quarta-feira, 15 de julho de 2020

O Povo da Caverna

(VOCÊ VAI PARTILHAR A LUZ?)

"A maior de todas as ignorâncias é rejeitar
uma coisa sobre a qual você nada sabe."
H. Jackson Brown

Havia uma caverna subterrânea com uma única abertura para o mundo exterior. Dentro dela, seres humanos acorrentados pelas pernas e pescoços, vivendo na semiescuridão desde a infância, presos de tal modo que não se podiam mover. Tais homens, verdadeiros prisioneiros, ficavam de costas para a abertura da caverna e só podiam olhar para a frente onde havia uma parede, pois eram impedidos de virar a cabeça por causa das correntes.

A única luz que viam era proveniente de uma fogueira que ardia do lado de fora da caverna, e que projetava, para seu interior, sombras de pessoas e objetos que passassem entre a fogueira e a entrada da caverna.

Assim, os prisioneiros acreditavam que as sombras que viam eram a única verdade, a realidade do seu mundo.

Em certo momento, um dos prisioneiros foi libertado das correntes e trazido para fora da caverna. No seu processo de adaptação à nova realidade, precisou acostumar-se com a claridade do fogo e a visão de um novo mundo. Viu primeiro as sombras no chão, depois os reflexos de homens e objetos na água, e então fitou-os diretamente. Depois, vendo o céu, o Sol, pôde raciocinar sobre eles. Tocou em objetos, pisou o solo e olhou para todos os lados. Descobriu fatos e coisas nunca antes imaginados, uma nova realidade.

Passado algum tempo, maravilhado com o grande processo de mudança que tinha vivido, lembrou-se dos companheiros e retornou à caverna. Era importante dar os demais prisioneiros a oportunidade de descobrir outra realidade. Mas sua missão não foi fácil. Por sua dificuldade em acostumar-se novamente à semiescuridão e em interpretar as sombras com a mesma habilidade, passou, a princípio, a ser ridicularizado pelo grupo. Os prisioneiros da caverna ainda acreditavam na sua "realidade", e concluíram que o prisioneiro libertado voltava enxergando menos que antes, contando estranhas histórias sobre uma "realidade impossível". Julgavam ser melhor não sair da caverna, não rejeitar as sombras tão familiares em troca de um mundo "melhor", porém desconhecido. Apesar das dificuldades, o "iluminado" enfrentou, com paciência e determinação, sua missão,  compreendendo as resistências impostas por seus companheiros e mantendo-se firme na busca pela evolução e pelo descobrimento de coisas novas para ele e seus semelhantes.

Considerado um dos homens mais sábios da Grécia antiga, Sócrates (cujo nome significa "mestre da vida") acreditava que o reconhecimento da ignorância é justamente o começo da sabedoria. Numa de suas frases mais conhecidas, percebemos o paradoxo contido neste pensamento: "SEI QUE NADA SEI."

Platão, em uma de suas obras clássicas, A República, desenvolveu muitas ideias de seu mestre Sócrates. No livro VII, que contém a parábola da caverna, somos levados a refletir sobre a missão de todos aqueles que estão em constante desenvolvimento e se propõem a superar as barreiras existentes nos processos de mudança.

Escrita há cerca de dois mil e quinhentos anos, a parábola da caverna constitui um ótimo modelo de perseverança e vontade de melhorar. Modernamente,  quando saímos de nossas "cavernas" para o mundo exterior, buscando qualidade de vida, estamos percorrendo o mesmo caminho do prisioneiro libertado. Da mesma forma, quando retornamos à caverna para motivar nossos colegas, devemos estar preparados para enfrentar as barreiras às mudanças e os comportamentos conservadores que preferem as sombras conhecidas à nova realidade fora da caverna.

É o momento de refletirmos sobre nossos progressos e nossa missão como agentes de mudanças e de encorajar pessoas. Devemos reconhecer quanto já percorremos até aqui. Apesar disso, a lição do "Mestre da Vida" deve servir como alerta para o nosso constante aperfeiçoamento. É preciso sempre querer saber mais e, sobretudo, partilhar.

Texto de Daniel de Carvalho Luz, do livro Insight, da DVS Editora, de 2001.

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