sábado, 18 de julho de 2020

Canção Para Uma Valsa Lenta

Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance...
Minha vida passou por passar.
Se não amas, não finjais, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar...


Poema de Mário Quintana retirado da coletânea Os Melhores Poemas, Global Editora. 3ª Edição, 1987. Seleção de Fausto Cunha.

Da Primeira Vez Que Me Assassinaram

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram.
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões de estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!


Poema de Mário Quintana retirado da coletânea Os Melhores Poemas, Global Editora. 3ª Edição. 1987. Seleção de Fausto Cunha.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

O Grande Circo Místico

O médico de câmara da imperatriz Teresa - Frederico Knieps
resolveu que seu filho também fosse médico,
mas o rapaz fazendo relações com a equilibrista Agnes,
com ela se casou, fundando a dinastia do circo Knieps
de que tanto se tem ocupado a imprensa.
Charlote, filha de Frederico, se casou com o claune,
do que nasceram Marie e Oto.
E Oto se casou com Lily Braun, a grande deslocadora
que tinha no ventre um santo tatuado.
A filha de Lily Braun - a tatuada no ventre
quis entrar para um convento,
mas Oto Frederico Knieps não atendeu,
e Margarete continuou a dinastia do circo
de que tanto se tem ocupado a imprensa.
Então, Margarete tatuou o corpo
sofrendo muito por amor de Deus,
pois gravou em sua pele rósea
a Via-Sacra do Senhor dos Passos.
E nenhum tigre a ofendeu jamais;
e o leão Nero que já havia comido dois ventríloquos,
quando ela entrava nua pela jaula adentro, 
chorava como um recém-nascido.
Seu esposo - o trapezista Ludwig nunca mais a pode amar,
pois as gravuras sagradas afastavam
a pele dela e o desejo dele.
Então o boxeur Rudolf que era ateu
e era homem-fera derrubou Margarete e a violou.
Quando acabou, o ateu se converteu, morreu.
Margarete pariu duas meninas que são o prodígio do Grande Circo Knieps.
Mas o maior milagre são as suas virgindades
em que os banqueiros e os homens de monóculos têm esbarrado;
são as suas levitações que a plateia pensa ser truque;
é a sua pureza em que ninguém acredita;
são as suas mágicas em que os simples dizem que há o diabo;
mas as crianças creem nelas, são seus fiéis, seus amigos, seus devotos.
Marie e Helène se apresentam nuas,
dançam no arame e deslocam de tal forma os mebros
que parece que os membros não são delas.
A plateia bisa coxas, bisa seios, bisa sovacos.
Marie e Helène se repartem todas,
se distribuem pelos homens cínicos,
mas ninguém vê as almas que elas conservam puras.
E quando atiram os membros para a visão dos homens,
atiram as almas para a visão de Deus.
Com a verdadeira história do Grande Circo Knieps
muito pouco se tem ocupado a imprensa.

Poema de Jorge de Lima retirado da coletânea Nossos Clássicos, da Livraria Agir Editora, 3ª Edição, 1975.

O Grande Desastre Aéreo de Ontem

Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista, em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuves batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabina ainda vem dormindo, tão tranquila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.

Texto de Jorge de Lima.

O Acendedor de Lampiões

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele que doura a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões de rua!

Soneto de Jorge de Lima, retirado do livro Nossos Clássicos, Livraria Agir Editora, 3a Edição, 1975.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

O Filho

Um homem muito rico e seu filho tinham grande paixão pela arte. Tinham de tudo em sua coleção, desde Picasso até Rafael. Muito unidos, se sentavam juntos para admirar as grandes obras de arte.

Por uma desgraça do destino, seu filho foi para a guerra. Foi muito valente e morreu na batalha, quando resgatava um soldado.

O pai recebeu a notícia e sofreu profundamente a morte de seu único filho. 

Um mês mais tarde, justo antes do Natal, alguém bateu na porta... Um jovem com uma grande tela em suas mãos disse ao pai:

- Senhor, você não me conhece, mas eu sou o soldado por quem seu filho deu a vida. Ele salvou muitas vidas nesse dia e estava me levando a um lugar seguro quando uma bala lhe atravessou o peito, morrendo assim, instantaneamente. Ele falava muito do senhor e deu seu amor pela arte.

E o rapaz estendeu os braços para entregar a tela.

- Eu sei que não é muito e eu também não sou um grande artista, mas sei também que seu filho gostaria que você recebesse isto.

O pai abriu a tela. Era o retrato de seu filho, pintado pelo jovem soldado. Ele olhou com profunda admiração a maneira como o soldado havia capturado a personalidade de seu filho na pintura. 

