terça-feira, 30 de outubro de 2012

Poemeto Erótico

              Manuel Bandeira

Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

E puro como nas fontes

A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...

A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

Irene no Céu

             Manuel Bandeira

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

domingo, 28 de outubro de 2012

O Mundo é um Moinho

                      Cartola

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Dio Come Ti Amo

              Domenico Modugno

Nel cielo passano le nuvole
Che vanno verso il mare
sembrano fazzoletti bianchi
che salutano il nostro amore

Dio, come ti amo
Non è possible
Avere fra le braccia
Tanta felicità
Baciere le tue labbra
Che odorano di vento
Noi due innamorati
Come nessuno al mondo
Me vien da piàngere
In tutta la mia vita
Non ho provato mai
Un vene cosi caro
 Un bene cosi vero
Che può fermare il fiume
Che corre verso il mare
Le rondini nel cielo
che vanno verso il sole
chi può cambiar l'amore
l'amore mio per te

Dio, come ti amo

Deus, Como Te Amo

No céu passam nuvens
que vão de encontro ao mar
lembram lenços brancos
que saúdam o nosso amor

Deus, como te amo
não é possível 
ter entre os braços
tanta felicidade
Beijar os teus lábios
com perfume de vento
nós dois apaixonados
como ninguém no mundo
Deus, como te amo
tenho vontade de chorar
em toda a minha vida 
nunca senti isso
Um sentimento tão precioso
um sentimento tão verdadeiro
quem pode parar um rio
que corre em direção ao mar
As andorinhas no céu
que vão de encontro ao sol
quem pode mudar o amor
o meu amor por ti 

 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Canción de las Simples Cosas

         Armando Tejada Gómez/César Isella

Uno se despide insensiblemente de pequeñas cosas
Lo mismo que un árbol en tiempo de otoño se queda sin hojas
Al fin la tristeza es la muerte de las simples cosas
Esas cosas simples que quedan doliendo en el corazón

Uno vuelve siempre a los viejos sitios donde amó la vida
Y entonces comprende como están de ausentes las cosas queridas
Por eso, muchacho, no partas ahora, soñando el regreso
Que el amor es simple, y a las cosas simples las devora el tiempo

Demórate aquí, en la luz mayor de este mediodía
Donde encontrarás con el pan al sol la mesa tendida
Por eso, muchacho, no partas ahora, soñando el regreso
Que el amor es simple, y a las cosas simples las depura el tiempo

do CD " Idílio " de Marina De La Riva, lançado em 2012.

Como Duele Perderte

                          Flores

Como duele el día nublado
Como el tiempo es tan pesado
Porque a diario pienso en ti
Que bien grita el silencio
Que bien duelen los recuerdos
Porque todo habla de ti

Que delicia tu sensualidad
Que locura cuando te sentía muy de cerca
Y ahora que estás lejos hasta el universo ha muerto

Que pequeño se hace el cielo
Que humillante es el deseo
Porque ya no estás aqui

Que sincero se hace el frío
Como hiel mi sufrimiento
Ya no se lo que es vivir

Que delicia tu sensualidad...

Como fue que tu dejarte de querer
Y olvidaste del ayer
De nuestras miradas de nuestra piel
No te duele así perder
Lo que fue perfecto y acordado fiel

Lo que me queda por decir
Es como duele perderte

do CD " Idílio " de Marina De La Riva lançado em 2012.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

L'Aurora

          Eros Ramazzotti/Adelio Cogliati/Nacho Maño

Io non so se mai si avvererà

Uno di quei sogni che uno fa
Come questo che
Non riesco a togliere dal cuore
Da quando c'è...

Forse anche questo resterà
Uno di quei sogni che uno fa
Anche questo che
Sto metendo dentro a una canzone
Ma già c'è intanto che c'è
Continuerò a sognare ancora un po'...

