quinta-feira, 28 de outubro de 2010

trecho de Erich Fromm

 

As ideias não influenciam o homem
profundamente quando são apenas ensinadas como
ideias e pensamentos. Usualmente, quando
apresentadas de tal maneira, modificam outras ideias;
novos pensamentos assumem o lugar de antigos
pensamentos, novas palavras tomam o lugar de velhas
palavras. Mas tudo o que aconteceu foi uma mudança
de conceitos e nas palavras. Por que seria diferente?
É extremamente difícil para o homem ser mobilizado
por ideias e apreender uma verdade. Para fazê-lo, ele
precisa superar as resistências profundamente
enraizadas da inércia, o medo de estar errado ou de
afastar-se do rebanho. O simples travar
conhecimentos com outras ideias, não é o bastante,
embora essas ideias, em si mesmas, sejam corretas e
poderosas. Mas as ideias só têm, realmente, um efeito
sobre o homem quando vividas por aquele que as
ensina, quando são personificadas pelo professor,
quando a ideia aparece encarnada. Se um homem
expressa a ideia de humildade, aqueles que o escutam
Compreenderão o que é a humildade. Não apenas
compreenderão, como também acreditarão que ele
está falando de uma realidade e não apenas
proferindo palavras. O mesmo se aplica a todas as
ideias que um homem, um filósofo ou um mestre
religioso possam tentar transmitir.

Esse Moço

                    Joanna/Fátima Leão/Elias Muniz

Deus, eu quero ver aquele moço
Bem mais perto de mim
Teus olhos têm o verde
Bem mais verde do que o verde capim
Quando eu lhe vejo
Até pareço um beija-flor de manhã
Sobrevoando os campos
Pra beijar a doce flor da maçã
Deus, por esse moço eu me arrasto
Feito cobra no chão
Escondo meu veneno e me entrego
Com amor e paixão
Sem ele eu me perco
Fico feito sabiá sem laranjeira
Sem ele sou bom dia de ressaca
Em dia de segunda-feira
Sem ele sou alguém pela metade
Sou um grito de saudade
Sufocado e sem razão, sem ele
Sem ele, eu me sinto uma cidade
Destruída na maldade
Pela força de um vulcão
Com ele posso ser um colibri
Canarinho e bem-te-vi
Preso ou livre mundo afora
Com ele sou visita inesperada
Que não tem hora marcada
E nem pressa de ir embora

Esta música pertence ao CD " Alma, Coração e Vida ", gravado pela cantora Joanna em 1993.
Durante muitos anos, tive uma história de amor mal resolvida, platônica, digamos assim, porque o jovem em questão, o tal dos olhos verdes, desapareceu sem deixar sinais. Fiquei com esse sentimento guardado durante muito tempo, sem saber o que fazer com ele (o sentimento). Eu ilustrava com músicas ou poemas para não enlouquecer. Ainda bem que consegui sobreviver!! Recentemente, descobri a pessoa e conversamos muito sobre tudo o que aconteceu... Não sei se consegui resolver , mas pelo menos, pude falar com ele sobre ele (o sentimento) e descobri que era recíproco. Uma pena que não conseguimos viver a história de amor naquele tempo (início dos anos 90), porque hoje somos pessoas diferentes e não seria a mesma coisa...

Iolanda

                 Pablo Milanés & Chico Buarque


Esta canção
Não é mais que mais uma canção
Quem dera fosse uma declaração de amor
Romântica
Sem procurar a justa forma
Do que me vem de forma assim tão caudalosa
Te amo, te amo
Eternamente te amo

Se me faltares
Nem por isso eu morro
Se é pra morrer
Quero morrer contigo
Minha solidão
Se sente acompanhada
Por isso às vezes sei que necessito
Teu colo, teu colo
Eternamente teu colo

Quando te vi
Eu bem que estava certo
De que me sentiria descoberto
A minha pele
Vais se despindo aos poucos
Me abres o peito quando me acumulas
De amores, de amores
Eternamente de amores

Se alguma vez
Me sinto derrotado
Eu abro mão do sol de cada dia
Rezando o credo
Que tu me ensinaste
Olho teu rosto e digo à ventania
Iolanda, Iolanda
Eternamente Iolanda
Iolanda
Eternamente Iolanda
Eternamente Iolanda

Esta música é lindíssima e tem uma história especial pra mim. Quero dedicar a duas pessoas que não estão mais nesse Plano... Espero que estejam no Nosso Lar!!

