sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

47. Bilíngues falam sem sotaque? (Três mitos da pronúncia - 3)

É muito mais comum encontrar pessoas bilíngues que têm sotaque. Ter ou não um sotaque não determina a habilidade linguística de uma pessoa.


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

46. Subsídio (Três mitos da pronúncia - 2)

Muita gente pronuncia como /z/ o /s/ de subsídio ou de "subsistência". Sempre que a letra /s/ ocorre depois de uma consoante oral, seu som será sempre o de /c/ de cebola, como em: "verso", "falso", "lapso" etc. Assim, a pronúncia do /s/ em "subsídio" e "subsistência" é a mesma do /s/ de "subsolo", "subsequente" etc. A exceção é a pronúncia de "obséquio" e derivados.


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

45. Hexa (Três mitos da pronúncia - 1)

O prefixo "hexa" é a versão gráfica da forma acústica /eza/, o mesmo modo deslizante de enunciar a letra [x] de "exame". Palavras começadas com [e] ou [h], seguidos por som em /z/, são escritas com [x], daí "exumar", "hexágono", "exímio", "exultar" etc. Mas, no Brasil da Copa, "hexa" ganhou a pronúncia rascante /heksa/, à maneira de quem diz "fixo" (som de dois fonemas, /ks/).


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

44. Terminação '-izar' é modismo condenável

São várias as razões para uma expressão nova ser incorporada ao cotidiano de uma população. Uma delas é seu prestígio. Muitos puristas odeiam palavras como "alavancar", mas há gente que gosta, ora. Quem adapta uma expressão de outra Língua o faz porque isso lhe soa bem, moderno, ou porque denota sua profissão, sua posição, mesmo que seja sua posição imaginária numa sociedade - o cara "quer" ser globalizado, popular, informal, up-to-date... etc.

Em palavras como "disponibilizar", o importante não é que seja nova ou seja um modismo, mas obedeça rigorosamente a regras da gramática: por exemplo, o /v/ de "disponível" se torna um /b/ (como em "viável = viabilizar" etc; é um verbo da 1ª conjugação (todos os verbos novos são, mesmo os derivados de palavras estrangeiras, é só conferir); o sufixo "-ilizar" mantém seu sentido em todos os verbos em que ocorre, etc.

É falha a visão que olha a Língua apenas por meio das palavras, sem considerar sua estrutura...


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Esmola (60)

 "Dai antes esmola do que tiverdes." - Jesus. (LUCAS, 11:41.)


A palavra do Senhor está sempre estruturada em luminosa beleza que não podemos perder de vista.

No capítulo da esmola, a recomendação do Mestre, dentro da narrativa de Lucas, merece apontamentos especiais.

"Dai antes esmola do que tiverdes."

Dar o que temos é diferente de dar o que detemos.

A caridade é sublime em todos os aspectos sob os quais se nos revele e em circunstância alguma devemos esquecer a abnegação admirável daqueles que distribuem pão e agasalho, remédio e socorro para o corpo, aprendendo a solidariedade e ensinando-a.

É justo, porém, salientar que a fortuna ou a autoridade são bens que detemos provisoriamente na marcha comum e que, nos fundamentos substanciais da vida, não nos pertencem.

O dono de todo poder e de toda a riqueza no Universo é Deus, nosso Criador e Pai, que empresta recursos aos homens, segundo os méritos ou as necessidades de cada um.

Não olvidemos, assim, as doações de nossa esfera íntima e perguntemos a nós mesmos:

Que temos de nós próprios para dar?

Que espécie de emoção estamos comunicando aos outros?

Que reações provocamos no próximo?

Que distribuímos com os nosso companheiros de luta diária?

Qual é o destaque de nossos sentimentos?

Que tipo de vibrações espalhamos?

Para difundir a bondade, ninguém precisa cultivar riso estridente ou sorrisos baratos, mas, para não darmos pedras de indiferença aos corações famintos de pão da fraternidade, é indispensável amealhar em nosso espírito as reservas da boa compreensão, emitindo o tesouro de amizade e entendimento que o Mestre nos confiou em serviço ao bem de quantos nos rodeiam, perto ou longe.

É sempre reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância.

O aviso do Instrutor Divino nas anotações de Lucas significa: - dai esmola de vossa vida íntima, ajudai por vós mesmos, espalhai alegria e bom ânimo, oportunidade de crescimento e elevação com os vossos semelhantes, sede irmãos dedicados ao próximo, porque, em verdade, o amor que se irradia em bênçãos de felicidade e trabalho, paz e confiança, é sempre a dádiva maior de todas.


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

43. Vírgula é pausa para respirar

A vírgula é um fenômeno sintático, que ajuda na formação das frases, para facilitar seu entendimento. E é sempre bom lembrar que, mesmo sem a presença da vírgula, é possível respirar.


