sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Guardanapos de Papel

  Lee Masliah - adaptação em português: Carlos Sandroni


Na minha cidade tem poetas, poetas
que chegam sem tambores nem trombetas, trombetas
e sempre aparecem quando menos aguardados,
guardados, guardados
entre livros e sapatos, em baús empoeirados

Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares, seus pares
e convivem com fantasmas multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras e te pedem que não chores

Suas ilusões são repartidas, partidas, 
partidas entre mortos e feridas,
feridas, feridas mas resistem com palavras, confundidas,
fundidas, fundida

Ao seu triste passo lento pelas ruas e avenidas
Não desejam glórias nem medalhas,
medalhas, medalhas,
se contentam com migalhas, migalhas,
migalhas de canções e brincadeiras com seus versos dispersos
dispersos, obcecados pela busca de tesouros submersos

Fazem quatrocentos mil projetos
projetos, projetos, que jamais são alcançados, cansados,
cansados nada disso importa enquanto eles escrevem,
escrevem, escrevem o que sabem que não sabem,
e o que dizem que não devem

Andam pelas ruas os poetas,
poetas, poetas, como se fossem cometas, cometas, cometas
num estranho céu de estrelas idiotas
e outras e outras
cujo brilho sem barulho, veste suas caudas tortas

Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
de palavras retorcendo-se confusas, confusas, confusas
em delgados guardanapos, feito moscas inconclusas

Andam pelas ruas escrevendo e vendo,
e vendo o que eles veem nos vão dizendo, dizendo,
e sendo eles poetas de verdade,
enquanto espiam e piram,
não se cansam de falar do que eles juram que não viram

Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas,
como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas,
lançadas ao espaço e o mundo inteiro,
inteiro, inteiro, fossem vendo pra depois,
voltar pro Rio de Janeiro

música do CD de Clara Sandroni lançado em 1989 e relançado em 2003 pela gravadora Biscoito Fino;

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