Gosto muito de vocês,
muito mesmo,
mas não me peçam explicação,
pois não vai dar pra contar
o que vai morrer comigo,
o que já fechei no meu poço.
Vocês sabem como são
os segredinhos de amor...
Todo mundo tem os seus
e pobre de quem não tem...
Sei, de fato,
entre amigos há sempre um pacto,
um elo belo,
mas não vale tal fato
pros segredinhos de amor.
Não, não é medo do ridículo.
Nem é o meu segredo um conflito.
Pode até ser coisa infantil
e até meio boba,
mas segredo é segredo,
coisa guardada a medo
pra alegria e tortura
só da gente.
E em segredo é muito mais segredo
se for um segredinho de amor!
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).
Poema de Elias José retirado do livro Palavras de Encantamento, da série Literatura em minha casa - Volume 1 - Poesias, Editora Moderna, São Paulo, 2001.
Poema Todas as cartas de amor são ridículas, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, FTD Editora, São Paulo, 1992.
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