domingo, 15 de setembro de 2024

Na Obra Regenerativa (37)

 "Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, orientai-o com espírito de mansidão, velando por vós mesmos para que não sejais igualmente tentados." - Paulo. (GÁLATAS, 6:1.)


Se tentamos orientar o irmão perdido nos cipoais do erro, com aguilhões de cólera, nada mais fazemos que lhe despertar a ira contra nós mesmos.

Se lhe

O país do provérbio pronto

 Expressões populares brasileiras traduzem bom humor em relação à vida.


A paremiologia é o estudo de parêmias, do grego paromia (parábola, provérbio), uma subdisciplina do grande campo do folclore. Quem se interessa

domingo, 8 de setembro de 2024

O vocabulário da ficção científica

Uso de termos cifrados, marca no gênero, é um desafio narrativo


Realidades novas pedem palavras novas, e em nenhuma literatura isto é tão visível quanto ficção científica, em que autores constantemente propõem elementos que não têm nenhum ponto de referência no repertório do leitor. É preciso um certo cuidado para introduzir esses termos, porque há leitores que se sentem impossibilitados de avançar na leitura enquanto não encontrarem uma definição clara de cada palavra.

Meu conselho, nesses casos, é: Não entendeu? Siga em frente. Entenderá mais adiante. O autor

sábado, 7 de setembro de 2024

Afirmação Esclarecedora (36)

 "E não quereis vir a mim para terdes vida." - Jesus. (JOÃO, 5:40)


Quantos procuram a sublimação da individualidade precisam entender o valor supremo da vontade no aprimoramento próprio.

Os templos e as escolas do Cristianismo permanecem repletos de aprendizes que vislumbram os poderes divinos de Jesus e lhe reconhecem a magnanimidade, caminhando, porém, ao sabor de vacilações cruéis.

Creem e descreem, ajudam e desajudam, organizam e perturbam, iluminam-se na fé e ensombram-se na desconfiança...

É que esperam a proteção do Senhor para desfrutarem o contentamento imediato no corpo, mas não querem ir até Ele para se apossarem da vida eterna.

Pedem o milagre das mãos do Cristo, mas não lhe aceitam as diretrizes. Solicitam-lhe a presença consoladora, entretanto, não lhe acompanham os passos. Pretendem ouvi-lo, à beira do lago sereno, em preleções de esperança e conforto, todavia, negam-se a partilhar com ele o serviço da estrada, através do sacrifício pela vitória do bem. Cortejam-no em Jerusalém, adornada de flores, mas fogem aos testemunhos de entendimento e bondade, à frente da multidão desvairada e enferma. Suplicam-lhe as bênçãos da ressurreição, no entanto, odeiam a cruz de espinhos que regenera e santifica.

Podem ir na vanguarda edificante, mas não querem.

Clamam por luz divina, entretanto, receiam abandonar as sombras.

Suspiram pela melhoria das condições em que se agitam, todavia, detestam a própria renovação.

Vemos, pois, que é fácil comer o pão multiplicado pelo infinito amor do Mestre Divino ou regozijar-se alguém com a sua influência curativa, mas, para alcançar a Vida Abundante de que ele se fez o embaixador sublime, não basta a faculdade de poder e o ato de crer, mas também a vontade perseverante de quem aprendeu a trabalhar e servir, aperfeiçoar e querer.


Texto retirado do livro Fonte VivaFrancisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel, FEB, Brasília, 1987.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O cochilo da gramática

                         Vale investigar a razão por que a análise gramatical pouco tem ajudado no aprendizado de leitura e escrita


A questão não consegue desaparecer, por mais que a hora tenha chegado. Quem imagina que alunos podem aprender a ler e a escrever fazendo exercícios de gramática deveria ter desistido da teoria e da consequente empreitada, seja por motivações teóricas, seja pelas evidências empíricas.

As razões teóricas são muitas, mas uma é essencial: saber analisar (ainda que se tratasse de fato de análise!) não tem nada a ver com saber escrever e saber ler.

Pode-se confirmar isso de muitas maneiras, mas bastaria invocar o fato de que grandes escritores escreveram antes de haver gramáticas (Aristóteles, Sófocles, Cícero, Camões...).

Os fatos empíricos deveriam ter impacto demolidor, mas a turma não se rende: quanto mais se ensina que não se deve dizer "me parece / me dá um dinheiro", mais estas construções são usadas (quem defende este tipo de ensino deveria também estudar um pouco mais, para dar-se conta de que não há erro no caso, mas simplesmente uma diferença entre o Português do Brasil e o de Portugal; além disso, por que insistir em algumas construções de lá, e não em todas, então, inclusive em sua pronúncia?).

