segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mãe Mercedes


Ana Luiza

                  Tom Jobim

Supõe Ana Luiza se a guarda cochila
Eu posso penetrar no castelo
E galgar a muralha de onde se divisa
O vale, os prados, os matos, os montes, as flores, as fontes
Luiza
Ana Luiza
Eu fiz esta canção pra você
Que pergunta
Precisa saber
Onde anda Luiza
Luiza, Luiza, Luiza
Por que me negas tanto assim a primavera?
Se sabes que a última quimera
Existe no mundo de Ana Luiza
Primavera, Ana Luiza
Teus olhos
Em que lago, em que serra, em que mar se oculta?
Escuta, Luiza
Na brisa uma canção fala em você
E pergunta
Insiste em saber onde anda Luiza
Luiza, Luiza, Luiza, Luiza
Eu te ama tanto
Quem há de resistir a todo encanto
Que existe, assiste, em Ana Luiza

Música do CD Carol Saboya & Nelson Faria interpretam Antônio Carlos Jobim, lançado em 1999.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Um Desejo E Dois Irmãos

                Marina Colasanti

Dois príncipes, um louro, e um moreno. Irmãos, mas os olhos de um azuis, e os do outro verdes. E tão diferentes nos gostos e nos sorrisos, que ninguém os diria filhos do mesmo pai, rei que igualmente os amava.

Uma coisa porém tinham em comum: cada um deles queria ser o outro. Nos jogos, nas poses, diante do espelho, tudo o que um queria era aquilo que o outro tinha. E de alma sempre cravada nesse desejo insatisfeito, esqueciam-se de olhar para si, de serem felizes.

Sofria o pai com o sofrimento dos filhos. Querendo ajudá-los, pensou um dia que melhor seria dividir o reino, para que não viessem a lutar depois da sua morte. De tudo o que tinha, deu o céu para seu filho louro, que governasse junto ao sol brilhante como seus cabelos. E entregou-lhe pelas rédeas um cavalo alado. Ao moreno coube o verde mar, reflexo dos seus olhos. E um cavalo marinho.

O primeiro filho montou na garupa lisa, entre as asas brancas. O segundo filho firmou-se nas costas ásperas do hipocampo. A cada um, seu reino. Mas  as pernas que roçavam em plumas esporearam o cavalo para baixo, em direção às cristas das ondas. E os joelhos que apertavam os flancos molhados ordenaram que subisse, junto à tona.

Do ar, o príncipe das nuvens olhou através do seu reflexo, procurando a figura do irmão nas profundezas.

Da água, o jovem senhor das vagas quebrou com seu olhar a lâmina da superfície procurando a silhueta do irmão.

O de cima sentiu calor, e desejou ter o  mar para si, certo de que nada o faria mais feliz do que mergulhar no seu frescor.

O de baixo sentiu frio, e quis possuir o céu, certo de que nada o faria mais feliz do que voar na sua mornança.

Então emergiu o focinho do cavalo marinho e molharam-se as patas do cavalo alado. Soprando entre as mãos em concha os dois irmãos lançaram seu desafio. Alinhariam os cavalos na beira da areia e partiriam para a  linha do horizonte. Quem chegasse primeiro ficaria com o reino do outro.

- A corrida será longa, - pensou o primeiro. E fez uma carruagem de nuvens que atrelou ao seu cavalo.

- Demoraremos a chegar, - pensou o segundo. E prendeu com algas uma carruagem de espumas nas costas do hipocampo.

Partiram juntos. Silêncio na água. No ar, relinchos e voltear de plumas. Longe, a linha de chegada dividindo os reinos.

Os raios do sol passavam pela carruagem de nuvens e desciam até a carruagem de espumas. Durante todo o dia acompanharam a corrida. Depois brilhou a lua, a leve sombra de um cobriu o outro de noite mais profunda. E quando o sol outra vez trouxe sua luz, surpreendeu-se de ver o cavalo alado exatamente acima do cavalo marinho. Tão acima como se, desde a partida, não tivessem saído do lugar.

Galopava o tempo, veloz como os irmãos. Mas a linha do horizonte continuava igualmente distante. O sol chegava até ela. A lua chegava até ela. Até os albatrozes pareciam alcançá-la no seu voo. Só os dois irmãos não conseguiam se aproximar.

