02 dezembro 2025

Prefácio do livro Jacques DeMolay

Em nosso País, a literatura maçônica é reconhecida e deploravelmente restrita. Os poucos estudiosos e autores de obras maçônicas existentes entre nós, por certo, não escrevem visando a pingues lucros. O mais provável é que se lançam a essa ingrata empreitada por obstinação, por apego à Maçonaria, ou mesmo, por desejo de compartilhar seus conhecimentos e sua vivência maçônica com seus irmãos.

É improvável que esses poucos escritores percam horas e horas em pesquisas e leituras, com vistas a uma incerta lucratividade, pois quando conseguem, depois de penosa expectativa recobrar o dinheiro dispendido com a impressão do livro, dão-se por satisfeitos. Talvez resida aí a razão de existirem tão poucos abnegados escritores no meio maçônico brasileiro.

Por isso, quando surge uma nova obra de autoria de escritor brasileiro, é ela aclamada com entusiasmo e até com certo orgulho patriótico.

Rizzardo da Camino é um desses brasileiros. Com uma já apreciável bagagem literária que já se aproxima de dezessete volumes, brinda-nos, agora, com uma nova obra de leitura agradável por não ser escrita em estilo sentencioso, sendo de fácil assimilação até por quem seja estranho ao assunto.

Este novo livro de Rizzardo da Camino, traça o perfil de Jacques De Molay e sua época, demorando-se no estudo dos Templários, Ordem da qual De Molay foi o último Grão-Mestre.

A intrigante saga dos Cavaleiros Templários é exaustiva e seguramente desenvolvida neste livro. Ao lermos a obra, remontamos à fascinantes Era Medieval e às suas lendárias figuras que se apresentam como se vivas fossem na pena competente de Rizzardo.

Há uma escola que atribui a origem da Maçonaria à Ordem dos Cavaleiros Templários, enquanto que outra prefere ligá-la à construção do Templo de Salomão. A primeira seria então a Maçonaria místico-cavaleirística e a segunda, bíblico-simbólica. Rizzardo da Camino disseca a conotação Templário-Maçônica nesta sua obra.

A Ordem dos Cavaleiros Templários, fundada em Jerusalém em 1118 é irresistivelmente fascinante. Criada pela Igreja Cristã para combater os ímpios, acabou sendo dissolvida pela própria Igreja, através do Rei Filipe, o Belo, que condenou Jacques De Molay à fogueira, no dia 18 de março de 1314.

Jacques De Molay tornou-se figura presente na Maçonaria, particularmente, nos graus filosóficos. É, também, o patrono do que se poderia denominar de "escotismo" maçônico. Empresta o seu nome a uma organização para-maçônica que congrega cerca de três milhões de jovens em todo o mundo.

Por que foi o nome de Jacques De Molay escolhido como patrono da juventude maçônica? Seu idealizador, o maçom Frank S. Land apresentou o nome de diversas personalidades com suas biografias a um punhado de jovens do Estado de Missouri que almejavam fundar uma sociedade para-maçônica.

Esses jovens, fascinados pela história, integridade e martírio de De Molay em defesa de suas convicções, não hesitaram em escolher seu nome para seu patrono. E hoje, a organização De Molay espalha-se pelo mundo chegando ao Brasil onde se formam os primeiros Capítulos da Ordem que têm por objetivo conduzir os jovens pelo caminho da retidão e princípios da boa moral.

Esta obra de Rizzardo de Camino é, pois, não só oportuna como altamente instrutiva já que analisa minuciosamente a Ordem dos Templários e, por extensão, a figura ímpar de Jacques De Molay que, não obstante, passados 670 anos, ainda constitui uma inspiração para os maçons.

Rizzardo, já com tantos livros publicados, revela-se nesta obra como um contista, tal é o accessível estilo empregado. Gaúcho, advogado, estudioso e praticante de Yoga e da filosofia transcendental, espiritualista, escotista e jornalista. Rizzardo iniciou-se na Maçonaria em 1946 e, daí em diante, a ela se dedicou inteiramente, voltando-se para as letras maçônicas e revelando-se um dos poucos escritores de obras sobre a Maçonaria dono de um estilo que, apesar de didático, torna-se de leitura agradável e ao alcance de todos.

Já conhecia Rizzardo da Camino pelos seus escritos. Vim a conhecê-lo pessoalmente em Araxá onde havíamos ambos sido convidados para pronunciar palestras no 1º Seminário Maçônico de Araxá, patrocinado pela Loja "Ação e Silêncio".

Desde logo, identifiquei-me com os conceitos, ideias e exame panorâmico da Maçonaria expendidos por Rizzardo e, em Araxá, se solidificou uma amizade que a distância e as vicissitudes não abalaram.

Foi lá mesmo em Araxá que recebi o convite para prefaciar esta última - mas não derradeira, espera-se - obra de Da Camino, muito embora lhe tenha feito sentir que, no panorama maçônico nacional, havia um infindável número de maçons mais credenciados e capacitados para fazê-lo. Sua insistência muito me desvaneceu e agora, sinto-me feliz pela oportunidade de prefaciar uma obra sobre uma figura pela qual tenho particular fascínio: JACQUES DE MOLAY.


Texto de Erwin Seignemartin para o prefácio do livro Jacques De Molay, de Rizzardo da Camino, Editora Aurora, série Literatura Maçônica, Rio de Janeiro, 1985.

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