quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Dois e dois: quatro

 Como dois e dois são quatro

sei que a vida vale a pena

embora o pão seja caro

e a liberdade pequena


Como teus olhos são claros

e a tua pele, morena


como é azul o oceano

e a lagoa, serena


como um tempo de alegria

por trás do terror me acena


e a noite carrega o dia

no seu colo de açucena


- sei que dois e dois são quatro

sei que a vida vale a pena


mesmo que o pão seja caro

e a liberdade, pequena


Poema de Ferreira Gullar retirado do livro Caminho da Poesia, da série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Desenho de Caminhão

 Lápis, papel, num minuto

ele fez seu avião,

fez um navio minúsculo,

fez também um caminhão.


O navio foi ao fundo,

caiu longe do avião.

O menino deu um pulo,

entrou no seu caminhão.


Quem tem um lápis tem tudo,

alegrias da invenção, 

tem à frente o vasto mundo,

estradas pro caminhão.


O menino já tem rumo,

tem caminhos, condução;

agora, vai num segundo

dar partida ao caminhão.


Poema de Antonieta Dias de Moraes retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

A lua no cinema

 A lua foi ao cinema,

passava um filme engraçado,

a história de uma estrela

que não tinha namorado.


Não tinha porque era apenas

uma estrela bem pequena,

dessas que, quando apagam,

ninguém vai dizer, que pena!


Era uma estrela sozinha,

ninguém olhava pra ela,

e toda a luz que ela tinha

cabia numa janela.


A lua ficou tão triste

com aquela história de amor,

que até hoje a lua insiste:

- Amanheça, por favor!


Poema de Paulo Leminski retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Meio-dia

 Meio-dia. Sol a pino.

Corre de manso o regato.

Na igreja repica o sino;

Cheiram as ervas do mato.


Na árvore canta a cigarra;

Há recreio nas escolas:

Tira-se, numa algazarra,

A merenda das sacolas.


O lavrador pousa a enxada

No chão, descansa um momento,

E enxuga a fronte suada,

Contemplando o firmamento.


Nas casas ferve a panela

Sobre o fogão, nas cozinhas;

A mulher chega à janela,

Atira milho às galinhas.


Meio-dia! O sol escalda,

E brilha, em toda a pureza,

Nos campos cor de esmeralda,

E no céu cor de turquesa...


E a voz do sino, ecoando

Longe, de atalho em atalho,

Vai pelos campos, cantando

A Vida, a Luz, o Trabalho!


Poema de Olavo Bilac retirado do livro Caminho de Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

domingo, 6 de novembro de 2022

Música Nova

 Eu te encontrei

E mais nada do que eu penso faz sentido agora

Eu já tô fora

De qualquer esquema

Já joguei fora

Antes de um dilema

Eu te escolhi pra andar comigo

Sempre te vi como meu amigo

Como meu amigo

Seu olho sempre me seguindo à noite

Eu do seu lado mal sabendo dessa história

O vento soprava o seu cabelo

Seu jeito derrama minha bebida

Que eu não vou embora

Sem você comigo

Eu te protejo de todo perigo

Eu amplifico todos os seus sonhos

Você me inspira a carregar nos ombros

A carregar nos ombros

Seu olho sempre me seguindo à noite

Eu do seu lado mal sabendo dessa história

Os dois correndo morro abaixo

Ladrões só que do mesmo lado

Eu não vou embora

Sem você comigo

Eu te protejo de todo perigo

Eu amplifico todos os seus sonhos

Você me inspira a carregar nos ombros

Minha vida agora é você

Minha vida agora é você

Minha vida agora é você


Música de Danni Carlos que abre e dá nome ao seu CD lançado em 2007 pela Gravadora Sony BMG.

sábado, 5 de novembro de 2022

Saúde Integral

    A sofisticação tecnológica da Medicina atual ainda permanece na insustentável tese de que o homem são as células que lhe constituem a organização somática.