Sarà, sarà l'aurora
Per me sarà cosi come uscire fuori
Come respirare una'aria nuova
Sempre di più
E tu, e tu amore
Vedrai che presto tornerai
Dove adesso non ci sei

Forse un giorno tutto cambierà
Più sereno intorno si vedrà
Voglio dire che
Forse andranno a posto tante cose
Ecco perché
Ecco perché continuerò
A sognare ancora un po'
Uno dei sogni miei...

Quello che c'è in fondo al
Cuore non muore mai
Se ci hai creduto una volta
Lo rifarai
Se ci hai creduto davvero
Come ci ho creduto io...

Sarà sarà l'aurora
Per me sarà cosi


Eu não sei se jamais se realizará

Um desses sonhos que a gente tem
Como este que
Não consigo arrancar do coração
E então...

Talvez também este ficará
Como um desses sonhos que a gente tem
Também este que
Estou colocando numa canção
Mas já que o tenho, enquanto o tiver
Continuarei a sonhar ainda um pouco

Será, será a aurora
Para mim será assim: como libertar-se
Como respirar novos ares
E sempre mais, ainda mais
E você, você, meu amor
Vai ver que logo voltará
Para onde agora não estás

Um dia, talvez, tudo mudará
E a paz há de chegar
Quero dizer que
Tantas coisas irão para o seu lugar
É por isso
Que eu continuarei
A sonhar ainda
Um dos meus sonhos

Aquilo que mora no fundo do
Coração não morre jamais
Se uma vez você acreditou
Vai acreditar de novo
Se uma vez você acreditou de verdade,
Como eu acreditei

Será, será a aurora
Para mim será assim.

do CD Passione, gravado por Zizi Possi em 1998. 

Per Amore

             Mariella Nava

Io conosco la tua strada
ogni passo che farai
le tue ansie chiuse e i vuoti
sassi che allontanerai
senza mai pensare che
come roccia io ritorno in te...
Io conosco i tuoi respiri
tutto quello che non vuoi
lo sai bene che non vivi
riconoscerlo non puoi
e sarebbe come se
questo cielo in fiamme
ricadesse in me
come scena su un attore...

Per amore
hai mai fatto niente
solo per amore
hai sfidato il vento e urlato mai
diviso cuore stesso
pagato e riscommesso
dietro questa mania
che resta solo mia

Per amore
hai mai corso senza fiato
per amore perso e ricominciato
e devi dirlo adesso
quanto di te ci hai messo
quanto hai creduto tu in questa bugia
e sarebbe come se questo fiume in piena
risalisse a me
come china al suo pittore

Per amore
hai mai speso tutto quanto la ragione
il tuo orgoglio fino al pianto
lo sai stasera resto
non ho nessun pretesto
soltanto una mania
che è ancora forte e mia
dentro quest'anima che strappi via
e te lo dico adesso, sincero con me stesso
quanto mi costa non saperti mia
e sarebbe come se tutto questo mare
annegasse in me...

Eu conheço tua estrada
cada passo que darás
teus desejos calados, teus vazios
pedras que afastarás
sem jamais pensar que eu
como uma rocha
volto sempre pra você
eu conheço a tua respiração
tudo o que você não quer
você sabe bem que o que você está vivendo
não é vida, mas não quer reconhecer
só se o céu, este céu, em chamas
desabasse sobre mim
como um cenário caindo sobre um ator

Por amor
você já fez alguma coisa
apenas por amor?
já desafiou o vento e gritou?
já dividiu o próprio coração?
já pagou e apostou várias vezes
nessa mania
que afinal segue sendo só minha

Por amor
você já correu até ficar sem fôlego?
por amor, já se perdeu e se reencontrou?
e tem de me dizer agora
quanto de você colocou nesta história
o quanto acreditou nesta mentira
só se um rio se levantasse dentro de mim
como uma enchente
como o nanquim da pena de um pintor

Por amor
você já esgotou sua razão?
teu orgulho até o pranto?
você sabe, esta noite eu fico
mesmo sem nenhum pretexto
apenas essa mania
que ainda é forte e minha
dentro desta alma que você dilacera
e eu te digo agora, com sinceridade
quanto me custa não te saber meu
é como se esse mar todo
se afogasse em mim

do CD " Per Amore ", de Zizi Possi, gravado em 1997. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mãe Mercedes


