quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dama do Cassino

        Caetano Veloso

Eu prometi e cumpri
Mil carinhos e muito respeito
Amor perfeito nos momentos bons
E nos momentos maus
Mas essa dama danada
Nunca encontra nada a seu jeito
Ela só busca as espadas, os ouros
As copas e os paus
Eu planejei sete luas de mel
Caravanas e tropas
Amor, paisagens, perfumes, vestidos
Receitas e roupas
Mas essa dona maldita sequer
Acredita em Europas
Ela só sonha com ouro, com paus
Com espadas, com copas
Diz-se que quem é feliz no amor
No jogo é infeliz
E de quem faz do amor
Um jogo o que é que se diz
Eu não sei jogar, ela é a rainha
Como poderei pensar que ela é minha?
Eu escrevi canções para caminhões
De guitarras e couros
Que se tornaram estouro em mais
De muitos carnavais
Mas pra essa diva jamais
O sambódromo, o autódromo e os touros
Ela só fica pensando em paus
Copas, espadas e ouros
Eu já fiquei como Erasmo
Sentado à margem das estradas
À espera de uma palavra na boca
Um gesto nas mãos
Mas essa deusa só diz nãos e
Nunca e necas nas Copas
Nos Paus, em Ouros e Espadas.

regravação feita por Jussara Silveira em seu CD de 1996.

A Balança



Quando menino eu vivia brigando com meus companheiros de brinquedos. E voltava para casa lamuriando e queixando-me deles. Isto ocorria, as mais das vezes, com Beto, o meu melhor amigo.

Um dia, quando corri para casa e procurei mamãe para me queixar do Beto, ela me ouviu e disse o seguinte:

- Vá buscar a sua balança e os blocos.

- Mas, o que tem isso a ver com o Beto?

- Você verá... Vamos fazer uma brincadeira.

Obedeci e trouxe a balança e os blocos. Então, ela disse:

- Primeiro, vamos colocar neste prato da balança um bloco para representar cada defeito do Beto. Conte-me quais são...

Fui relacionando-os e certo número de blocos foi empilhado daquele lado.

- Você não tem mais nada a dizer? 

Eu não tinha e ela propôs:

- Então você agora vai enumerar as qualidades dele. Cada uma delas será um bloco no outro prato da balança.

Eu hesitei, porém, ela me animou dizendo:

- Ele não deixa você andar na sua bicicleta? Não reparte o seu bolo com você?

Concordei e passei a mencionar o que havia de bom no caráter do meu amiguinho. Ela foi colocando os blocos do outro lado. De repente, eu percebi que a balança oscilava. Mas vieram outros e outros blocos a favor do Beto. Dei uma risada e mamãe observou:

- Você gosta do Beto e ficou alegre por verificar que as suas qualidades ultrapassam os seus defeitos. Isso sempre acontece, conforme você mesmo vai verificar ao longo da sua vida.

E de fato! Através dos anos aquele pequeno incidente de pesagem tem exercido importante influência sobre meus julgamentos. Antes de criticar uma pessoa, lembro-me daquela balança e comparo seus pontos bons e maus. E, felizmente, quase sempre há uma vantagem compensadora, o que fortalece em muito a minha confiança no gênero humano.

autoria desconhecida

domingo, 22 de dezembro de 2013

A estranha sociedade dos cupins



O cupim é pequeno, delicado, as patas minúsculas são finas, bem como as curtas antenas da cabeça grande. O comprimento total atinge, no máximo, 2,5 cm, às vezes, menos de 5,5 cm. Alguns são claros, com a cabeça e as mandíbulas marrom-avermelhadas. Os cupins são também chamados térmitas, e os seus ninhos, termiteiros.

Individualmente, os cupins são animaizinhos frágeis. Não têm ferrões como as formigas. Além de terem o corpo indefeso, são fotófobos, ou seja, não suportam a luz... Por tudo isso, criaram aptidões especiais, como a de se organizarem em uma sociedade bastante evoluída e abrigá-la em habitações sólidas, antitérmicas, praticamente indestrutíveis. Os cupins estão espalhados pela África, Ásia, América e Austrália.

Como as abelhas e as formigas, os cupins são gregários. Organizam-se em uma sociedade de castas, com base na função que cada indivíduo desempenha. A função da rainha é exclusivamente procriar. A rainha dos cupins vive com o rei e põe, aproximadamente, 84 mil ovos por dia. Quando nascem, os cupins já se apresentam com a mesma forma do inseto adulto e o crescimento se dá por sucessivas trocas de pele. Existem quatro castas na sociedade dos cupins, que são: a rainha e o rei, os adultos de primeira forma, os soldados e os obreiros ou operários, que são formados por machos e fêmeas estéreis.