Mulheres do Brasil

                             Joyce

No tempo em que a maçã foi inventada
Antes da pólvora, da roda e do jornal
A mulher passou a ser culpada
Pelos deslizes do pecado original
Guardiã de todas as virtudes
Santas e megeras, pecadoras e donzelas
Filhas de Maria ou deusas lá de Hollywood
São irmãs porque a mãe natureza fez todas tão belas
Tão belas...
Ó mãe, ó mãe,
Nossa mãe
Abre teu colo generoso
Parir, gerar, criar e provar nosso destino valoroso,
São donas de casa, professoras, bailarinas,
Moças, operárias, prostitutas, meninas
Lá do breu das brumas vem chegando a bandeira
Saúda o povo e pede passagem à mulher brasileira.

Música do disco " Maria " de Maria Bethânia, gravado em 1988

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quem Te Viu, Quem Te Vê

                            Chico Buarque


Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era meste-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só, seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante, onde eu não sou convidado

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Uma das músicas mais bonitas do Chico. Observe as rimas internas e externas.
Coisa de gênio... Demais!!

Tá Combinado

                      Caetano Veloso


Então tá combinado, é quase nada
É tudo somente sexo e amizade
Não tem nenhum engano, nem mistério
É tudo só brincadeira e verdade.
Podermos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos
Nos sabermos sós sem estarmos sós.
Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.
Então tá tudo dito
E é tão bonito
E eu acredito
Num claro futuro
De música, ternura e aventura
Pro equilibrista em cima do muro.

Mas e se o amor pra nós chegar
De nós, de algum lugar
Com todo o seu tenebroso esplendor?
Mas e se o amor já está,
Se há muito tempo que chegou
E só nos enganou?
Então não fale nada,
Apague a estrada
Que seu caminhar já desenhou
Porque toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor.

Música do disco " Maria " de Maria Bethânia, lançado em 1988.

Espanhola

                   Flávio Venturini & Guttemberg Guarabyra

Por tantas vezes
Eu andei mentindo
Só por não poder
Te ver chorando

Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Se for chorar
Te amo

Sempre assim
Cai o dia e é assim
Cai a noite e é assim
Essa lua sobre mim
Essa fruta sobre o meu paladar

Nunca mais
Quero ver você me olhar
Sem me entender em mim
Eu preciso lhe falar
Eu preciso eu tenho que lhe contar

Esta música dispensa comentários. Desde novo, eu a ouço constantemente...
Uma das muitas ouvidas nos bares da minha cidade!!

Ajoelha e Reza

                    Carlos Rennó/Arnaldo Black


E aí ele disse pra mim, como vai?
E aí eu me disse, taí minha chance
Respondi, tudo bem e você onde vai?
Foi daí que saímos dali prum romance
E de repente, na nossa história
De amor e de glória
Ele vem e me agarra, eu me amarro
Ele ajoelha e reza e então me confessa
Que tá na maior paixão
E nunca esteve assim
Nem sente seus pés no chão
E até se realça por causa de mim
E assim, o que ele me faz pode ser
Pode sim, pode até parecer uma cena
Mas pra mim, é uma cena real, radical
Tão real, que parece igual no cinema
E nesse filme de amor e ventura
Verdade e mentira
Um pornô com ternura
Ele vem e se atira, eu morro
E depois me comovo
Quando me diz de novo
Que tá na maior paixão

Esta música foi gravada em 1995 por Tetê Espíndola... Aliás, uma belíssima canção!!

