sábado, 14 de janeiro de 2012

Apostila

                     Álvaro de Campos

Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Milton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!

Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China do serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.

Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos -
Imagens da vida, imagens das vidas, Imagem da Vida.

Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um ato indefinido nem factício...

Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegãncia de persistir...

Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu cérebro (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegamos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)

Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memória de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E escila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.


Álvaro de Campos é um dos heterônimos de Fernando Pessoa.

Todas as cartas de amor são ridículas

                                  Álvaro de Campos

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

Álvaro de Campos é um dos heterônimos de Fernando Pessoa.

A Fábula dos Porcos-Espinho


                               Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio.
                               Os porcos-espinho, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente.
                               Acontece que os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam maior calor. Por essa razão, decidiram afastar-se uns dos outros e voltaram a morrer congelados.
                               Então, precisavam fazer uma escolha: desapareceriam da Terra ou aceitariam os espinhos dos companheiros.
                                Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam, assim, a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro.
                                 E assim, sobreviveram!!


Em tempo: o melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos dos outros e consegue admirar suas qualidades.

Creio

                    Mahatma Gandhi

Creio em mim mesmo.
Creio nos que trabalham comigo.
Creio nos meus amigos.
Creio na minha família.
Creio que Deus me emprestará tudo que necessito para triunfar, contanto que me
esforce para alcançar com meios lícitos e honestos.
Creio nas orações e nunca fecharei meus olhos para dormir, sem pedir antes a devida orientação
a fim de ser paciente com os outros e tolerante com os que não acreditam como eu acredito.
Creio que o triunfo é resultado de esforços inteligentes, que não dependem de sorte,
de magia, de amigos, companheiros duvidosos ou de meu chefe.
Creio que tirarei da vida exatamente o que nela colocar.
E, assim sendo, serei cauteloso quando tratar os outros, pois quero que eles sejam comigo.
Não caluniarei aqueles de quem não gosto.
Não diminuirei o meu trabalho porque outros o fazem.
Prestarei o melhor serviço de que sou capaz,
porque jurei a mim mesmo triunfar na vida.
E sei que o triunfo é sempre resultado do esforço consciente e eficaz.
Finalmente, perdoarei os que me ofendem, porque compreendo que, às vezes, ofendo
os outros e necessito de perdão. 

Ouvir Tem Consequências

                                     Carl Rogers


Quando verdadeiramente ouço uma pessoa e os significados que lhe são importantes naquele momento, ouvindo não simplesmente suas palavras mas ela mesma, e quando lhe demonstro que ouvi seus significados pessoais e íntimos, muitas coisas acontecem. Há, em primeiro lugar, um olhar agradecido. Ela se sente aliviada. Quer falar mais sobre seu mundo. Sente-se impelida por um novo sentido de liberdade. Torna-se mais aberta ao processo de mudança.

Tenho notado frequentemente que quanto mais profundamente ouço os significados desta pessoa, mais acontecerá. Quando uma pessoa percebe que foi profundamente ouvida, quase sempre fica com os olhos marejados. Acho que na verdade ela está chorando de alegria. É  como se estivesse dizendo: " Graças a Deus, alguém me ouviu. Alguém sabe o que significa estar na minha pele ". Em tais momentos, tenho tido a fantasia de um prisioneiro em um cárcere, transmitindo dia após dia uma mensagem em Código Morse: " Alguém está me ouvindo aí? Há alguém aí? " E finalmente, um dia escuta toques dizendo: " Sim ". Esta simples resposta o liberta da solidão. Ele se tornou de novo um ser humano.

Há muitas, muitas pessoas vivendo em cárceres privados hoje em dia, pessoas que não deixam transparecer nada do lado de fora, onde você tem que escutar com muita atenção para ouvir a fraca mensagem vinda de dentro do cárcere.

Outras Reflexões

Amigos sabem quando serão amigos, pois
compartilham momentos, dão força. Estão sempre
ao nosso lado nas conquistas, nas derrotas,
nas horas boas e nas difíceis.
Amizade é nem sempre pensar do mesmo jeito,
mas é abrir mão de vez em quando.
Amizade é como ter um irmão que não mora
na mesma casa.
É compartilhar segredos, emoções, é compreensão, é diversão, é contar com alguém
sempre que precisar.
É ter algo em comum e não ter nada em comum.
É saber que se tem mais algo em comum
do que se imaginava.
É sentir saudades, é querer dar um tempo, é dar preferência,
é bater um ciúme.
Amizade que é amizade nunca acaba, mesmo que
a gente cresça, mesmo que outras pessoas apareçam
em nossa vida, porque amizade não se explica.
Ela simplesmente acontece.

autoria desconhecida 

A Idade de Ser Feliz


Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com a intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.