De tanto correr já se esgarçavam as nuvens da carruagem alada, e a espuma da carruagem marinha desfazia-se em ondas. Mas os dois irmãos não desistiam, porque nessa segunda coisa também eram iguais, no desejo de vencer.

Até que a linha do horizonte teve pena. E devagar, sem deixar-se perceber, foi chegando perto.

A linha chegou perto. E chegou perto.

Baixou seu voo o cavalo alado, quase tocando o reflexo. Aflorou o cavalo marinho entre marolas. As plumas, espumas se tocaram. Céu e mar cada vez mais próximos confundiram seus azuis, igualaram suas transparências. E as asas brancas do cavalo alado, pesadas de sal, entregaram-se à água, a crina branca roçando já o pescoço do hipocampo. Desfez-se a carruagem de nuvens na crista da última onda. Onda que inchou, rolou, envolvendo os irmãos num mesmo abraço, jogando um corpo contra o outro, juntando para sempre aquilo que era tão separado.

Desliza a onda sobre a areia, depositando o vencedor. Na branca praia do horizonte, onde tudo se encontra, avança agora um único príncipe, dono do céu e do mar. De olhos e cabelos castanhos, feliz enfim.

Extraído do livro " Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento ".

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Usted

                   Gabriel Ruiz/Monis Zorrilla

Usted es la culpable
De todas mis angustias y todos mis quebrantos
Usted lleno mi vida
De dulces inquietudes y amargos desencantos

Su amor es como un grito
Que llevo aquí en mi alma y aquí en mi corazón
Y soy aunque no quiera
Esclavo de sus ojos, juguete de su amor

No juegue con mis penas, ni con mis sentimientos
Que es lo único que tengo
Usted es mi esperanza, mi última esperanza
Comprenda de una vez

Usted me desespera
Me mata, me enloquece
Y hasta la vida diera por vencer el miedo
De besarla a usted

Música do CD " Romance " de Luis Miguel lançado em 1992.

La Barca

                    Roberto Cantoral

Dicen que la distancia es el olvido
Pero yo no concibo esa razón
Porque yo seguire siendo el cautivo
De los caprichos de tu corazón

Supiste esclarecer mis pensamientos
Me diste la verdad que yo soñe
Ahuyentaste de mi los sufrimientos
En la primera noche que te amé

Hoy mi playa se viste de amargura
Porque tu barca tiene que partir
A cruzar otros mares de locura
Cuida que no naufrague en tu vivir

Cuando la luz del sol se este apagando
Y te sientas cansada de vagar
Piensa que yo por ti estare esperando
Hasta que tu decidas regresar

Música do CD " Romance " de Luis Miguel lançado em 1992.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Desafio Aos Educadores

                      Neidson Rodrigues

O filósofo alemão Friedrich Nietzche tece uma crítica radical à civilização ocidental, dizendo que ela educa os homens para desenvolverem apenas o  instinto de tartaruga. O que isso quer dizer? A tartaruga é o animal que, diante do perigo, da surpresa, recolhe a cabeça ao seu casco. Anula, assim, todos os seus sentidos e esconde os membros, tentando proteger-se do desconhecido. Este é o instinto da tartaruga: defender-se, fechar-se ao mundo, recolher-se a si mesma, e, em consequência, nada ver, nada sentir, nada ouvir, nada ameaçar.

Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos educacionais e políticas de educação desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos anos. Especificamente, no Brasil tem-se educado os homens para que aprendam a se defender das ameaças externas, sendo apenas reativos. Ensina-se o espírito da covardia e do medo.

Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o  instinto da águia. A águia é o animal que voa acima das montanhas, que desenvolve seus sentidos e habilidades, que aguça os ouvidos, olhos e competências para ultrapassar os perigos, alçando voo acima deles. É capaz de afiar as suas garras e atacar o inimigo no momento que julgar mais oportuno.

As nossas escolas têm procurado fazer com que nossas crinaças recolham-se a si e percam o instinto próprio do homem de coragem, capaz de vencer o perigo que se lhe apresenta.

Temos criado neste país, uma geração tartaruga, uma geração medrosa, recolhida. Estamos todos impregnados por esse espírito de tartaruga. Não temos coragem para contestar nossos dirigentes, para opor às suas propostas e criar soluções alternativas. Agimos apenas de maneira reativa, negativa, covarde.

