segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Daniel na Cova dos Leões

                            Renato Russo/Renato Rocha

Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo:
De amargo e então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
E forte e cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão:
Teu corpo é o meu espelho e em ti navego
E sei que tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz, quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos.

Música do CD " Dois " da Legião Urbana lançado em 1986. Homenagem a um Daniel que me fez um gesto muito carinhoso no dia de hoje... Obrigado!!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Eternas Ligações

                 Augusto César/Paulo Sérgio Valle

 Dói demais pensar que terminou
Que você não me quer mais
Que a saudade é tudo que ficou
Ah, como eu sou frágil sem você
O que foi que eu fiz de mim
Que loucura alguém amar assim
Dói demais dormir com a solidão
E acordar de madrugada
Tão distante do teu coração
Fica esse desejo de voltar
Como o vai e vem do mar
Procurando terra pra chegar
Pelo menos diga que sofreu
Que ficou como eu estou
Diz que ainda não me esqueceu
Estou me agarrando na ilusão
Sem saber o que é que eu faço
Pra tirar você do coração
É difícil separar
O que a vida quer juntar
Diz o que é que eu faço pra não te perder
São carinhos e paixões
São eternas ligações
O meu coração ainda quer você
Pode ser um erro amar assim
Mas você ficou em mim
Essa vida é nada sem você

música do CD " Alma, Coração E Vida " de Joanna, lançado em 1993.

Logo Agora

                     Michael Sullivan/Paulo Massadas

 Logo agora
Quando mais preciso você vai embora
Eu que tanto acreditei
E logo agora
Você chega e pede para eu te esquecer
Logo agora
Você pede um grande amor e joga fora
Pra seguir o teu caminho mundo afora
Procurando o que não sabe oferecer

É loucura
Você vai desperdiçar a tua vida
Você vai despedaçar a minha vida
Com certeza você não sabe o que diz

É loucura
Ninguém muda tanto assim tão de repente
Quero ver você dizer na minha frente
Que sem mim você consegue ser feliz
O futuro há de ser o teu juiz

Vai me abandonar
Vai falar de mim
Mas jamais vai me esquecer tão fácil assim
Vai me abandonar
Vai falar de mim
Mas jamais vai aceitar que chegue ao fim

música do CD " Alma, Coração E Vida " de Joanna, lançado em 1993.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Desde que te perdi

                Kevin Johansen - versão: Moska

Desde que te perdi
Estão se apaixoando todos por mim
E até alguns já querem me convencer
Que com eles eu posso ser feliz

Desde que te perdi
As portas vêm se abrindo de par em par
Me abrem até a Porta de Alcalá
E eu aproveito para experimentar

Desde que te perdi
Minha alma foi libertada
Desde que te perdi
Não me importa nada de nada

Desde que te perdi
A vida me sorri com felicidade
Tenho trabalho e muita estabilidade
E agora frequento a alta sociedade

Nas festinhas do apê
Os príncipes me sorriem de quando em vez
Alguns me dizem num lindo português
Que estou na capa da Playboy do mês

Desde que te perdi
Faço o que quero animada
Desde que te perdi
Não tenho vontade de nada

Desde que te perdi
Tomamos uns chopinhos por aí
Percebo que não és o mesmo sem mim
Tua vida agora também está mais feliz

Desde que te perdi, desde que me perdeste
Desde que me perdi, desde que te perdeste

música do CD Outonos de Regina Souza, lançado em 2009.

Você Em Minha Vida

                        Roberto/Erasmo

Você foi a melhor coisa que eu tive
Mas o pior também em minha vida
Você foi o amanhecer cheio de luz e de calor
Em compensação o anoitecer, a tempestade, a dor
Você foi o meu sorriso de chegada
E a minha lágrima de adeus

Aquele grande amor que nós tivemos
E todas as loucuras que fizemos
Foi o sonho mais bonito que um dia alguém sonhou
E a realidade triste quando tudo se acabou
Você foi o meu sorriso de chegada, tudo e nada
E adeus

Você me mostrou o amanhecer de um lindo dia
Me fez feliz, me fez viver
Num mundo cheio de amor e de alegria
E me deixou no anoitecer

E agora, todas as coisas do passado
Não passam de recordações presentes
De momentos que, por muito tempo
Ainda vão estar
Na alegria ou na tristeza
Toda vez que eu me lembrar
Que você foi meu sorriso de chegada
E a minha lágrima de adeus

regravação belíssima de Leila Pinheiro em seu CD " Mais Coisas do Brasil " de 2001.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Outra Vez

                       Isolda

Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado
E o mais simples pra mim
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar
De tudo outra vez

Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria
Que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra Vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes
Eu tenha a vontade sem nada perder