domingo, 24 de outubro de 2010

Escreva

    
                   As pessoas estão se esquecendo de escrever. Escrever mesmo. Também pudera: é muito video, muito digital, muita impessoalidade. O ato de escrever, hoje em dia, se resume à frieza dos memorandos assépticos e dos bilhetes lacônicos. Mas escrever é botar - preto no branco - uma emoção vermelha de paixão, um sonho verde de esperança, um sorriso amarelo, sem medo do lugar - comum ou ridículo, percebeu?
                   Escrever é invadir com todos os nossos fantasmas, aquele espaço branco, inocente, descompromissado - e se expor. Com nossos erros, nossa fragilidade, nossas dúvidas ortográficas.
                     Escrever é lançar uma ponte sobre o imponderável, é arriscar uma tentativa de resposta, um toque assim: socorro, estou vivo! Você está? Por tudo isto é que vale a pena escrever. Agora. Imediatamente. Inadiavelmente.
                     Escreva para aquela mulher e diga que você não aguenta mais. Ou escreva para aquela mulher e diga que você não a aguenta mais: muito cuidado, portanto, com os pronomes!
                     Escreva na última página do caderno amassado do seu filho dizendo que você se emociona com os cadernos amassados dele, que você tem sido um idiota que passa a vida enfiado no trabalho e está sempre adiando aquele papo de homem para homem, regado a sorvete de flocos e carinho.
                      Escreva para um velho amigo uma carta boba, sem propósito especial, só para relembrar os bons tempos de colégio. Seja incomum: escreva um bilhete carinhoso e ousado e deixe no parabrisas do carro dele. Anônimo, é claro!
                     Escreva com raiva: bote pra fora tudo que você sempre quis dizer ao gerente de marketing, ao supervisor de orçamentos, ao chefe da controladoria, ao seu psicanalista, ao namorado, ao bispo, ao Criador.
                     Escreva e peça perdão. Há sempre alguém parado no tempo, à espera de um perdão justo que você não teve coragem de pedir. Só assim a vida prossegue.
                     O silêncio pode ser ouro. Quem cala, pode, eventualmente, consentir. Quem fala muito arrisca-se a receber em troca uma saudação equina. Mas sempre vale a pena. Mesmo porque, a primeira coisa que fizemos, logo ao nascer, foi botar a boca no mundo. E a última, com toda certeza, será um grande, infinito e definitivo silêncio!!

(autoria desconhecida)

O Pote Rachado

 
                Um carregador de água na Índia, levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessado em seu pescoço.
                 Um dos potes tinha uma rachadura. Enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe, o outro chegava apenas com a metade da água.
                 Foi assim por dois anos, diariamente: o carregador entregando um pote e meio de água na casa do chefe.
                 Claro que o pote estava orgulhoso de suas realizações.
                 Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas metade do que ele havia designado a fazer.
                 Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem, um dia a beira do poço:
                 - Estou envergonhado e quero pedir-lhe desculpas.
                 - Por que? perguntou o homem.
                 - De quê você está envergonhado?
                 - Nestes dois anos eu fui capaz de entregar apenas a metade de minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa de seu senhor.
                 - Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho e não ganha o salário completo dos seus esforços, disse o pote.
                  O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão, falou:
                  - Quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.
                   De fato, a medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou as flores selvagens ao longo do caminho, e isto lhe deu certo ânimo.
                   Mas ao final da estrada, o pote rachado ainda se sentia mal porque tinha a metade e de novo, pediu desculpas ao homem por sua falha.
                   Disse, então, o homem ao pote:
                   - Você notou que pelo caminho só havia flores do seu lado? Eu, ao conhecer o seu defeito, tirei vantagem dele e lancei sementes de flores no seu caminho. E cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava... Por dois anos, eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Sem você ser do jeito que é, ele não poderia ter esta beleza para dar graça a sua casa.
                  Então...

(desconheço a autoria)