terça-feira, 1 de novembro de 2022

Canção de alta noite

 Alta noite, lua quieta,

muros frios, praia rasa.


Andar, andar, que um poeta

não necessita de casa.


Acaba-se a última porta.

O resto é o chão do abandono.


Um poeta, na noite morta, 

não necessita de sono.


Andar... Perder o seu passo

na noite, também perdida.


Um poeta, à mercê do espaço, 

nem necessita de vida.


Andar... - enquanto consente

Deus que seja a noite andada.


Porque o poeta, indiferente,

anda por andar - somente.

Não necessita de nada.


Poema de Cecília Meireles retirada do livro Caminho da Poesia, Volume 1, série Literatura em minha casa, Global Editora, São Paulo, 2003.

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