sábado, 25 de julho de 2020

Kirimurê*

Espelho virado ao céu
Espelho do mar de mim
Iara índia de mel
Deitada nas ondas brancas
Rendeira da beira da terra
Com a espume da esperança

Kirimurê linda varanda
De águas salgadas mansas
De águas salgadas mansas
Que mergulham dentro de mim

Meu Deus deixou de lembrança
Nas conchas dos sambaquis
Na fome da minha gente
E nos traços que guardo em mim
Minha voz é flecha ardente
Nos Catimbós que vivem aqui

Eira e beira
Onde era mata hoje é Bonfim
De onde meu povo espreitava baleias
É um farol que desnorteia a mim
Eira e beira
Um caboclo não é Serafim
Salvem as folhas brasileiras
Oh! Salvem as folhas pra mim

Se me derem a folha certa
E eu cantar como aprendi
Vou livrar a terra inteira
De tudo que é ruim

Eu sou o Dono da Terra
Eu sou o Caboclo daqui


Poema de J. Veloso retirado do livro Santo Antônio e outros cantos... Produção Editorial, 2010.
* Kirimurê, termo que significa, na língua dos tupinambás, "mar interior".

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