domingo, 24 de agosto de 2025

Introdução do Livro "1808"

O Brasil foi descoberto em 1500, mas, de verdade, só foi inventado como país em 1808. Foi quando a família real portuguesa chegou ao Rio de Janeiro fugindo das tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte. Até então, o Brasil ainda não existia.

Pelo menos, não como é hoje: um país integrado, de dimensões continentais, fronteiras bem definidas e habitantes que se identificam como brasileiros. Até 1807, era apenas uma grande fazenda, de onde Portugal tirava produtos que levava embora. Ou seja, uma colônia extrativista, sem qualquer noção de identidade nacional.

As diferentes províncias eram relativamente autônomas. Não havia comércio nem estradas, meios de comunicação, nem, praticamente, contato entre elas. Tinham como único ponto de referência em comum o Governo Português, que ficava lá em Lisboa, do outro lado do Atlântico.

A vinda da Corte transformaria radicalmente esse cenário. Uma semana depois do seu desembarque em Salvador, o regente D. João (que ainda não era João VI) anunciou a abertura dos portos. Além disso - uma medida muito importante -, na chegada ao Rio de Janeiro, liberou o comércio e a indústria manufatureira, o que, na prática, era o fim do sistema colonial.

Antes disso, o Brasil não podia comerciar com nenhuma nação, a não ser com Portugal. E não podia fabricar nada por aqui - livros, sapatos, louça de casa, tecidos; tudo era comprado de Portugal ou por intermédio de Portugal. Eram três séculos de monopólio português que terminavam. Finalmente, o Brasil integrava-se ao sistema internacional de produção e comércio.

Foi o começo das grandes mudanças. Em apenas treze anos, entre a chegada e a partida da Corte, o Brasil deixou de ser uma colônia atrasada, proibida e ignorante, para se tornar uma nação independente. Nenhum outro período da história brasileira testemunhou mudanças tão profundas, tão decisivas, em tão pouco tempo.

Foi também um evento sem precedentes na história da humanidade. Nunca antes uma Corte europeia havia cruzado um oceano para viver e governar do outro lado do mundo. D. João foi o único soberano europeu a colocar os pés em terras americanas em mais de quatro séculos de dominação.

O propósito de 1808 - na sua edição original, lançada no Brasil em setembro de 2007 e em Portugal em fevereiro de 2008, e agora também nesta versão juvenil - é contribuir para que esse acontecimento, tão importante na história de ambos os países, se torne cada vez mais conhecido pelos leitores brasileiros e portugueses. Nesta nova versão, o texto de 1808 foi editado pela jornalista Denise Ortiz. As informações foram condensadas e, sempre que necessário, reordenadas para facilitar a compreensão. Nesse trabalho, feito com a orientação do autor, Denise teve o cuidado de preservar todos os detalhes fundamentais que compõem a história da Corte no Brasil, excluindo apenas alguns personagens e situações considerados acessórios. Os capítulos são ilustrados com cenas e personagens da época reproduzidos em aquarelas pela artista plástica Rita Bromberg Brugger. Gaúcha de Porto Alegre, Rita mora em Caxias do Sul e produz ilustrações com base em rigorosa pesquisa histórica.

Do mesmo modo, o texto de 1808, nas suas duas versões, é todo fundamentado em referências bibliográficas. O resultado pretende ser, ao mesmo tempo, atraente e educativo para os interessados em conhecer um pouco mais sobre a grande aventura da fuga da corte de D. João para o Brasil.


Introdução feito pelo autor do livro 1808, Laurentino Gomes (São Paulo, março de 2008); Edição Juvenil Ilustrada, Editora Planeta Jovem, São Paulo, 2015. O título do livro é 1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil.

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