segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Eu ensinei a todos eles


Lecionei no ginásio durante dez anos. No decorrer desse tempo, dei tarefas a, entre outros, um assassino, um pugilista, um evangelista, um ladrão e um imbecil.

O assassino era um menino tranquilo que se sentava no banco da frente e me olhava com seus olhos azuis; o evangelista, de longe o menino mais popular da escola, liderava as brincadeiras dos jovens; o pugilista ficava perto da janela e, de vez em quando, soltava um risada rouca que espantava até os gerânios; o ladrão era um sujeito alegre com uma canção nos lábios, e o imbecil, um animalzinho de olhos mansos que procurava as sombras.

O assassino espera a morte na penitenciária do Estado; o evangelista há um ano jaz sepultado no cemitério da aldeia; o pugilista perdeu um olho numa briga em Hong Kong; o ladrão, se ficar na ponta dos pés, pode ver minha casa da janela da cadeia municipal; e o pequeno imbecil de olhos mansos de outrora bate a cabeça contra a parede acolchoada do asilo estadual.

Todos esses alunos, outrora, sentaram-se em minha sala e me olharam gravemente por cima das mesas marrons. Eu devo ter sido muito útil para esses alunos - ensinei-lhes o plano rítmico do soneto elisabetano e como diagramar uma sentença completa.

autoria desconhecida
(retirado de PULLIAS Earl V. & YOUNG, James D. A Arte do Magistério. Zahar Editores) 

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