domingo, 20 de maio de 2012

Calma Aí

             Monique Kessous


Calma aí, peraí
Não espere tanto desse amor
Outra vez, sem sentir
Corro para os braços que me largam
Na tristeza de sentir tanta solidão
Acompanhada por aí de tanto amor pra dar
Não vou mais chorar
Não quero dizer mais nada de mal
Olha aqui, meu amor
Não se esqueça nunca que eu tentei
Sem rancor, sem mentir
Sempre fiz aquilo tudo que te prometi

Meu amor, foi tanto amor
Que eu quis que fosse eterno até morrer
Mas sei que foi enquanto em mim durou
Talvez nós dois sejamos um
É fato que se consolidará
Um novo amor, o nosso amor, amor

Música do segundo CD da cantora Monique Kessous lançado em 2010.

Frio

              Monique Kessous


Cada vez que eu penso em te ver
Vejo que não dá pra esquecer
Todo o tempo que já passou
Tanta coisa ainda ficou

Como pode ser triste assim
Se eu te amo e sei que não tem razão?
Eu ainda quero ser seu
Não me importa se eu sentir frio

Se eu sentir frio
Eu fico acordado
Fico ao seu lado
Até não ter vento
Folhas jogadas
Minhas pegadas
Vão caminhando até você

Música do segundo CD da cantora Monique Kessous, lançado em 2010.

Pareço Um Menino

                Piska/César Augusto


Apenas você tem o dom
De mudar meu destino
É só me tocar com seus olhos
Pareço um menino...

Deitado em seu colo
O mundo não me surpreende
Sou homem maduro
Mas na sua frente
Não sou mais que um menino...

Você tem a luz
Que ilumina
O nosso caminho
Depois de você
Descobri
Que não sou mais sozinho...

Você é o amor
Que a vida me deu de presente
Sou homem maduro
Mas na sua frente
Pareço um menino...

Você me abraça
E a tristeza vai embora
A dor que existe
Fica da porta pra fora
A gente briga
Mas é coisa que acontece
Logo o coração esquece
Porque a gente se adora...

canção do repertório do cantor Fábio Jr.

Volta Pra Mim

               Cleberson Horsth/Ricardo Feghali


Amanheci sozinho
Na cama um vazio
Meu coração que se foi
Sem dizer se voltava depois
Sofrimento meu
Não vou aguentar
Se a mulher
Que eu nasci pra viver
Não me quer mais...

Sempre depois das brigas
Nós nos amamos muito
Dia e noite a sós
O universo era pouco pra nós
O que aconteceu
Pra você partir assim
Se te fiz algo errado
Perdão
Volta pra mim...

Essa paixão é meu mundo
Um sentimento profundo
Sonho acordado um segundo
Que você vai ligar
O telefone que toca
Eu digo alô sem resposta
Mas não desliga
Escuta o que eu vou te falar...
Eu te amo e vou gritar
Pra todo mundo ouvir
Ter você é meu
Desejo de viver
Sou menino e teu amor
É que me faz crescer
E me entrego corpo e alma
Pra você...

Sempre depois das brigas
Nós nos amamos muito...

canção do repertório do grupo Roupa Nova.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

As Pedras

                    Arnaldo Antunes


As pedras são muito mais lentas do que os animais. As plantas exalam mais cheiro quando a chuva cai. As andorinhas quando chega o inverno voam até o verão. Os pombos gostam de milho e de migalhas de pão. As chuvas vêm da água que o sol evapora. Os homens quando vêm de longe trazem malas. Os peixes quando nadam juntos formam um cardume. As larvas viram borboletas dentro dos casulos. Os dedos dos pés evitam que se caia. Os sábios ficam em silêncio quando os outros falam. As máquinas de fazer nada não estão quebradas. Os rabos dos macacos servem como braços. Os rabos dos cachorros servem como risos. As vacas comem duas vezes a mesma comida. As páginas foram escritas para serem lidas. As árvores podem viver mais tempo que as pessoas. Os elefantes e golfinhos têm boa memória. Palavras podem ser usadas de muitas maneiras. Os fósforos só podem ser usados uma vez. Os vidros quando estão bem limpos quase não se vê. Chicletes são pra mastigar mas não para engolir. Os dromedários têm uma corcova e os camelos duas. As meia-noites duram menos do que os meio-dias. As tartarugas nascem em ovos mas não são aves. As baleias vivem na água mas não são peixes. Os dentes quando a gente escova ficam brancos. Cabelos quando ficam velhos ficam brancos. As músicas dos índios fazem cair chuva. Os corpos dos mortos enterrados adubam a terra. Os carros fazem muitas curvas pra subir a serra. Crianças gostam de fazer perguntas sobre tudo. Nem todas as respostas cabem num adulto.