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

42. O acento til marca a sílaba tônica

Primeiro, o til não é um acento, mas um sinal gráfico. Ele marca a nasalidade da sílaba, não necessariamente a sílaba tônica: em "órfão", por exemplo, a sílaba tônica é /ór-/. 


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

41. Não há crase antes de palavras masculinas

A crase é usada antes de palavras femininas. Há casos, no entanto, em que ela pode aparecer antes de termos masculinos: "Ele fez um gol à Raí". Antes do nome está implícita a expressão "à moda de". Outro exemplo é quando antes da palavra masculina estiver implícita uma palavra feminina: "Refiro-me à mulher da direita, não à (mulher) do meio". Diante do pronome "aquele" isso também ocorre. "Dedicou-se àquele trabalho de pesquisa". Na frase, a crase está em uma palavra masculina.


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

sábado, 22 de fevereiro de 2025

40. A dupla negação é ilógica

A dupla negação ("não vi ninguém") atua numa frase como reforço da negativa, não como seu cancelamento. A mesma coisa ocorre com o francês "ne... pas" e o inglês: " I can't get no satisfaction" é o principal verso de Satisfaction, sucesso dos Rolling Stones.


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

Palavras da vida eterna (59)

 "Tu tens as palavras da vida eterna." - Simão Pedro. (JOÃO, 6:68)


Rodeiam-te as palavras, em todas as fases da luta e em todos os ângulos do caminho.

Frases respeitáveis que se referem aos teus deveres.

Verbo amigo trazido por dedicações que te reanimam e consolam.

Opiniões acerca de assuntos que te não dizem respeito.

Sugestões de variadas origens.

Preleções valiosas.

Discursos vazios que os teus ouvidos lançam ao vento.

Palavras faladas... palavras escritas...

Dentre as expressões verbalistas articuladas ou silenciosas, junto das quais a tua mente se desenvolve, encontrarás, porém, as palavras da vida eterna.

Guarda teu coração à escuta.

Nascem do amor insondável do Cristo, como a água pura do seio imenso da Terra.

Muitas vezes te manténs despercebido e não lhes assinalas o aviso, o cântico, a lição e a beleza.

Vigia no mundo, isolado de ti mesmo, para que lhes não percas o sabor e a claridade.

Exortam-te a considerar a grandeza de Deus e a viver de conformidade com as Suas Leis.

Referem-se ao Planeta como sendo nosso Lar e à Humanidade como sendo a nossa família.

Revelam no amor o laço que nos une a todos.

Indicam no trabalho o nosso roteiro de evolução e aperfeiçoamento.

Descerram os horizontes divinos da vida e ensinam-nos a levantar os olhos para o mais alto e para o mais além.

"Palavras, palavras, palavras..."

Esquece aquelas que te incitam à inutilidade, aproveita quantas te mostram as obrigações justas e te ensinam a engrandecer a existência, mas não olvides as frases que te acordam para a luz e para o bem; elas podem penetrar o nosso coração, através de um amigo, de uma carta, de uma página ou de um livro, mas no fundo, procedem sempre de Jesus, o Divino Amigo das Criaturas.

Retém contigo as palavras da vida eterna, porque são as santificadoras do espírito, na experiência de cada dia, e sobretudo, o nosso seguro apoio mental nas horas difíceis das grandes renovações.


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

39. Só há crase com "distância" quando a palavra é determinada

Há um mito de que a gente só coloca crase no artigo a ali ao lado da palavra "distância" quando a distância é determinada.

"O carro estava à distância de 100 metros do estacionamento".

Mas não é bem assim. A crase é assinalada quando aquilo de que a gente fala está em um ponto distante. Algo está a uma distância que a gente pode localizar. Aí a gente bota crase. Um exemplo do dicionário Houaiss: " A sentinela vigia à distância". Mas não há crase quando a gente fala de algo de forma imprecisa, que está bem ao longe, em um ponto distante, meio sem dar muita bola pra coisa. Exemplo do Houaiss: "Viram algo mexendo a distância". Aí não há crase.


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

38. A sintaxe correta é a de "sujeito-predicado"

Não é óbvio que a estrutura da oração do Português (falado) no Brasil seja sujeito-predicado. Muitas orações seguem a estrutura "tópico-comentário".

"O relógio, quebrou o ponteiro".

Sintaxe mais frequente: "O ponteiro do relógio quebrou-se".

Em "O Brasil, ele saiu da crise", "Brasil" é o tópico da oração e "ele saiu da crise", o comentário (que só então assume a estrutura sujeito-predicado).

Topicalização é um mecanismo discursivo de seleção de um tópico do texto, que desloca o constituinte para a esquerda da sentença.

"O carro furou o pneu" (o automóvel teve o pneu furado).

"O João, o carro dele, o pneu furou" (o pneu do carro do João furou).