No início do verão, os casais jovens, sexuados, abandonam o antigo ninho para formar novas colônias. São chamados Aleluias. Despojam-se das asas e se acasalam. A fêmea é, então, a futura rainha. Dos ovos que porá, nascerão os obreiros que construirão o novo ninho, utilizando pedaços de madeira, folhas, fios de grama que ligados por uma mistura de excreções e saliva adquirem uma dureza excepcional.

autoria desconhecida

Mineirinho


O mineirinho entra em um boteco e vê anunciado acima do balcão:

Pinga....................... R$1,00

Pão de queijo................R$ 2,00

Sanduíche de galinha.........R$ 3,00

Acariciar órgão sexual.......R$ 10,00

Checando na carteira para não passar vergonha, ele vai até o balcão e chama
uma das três garotas, que estão servindo bebidas nas mesas:

-Por favor.

- Sim?! - responde ela com um sorriso lindo.

- Em que posso ajudar?

- É ocê que caricia órgo sexuar pros criente?

- Sou... - responde ela com uma voz bem sensual.

- Então, ocê lava as mão bem lavadim, que eu vô querê um pão de queijo!!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Aberto

   Edu Tedeschi/Zélia Duncan


Vou tentar
Manter o coração
Aberto pra você
Apesar dos outros
Apesar dos medos
Apesar dos monstros
Nos meus pesadelos
Vou tentar
Manter o coração
Aberto pra você
Apesar dos trincos
Apesar dos trancos
Apesar dos dias repetitivos, que serão tantos
Eu vou tentar
Manter o coração
Aberto pra você
Apesar da chuva
Apesar da rua
Apesar da hora
Apesar dos pesares
Das canções, dos lugares
Apesar dos meus pensamentos
Apesar dos perigos
Dos próximos momentos
Eu de coração aberto pra você,
De coração aberto pra você

Música gravada por Zélia Duncan em seu CD " Pelo Sabor do Gesto " de 2009.

Ambição

     Rita Lee


Eu saí pela estrada
E não tenho pra onde ir
Sempre ouvi dizer
Que esse mundo era pequeno
Pelo caminho de espinhos
Avistei um mar de rosas
Pra chegar até lá
Eu preciso um pouco mais de tempo
Preciso de um grande amor
Preciso dinheiro, preciso de humor

Eu quero matar a vontade
Enquanto tenho saúde e idade
Fazer um pouco de tudo
Manter a alma
Pra poder ganhar o meu mundo

Música gravada por Zélia Duncan em seu CD " Pelo Sabor do Gesto " de 2009.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Depois

   Arnaldo Antunes/Carlinhos Brown/Marisa Monte


Depois
De sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós

Depois
De tantos desenganos
Nós nos abandonamos
Como tantos casais

Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também

Depois
De varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão

Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar

Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também

Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar

Foi bom
Nós fizemos história
Pra ficar na memória
E nos acompanhar

Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também

Depois
De aceitarmos os fatos
De trocar seus retratos
Pelos de um outro alguém

Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém

Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois

Música do CD " O que você quer saber de verdade ", de Marisa Monte, gravado em 2011.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Sobre Moluscos e Homens

         Rubem Alves


Piaget, antes de se dedicar aos estudos da psicologia da aprendizagem, fazia pesquisas sobre os moluscos dos lagos da Suíça.

Os moluscos são animais fascinantes. Dotados de corpos moles, seriam petiscos deliciosos para os seres vorazes que habitam as profundezas das águas, e há muito teriam desaparecido se não fossem dotados de uma inteligência extraordinária. Sua inteligência se revela no artifício que inventaram para não se tornarem comida dos gulosos: constroem conchas duras e lindas (que os protegem da fome dos predadores)!

Ignoro detalhes da biografia de Piaget e não sei o que o levou a abandonar seu interesse pelos moluscos e a se voltar para a psicologia da aprendizagem dos humanos. Não sabendo, tive de imaginar. E foi imaginando que pensei que Piaget não mudou o seu foco de interesse. Continuou interessado nos moluscos. Só que passou a concentrar sua atenção num tipo de molusco, chamado " homem ".

Muito nos parecemos com eles: nós, homens, somos animados de corpo mole, indefesos, soltos numa natureza cheia de predadores. Comparados com os outros animais, nossos corpos são totalmente inadequados à luta pela vida. Vejam os animais: eles dispõem apenas do seu corpo para viver. E o seu corpo lhes basta. Seus corpos são ferramentas maravilhosas: cavam, voam, correm, orientam-se, disfarçam-se, comem, reproduzem-se. Nós, se abandonados apenas com o nosso corpo, teríamos vida muito curta.