Ana Luiza

                  Tom Jobim

Supõe Ana Luiza se a guarda cochila
Eu posso penetrar no castelo
E galgar a muralha de onde se divisa
O vale, os prados, os matos, os montes, as flores, as fontes
Luiza
Ana Luiza
Eu fiz esta canção pra você
Que pergunta
Precisa saber
Onde anda Luiza
Luiza, Luiza, Luiza
Por que me negas tanto assim a primavera?
Se sabes que a última quimera
Existe no mundo de Ana Luiza
Primavera, Ana Luiza
Teus olhos
Em que lago, em que serra, em que mar se oculta?
Escuta, Luiza
Na brisa uma canção fala em você
E pergunta
Insiste em saber onde anda Luiza
Luiza, Luiza, Luiza, Luiza
Eu te ama tanto
Quem há de resistir a todo encanto
Que existe, assiste, em Ana Luiza

Música do CD Carol Saboya & Nelson Faria interpretam Antônio Carlos Jobim, lançado em 1999.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Um Desejo E Dois Irmãos

                Marina Colasanti

Dois príncipes, um louro, e um moreno. Irmãos, mas os olhos de um azuis, e os do outro verdes. E tão diferentes nos gostos e nos sorrisos, que ninguém os diria filhos do mesmo pai, rei que igualmente os amava.

Uma coisa porém tinham em comum: cada um deles queria ser o outro. Nos jogos, nas poses, diante do espelho, tudo o que um queria era aquilo que o outro tinha. E de alma sempre cravada nesse desejo insatisfeito, esqueciam-se de olhar para si, de serem felizes.

Sofria o pai com o sofrimento dos filhos. Querendo ajudá-los, pensou um dia que melhor seria dividir o reino, para que não viessem a lutar depois da sua morte. De tudo o que tinha, deu o céu para seu filho louro, que governasse junto ao sol brilhante como seus cabelos. E entregou-lhe pelas rédeas um cavalo alado. Ao moreno coube o verde mar, reflexo dos seus olhos. E um cavalo marinho.

O primeiro filho montou na garupa lisa, entre as asas brancas. O segundo filho firmou-se nas costas ásperas do hipocampo. A cada um, seu reino. Mas  as pernas que roçavam em plumas esporearam o cavalo para baixo, em direção às cristas das ondas. E os joelhos que apertavam os flancos molhados ordenaram que subisse, junto à tona.

Do ar, o príncipe das nuvens olhou através do seu reflexo, procurando a figura do irmão nas profundezas.

Da água, o jovem senhor das vagas quebrou com seu olhar a lâmina da superfície procurando a silhueta do irmão.

O de cima sentiu calor, e desejou ter o  mar para si, certo de que nada o faria mais feliz do que mergulhar no seu frescor.

O de baixo sentiu frio, e quis possuir o céu, certo de que nada o faria mais feliz do que voar na sua mornança.

Então emergiu o focinho do cavalo marinho e molharam-se as patas do cavalo alado. Soprando entre as mãos em concha os dois irmãos lançaram seu desafio. Alinhariam os cavalos na beira da areia e partiriam para a  linha do horizonte. Quem chegasse primeiro ficaria com o reino do outro.

- A corrida será longa, - pensou o primeiro. E fez uma carruagem de nuvens que atrelou ao seu cavalo.

- Demoraremos a chegar, - pensou o segundo. E prendeu com algas uma carruagem de espumas nas costas do hipocampo.

Partiram juntos. Silêncio na água. No ar, relinchos e voltear de plumas. Longe, a linha de chegada dividindo os reinos.