O pai estava tão atraído pela expressão dos olhos de seu filho que seus próprios olhos se encheram de lágrimas. Ele agradeceu ao jovem soldado e ofereceu pagar-lhe pela pintura.

- Não, senhor, eu nunca poderia pagar-lhe o que seu filho fez por mim. Essa pintura é um presente.

O pai colocou a tela a frente de suas grandes obras de arte. Cada vez que alguém visitava sua casa, ele mostrava o retrato do filho, antes de mostrar sua famosa galeria.

O homem morreu alguns meses mais tarde e se anunciou um leilão de todas as suas obras de arte. Muita gente importante e influente, com grandes expectativas de comprar verdadeiras obras de arte.

Em exposição, estava o retrato do filho.

O leiloador bateu seu martelo para dar início ao leilão.

- Começaremos o leilão com o retrato "O FILHO". Quem oferece por este quadro? Um grande silêncio...

Então, um grito do fundo da sala:

- Queremos ver as pinturas famosas!!! Esqueça-se desta!!!

O leiloador insistiu... 

- Alguém oferece algo por essa pintura? $100? $200? 

Mais uma vez outra voz:

- Não viemos por esta pintura! Viemos por Van Goghs, Picasso... Vamos às ofertas de verdade...

Mesmo assim, o leiloador continuou:

- O FILHO!!! O FILHO!!! Quem leva O FILHO?

Finalmente, uma voz:

- Eu dou $ 10 pela pintura.

Era o velho jardineiro da casa. Sendo um homem muito pobre, esse era o único dinheiro que podia oferecer.

- Temos $10! Quem dá 20$? gritou o leiloador.

As pessoas já estavam irritadas, não queriam a pintura O FILHO, queriam as que realmente eram valiosas, para completarem sua coleção.

Então, o leiloador bateu o martelo. Dou-lhe uma, dou-lhe duas... Vendida por $10!!!

- Agora vamos começar com a coleção!! gritou um.

O leiloador soltou seu martelo e disse:

- Sinto muito, damas e cavalheiros, mas o leilão chegou ao seu final.

- Mas, e as pinturas? disseram os interessados.

- Eu sinto muito, disse o leiloeiro. Quando me chamaram para fazer o leilão, havia um segredo estipulado no testamento do dono. Não seria permitido revelar esse segredo até esse exato momento. Somente a pintura O FILHO seria leiloada. Aquele que a comprasse, herdaria absolutamente todas as posses deste homem, inclusive as famosas pinturas. O homem que comprou O FILHO fica com tudo...

Autoria desconhecida. 

O Laço Azul

Uma professora decidiu homenagear seus alunos do último ano colegial, dizendo a cada um deles a sua importância.

Ela chamou todos os alunos em frente à classe, um de cada vez.

Primeiro, disse a eles como eram importantes para ela e para a classe. Então, presenteou cada um deles com um laço azul com uma frase impressa em letras douradas: EU SOU IMPORTANTE.

Depois, a professora resolveu desenvolver um trabalho com a classe para ver que tipo de impacto o reconhecimento teria sobre a comunidade.

Deu a cada aluno mais três laços e os instruiu para que saíssem e disseminassem a cerimônia de reconhecimento. Em seguida, eles deveriam acompanhar os resultados. Ver quem homenagearia quem e relatar à classe dentro de uma semana.

Um dos alunos foi até um executivo Júnior de uma empresa próxima e o condecorou por ajudá-lo no planejamento de sua carreira.

Então, deu-lhe dois outros laços e disse:

- Estamos fazendo um trabalho para a Escola sobre reconhecimento. Gostaríamos que você procurasse alguém para homenagear, que o presenteasse com um laço azul, e que lhe desse outro laço para ela homenagear uma terceira pessoa, disseminando esta cerimônia de reconhecimento. Em seguida, por favor, procure-me novamente e conte-me o que aconteceu.

Mais tarde, naquele dia, o executivo Júnior procurou seu chefe, que era tido até então, como um cara rabugento. Pediu ao chefe que se sentasse e disse-lhe que o admirava profundamente por seu gênio criativo. O chefe pareceu surpreso.

O rapaz perguntou-lhe se aceitaria o laço azul como presente e se permitia que ele o colocasse. Seu chefe, surpreso, disse que sim. O executivo Júnior pegou o laço de fita azul e colocou-o no paletó do chefe bem acima do coração. Ao dar ao chefe o último laço, disse:

- O senhor me faz um favor? Receberia este outro laço e o passaria adiante homenageando outra pessoa? O garoto que me deu o laço está fazendo um trabalho para a Escola e quer que esta cerimônia de reconhecimento prossiga, para descobrir como ela influencia as pessoas.