Temos ensinado às nossas crianças que os nossos instintos são pecaminosos. A parte mais rica do indivíduo, que é sua capacidade de amar e odiar, sua capacidade de se relacionar de maneira crítica com o mundo, tem sido desprezada. Temos ensinado ao homem a ser obediente, servil, incompetente, e a depositar todas as suas esperanças num poder maior que independe da sua vontade.

Quando ensinamos aos nossos alunos que eles não precisam se esconder diante das ameaças, porque todos têm capacidade de alçar voo às alturas, ultrapassando as nuvens carregadas de tempestades e perigo? Temos ensinado as nossas crianças a se  arrastar, a calar, tornando-se incapazes de reagir se lhes pisam a cabeça.

O que desejamos, afinal, desenvolver em nós mesmos e nas futuras gerações? O instinto da tartaruga ou o espírito das águias?

O professor está sempre errado


Quando...
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um coitado.
Tem automóvel, chora de " barriga cheia ".
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.

Não falta ao colégio, é um " Caxias ".
Precisa faltar, é um " turista ".
Conversa com os outros professores, está " malhando " os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó dos alunos.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.

Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.

Escreve muito, não se explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a " língua " do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.

O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, " deu mole ".

É, o professor está sempre erradp.
Mas se você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!

autoria desconhecida

Eu ensinei a todos eles


Lecionei no ginásio durante dez anos. No decorrer desse tempo, dei tarefas a, entre outros, um assassino, um pugilista, um evangelista, um ladrão e um imbecil.

O assassino era um menino tranquilo que se sentava no banco da frente e me olhava com seus olhos azuis; o evangelista, de longe o menino mais popular da escola, liderava as brincadeiras dos jovens; o pugilista ficava perto da janela e, de vez em quando, soltava um risada rouca que espantava até os gerânios; o ladrão era um sujeito alegre com uma canção nos lábios, e o imbecil, um animalzinho de olhos mansos que procurava as sombras.

O assassino espera a morte na penitenciária do Estado; o evangelista há um ano jaz sepultado no cemitério da aldeia; o pugilista perdeu um olho numa briga em Hong Kong; o ladrão, se ficar na ponta dos pés, pode ver minha casa da janela da cadeia municipal; e o pequeno imbecil de olhos mansos de outrora bate a cabeça contra a parede acolchoada do asilo estadual.

Todos esses alunos, outrora, sentaram-se em minha sala e me olharam gravemente por cima das mesas marrons. Eu devo ter sido muito útil para esses alunos - ensinei-lhes o plano rítmico do soneto elisabetano e como diagramar uma sentença completa.

autoria desconhecida
(retirado de PULLIAS Earl V. & YOUNG, James D. A Arte do Magistério. Zahar Editores) 

A volta de um personagem do século XVI ao Brasil


Em pleno século XX, o Sr. Teixeira, um grande professor brasileiro do século XVI, voltou à Terra e chegando à sua cidade ficou abismado com o que viu: as casas altíssimas e cheias de janelas; as ruas eram pretas e passavam umas sobre as outras com uma infinidade de máquinas andando em alta velocidade; o povo falava muitas palavras que o professor Teixeira não conhecia (poluição, telefone, avião, rádio, metrô, cinema, televisão); os cabelos do povo pareciam com o tempo das cavernas... e as roupas deixavam o professor ruborizado.

Muito surpreso e preocupado com a mudança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Resolveu então visitar a Igreja, mas que susto levou! O padre rezava a missa em português e de costas para o altar, o órgão estava parado e um grupo de cabeludos tocava nas guitarras uma música estranha ao invés do canto gregoriano. O desespero do professor aumentava, mas ainda resolveu visitar algumas famílias. Mas... o que significava aquilo? Depois do jantar todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor Teixeira ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos. Ninguém falava uma palavra diante do aparelho.

Tudo havia mudado completamente e o Sr. Teixeira desanimava cada vez mais até que resolveu visitar uma escola. Foi uma ideia sensacional porque quando lá chegou sentiu a paz e  a tranquilidade que procurava. Tudo continuava da mesma forma como ele havia deixdo: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando...

Extraído do Jornal " Comunicação e Expressão " (sem autoria ou data).

Lourdes


Atenciosa
Carinhosa
Tranquila
Solidária

Calma
Vagarosa
Amorosa
Sorridente

Discreta
Religiosa
Fervorosa

Simples
Resignada
Misteriosa

Minha homenagem à Tia Lourdes, que no dia de hoje recuperou minhas forças através do seu olhar carinhoso e sua forte presença... Obrigado