Os raios do sol passavam pela carruagem de nuvens e desciam até a carruagem de espumas. Durante todo o dia acompanharam a corrida. Depois brilhou a lua, a leve sombra de um cobriu o outro de noite mais profunda. E quando o sol outra vez trouxe sua luz, surpreendeu-se de ver o cavalo alado exatamente acima do cavalo marinho. Tão acima como se, desde a partida, não tivessem saído do lugar.

Galopava o tempo, veloz como os irmãos. Mas a linha do horizonte continuava igualmente distante. O sol chegava até ela. A lua chegava até ela. Até os albatrozes pareciam alcançá-la no seu voo. Só os dois irmãos não conseguiam se aproximar.

De tanto correr já se esgarçavam as nuvens da carruagem alada, e a espuma da carruagem marinha desfazia-se em ondas. Mas os dois irmãos não desistiam, porque nessa segunda coisa também eram iguais, no desejo de vencer.

Até que a linha do horizonte teve pena. E devagar, sem deixar-se perceber, foi chegando perto.

A linha chegou perto. E chegou perto.

Baixou seu voo o cavalo alado, quase tocando o reflexo. Aflorou o cavalo marinho entre marolas. As plumas, espumas se tocaram. Céu e mar cada vez mais próximos confundiram seus azuis, igualaram suas transparências. E as asas brancas do cavalo alado, pesadas de sal, entregaram-se à água, a crina branca roçando já o pescoço do hipocampo. Desfez-se a carruagem de nuvens na crista da última onda. Onda que inchou, rolou, envolvendo os irmãos num mesmo abraço, jogando um corpo contra o outro, juntando para sempre aquilo que era tão separado.

Desliza a onda sobre a areia, depositando o vencedor. Na branca praia do horizonte, onde tudo se encontra, avança agora um único príncipe, dono do céu e do mar. De olhos e cabelos castanhos, feliz enfim.

Extraído do livro " Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento ".

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Usted

                   Gabriel Ruiz/Monis Zorrilla

Usted es la culpable
De todas mis angustias y todos mis quebrantos
Usted lleno mi vida
De dulces inquietudes y amargos desencantos

Su amor es como un grito
Que llevo aquí en mi alma y aquí en mi corazón
Y soy aunque no quiera
Esclavo de sus ojos, juguete de su amor

No juegue con mis penas, ni con mis sentimientos
Que es lo único que tengo
Usted es mi esperanza, mi última esperanza
Comprenda de una vez

Usted me desespera
Me mata, me enloquece
Y hasta la vida diera por vencer el miedo
De besarla a usted

Música do CD " Romance " de Luis Miguel lançado em 1992.

La Barca

                    Roberto Cantoral

Dicen que la distancia es el olvido
Pero yo no concibo esa razón
Porque yo seguire siendo el cautivo
De los caprichos de tu corazón

Supiste esclarecer mis pensamientos
Me diste la verdad que yo soñe
Ahuyentaste de mi los sufrimientos
En la primera noche que te amé

Hoy mi playa se viste de amargura
Porque tu barca tiene que partir
A cruzar otros mares de locura
Cuida que no naufrague en tu vivir

Cuando la luz del sol se este apagando
Y te sientas cansada de vagar
Piensa que yo por ti estare esperando
Hasta que tu decidas regresar

Música do CD " Romance " de Luis Miguel lançado em 1992.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Desafio Aos Educadores

                      Neidson Rodrigues

O filósofo alemão Friedrich Nietzche tece uma crítica radical à civilização ocidental, dizendo que ela educa os homens para desenvolverem apenas o  instinto de tartaruga. O que isso quer dizer? A tartaruga é o animal que, diante do perigo, da surpresa, recolhe a cabeça ao seu casco. Anula, assim, todos os seus sentidos e esconde os membros, tentando proteger-se do desconhecido. Este é o instinto da tartaruga: defender-se, fechar-se ao mundo, recolher-se a si mesma, e, em consequência, nada ver, nada sentir, nada ouvir, nada ameaçar.

Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos educacionais e políticas de educação desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos anos. Especificamente, no Brasil tem-se educado os homens para que aprendam a se defender das ameaças externas, sendo apenas reativos. Ensina-se o espírito da covardia e do medo.

Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o  instinto da águia. A águia é o animal que voa acima das montanhas, que desenvolve seus sentidos e habilidades, que aguça os ouvidos, olhos e competências para ultrapassar os perigos, alçando voo acima deles. É capaz de afiar as suas garras e atacar o inimigo no momento que julgar mais oportuno.

As nossas escolas têm procurado fazer com que nossas crinaças recolham-se a si e percam o instinto próprio do homem de coragem, capaz de vencer o perigo que se lhe apresenta.

Temos criado neste país, uma geração tartaruga, uma geração medrosa, recolhida. Estamos todos impregnados por esse espírito de tartaruga. Não temos coragem para contestar nossos dirigentes, para opor às suas propostas e criar soluções alternativas. Agimos apenas de maneira reativa, negativa, covarde.

Temos ensinado às nossas crianças que os nossos instintos são pecaminosos. A parte mais rica do indivíduo, que é sua capacidade de amar e odiar, sua capacidade de se relacionar de maneira crítica com o mundo, tem sido desprezada. Temos ensinado ao homem a ser obediente, servil, incompetente, e a depositar todas as suas esperanças num poder maior que independe da sua vontade.

Quando ensinamos aos nossos alunos que eles não precisam se esconder diante das ameaças, porque todos têm capacidade de alçar voo às alturas, ultrapassando as nuvens carregadas de tempestades e perigo? Temos ensinado as nossas crianças a se  arrastar, a calar, tornando-se incapazes de reagir se lhes pisam a cabeça.

O que desejamos, afinal, desenvolver em nós mesmos e nas futuras gerações? O instinto da tartaruga ou o espírito das águias?

O professor está sempre errado


Quando...
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um coitado.
Tem automóvel, chora de " barriga cheia ".
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.

Não falta ao colégio, é um " Caxias ".
Precisa faltar, é um " turista ".
Conversa com os outros professores, está " malhando " os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó dos alunos.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.

Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.

Escreve muito, não se explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a " língua " do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.

O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, " deu mole ".

É, o professor está sempre erradp.
Mas se você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!

autoria desconhecida

Eu ensinei a todos eles


Lecionei no ginásio durante dez anos. No decorrer desse tempo, dei tarefas a, entre outros, um assassino, um pugilista, um evangelista, um ladrão e um imbecil.

O assassino era um menino tranquilo que se sentava no banco da frente e me olhava com seus olhos azuis; o evangelista, de longe o menino mais popular da escola, liderava as brincadeiras dos jovens; o pugilista ficava perto da janela e, de vez em quando, soltava um risada rouca que espantava até os gerânios; o ladrão era um sujeito alegre com uma canção nos lábios, e o imbecil, um animalzinho de olhos mansos que procurava as sombras.

O assassino espera a morte na penitenciária do Estado; o evangelista há um ano jaz sepultado no cemitério da aldeia; o pugilista perdeu um olho numa briga em Hong Kong; o ladrão, se ficar na ponta dos pés, pode ver minha casa da janela da cadeia municipal; e o pequeno imbecil de olhos mansos de outrora bate a cabeça contra a parede acolchoada do asilo estadual.

Todos esses alunos, outrora, sentaram-se em minha sala e me olharam gravemente por cima das mesas marrons. Eu devo ter sido muito útil para esses alunos - ensinei-lhes o plano rítmico do soneto elisabetano e como diagramar uma sentença completa.

autoria desconhecida
(retirado de PULLIAS Earl V. & YOUNG, James D. A Arte do Magistério. Zahar Editores) 

A volta de um personagem do século XVI ao Brasil


Em pleno século XX, o Sr. Teixeira, um grande professor brasileiro do século XVI, voltou à Terra e chegando à sua cidade ficou abismado com o que viu: as casas altíssimas e cheias de janelas; as ruas eram pretas e passavam umas sobre as outras com uma infinidade de máquinas andando em alta velocidade; o povo falava muitas palavras que o professor Teixeira não conhecia (poluição, telefone, avião, rádio, metrô, cinema, televisão); os cabelos do povo pareciam com o tempo das cavernas... e as roupas deixavam o professor ruborizado.