Naquela noite, ao chegar em casa, o chefe procurou seu filho de quatorze anos e pediu que se sentasse e disse:

- Hoje me aconteceu uma coisa incrível. Estava em meu escritório e um dos executivos Juniores entrou, disse que me admirava e me deu este laço azul por me considerar um gênio criativo. Então, ele prendeu este laço que diz "EU SOU IMPORTANTE" no meu paletó, bem sobre meu coração... Deu-me um outro laço e pediu-me que homenageasse uma outra pessoa.

Esta noite, voltando para casa, comecei a pensar a quem homenagearia com este laço e pensei em você. Quero homenagear você. Meus dias são muito tumultuados e, quando chego em casa, não lhe dou muita atenção. Algumas vezes grito com você  por não tirar boas notas na escola e por seu quarto estar uma bagunça, mas de qualquer forma, esta noite eu gostaria apenas de me sentar aqui e, bem... Dizer-lhe que você é Muito Importante para mim. Além de sua mãe, você é a pessoa mais importante em minha vida. Você é um grande filho e eu amo você.

O sobressaltado garoto começou a soluçar e não conseguia parar de chorar. Todos o seu corpo tremia.

Ele olhou para o pai e disse através de lágrimas:

- Papai, eu planejava cometer suicídio amanhã, porque achava que você não me amava. Agora não preciso mais...

Autoria desconhecida.

O Lenhador Esforçado

Havia uma vez um lenhador que foi procurar trabalho em uma madeireira. O pagamento era bom e as condições de trabalho melhores ainda. Talvez o único problema no local era o exigente capataz.

O lenhador era um homem bom, tinha uma esposa amável, e cinco filhos adorados. Necessitava desse emprego e decidiu fazer um bom papel.

No primeiro dia se apresentou ao capataz, que com poucas palavras lhe deu um machado e lhe designou um local na mata onde ele seria o responsável pelo corte das árvores.

O homem muito entusiasmado saiu a trabalhar.

Em um só dia cortou dezoito árvores.

- Te felicito, continue sempre assim, disse o capataz, com o rosto sério, e muito fiel ao seu patrão.

Animado pelo trabalho, e de ter conseguido tirar um "Te felicito" desse homem tão severo, o lenhador decidiu melhorar seu próprio desempenho no segundo dia de labuta, e foi deitar-se bem cedo.

Na manhã seguinte levantou-se antes que os outros lenhadores e foi ao bosque trabalhar, mas apesar de todo seu empenho, não conseguiu cortar mais do que quinze árvores.

Ao voltar, exausto e desanimado cruza o caminho com o capataz e se justifica:

- Devo estar cansado, vou deitar mais cedo, descansar e amanhã recupero o dia de hoje.

O capataz nada disse, sequer alterou o seu semblante.

Ao amanhecer lá estava o lenhador no bosque decidido a superar sua marca de dezoito árvores. Nesse dia não chegou a cortar nem nove árvores.

Voltou ao final da tarde completamente arrasado, passou pelo capataz e nada disse.

Nessa noite mal conseguiu dormir. Pensava no que poderia estar acontecendo nesse local, seria uma maldição da floresta, a ação de duendes, a inveja dos outros lenhadores diante do primeiro elogio do capataz ou seria a própria energia severa do capataz que o impossibilitava de cortar mais árvores do que o seu feito inicial?

No dia seguinte cortou sete, depois cinco, e no último dia estava lutando para cortar a terceira árvores, quando se aproximou o capataz.

O lenhador completamente transtornado pela necessidade do emprego, pelo imenso esforço que estava fazendo, e pelo insucesso que ocorria, começou a falar:

- Não entendo o que se passa, juro que estou me esforçando ao limite máximo do meu corpo. Estou completamente esgotado do trabalho e dia após dia venho piorando a minha produção.

O capataz, de poucas palavras, lhe perguntou:

- Quando afiaste teu machado pela última vez?

- AFIAR??? Não tive tempo de afiar, estava muito ocupado cortando árvores e preocupado com minha produção.

Traduzido e adaptado do livro "Recuentos para Demian", de Jorde Bucay.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

O Povo da Caverna

(VOCÊ VAI PARTILHAR A LUZ?)