Tempo de entusiasmo e de coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda a disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se Presente e tem apenas a duração do instante que passa... doce pássaro do aqui e agora que quando se dá por ele, já partiu para nunca mais voltar.

autoria desconhecida 

Desenvolva sua complacência

                                      Richard Carlson

Nada ajuda a desenvolver mais nossa perspectiva da vida do que aprender a ter compaixão pelos outros. A compaixão é um sentimento simpático. Ela implica na vontade de nos colocarmos no lugar dos outros, de tirarmos os olhos de nós mesmos e imaginarmos o que é viver as dificuldades alheias, bem como, simultaneamente, sentir amor por essas pessoas. É reconhecer que os problemas dos outros, sua dor e frustrações, são tão reais quanto os nossos - e muitas vezes até piores. Ao reconhecer este fato e oferecer alguma ajuda, abrimos nossos corações e ampliamos nosso senso de gratidão.
A compaixão é algo que pode ser desenvolvido com a prática. Envolve, basicamente, duas coisas: intenção e ação. Intenção significa simplesmente abrir seu coração a outras pessoas; você desloca a noção de que e quem importa, de você para os outros. Ação é simplesmente o que faço com isso. Você pode doar dinheiro ou tempo (ou ambos) regularmente para uma causa que lhe seja cara. Ou, talvez, oferecer um belo sorriso e um alô sincero às pessoas que você encontra na rua. Não é importante o que você faça, apenas que faça algo. Como Madre Teresa dizia: " Não podemos fazer grandes coisas nesta terra. Tudo que podemos fazer são pequenas coisas com muito amor ".
A compaixão desenvolve nosso senso de gratidão ao desviar nossa atenção das pequenas coisas que aprendemos a levar tão a sério. Quando você gasta seu tempo, com regularidade, refletindo sobre o milagre da vida - o milagre que existe, até, na simples leituta de um livro ou deste texto - o dom da visão, do amor e todo o resto, isto pode ajudá-lo a lembrar de que muitas das coisas que você julga importantes são na verdade " copos d'água " que você está transformando em tempestades.

Mais Reflexões

Eu pedi força a Deus
E Deus me deu dificuldades para me fazer forte.

Aí eu pedi sabedoria
E Deus me deu problemas para resolver.

Aí eu pedi mais:
eu pedi prosperidade.
Aí Deus me deu cérebro e músculos para trabalhar.

Eu pedi coragem
e Deus me deu perigos para superar.

Aí eu fui lá e pedi a Deus, pedi amor, muito amor.
Deus me deu pessoas, problemas para eu ajudar.

Aí eu pedi favores
e Deus me deu oportunidades.

Na verdade, eu não recebi nada daquilo que eu pedi,
mas eu recebi tudo que eu precisava.

autoria desconhecida 

Premunições de Aninha

                             Cora Coralina

Por quê? Você, meu irmão presidiário,
na teia de seu sonho - liberdade - viver além das grades,
paciente, elabora o seu plano de fuga sem o plano consequente
da regeneração?
Dias, meses, noites, o tempo a correr e você, aproveitando
o escasso tempo fugidio.
Paciente, tenaz, ambíguo e dissimulado, ali está roendo
com seus dentes, nervos, ossos e vontade, roendo alicerces, muros e grades.
Afinal, um dia alcança a liberdade desejada.
Por que não partiu para longe, distante, não se engajou
numa frente de trabalho lá na roça, onde ninguém pede documentação,
identidade, e se pôs como trabalhador, a salvo da busca que se faz?
Não, você ficou mesmo perto e de novo voltou à falta, ao erro,
ao crime inicial e de novo a liberdade tolhida, tão penosa de conquistar!
Por quê, meu irmão?

Tempo virá. Uma vacina preventiva de erros e violência se fará.
As prisões se transformarão em escolas e oficinas.
E os homens, imunizados contra o crime, cidadãos de um novo mundo,
contarão às crianças do futuro, histórias absurdas de prisões,
celas, altos muros, de um tempo superado.

Aqueles que acreditam
caminham para a frente
e podem ser chamados
Ludovico, Kubitschek.
Aqueles que duvidam
põem pedras e tropeços nos caminhos dos primeiros.
Jamais constutores.
Capangueiros. Aproveitadores.

pseudônimo da poetisa goiana Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que nasceu em 1889 e faleceu em 1985.