Muito surpreso e preocupado com a mudança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Resolveu então visitar a Igreja, mas que susto levou! O padre rezava a missa em português e de costas para o altar, o órgão estava parado e um grupo de cabeludos tocava nas guitarras uma música estranha ao invés do canto gregoriano. O desespero do professor aumentava, mas ainda resolveu visitar algumas famílias. Mas... o que significava aquilo? Depois do jantar todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor Teixeira ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos. Ninguém falava uma palavra diante do aparelho.

Tudo havia mudado completamente e o Sr. Teixeira desanimava cada vez mais até que resolveu visitar uma escola. Foi uma ideia sensacional porque quando lá chegou sentiu a paz e  a tranquilidade que procurava. Tudo continuava da mesma forma como ele havia deixdo: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando...

Extraído do Jornal " Comunicação e Expressão " (sem autoria ou data).

Lourdes


Atenciosa
Carinhosa
Tranquila
Solidária

Calma
Vagarosa
Amorosa
Sorridente

Discreta
Religiosa
Fervorosa

Simples
Resignada
Misteriosa

Minha homenagem à Tia Lourdes, que no dia de hoje recuperou minhas forças através do seu olhar carinhoso e sua forte presença... Obrigado

Daniel na Cova dos Leões

                            Renato Russo/Renato Rocha

Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo:
De amargo e então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
E forte e cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão:
Teu corpo é o meu espelho e em ti navego
E sei que tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz, quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos.

Música do CD " Dois " da Legião Urbana lançado em 1986. Homenagem a um Daniel que me fez um gesto muito carinhoso no dia de hoje... Obrigado!!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Eternas Ligações

                 Augusto César/Paulo Sérgio Valle

 Dói demais pensar que terminou
Que você não me quer mais
Que a saudade é tudo que ficou
Ah, como eu sou frágil sem você
O que foi que eu fiz de mim
Que loucura alguém amar assim
Dói demais dormir com a solidão
E acordar de madrugada
Tão distante do teu coração
Fica esse desejo de voltar
Como o vai e vem do mar
Procurando terra pra chegar
Pelo menos diga que sofreu
Que ficou como eu estou
Diz que ainda não me esqueceu
Estou me agarrando na ilusão
Sem saber o que é que eu faço
Pra tirar você do coração
É difícil separar
O que a vida quer juntar
Diz o que é que eu faço pra não te perder
São carinhos e paixões
São eternas ligações
O meu coração ainda quer você
Pode ser um erro amar assim
Mas você ficou em mim
Essa vida é nada sem você

música do CD " Alma, Coração E Vida " de Joanna, lançado em 1993.

Logo Agora

                     Michael Sullivan/Paulo Massadas

 Logo agora
Quando mais preciso você vai embora
Eu que tanto acreditei
E logo agora
Você chega e pede para eu te esquecer
Logo agora
Você pede um grande amor e joga fora
Pra seguir o teu caminho mundo afora
Procurando o que não sabe oferecer

É loucura
Você vai desperdiçar a tua vida
Você vai despedaçar a minha vida
Com certeza você não sabe o que diz

É loucura
Ninguém muda tanto assim tão de repente
Quero ver você dizer na minha frente
Que sem mim você consegue ser feliz
O futuro há de ser o teu juiz

Vai me abandonar
Vai falar de mim
Mas jamais vai me esquecer tão fácil assim
Vai me abandonar
Vai falar de mim
Mas jamais vai aceitar que chegue ao fim

música do CD " Alma, Coração E Vida " de Joanna, lançado em 1993.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Desde que te perdi

                Kevin Johansen - versão: Moska

Desde que te perdi
Estão se apaixoando todos por mim
E até alguns já querem me convencer
Que com eles eu posso ser feliz