"A maior de todas as ignorâncias é rejeitar
uma coisa sobre a qual você nada sabe."
H. Jackson Brown

Havia uma caverna subterrânea com uma única abertura para o mundo exterior. Dentro dela, seres humanos acorrentados pelas pernas e pescoços, vivendo na semiescuridão desde a infância, presos de tal modo que não se podiam mover. Tais homens, verdadeiros prisioneiros, ficavam de costas para a abertura da caverna e só podiam olhar para a frente onde havia uma parede, pois eram impedidos de virar a cabeça por causa das correntes.

A única luz que viam era proveniente de uma fogueira que ardia do lado de fora da caverna, e que projetava, para seu interior, sombras de pessoas e objetos que passassem entre a fogueira e a entrada da caverna.

Assim, os prisioneiros acreditavam que as sombras que viam eram a única verdade, a realidade do seu mundo.

Em certo momento, um dos prisioneiros foi libertado das correntes e trazido para fora da caverna. No seu processo de adaptação à nova realidade, precisou acostumar-se com a claridade do fogo e a visão de um novo mundo. Viu primeiro as sombras no chão, depois os reflexos de homens e objetos na água, e então fitou-os diretamente. Depois, vendo o céu, o Sol, pôde raciocinar sobre eles. Tocou em objetos, pisou o solo e olhou para todos os lados. Descobriu fatos e coisas nunca antes imaginados, uma nova realidade.

Passado algum tempo, maravilhado com o grande processo de mudança que tinha vivido, lembrou-se dos companheiros e retornou à caverna. Era importante dar os demais prisioneiros a oportunidade de descobrir outra realidade. Mas sua missão não foi fácil. Por sua dificuldade em acostumar-se novamente à semiescuridão e em interpretar as sombras com a mesma habilidade, passou, a princípio, a ser ridicularizado pelo grupo. Os prisioneiros da caverna ainda acreditavam na sua "realidade", e concluíram que o prisioneiro libertado voltava enxergando menos que antes, contando estranhas histórias sobre uma "realidade impossível". Julgavam ser melhor não sair da caverna, não rejeitar as sombras tão familiares em troca de um mundo "melhor", porém desconhecido. Apesar das dificuldades, o "iluminado" enfrentou, com paciência e determinação, sua missão,  compreendendo as resistências impostas por seus companheiros e mantendo-se firme na busca pela evolução e pelo descobrimento de coisas novas para ele e seus semelhantes.

Considerado um dos homens mais sábios da Grécia antiga, Sócrates (cujo nome significa "mestre da vida") acreditava que o reconhecimento da ignorância é justamente o começo da sabedoria. Numa de suas frases mais conhecidas, percebemos o paradoxo contido neste pensamento: "SEI QUE NADA SEI."

Platão, em uma de suas obras clássicas, A República, desenvolveu muitas ideias de seu mestre Sócrates. No livro VII, que contém a parábola da caverna, somos levados a refletir sobre a missão de todos aqueles que estão em constante desenvolvimento e se propõem a superar as barreiras existentes nos processos de mudança.

Escrita há cerca de dois mil e quinhentos anos, a parábola da caverna constitui um ótimo modelo de perseverança e vontade de melhorar. Modernamente,  quando saímos de nossas "cavernas" para o mundo exterior, buscando qualidade de vida, estamos percorrendo o mesmo caminho do prisioneiro libertado. Da mesma forma, quando retornamos à caverna para motivar nossos colegas, devemos estar preparados para enfrentar as barreiras às mudanças e os comportamentos conservadores que preferem as sombras conhecidas à nova realidade fora da caverna.

É o momento de refletirmos sobre nossos progressos e nossa missão como agentes de mudanças e de encorajar pessoas. Devemos reconhecer quanto já percorremos até aqui. Apesar disso, a lição do "Mestre da Vida" deve servir como alerta para o nosso constante aperfeiçoamento. É preciso sempre querer saber mais e, sobretudo, partilhar.

Texto de Daniel de Carvalho Luz, do livro Insight, da DVS Editora, de 2001.

25 de fevereiro

Por que não lhe disse antes? Apertá-lo demoradamente contra o meu peito e dizer. Não disse porque pensava que tinha pela frente a eternidade. Só me resta agora esperar que aconteça outra vez, vislumbro esse encontro - mas vou reconhecê-lo? E vou me reconhecer nos farrapos da memória do meu eu? Peço que me faça um sinal e responderei ao código secreto na noite e no silêncio dos navios que se comunicam quando se cruzam no mar.

Trecho 25 de fevereiro, de Lygia Fagundes Telles, do livro A Disciplina do Amor - fragmentos. Editora Nova Fronteira, 7ª Edição, 1980.