Texto do livro " As Coisas ".

Onze E Meia

                 Antônio Cícero    

Quando a noite vem
um verão assim
abrem-se cortinas varandas
janelas prazeres jardins

Onze e meia alguém
concentrado em mim
no espelho castanho dos olhos
vê finalidades sem fim

Não lhe mostro todos os bichos que tenho de uma vez
Armo o circo com não mais do que uns cinco ou seis
leão camelo garoto acrobata
e não há luar
e os deuses gostam de se disfarçar




extraído do livro Guardar.

sábado, 12 de maio de 2012

Adormecer o Fado

               Tiago Torres da Silva/Pedro Jóia 


Você entra nos meus sonhos
Pedindo pra eu te sonhar
Mas sempre que eu abro os olhos
Você foi noutro lugar
Assim que eu desapareço
Você quer sonhar comigo
Então eu não adormeço
Só pra não lhe dar abrigo

Vim te buscar
Adormeci
Ao acordar já não te vi

Na insônia que me invade
Com cigarros e café
É o medo da saudade
Que vai me mantendo em pé
Mas o sono acaba vindo
Quando o ciúme adormece
E meu coração é tão lindo
Porque o sonho não te esquece

Vim te buscar
Adormeci
Ao acordar já não te vi

Se a minha paixão encontra
Os teus olhos de menino
Só o meu sonho é que conta
Pra fazer o meu destino
Por isso, não adormeço
Se eu não estiver ao seu lado
Porque um sonho que se esqueça
Pode adormecer o fado

Vim te buscar
Adormeci
Ao acordar já não te vi

Vim te buscar
Adormeci
Mas vou sonhar que estás aqui

música do CD Joanna Todo Acústico lançado em 2003.

A Voz do Anjo


Era uma vez uma criança que estava pronta para nascer.

Ela perguntou a Deus: " Fiquei sabendo que você está me mandando para a Terra, mas como eu vou viver lá sendo tão pequena e indefesa? "

Deus respondeu: " Dentre os muitos anjos, eu escolhi um para você. Seu anjo estará esperando por você e vai cuidar de você ".

A criança indagou: " Mas, diga-me, aqui no céu eu não tenho que fazer nada, apenas cantar, sorrir e ser feliz ".

Deus disse: " Seu anjo cantará e sorrirá para você todos os dias. Você vai sentir o  amor do seu anjo e ser muito feliz ".

Novamente, a criança perguntou: " E como eu serei capaz de entender quando as pessoas falarem comigo se eu não sei seu idioma? "

Deus disse: " Seu anjo dirá para você as palavras mais doces e bonitas que você jamais ouviu e com muita paciência e carinho, vai ensinar-lhe como falar ".

Criança: " E como vou fazer quando eu quiser falar com você? "

Deus disse: " Seu anjo colocará suas mãos juntas e vai ensinar-lhe como rezar ".

Criança: " Eu ouvi que na Terra existem homens maus. Quem irá me proteger? "

Deus disse: " Seu anjo defenderá você, mesmo que isso signifique arriscar sua própria vida ".

Criança: " Mas eu ficarei muito triste porque não vou vê-lo mais. "

Deus disse: " Seu anjo falará sempre com você sobre mim e vai ensinar-lhe um jeito de voltar para mim, apesar de que eu estarei sempre perto de você ".

Nesse instante, havia muita paz no céu, mas vozes vindas da Terra podiam ser ouvidas e a criança precipitadamente perguntou: " Deus, se eu tenho que partir agora, por favor, diga-me o nome do meu anjo ".

Deus falou: " Seu nome não é importante. Você vai chamá-lo simplesmente de MÃE ".

Que a Luz e a Paz envolvam seu coração!

autoria desconhecida

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Arte de Ser Feliz

             Cecília Meireles


Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? quem as comprava? em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? e que mãos as tinham criado? e que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não a podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu que participava do auditório imaginava os assuntos e suas peripécias - e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era um rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos: que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem diante de minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Os Gatos da Tinturaria

                 Cecília Meireles


Os gatos brancos, descoloridos,
passeiam pela tinturaria,
miram polícromos vestidos.

Com soberana melancolia,
brota nos seus olhos erguidos
o arco-íris, resumo do dia,

ressuscitando dos seus olvidos,
onde apagado cada um jazia, 
abstratos lumes sucumbidos.

No vasto chão da tinturaria,
xadrez sem fim, por onde os ruídos
atropelam a geometria,

os grandes gatos abrem compridos
bocejos, na dispersão vazia
da voz feita para gemidos.

E assim proclamam a monarquia
da renúncia, e, tranquilos vencidos,
dormem seu tempo de agonia.

Olham ainda para os vestidos, 
mas baixam a pálpebra fria.