    Negando, por sistema, a realidade do ser integral, - Espírito, perispírito e matéria - detém-se na conceituação ultrapassada, na qual o cérebro gera o pensamento, e a vida cessa quando se dá o fenômeno da anóxia, alguns minutos depois da parada cardíaca...

    Desde Hipócrates, passando por Aécio e Galeno, a visão dualista somente vem encontrando confirmação e respeito, não se podendo mais negar a interação espírito/matéria, mente/corpo, como termos da equação existencial.

    Em face dessa constatação, convenciona-se que a saúde é mais do que a ausência de doença no organismo, sendo um conjunto de fatores propiciatórios ao bem-estar psicológico, econômico e social.

    O paradigma da atualidade em torno da saúde leva o médico a examinar o paciente não mais como uma cobaia, ou alguém aflito de quem se deve libertar, mas como portador de muitos problemas que, não raro, a doença exterioriza, mascarando-os na gêneses profundas do estado patológico.

    Volve-se, desse modo, ao antigo sacerdócio médico, graças ao qual ele se torna amigo do paciente, seu confidente, seu companheiro, ajudando-o a drenar as emoções negativas recalcadas, a fim de dar campo à catarse libertadora das angústias e tormentos que sofre, para que então, nele se instale de volta a saúde.

    A saúde integral independe das drogas químicas e dos tratamentos cirúrgicos, não obstante esses sejam  ainda valiosos instrumentos para sua aquisição.

    É forçoso reconhecer-se que o ser atual é um somatório de experiências próximas e remotas. Tanto lhe constituem fatores degenerativos os conflitos próximos, da atual encarnação, quanto os transatos, das existências pretéritas.

    Examinado desse ponto de vista, compreender-se-á a gama larga de fatores predisponentes como preponderantes, para o estabelecimento da enfermidade ou da saúde.

    Cumpre que se conscientizem os indivíduos em geral, e os enfermos em particular, que cada criatura é o resultado das realizações morais, espirituais da sua mente, como já observavam os gregos antigos...

    A disposição para o otimismo ou para a autodestruição responderá pelos seus futuros comportamentos.

    Nesse sentido, o Evangelho de Jesus é um excelente tratado de psicoterapia, cuja aplicação resultará em bem-estar e harmonia.

    Toda mensagem de Jesus é vazada no conhecimento profundo do homem, considerando sua realidade transpessoal, na qual ressaltam o Espírito e sua condição de imortalidade.

    Lentamente, em face do volume das aflições que dominam as paisagens humanas, e das enfermidades psicossomáticas de difícil diagnose, que levam a estados lamentáveis, a criatura sente-se convidada à valorização da vida, à descoberta dos seus recursos éticos, à autoestima, ao autoaprimoramento.

    O amor, nesse cometimento, assume papel preponderante, em razão das energias que libera no sistema imunológico, fortalecendo-o, no sistema nervoso simpático e nos glóbulos brancos, fundamentais na luta pela preservação da saúde.

    A visualização mental otimista, gerando energias que combatam ou anulem a enfermidade, produz endorfinas que atenuam a dor, auxiliando as células à remissão da doença.

    Bombardeios mentais através da visualização, sobre tumores de origem cancerígena, logram alteração profunda no seu desenvolvimento, conseguindo mesmo eliminá-los. Todavia, se o sentimento de amor acompanha a descarga psíquica da vontade, estimulando as células saudáveis a se manterem em ritmo de equilíbrio enquanto as outras se consomem a vibração da força transformadora será mais potente e portadora de resultados eficientes.

    Nesse aspecto, o querer é imprescindível e o crer, essencial, em face da continuidade do fluxo mental, sem vacilações, suspeitas e receios que lhe interrompem essa continuidade.

    A harmonia mental que decorre da relaxação confiante produz, também, o benéfico estado alfa, quando o cérebro libera ondas do mesmo nome no ritmo de oito a doze ciclos por segundos, ensejando a restauração da saúde, quando se está enfermo, ou a preservação dela, quando se encontra saudável.