Desde que te perdi
As portas vêm se abrindo de par em par
Me abrem até a Porta de Alcalá
E eu aproveito para experimentar

Desde que te perdi
Minha alma foi libertada
Desde que te perdi
Não me importa nada de nada

Desde que te perdi
A vida me sorri com felicidade
Tenho trabalho e muita estabilidade
E agora frequento a alta sociedade

Nas festinhas do apê
Os príncipes me sorriem de quando em vez
Alguns me dizem num lindo português
Que estou na capa da Playboy do mês

Desde que te perdi
Faço o que quero animada
Desde que te perdi
Não tenho vontade de nada

Desde que te perdi
Tomamos uns chopinhos por aí
Percebo que não és o mesmo sem mim
Tua vida agora também está mais feliz

Desde que te perdi, desde que me perdeste
Desde que me perdi, desde que te perdeste

música do CD Outonos de Regina Souza, lançado em 2009.

Você Em Minha Vida

                        Roberto/Erasmo

Você foi a melhor coisa que eu tive
Mas o pior também em minha vida
Você foi o amanhecer cheio de luz e de calor
Em compensação o anoitecer, a tempestade, a dor
Você foi o meu sorriso de chegada
E a minha lágrima de adeus

Aquele grande amor que nós tivemos
E todas as loucuras que fizemos
Foi o sonho mais bonito que um dia alguém sonhou
E a realidade triste quando tudo se acabou
Você foi o meu sorriso de chegada, tudo e nada
E adeus

Você me mostrou o amanhecer de um lindo dia
Me fez feliz, me fez viver
Num mundo cheio de amor e de alegria
E me deixou no anoitecer

E agora, todas as coisas do passado
Não passam de recordações presentes
De momentos que, por muito tempo
Ainda vão estar
Na alegria ou na tristeza
Toda vez que eu me lembrar
Que você foi meu sorriso de chegada
E a minha lágrima de adeus

regravação belíssima de Leila Pinheiro em seu CD " Mais Coisas do Brasil " de 2001.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Outra Vez

                       Isolda

Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado
E o mais simples pra mim
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar
De tudo outra vez

Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria
Que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra Vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes
Eu tenha a vontade sem nada perder

Você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra Vez

Sou Eu

                       Isolda/Eduardo Dusek

Pedi pro sol me responder o que é o amor
Ele me falou é um grande fogo
Procurei nos búzios e tornei a perguntar
Eles me disseram o amor é um jogo
Lembrei que a Lua tinha muito pra contar
Ela se abriu pra mim
Disse que o amor usa tantas fases
É uma luz que não tem fim

Eu pedi pro vento que soprasse o que é o amor
Ele garantiu é tempestade
Bandos de estrelas me contaram sem piscar
O amor é pura eternidade
Sem saber direito perguntei pro coração
Que sem medo respondeu
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente o amor, sou eu

Sou eu quem gera essa energia que conduz
Seu coração a essa estrada essa luz
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente o amor sou eu

Sou eu quem salva o teu caminho da ilusão
Eu que te consagro repetiu o coração
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente o amor sou eu

música que dá título ao CD de 1993 da cantora Simone.

