sábado, 28 de outubro de 2023

Novos meios de se comunicar

Ele veio para ficar: o letramento midiático faz parte das propostas da BNCC e tem entusiasmado professores e alunos


Em tempos em que ninguém mais desgruda do celular, é necessário discutir o letramento midiático. O pesquisador americano e professor da University of Souther California, Henry Jenkins, cunhou o conceito de letramento midiático, que, segundo ele, consiste em explicar o fato de que diversas mídias estão se utilizando da internet para manter-se vivas e atualizadas.

Mas em um país onde três em cada dez pessoas são analfabetas funcionais, falar em letramento requer cuidados, porque saber ler e escrever tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas contemporâneas.

Para o doutor em Linguística e apaixonado por tecnologia Alfredo Gutierrez, letramento midiático não é algo que se pode ter ou não ter. "Eu considero que é um processo já enraizado na sociedade de informação. E há uma diversidade tal impensável até há poucos anos. Porque há aqueles que vão para a internet apenas buscar entretenimento, outros para se manter informados, e há os que querem disseminar suas ideias, influenciar a opinião alheia. Entre meus alunos, há muitos youtubers, influencers mesmo. E a grande questão que se impõe é como isso se dá, o que está sendo propagado", considera, lembrando que o grande instrumento que os consumidores têm em mão é o smartphone. "Com esse aparelhinho em mão, eles detêm um poder incalculável, e as escolhas são imensas, complexas. E aí está o grande perigo, porque surgem as fake news, a persuasão sem limites", explica.

Gutierrez utiliza a prática em sala de aula: "Uma das atividades que introduzi é produzirem e interpretarem mensagens de twitters. Em 280 caracteres têm de codificá-los e decodificá-la.


CARÁTER SOCIOCULTURAL


O escritor e especialista em Educomunicação Abrahão Costa de Freitas é enfático: "De acordo com o Grupo de Nova Londres, as novas mídias e as ferramentas tecnológicas do mundo contemporâneo demandam práticas de uso da linguagem voltadas para a esfera da comunicação digital. A escola já não é a única agência de letramento de que dispomos. Por essa razão, autores como Jay Lemke - que pesquisa o ensino de ciências e novas tecnologias - e Manuel Castells - doutor em Sociologia, professor de comunicação e planejamento urbano e regional e pesquisador dos efeitos da informação sobre a economia, a cultura e a sociedade em geral - enfatizam o caráter sociocultural das práticas de letramento, insistindo que o letramento multimidiático, assim como o letramento multissemiótico, é um imperativo de uma sociedade na qual as práticas letradas são determinadas por um momento sóci-histórico no qual a polifonia e o plurilinguismo se ampliam no espaço público das tecnologias eletrônicas".

Alfredo Gutierrez faz um alerta: "É preciso que se discuta isso, urgentemente. A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) incentiva, por exemplo, o uso do celular, do smartphone, em sala de aula. Só não ensina o pulo do gato, não diz como nos apropriarmos dessa estratégia, como trabalhamos esse letramento midiático que se impõe".


Texto retirado da Revista Língua Portuguesa e Literatura - Conhecimento Prático, da coluna Reflexão da Redação, Editora Escala, São Paulo, Ano 8, Edição 72, Agosto/Setembro 2018.

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