"Moro subindo essa rua" (não é o enunciador quem sobe, é todo mundo).

Esse tipo de construção é aceitável porque o Português é Língua mista.

Na estrutura tópico-comentário, constatamos que o sujeito é o assunto, o ser sobre o qual se faz a declaração, não quem "pratica a ação", o "agente".


Mitos Ideológicos, 100 Mitos retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 100, Fevereiro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Discípulos (58)

 "E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo." - Jesus. (LUCAS, 14:27.)


Os círculos cristãos de todos os matizes permanecem repletos de estudantes que se classificam no discipulado de Jesus, com inexcedível entusiasmo verbal, como se a ligação legítima com o Mestre estivesse circunscrita a problema de palavras.

Na realidade, porém, o Evangelho não deixa dúvidas a esse respeito.

A vida de cada criatura consciente é um conjunto de deveres para consigo mesma, para com a família de corações que se agrupam em torno dos seus sentimentos e para com a Humanidade inteira.

E não é tão fácil desempenhar todas essas obrigações com aprovação plena das diretrizes evangélicas.

Imprescindível se faz eliminar as arestas do próprio temperamento, garantindo o equilíbrio que nos é particular, contribuir com eficiência em favor de quantos nos cercam o caminho, dando a cada um o que lhe pertence, e servir à comunidade, de cujo quadro fazemos parte.

Sem que nos retifiquemos, não corrigiremos o roteiro em que marchamos.

Árvores tortas não protejam imagens irrepreensíveis.

Se buscamos a sublimação com o Cristo, ouçamos os ensinamentos divinos. Para sermos discípulos dele é necessário nos disponhamos com firmeza a conduzir a cruz de nossos testemunhos de assimilação do bem, acompanhando-lhes os passos.

Aprendizes existem que levam consigo o madeiro das provas salvadoras, mas não seguem o Senhor por se confiarem à revolta através do endurecimento e da fuga.

Outros aparecem, seguindo o Mestre nas frases bem-feitas, mas não carregam a cruz que lhes toca, abandonando-a à porta de vizinhos e companheiros.

Dever e renovação.

Serviço e aprimoramento.

Ação e progresso.

Responsabilidade e crescimento espiritual.

Aceitação dos impositivos do bem e obediência aos padrões do Senhor.

Somente depois de semelhantes aquisições é que atingiremos a verdadeira comunhão com o Divino Mestre.


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Apóstolos (57)

 "Porque tenho para mim que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens." - Paulo. (I CORÍNTIOS, 4:9.)


O apóstolo é o educador por excelência. Nele residem a improvisação de trabalho e o sacrifício de si mesmo para que a mente dos discípulos se transforme e se ilumine, rumo à esfera superior.

O legislador formula decretos que determinam o equilíbrio e a justiça na zona externa do campo social.

O administrador dispõe dos recursos materiais e humanos, acionando a máquina dos serviços terrestres.

O sacerdote ensina ao povo as maneiras da fé em manifestações primárias.

O artista embeleza o caminho da inteligência, acordando o coração para as mensagens edificantes que o mundo encerra em seu conteúdo de espiritualidade.

O cientista surpreende as realidades da Sabedoria Divina criadas para a evolução da criatura e revela-lhes a expressão visível ou perceptível ao conhecimento popular.

O pensador interroga, sondando os fenômenos passageiros.

O médico socorre a carne enfermiça.

O guerreiro disciplina a multidão e estabelece a ordem.

O operário é o ativo menestrel das formas, aperfeiçoando os vasos destinados à preservação da vida.

Os apóstolos, porém, são os condutores do espírito.

Em todas as grandes causas da Humanidade, são instituições vivas do exemplo revelador, respirando no mundo das causas e dos efeitos, oferecendo em si mesmos a essência do que ensinam, a verdade que demonstram e a claridade que acendem ao redor dos outros. Interferem na elaboração dos pensamentos dos sábios e dos ignorantes, dos ricos e dos pobres, dos grandes e dos humildes, renovando-lhes o modo de crer e de ser, a fim de que o mundo se engrandeça e se santifique. 

Nelas surge a equação dos fatos e das ideias, de que se constituem pioneiros ou defensores, através da doação total de si próprios a benefício de todos. Por isso, passam na Terra, trabalhando e lutando, sofrendo e crescendo sem descanso, com etapas numerosas pelas cruzes da incompreensão e da dor. 

Representando, em si, o fermento espiritual que leveda a massa do progresso e do aprimoramento, transitam no mundo, conforme a definição de Paulo de Tarso, como se estivessem colocados pela Providência Divina nos últimos lugares da experiência humana, à maneira de condenados a incessante sofrimento, pois neles estão condensadas a demonstração positiva do bem para o mundo, a possibilidade de atuação para os Espíritos Superiores e a fonte de benefícios imperecíveis para a Humanidade inteira.


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.