segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

20. Se mudarmos as palavras, muda a sociedade.

Esse mito sustenta as iniciativas politicamente corretas de limpeza da linguagem de toda ordem de preconceitos sociais. A substituição de palavras marcadas por não marcadas ideologicamente acabaria com os preconceitos.

A correção política depende do tipo de conversação que uma sociedade acredita caber em seu meio. Na vida urbana impessoal, as relações tendem, a ser pautadas não tanto pelos contatos familiares e estreitos, em que a rede de recriminações é tão densa quanto mediada pelos afetos das relações diretas.

Os contatos são marcados por graus de separação, em que o sujeito ao lado é um desconhecido a que somos indiferentes, ante o qual nos sentimos constrangidos, quando não ameaçados, e contra o qual devemos reagir de forma cirúrgica e preventiva. Ante o outro, o rigor da lei, não o desafio do contato. Sendo obrigação ditada de fora, há quem duvide que a correção política vire uma conduta ética sincera. Formas sutis ou rasteiras de discriminação, no entanto, independem da assepsia das palavras. O máximo que farão é colocar em dúvida a nossa capacidade social para o debate.


Mitos Ideológicos, 100 Mitos, texto de Luiz Costa Pereira Júnior retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

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