    Nesse campo, o autodescobrimento corajoso propicia a eliminação dos mecanismos do ego que levam à fuga da responsabilidade e do respeito por si mesmo, ensejando consciência de quem se é, do que se deve realizar e como se poderá fazê-lo.

    A visão junguiana de saúde é conclusiva, convidando a uma revisão de paradigmas na Medicina tradicional e na tecnologia médica atual redescobrindo os pacientes como pessoas necessitadas de amor, que se autopunem por ignorância e se autodestroem por desequilíbrio emocional, mediante pugnas íntimas incessantes...

    O amor que pertencia às áreas da Sociologia e da Filosofia, além das análises literárias, passa hoje a ser elemento fundamental para os conteúdos do comportamento e da conduta na preservação da sanidade.

    Mantendo-se, desse modo, a recomendação do Evangelho sobre o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo, na condição de experiência humana, mesmo que se instalem focos infecciosos no corpo ou se expressem distúrbios orgânicos de vária ordem, o paciente se torna terapeuta de si mesmo, auxiliando o médico e este àquele, a fim de que a meta essencial seja lograda - a alegria de viver saudavelmente.

    Pode-se, portanto, experimentar saúde integral, mesmo que algum órgão se encontre comprometido, sem que isso altere o ser em profundidade, consciente que o fenômeno biológico da morte somente encerra o ciclo carnal, jamais a vida.

    A visão médica, com paradigmas holísticos em torno da saúde e da doença, faculta a possibilidade de uma perfeita interação corpo/alma, em razão do controle da mente sobre a matéria.

    Uma organização fisiopsíquica sadia resulta da perfeita identificação entre o Espírito e o soma, como decorrência das reencarnações anteriores ou das conquistas atuais, preparando a existência em marcha para a plenitude.


Texto retirado do livro Momentos Enriquecedores; Divaldo Franco pelo Espírito Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador, 2ª Edição, 2015.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O Gato

 No alto do muro

pulando no escuro

miando no mato

entrando em apuro

é o gato, seguro.


De antigo passado

e jeito futuro

movimento puro

ar sofisticado

é o gato, de fato.


Só pode ser gato

esse bicho exato

acrobata nato

que só cai de quatro.


Poema de Marina Colasanti retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Global Editora, Volume 1, São Paulo, 2003.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Os Lírios

 Certa madrugada fria

irei de cabelos soltos

ver como crescem os lírios.


Quero saber como crescem

simples e belos - perfeitos! -

ao abandono dos campos.


Antes que o sol apareça,

neblina rompe neblina

com vestes brancas, irei.


Irei no maior sigilo

para que ninguém perceba

contendo a respiração.


Sobre a terra muito fria

dobrando meus frios joelhos

farei perguntas à terra.


Depois de ouvir-lhe o segredo

deitada por entre lírios

adormecerei tranquila.


Poema de Henriqueta Lisboa retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Volume 1, Global Editora, São Paulo, 2003.

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

O Bicho

 Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.


A triste e cruel representação do nosso momento atual...


Poema de Manuel Bandeira retirado do livro Caminho da Poesia, série Literatura em minha casa, Volume 1, Global Editora, São Paulo, 2003.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Canção de alta noite

 Alta noite, lua quieta,

muros frios, praia rasa.


Andar, andar, que um poeta

não necessita de casa.


Acaba-se a última porta.

O resto é o chão do abandono.


Um poeta, na noite morta, 

não necessita de sono.


Andar... Perder o seu passo

na noite, também perdida.


Um poeta, à mercê do espaço, 

nem necessita de vida.


Andar... - enquanto consente

Deus que seja a noite andada.


Porque o poeta, indiferente,

anda por andar - somente.

Não necessita de nada.


Poema de Cecília Meireles retirada do livro Caminho da Poesia, Volume 1, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.