terça-feira, 29 de novembro de 2022

O Poeta da Roça

 Sou fio das mata, cantô da mão grossa,

Trabaio na roça, de inverno e de estio.

A minha chupana é tapada de barro,

Só fumo cigarro de páia de mio.


Sou poeta das brenha, não faço o papé

De argum menestré, ou errante cantô

Que veve vagando, com sua viola,

Cantando, pachola, à percura de amô.


Não tenho sabença, pois nunca estudei,

Apenas eu sei o meu nome assiná.

Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,

E o fio do pobre não pode estudá.


Meu verso rastêro, singelo e sem graça,

Não entra na praça, no rico salão,

Meu verso só entra no campo e na roça,

Nas pobre paioça, da serra ao sertão.


Só canto o buliço da vida apertada,

Da lida pesada, das roça e dos eito.

E às vêz, rescordando a feliz mocidade,

Canto uma sôdade que mora em meu peito.


Eu canto o cabôco com suas caçada,

Nas noite assombrada que tudo apavora,

Por dentro da mata, com tanta corage

Topando as visage chamada caipora.


Eu canto o vaquêro vestido de côro,

Brigando com o tôro no mato fechado,

Que pega na ponta do brabo novio,

Ganhando lugio do dono do gado.


Eu canto o mendigo de sujo farrapo,

Coberto de trapo e mochila na mão,

Que chora pedindo um socorro dos home,

E tomba de fome, sem casa e sem pão.


E assim, sem cobiça dos cofre luzente,

Eu vivo contente e feliz com a sorte,

Morando no campo, sem a cidade,

Cantando as verdade das coisa do Norte.


Poema de Patativa do Assaré retirado do livro Ofício de Poeta, série Literatura em minha casa, Volume 1 - Poesia; Editora Scipione, São Paulo, 2003.

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