sábado, 28 de setembro de 2024

Mentir é feio, mas é gostoso!

 "Mário de Andrade não podia compreender. Pensava que eu tinha sido levado à cultura popular pela erudição. Mentira. A cultura popular é que me levou a esta." (Luís da Câmara Cascudo, em depoimento a Pedro Bloch)


Ameaçado de demissão do colégio em que lecionava por sua "indignidade" em ficar indagando o lobisomem e estudando catimbó, Câmara Cascudo foi trabalhar no jornal de seu pai, A Imprensa.

Intelectual de muita vivência na cultura popular, o advogado e etnógrafo Cascudo era amante de todas as artes, e elas se derretiam por seus grandes olhos azuis. Menos a matemática, e ele temia que um dia, exatamente por isso mesmo convidassem-no para ocupar o cargo de Ministro da Fazenda. Gostava de repetir: "O folclore é que se interessou por mim".

Seu já folclórico Dicionário do Folclore (1954) nasceu de uma verve incontrolável de enciclopedista, memorialista e historiador que aflorou ainda em seus primeiros "caderninhos de notas". Com eles, gerava também publicações como Literatura Oral no Brasil, Vaqueiros e Cantadores, Geografia dos Mitos Brasileiros, Contos Tradicionais do Brasil e outros mais de 150 livros que foram lhe dando em sua cidade Natal, RN, de onde nunca arredaria o pé (por se considerar "provinciano incurável"), o prestígio de ser o home mais ilustrado, o escritor mais enfeitado do mundo. A fama correu o Brasil. Vai ver e era mesmo.


Texto de Marcílio Godoi retirado da Revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 107, Setembro de 2014, Editora Segmento, São Paulo.

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