domingo, 2 de junho de 2024

Trechos do Prefácio de A Cama na Varanda

O amor, na forma como o conhecemos, começa a sair de cena, levando consigo a idealização do par romântico, com sua proposta de os dois se transformarem num só, e a ideia de exclusividade.

Observamos a tendência de substituir a idealização pela amizade e pelo companheirismo nas relações amorosas.

Assistimos a um novo mundo de possibilidades, em que o leque de escolhas diante do amor se amplia. A crença na ideia de que se deve encontrar toda a satisfação num único parceiro fica abalada com a hipótese de se amar mais de uma pessoa simultaneamente.

O casamento experimenta profundas transformações. Num futuro próximo, casais podem estar ligados por laços afetivos, profissionais ou mesmo familiares, sem que isso impeça sua vida amorosa de se multiplicar com outros parceiros.

O século XXI deverá assistir ao estabelecimento de uma inédita sociedade de solteiros. As famílias de um único genitor se tornarão predominantes. O mito da necessidade de pai e mãe viverem juntos para a formação sadia do indivíduo caiu quase definitivamente.

O conceito de família ampliou-se. Os casais homossexuais são aceitos com mais naturalidade, e o número de países que admitem a união estável entre gays cresce a cada ano. Alguns dão aos cônjuges do mesmo sexo todos os benefícios que têm os casais heterossexuais, inclusive os direitos a herança, pensão para o viúvo, adoção de crianças e divórcio.

O sexo perde, aos poucos, a visão moralista que predominou sobre ele ao longo da história da civilização. O reconhecimento de que sua prática é fator de equilíbrio e princípio de vida saudável, amplamente anunciado por W. Reich nos primórdios do século XX tornou-se consensual.

As dificuldades de encontrar parceiros são superadas pelo sexo virtual. Ninguém sabe quem está do outro lado, mas isso não impede que se vivam fortes emoções. A rede permite as relações entre estranhos com mais facilidade que em boates, bares e festas. Os cybergames eróticos devem reproduzir o prazer sexual num futuro que se anuncia próximo.

Há sinais de que caminhamos para o fim do gênero sexual. A androginia refere-se a uma maneira específica de juntar os aspectos "masculinos" e "femininos" de um único ser humano. É possível que, num futuro não muito distante, com a dissolução da fronteira entre masculino e feminino, as pessoas escolham seus parceiros amorosos e sexuais pelas características de personalidade, não mais pela condição de serem homens ou mulheres.


Trechos do prefácio do livro A Cama na Varanda (Arejando nossas ideias a respeito de amor e sexo), de Regina Navarro Lins, Editora Best Seller, 5ª Edição, Rio de Janeiro, 2005. Publicado inicialmente em 1997 pela Editora Rocco.

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