sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Eu, caçador de mim...

(O adolescente em busca de identidade)
             Vanessa Canabarro Dios
 
Para que eu possa falar sobre a construção da identidade no adolescente é necessário que se discuta o conceito de adolescência. A adolescência não é uma fase, ou apenas uma passagem da vida infantil para a adulta. Para nós a adolescência é um momento em si. Não é passagem, não é uma fase, pois vistas como tal deixam de merecer nossa atenção, pois são passageiras... A adolescência é comumente vista por diversos autores da área como um período de turbulência e de crise. Contrapondo-se a esta visão, baseamo-nos na teoria sistêmica que trabalha com família para afirmar, ao invés de trazer crise e turbulência, pode ser promotora de mudanças e transformações no meio familiar. É uma oportunidade de crescimento que pode ser vivenciada por toda a família para que se repensem valores, regras, relações, comunicações, etc.
 
Essa possibilidade de mudança liberta o adolescente de rótulos rígidos e de mudanças preestabelecidas: o adolescente pode apresentar diversos comportamentos que venham a caracterizar a sua adolescência.
 
Talvez o mais importante a ser realçado é que existem diversas adolescências, pois não se pode determinar características básicas da adolescência pelas quais todos os adolescentes deveriam passar. Da mesma forma, a adolescência não pode ser limitada por uma faixa cronológica. Neste sentido, estamos falando de adolescências e não mais de adolescência. Reconhece-se a pluralidade da adolescência e não a sua universalidade. A adolescência, portanto, é definida por aquele que a olha e pela realidade externa, social, por tudo aquilo que está ao redor. A depender de quem olha pensa-se em uma adolescência diferente. As definições de adolescência, neste sentido, não são certas ou erradas. Apenas exemplificam um olhar específico para um lado do fenômeno adolescência. Sempre haverá adolescentes para se encaixarem em nossas definições. Porém, é preciso deixar claro que as definições podem rotular, estigmatizar e limitar a visão que temos da pessoa adolescente.
 
Nenhum fenômeno da adolescência pode ser visto de maneira estanque. Todas as transformações merecem ser observadas dentro de sua complexidade. Da mesma forma a construção da identidade do adolescente só é possível quando avaliada dentro de um contexto maior: a família, a escola, o grupo de pares.
 
O adolescente busca sua identidade por meio de dois processos aparentemente antagônicos: pertencer e individualizar. O comportamento de se individualizar está intrinsecamente relacionado ao de pertencer e vice-versa. Para que haja individuação é necessário que o adolescente sinta-se pertencendo a alguma coisa. Portanto, para que haja independência e para que se construa uma identidade, é fundamental que o adolescente esteja pertencendo a um grupos relacional.
 
Outro fator importante é que, quando se fala em identidade, deve-se ter claro que não só o adolescente busca sua identidade, mas a própria família precisa buscar. É necessária uma definição da família de pais de crianças, para a família de pais de adolescentes, estruturando uma nova fase para a família e uma nova identidade. Desta forma, tanto o adolescente, quanto a família sofrem inúmeras transformações. A família também precisa buscar uma nova identidade. É necessário redefinir padrões de relacionamento: mudança de pais de crianças, para pais de adolescentes...

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Amanhecer

      Gilvan de Oliveira/Fernando Brant


O sol chegou
nem licença pediu
me acordou
com um tapa de luz

Porta não há
que me possa abrigar
tô no tempo
o tempo é meu lar

Hora de levantar
hora de se lavar
hora de despertar
para o dia

Hora de alimentar para poder brincar
nós temos de enfrentar
mais um dia.

do CD O Negócio é Amar, de Anna Lemgruber, gravado em 1998.                   
 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Último Discurso

                      Charles Chaplin

Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio... negros... brancos...

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... E tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios... Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis.

Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... Um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... Milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... Vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes.

Aos que podem me ouvir eu digo: " não desespereis "! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que produto da cobiça em agonia... Da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... Que vos escravizam... que arregimentam vossas vidas... Que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... Os que não se fazem amar e os inumanos! 