Os defensores duros do ensino de gramática poderiam, além disso, dar-se conta de que um volume que tenha a palavra "gramática" na capa contém tópicos bem diferentes entre si.

Simplificando: uma coisa é ensinar que se deve dizer "Prefiro isto a aquilo" [e não "Prefiro (mais) isto do que aquilo"], tese que se poderia discutir à luz da mudança da língua (mas deixa pra lá); outra coisa é ensinar que "isto" é um objeto direto e "aquilo" é um indireto.


Uso Real

É bom saber isto? Claro! É tão bom como saber quanto vivem as tartarugas, quais animais estão ameaçados de extinção e por que, qual a temperatura no pico do Himalaia no inverno, quem matou César e quem fez os gols do Brasil na final da Copa de 70.

Quero dizer com isso que saber analisar funções sintáticas não interfere no uso real das construções sintáticas. Se interferisse, ninguém mais diria "Vende-se roupas usadas", porque o "se apassivador" é ensinado inutilmente todos os anos há muito tempo.

Em suma, uma gramática são duas (como Drummond disse do Português): uma é destinada a ensinar a norma (escreve-se assim, a regência é tal, a concordância é esta e não aquela, o particípio de "chegar" é "chegado", etc.) e a outra é destinada a tornar os alunos aptos a descrever estruturas da língua: sílabas, tonicidade, formação de palavras, construções sintáticas etc.

Do ponto de vista "pragmático", isto é, considerando que a escola deve formar alunos que escrevam e leiam bem diversos tipos de texto, uma das duas gramáticas é muito mais relevante do que a outra.

Ou seja, pode-se aprender, com o tempo e as práticas adequadas, que se diz / escreve assim e não assado, sem passar necessariamente pela análise (como antes de haver gramáticas, isto é, pelo método de Luís de Camões).


Chegano

Tomemos um caso simples: suponhamos que um aluno escreva estou chegano. Basta corrigir. Não é necessário dizer que se trata de um gerúndio e os gerúndios, em Português, terminam em -ndo.

Não que isto deva ser proibido, que se entenda bem. Mas não é necessário que este tema esteja no programa para que se aprenda a escrever corretamente; pior, e mais inútil, é quando as formas verbais são apenas decoradas ou sua avaliação é feita num teste do tipo "assinale a alternativa que contém (ou não contém) um gerúndio".

O princípio que vale para uma palavra ou uma letra vale para uma oração ou um parágrafo, ou para um texto: corrigir erros reais (alternativamente: tratar de textos reais, mesmo que não se trate de corrigir, mas de sofisticar, de oferecer alternativas).


Infantil

Essa metodologia pode ser apresentada simplificadamente como a do aprendizado da  língua materna.

De fato, adultos manifestam, em relação à linguagem infantil, duas atitudes básicas:

a) uma é a chamada baby talk, que consiste basicamente numa linguagem pseudoinfantil (que vai do au-au a "sotaques" que podem ser representados por axim e mamãeginha), provavelmente inócua;

b) a outra é a da correção pura: a criança diz fazi e a mãe lhe diz "fiz" - com muitos etecéteras.

Pois é esta segunda metodologia de ensino que merece toda defesa e deve ser seguida na escola.

O aluno erra, o professor corrige: simples assim.

Eventualmente, se explica, e assim se podem ir introduzindo "ao natural", conceitos de gramática explícita: é "nós vamos" não nós vai, porque o verbo concorda com o sujeito (se os alunos perguntarem o que é isso, pode-se responder que logo aprenderão; se insistirem, as noções podem ser introduzidas; o que é inócuo é que a "gramática seja uma lista de conceitos que vão sendo "explicados" sem que façam sentido).


Ditongos

Uma das maiores vantagens - se não a maior - de separar os dois tipos de gramática é que aquela dedicada à análise pode - e deve - ser invocada também para explicar os "erros".

Uma tese falsa que habita as escolas é a de que os "erros" são violações da gramática: de fato, seguem outra gramática, pelo menos na maior parte.

Considerem-se casos de erros de grafia como escrever poco, pexe, caxa: trata-se de erros que derivam de um fato gramatical observável facilmente, que consiste na eliminação de ditongos e certas circunstâncias (não se reduz o de "peito", por exemplo.

É mais produtivo explicar aos alunos de onde vem o erro deles do que fazer ditados ou, simplesmente, ensinar o que é um ditongo e exemplificar com outro...

Simples assim.


Texto de Sírio Possenti retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 111, Janeiro de 2015, Editora Segmento, São Paulo.