domingo, 7 de outubro de 2012

Zizi Possi

                   Mauro Ferreira  

 " O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece ", já  disse o mestre Caetano Veloso nas vozes de Gal Costa e Roberto Carlos. A voz laminada de Maria Izildinha Possi - Zizi, para o público brasileiro - tem atravessado o tempo sem perder o brilho. Paulista nascida artisticamente em Salvador (Bahia), onde aos 19 anos começou sua caminhada artística cantando músicas da dupla Roberto e Erasmo Carlos, Zizi chamou a atenção do público pela primeira vez com sua dilacerante interpretação de " Pedaço de Mim ". Nascia nacionalmente uma estrela em meio à constelação revelada no final dos anos 70. Muitas caíram como meteoritos e Zizi ficou. E, se ela permaneceu, não foi apenas pela afinação de sua voz platinada de soprano. Sempre antenada com os bons compositores da MPB, Zizi mostrou logo nos seus primeiros trabalhos que olhava o futuro sem esquecer do passado. Coerente, sempre reservou espaços nos seus discos para atualizações de clássicos como " Nunca ". Ao mesmo tempo, deu sua leitura quase instantânea para as saudáveis novidades das paradas, gravando pérolas como " Meu Bem Querer " e " Como Uma Onda ", logo após seus lançamentos. E assim se passaram dez anos. Na sua década de PolyGram, Zizi soube renovar seu trabalho sem deteriorá-lo. A cantora que, em 1989, recriou em ritmo de bossa nova a balada jazzística " You've changed " (" Quem Diria ", na versão de Nelson Motta) é tão íntegra quanto a (quase) novata intérprete que, em 1980, frequentou as paradas radiofônicas com a virtuosa interpretação da bela " Meu Amigo, Meu Herói ". O autor da composição, Gilberto Gil, seria, aliás, parcialmente responsável pela volta de Zizi ao play-list das rádios, em 1987, ano em que a voz macia da cantora cantou " A Paz " com sucesso nacional

Sucesso, porém, nunca foi encarado como meta por Zizi e, sim, como consequência do trabalho bem-feito. E da vontade de experimentar. Primeira intérprete a gravar músicas de Eduardo Dusek (registrou " Ave " no seu primeiro disco), Zizi viajou no lirismo romântico de " Eu Velejava Em Você ", jóia do então promissor Dusek. Três anos mais tarde, gravaria a refinada " Luíza " - obra-prima de Tom Jobim - em  homenagem à filha do mesmo nome, na época recém-nascida.

Famosa como cantora, Zizi tem também um menos conhecido lado dramático, exercitado por ela nos tempos em que cantava nos bailes da vida de Salvador (participou como atriz, cantora, compositora e pianista do musical " Marilyn Miranda " - trampolim para o seu reconhecimento artístico no Sul do País). Irmã do conceituado diretor teatral José Possi Neto, essa paulistana do Brás, nascida em março de 1956, brilhou também ao desvendar os véus melódicos e poéticos de " O Circo Místico ", tema da obra homônima, idealizada pela dupla Chico Buarque e Edu Lobo.

Dentro dessa diversidade de repertório (seus discos nunca foram dominados por um determinado estilo de compositor), Zizi construiu uma discografia rica, que soma dez discos gravados na PolyGram. Ela soube ser pop sem ser banal e, mais que do que isso, soube dar uma virada posterior em direção a um estilo mais cool, denso e contido - a tônica de seus últimos trabalhos. Como o tempo descrito por Caetano Veloso, o trabalho de Zizi Possi não para e nunca envelhece. É que ele é o reflexo da alma de uma artista que tem, acima de tudo, personalidade. 

Algumas observações para contextualizar o que foi escrito!
Este texto foi escrito por Mauro Ferreira para a contracapa de uma das primeiras coletâneas da carreira de Zizi Possi intitulada " Personalidade ",  lançada em 1991, tanto é que o autor faz um trocadilho ao finalizar suas palavras. 

Corrigindo e atualizando: a música " Ave " de Eduardo Dusek foi gravada no segundo disco dela, e não no primeiro como ficou registrado. A gravadora "PolyGram" hoje é a  "Universal Music".

DISCOGRAFIA: 

1978 - Flor do Mal
1979- Pedaço de Mim
1980- Zizi Possi
1981- Um Minuto Além
1982- Asa Morena
1983- Pra Sempre e Mais Um Dia
1984- Dê Um Rolê
1986- Zizi
1987- Amor & Música
1989- Estrebucha Baby
1991- Sobre Todas as Coisas
1993- Valsa Brasileira
1996- Mais Simples
1997- Per Amore
1998- Passione
1999- Puro Prazer 
2001- Bossa
2005- Pra Inglês Ver... e Ouvir