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem. Não de um só homem ou grupo de homens, mas de todos os homens! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... De fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... Um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais. Dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados! Em nome da democracia, unamo-nos!


 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dama do Cassino

        Caetano Veloso

Eu prometi e cumpri
Mil carinhos e muito respeito
Amor perfeito nos momentos bons
E nos momentos maus
Mas essa dama danada
Nunca encontra nada a seu jeito
Ela só busca as espadas, os ouros
As copas e os paus
Eu planejei sete luas de mel
Caravanas e tropas
Amor, paisagens, perfumes, vestidos
Receitas e roupas
Mas essa dona maldita sequer
Acredita em Europas
Ela só sonha com ouro, com paus
Com espadas, com copas
Diz-se que quem é feliz no amor
No jogo é infeliz
E de quem faz do amor
Um jogo o que é que se diz
Eu não sei jogar, ela é a rainha
Como poderei pensar que ela é minha?
Eu escrevi canções para caminhões
De guitarras e couros
Que se tornaram estouro em mais
De muitos carnavais
Mas pra essa diva jamais
O sambódromo, o autódromo e os touros
Ela só fica pensando em paus
Copas, espadas e ouros
Eu já fiquei como Erasmo
Sentado à margem das estradas
À espera de uma palavra na boca
Um gesto nas mãos
Mas essa deusa só diz nãos e
Nunca e necas nas Copas
Nos Paus, em Ouros e Espadas.

regravação feita por Jussara Silveira em seu CD de 1996.

A Balança



Quando menino eu vivia brigando com meus companheiros de brinquedos. E voltava para casa lamuriando e queixando-me deles. Isto ocorria, as mais das vezes, com Beto, o meu melhor amigo.

Um dia, quando corri para casa e procurei mamãe para me queixar do Beto, ela me ouviu e disse o seguinte:

- Vá buscar a sua balança e os blocos.

- Mas, o que tem isso a ver com o Beto?

- Você verá... Vamos fazer uma brincadeira.

Obedeci e trouxe a balança e os blocos. Então, ela disse:

- Primeiro, vamos colocar neste prato da balança um bloco para representar cada defeito do Beto. Conte-me quais são...

Fui relacionando-os e certo número de blocos foi empilhado daquele lado.

- Você não tem mais nada a dizer? 

Eu não tinha e ela propôs:

- Então você agora vai enumerar as qualidades dele. Cada uma delas será um bloco no outro prato da balança.

Eu hesitei, porém, ela me animou dizendo:

- Ele não deixa você andar na sua bicicleta? Não reparte o seu bolo com você?

Concordei e passei a mencionar o que havia de bom no caráter do meu amiguinho. Ela foi colocando os blocos do outro lado. De repente, eu percebi que a balança oscilava. Mas vieram outros e outros blocos a favor do Beto. Dei uma risada e mamãe observou:

- Você gosta do Beto e ficou alegre por verificar que as suas qualidades ultrapassam os seus defeitos. Isso sempre acontece, conforme você mesmo vai verificar ao longo da sua vida.

E de fato! Através dos anos aquele pequeno incidente de pesagem tem exercido importante influência sobre meus julgamentos. Antes de criticar uma pessoa, lembro-me daquela balança e comparo seus pontos bons e maus. E, felizmente, quase sempre há uma vantagem compensadora, o que fortalece em muito a minha confiança no gênero humano.

autoria desconhecida

domingo, 22 de dezembro de 2013

A estranha sociedade dos cupins



O cupim é pequeno, delicado, as patas minúsculas são finas, bem como as curtas antenas da cabeça grande. O comprimento total atinge, no máximo, 2,5 cm, às vezes, menos de 5,5 cm. Alguns são claros, com a cabeça e as mandíbulas marrom-avermelhadas. Os cupins são também chamados térmitas, e os seus ninhos, termiteiros.