A natureza nos pregou uma peça: deixou-nos, como herança, um corpo molengão e inadequado, que, sozinho, não é capaz de resolver os problemas vitais que temos de enfrentar. Mas, como diz o ditado, " é a necessidade que faz o sapo pular ". E digo: é a necessidade que faz o homem pensar. Da nossa fraqueza surgiu a nossa força, o pensamento. Parece-me, então, que Piaget, provocado pelos moluscos, conclui que o conhecimento é a concha que construímos a fim de sobreviver.

O pensamento, mais que um simples processo lógico, desenvolve-se em resposta a desafios vitais. Sem o desafio da vida o pensamento fica a dormir... O pensamento se desenvolve como ferramenta para construirmos as conchas que a natureza não nos deu.

O corpo aprende para viver. É isso que dá sentido ao conhecimento. O que se aprende são ferramentas, possibilidades de poder. O corpo não aprende por aprender. Aprender por aprender é estupidez. Somente os idiotas aprendem coisas para as quais eles não tem uso. É o desafio vital que excita o pensamento. E nisso o pensamento se parece com  o pênis. Não é por acidente que os escritos bíblicos dão ao ato sexual o nome de " conhecimento "...

Sem excitação, a inteligência permanece pendente, flácida, inútil, boba, impotente. Alguns há que, diante dessa inteligência flácida, rotulam o aluno de " burrinho "... Não, ele não é burrinho. Ele é inteligente. E sua inteligência se revela precisamente no ato de recusar-se a ficar excitada por algo que não é vital. Ao contrário, quando o objeto a excita, a inteligência se ergue, desejosa de penetrar no objeto que ela deseja possuir.

Os ditos " programas " escolares se baseiam no pressuposto de que os conhecimentos podem ser aprendidos numa ordem lógica predeterminada. Ou seja: ignoram que a aprendizagem só acontece em resposta aos desafios vitais no momento (insisto na expressão " no  momento "; a vida só acontece " no momento ") da vida do estudante. Isso explicaria o fracasso das nossas escolas. Explicaria também o sofrimento dos alunos, a sua justa recusa em aprender, a sua alegria ao saber que a professora ficou doente e vai faltar...

Não há pedagogia ou didática que seja capaz de dar vida a um conhecimento morto. Acontece, então, o esquecimento: o supostamente aprendido é esquecido. Não por memória fraca; é esquecido porque a memória é inteligente. A memória não carrega conhecimentos que não fazem sentido e não podem ser usados. Ela funciona como um escorredor de macarrão. Um escorredor de macarrão tem a função de deixar passar o inútil e guardar o útil e prazeroso. Se foi esquecido, não fazia sentido.

Por isso acho inúteis os exames oficiais (inclusive os vestibulares) feitos para avaliar a qualidade do ensino. Eles produzem resultados mentirosos por serem realizados no momento em que a água ainda não escorreu. Eles só diriam a verdade se fossem feitos muito tempo depois, depois do esquecimento haver feito o seu trabalho.

O aprendido é aquilo que fica depois que tudo foi esquecido... Vestibulares: tanto esforço, tanto sofrimento, tanto dinheiro, tanta violência à inteligência... O que sobra no escorredor de macarrão, depois de transcorridos dois meses? O que restou no seu escorredor de macarrão de tudo o que você teve de aprender? Duvido que os professores de cursinhos passem nos vestibulares. Duvido que um professor especialista em português saia bem em matemática, física, química e biologia... Eles também esqueceram. Duvido que os professores universitários passem nos vestibulares. Eu não passaria. Então, por que essa violência sobre os estudantes?

Ah! Piaget! Que fizeram com a sua sabedoria? É preciso que os educadores voltem a aprender com os moluscos...

domingo, 24 de novembro de 2013

Aniversário

   Álvaro de Campos/Fernando Pessoa


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera a sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem a acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humanidade no corredor do fim da casa,
Pondo gelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Como uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos de louça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado -,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Para, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça! 
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Canção no Rádio

     Joanna/Tony Baía/Tharcísio

Quando ouvir no rádio essa canção de amor
Não fale nada, escute os versos
Sinta, por favor
É uma canção feita pra você ouvir

Sem o seu carinho e amor, meu bem
Quero dizer que nessa vida
Eu não sou ninguém
Não posso esquecer, quero lembrar você

Quando vejo a nossa estrela
Espero o dia amanhecer
Tenho o seu perfume em minha boca
Saudade que aperta e que faz doer

Mar de água cristalina
Traga o meu amor assim
Feito luz do sol, que coisa linda
Brilho da manhã que nasceu em mim

Quando ouvir no rádio essa canção de amor
Preste atenção, tente entender
Me ouça, por favor
É uma canção feita pra você ouvir

Só o que eu quero é te fazer lembrar
E, em tudo que eu cantar, será por nosso amor
Leve essa canção
Seja aonde for

Música do então LP de Joanna gravado em 1985.