Você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra Vez

Sou Eu

                       Isolda/Eduardo Dusek

Pedi pro sol me responder o que é o amor
Ele me falou é um grande fogo
Procurei nos búzios e tornei a perguntar
Eles me disseram o amor é um jogo
Lembrei que a Lua tinha muito pra contar
Ela se abriu pra mim
Disse que o amor usa tantas fases
É uma luz que não tem fim

Eu pedi pro vento que soprasse o que é o amor
Ele garantiu é tempestade
Bandos de estrelas me contaram sem piscar
O amor é pura eternidade
Sem saber direito perguntei pro coração
Que sem medo respondeu
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente o amor, sou eu

Sou eu quem gera essa energia que conduz
Seu coração a essa estrada essa luz
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente o amor sou eu

Sou eu quem salva o teu caminho da ilusão
Eu que te consagro repetiu o coração
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente o amor sou eu

música que dá título ao CD de 1993 da cantora Simone.

domingo, 7 de outubro de 2012

Zizi Possi

                   Mauro Ferreira  

 " O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece ", já  disse o mestre Caetano Veloso nas vozes de Gal Costa e Roberto Carlos. A voz laminada de Maria Izildinha Possi - Zizi, para o público brasileiro - tem atravessado o tempo sem perder o brilho. Paulista nascida artisticamente em Salvador (Bahia), onde aos 19 anos começou sua caminhada artística cantando músicas da dupla Roberto e Erasmo Carlos, Zizi chamou a atenção do público pela primeira vez com sua dilacerante interpretação de " Pedaço de Mim ". Nascia nacionalmente uma estrela em meio à constelação revelada no final dos anos 70. Muitas caíram como meteoritos e Zizi ficou. E, se ela permaneceu, não foi apenas pela afinação de sua voz platinada de soprano. Sempre antenada com os bons compositores da MPB, Zizi mostrou logo nos seus primeiros trabalhos que olhava o futuro sem esquecer do passado. Coerente, sempre reservou espaços nos seus discos para atualizações de clássicos como " Nunca ". Ao mesmo tempo, deu sua leitura quase instantânea para as saudáveis novidades das paradas, gravando pérolas como " Meu Bem Querer " e " Como Uma Onda ", logo após seus lançamentos. E assim se passaram dez anos. Na sua década de PolyGram, Zizi soube renovar seu trabalho sem deteriorá-lo. A cantora que, em 1989, recriou em ritmo de bossa nova a balada jazzística " You've changed " (" Quem Diria ", na versão de Nelson Motta) é tão íntegra quanto a (quase) novata intérprete que, em 1980, frequentou as paradas radiofônicas com a virtuosa interpretação da bela " Meu Amigo, Meu Herói ". O autor da composição, Gilberto Gil, seria, aliás, parcialmente responsável pela volta de Zizi ao play-list das rádios, em 1987, ano em que a voz macia da cantora cantou " A Paz " com sucesso nacional

Sucesso, porém, nunca foi encarado como meta por Zizi e, sim, como consequência do trabalho bem-feito. E da vontade de experimentar. Primeira intérprete a gravar músicas de Eduardo Dusek (registrou " Ave " no seu primeiro disco), Zizi viajou no lirismo romântico de " Eu Velejava Em Você ", jóia do então promissor Dusek. Três anos mais tarde, gravaria a refinada " Luíza " - obra-prima de Tom Jobim - em  homenagem à filha do mesmo nome, na época recém-nascida.

Famosa como cantora, Zizi tem também um menos conhecido lado dramático, exercitado por ela nos tempos em que cantava nos bailes da vida de Salvador (participou como atriz, cantora, compositora e pianista do musical " Marilyn Miranda " - trampolim para o seu reconhecimento artístico no Sul do País). Irmã do conceituado diretor teatral José Possi Neto, essa paulistana do Brás, nascida em março de 1956, brilhou também ao desvendar os véus melódicos e poéticos de " O Circo Místico ", tema da obra homônima, idealizada pela dupla Chico Buarque e Edu Lobo.

Dentro dessa diversidade de repertório (seus discos nunca foram dominados por um determinado estilo de compositor), Zizi construiu uma discografia rica, que soma dez discos gravados na PolyGram. Ela soube ser pop sem ser banal e, mais que do que isso, soube dar uma virada posterior em direção a um estilo mais cool, denso e contido - a tônica de seus últimos trabalhos. Como o tempo descrito por Caetano Veloso, o trabalho de Zizi Possi não para e nunca envelhece. É que ele é o reflexo da alma de uma artista que tem, acima de tudo, personalidade. 

Algumas observações para contextualizar o que foi escrito!
Este texto foi escrito por Mauro Ferreira para a contracapa de uma das primeiras coletâneas da carreira de Zizi Possi intitulada " Personalidade ",  lançada em 1991, tanto é que o autor faz um trocadilho ao finalizar suas palavras. 