Individualmente, os cupins são animaizinhos frágeis. Não têm ferrões como as formigas. Além de terem o corpo indefeso, são fotófobos, ou seja, não suportam a luz... Por tudo isso, criaram aptidões especiais, como a de se organizarem em uma sociedade bastante evoluída e abrigá-la em habitações sólidas, antitérmicas, praticamente indestrutíveis. Os cupins estão espalhados pela África, Ásia, América e Austrália.

Como as abelhas e as formigas, os cupins são gregários. Organizam-se em uma sociedade de castas, com base na função que cada indivíduo desempenha. A função da rainha é exclusivamente procriar. A rainha dos cupins vive com o rei e põe, aproximadamente, 84 mil ovos por dia. Quando nascem, os cupins já se apresentam com a mesma forma do inseto adulto e o crescimento se dá por sucessivas trocas de pele. Existem quatro castas na sociedade dos cupins, que são: a rainha e o rei, os adultos de primeira forma, os soldados e os obreiros ou operários, que são formados por machos e fêmeas estéreis.

No início do verão, os casais jovens, sexuados, abandonam o antigo ninho para formar novas colônias. São chamados Aleluias. Despojam-se das asas e se acasalam. A fêmea é, então, a futura rainha. Dos ovos que porá, nascerão os obreiros que construirão o novo ninho, utilizando pedaços de madeira, folhas, fios de grama que ligados por uma mistura de excreções e saliva adquirem uma dureza excepcional.

autoria desconhecida

Mineirinho


O mineirinho entra em um boteco e vê anunciado acima do balcão:

Pinga....................... R$1,00

Pão de queijo................R$ 2,00

Sanduíche de galinha.........R$ 3,00

Acariciar órgão sexual.......R$ 10,00

Checando na carteira para não passar vergonha, ele vai até o balcão e chama
uma das três garotas, que estão servindo bebidas nas mesas:

-Por favor.

- Sim?! - responde ela com um sorriso lindo.

- Em que posso ajudar?

- É ocê que caricia órgo sexuar pros criente?

- Sou... - responde ela com uma voz bem sensual.

- Então, ocê lava as mão bem lavadim, que eu vô querê um pão de queijo!!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Aberto

   Edu Tedeschi/Zélia Duncan


Vou tentar
Manter o coração
Aberto pra você
Apesar dos outros
Apesar dos medos
Apesar dos monstros
Nos meus pesadelos
Vou tentar
Manter o coração
Aberto pra você
Apesar dos trincos
Apesar dos trancos
Apesar dos dias repetitivos, que serão tantos
Eu vou tentar
Manter o coração
Aberto pra você
Apesar da chuva
Apesar da rua
Apesar da hora
Apesar dos pesares
Das canções, dos lugares
Apesar dos meus pensamentos
Apesar dos perigos
Dos próximos momentos
Eu de coração aberto pra você,
De coração aberto pra você

Música gravada por Zélia Duncan em seu CD " Pelo Sabor do Gesto " de 2009.

Ambição

     Rita Lee


Eu saí pela estrada
E não tenho pra onde ir
Sempre ouvi dizer
Que esse mundo era pequeno
Pelo caminho de espinhos
Avistei um mar de rosas
Pra chegar até lá
Eu preciso um pouco mais de tempo
Preciso de um grande amor
Preciso dinheiro, preciso de humor

Eu quero matar a vontade
Enquanto tenho saúde e idade
Fazer um pouco de tudo
Manter a alma
Pra poder ganhar o meu mundo

Música gravada por Zélia Duncan em seu CD " Pelo Sabor do Gesto " de 2009.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Depois

   Arnaldo Antunes/Carlinhos Brown/Marisa Monte


Depois
De sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós

Depois
De tantos desenganos
Nós nos abandonamos
Como tantos casais

Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também

Depois
De varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão

Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar

Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também

Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar

Foi bom
Nós fizemos história
Pra ficar na memória
E nos acompanhar

Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também

Depois
De aceitarmos os fatos
De trocar seus retratos
Pelos de um outro alguém

Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém

Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois

Música do CD " O que você quer saber de verdade ", de Marisa Monte, gravado em 2011.