchetti
                  Elza Taeko Doi
                  Luiz Dantas

HAIKAI 67


Nunca se esqueça
Do gosto de solidão
Do orvalho branco.

organização: Paulo Franchetti
                  Elza Taeko Doi
                  Luiz Dantas 

HAIKAI 25


Quando a lua se move para oeste
A sombra das flores
Caminha para leste.

organização: Paulo Franchetti
                  Elza Taeko Doi
                  Luiz Dantas 

HAIKAI 7


As tartarugas do lago
Ora comem, ora não comem,
Nestes longos dias de primavera.


organização: Paulo Franchetti
                  Elza Taeko Doi
                  Luiz Dantas 

sábado, 4 de agosto de 2012

A cidade de outro

                            Klébi Nori

A cidade está tão fora
E você se ocupa dessas coisas
Vive me mandando embora
Pensando que eu sou outra pessoa
O meu beijo é diferente
Acho que você não sente
Mas posso facilitar tudo
Você querendo mesmo eu me mudo
Saio de cabeça ao pé
Deixo tudo como é
Se você não consegue ver
A possibilidade de outro
Azar de você

Música do álbum " Escolhas ", da cantora Klébi lançado em 1999.

Flores e Bocas

                      Fernando Figueiredo

Que bom que você chegou
Trazendo um sorriso de melhor amigo
Sorrisos são bocas em flor

Tão bom ter você do meu lado
Com jeito de apaixonado
Pra gente dividir o indivisível
Sonhar aquele sonho quase impossível

Foi bom você ter chegado
Assim meio inesperado
Eu tava perdido, trancado, sozinho
Contando as gotas da dor

Se você me chama, eu vou
Se você me pede, eu sou
Seu melhor amigo
Responda ao sorriso
Sorrisos são bocas em flor

Agora que a chuva passou
Das nossas sementes
Corações e mentes
Algo de novo brotou
Algo de novo brotou
Seu melhor amigo
Responda ao sorriso
Sorrisos são bocas em flor

Música do álbum " 1º " da cantora Mônica Tomasi gravado em 1996.