Corrigindo e atualizando: a música " Ave " de Eduardo Dusek foi gravada no segundo disco dela, e não no primeiro como ficou registrado. A gravadora "PolyGram" hoje é a  "Universal Music".

DISCOGRAFIA: 

1978 - Flor do Mal
1979- Pedaço de Mim
1980- Zizi Possi
1981- Um Minuto Além
1982- Asa Morena
1983- Pra Sempre e Mais Um Dia
1984- Dê Um Rolê
1986- Zizi
1987- Amor & Música
1989- Estrebucha Baby
1991- Sobre Todas as Coisas
1993- Valsa Brasileira
1996- Mais Simples
1997- Per Amore
1998- Passione
1999- Puro Prazer 
2001- Bossa
2005- Pra Inglês Ver... e Ouvir 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Submissão

                                 Arley Pereira

 Bem que ela tentou fugir outra vez. Mas ficou só na tentativa, já que ele soube impedir a fuga. Mas, esquiva ela sempre foi e a cada vez era a mesma coisa, o trabalho de dominá-la, de fazê-la obedecer, de ensinar a submissão. Um trabalho que só dava a ele prazer. O saber antecipado que venceria a disputa entre os dois, que - como na grande maioria das vezes - ela responderia às suas vontades, faria tudo o que ele determinasse, obediente - quase sempre - às coisas que ele quisesse, mais estranhas que fossem.

O encanto estava, porém exatamente naquele " quase sempre ". Vez que outra ela conseguia enganá-lo. Fingia, negaceava, chegava perto e recuava, oferecia-se sem se dar a - suprema humilhação - preferia sem nenhum pudor um amigo (ou mesmo um inimigo), que andasse próximo.

Mas era raro. No normal das coisas, ela procurava, como que por instinto, a fuga no primeiro contato, mas acabava por se entregar. E sempre ali, no chão, enrolando-se na grama, volteando sobre si mesma, oferecida, as redondices brilhando ensolaradas, ou molhadas de chuva, que o tempo jamais foi coisa de impedir o encontro de ambos, a cada semana renovado inteiro, como se a primeira vez fosse.

E sempre, no olhar dele, o brilho do desejo. A vigilância de não se deixar enganar, de não perdê-la, a certeza incerta da obediência e submissão, prometidas, mas nem sempre cumpridas. Cola-se a ela, o corpo suado funcionando magneticamente, atrativamente, dominadoramente. Os cabelos molhados entram pelos olhos, a visão é momentaneamente perdida, mas ele reage, passa a mão nervosa no rosto e volta a enxergar. Suspira aliviado. Ela ainda está ali, não fugiu, não se negou. Os olhos brilham ainda mais e ele se movimenta - agora mais rápido, a cadência se acelerando - antecipando o momento. Os músculos todos participam da luta, o cérebro distribuindo comandos, o corpo obedecendo. E ela, ali. Ora à sua frente, tomando-lhe a dianteira; ora a seus pés, esquiva mas submissa; ora a seu lado, atrasando-lhe no galope, ele diminuindo, emparelhando e impondo-lhe a velocidade ideal.

O momento está chegando e ele pressente, mais que vê. As pernas à sua frente, mexem-se nervosas, entreabertas. Não há que titubear uma fração apenas. Sempre estava preparado para aquele momento, que já se repetiria muitas vezes em sua vida e ele esperava outras tantas. Sabia o que fazer, na situação. Era meio reflexivo que refletido. Naquele momento, sua ação era sempre igual. Olha mais uma vez - um décimo de segundo - e as pernas permanecem ali, oferecidas, prontas para sua decisão.

Com um sorriso de certeza, nem abaixa a cabeça para vê-la. Firmemente a impulsiona entre as pernas à sua frente, contorna-as e está sozinho, frente ao goleiro. Aí então volta a olhá-la. Rolando suavemente na grama, oferecida ao golpe final, dócil e submissa, a bola. Desta vez ela não fugiu e se entrega. O pé esquerdo golpeia seco e, antes que ela alcance as redes, já o grito de gol barulha de um canto a outro no estádio.

Pura Emoção

                                  Gabriel Garcia Marquez

 Se por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas certamente, pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.

Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.

Andaria quando os demais parassem, acordaria enquanto os outros dormissem.

Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse.

Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua.

Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas.

Deus meu. se eu tivesse um pedaço de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes - te amo, te amo.

Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus favoritos e viveria enamorado do amor.

Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.

Aos velhos, ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...

Aprendi que todo mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.

Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem prisioneiro para sempre.

Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

São tantas coisas que pude aprender com vocês, mas, finalmente, não poderão servir muito porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente, estarei morrendo...