No vácuo de sua elite cultural, Brasil vira uma sociedade de letrados sem exercício
O Brasil é uma sociedade de letrados sem leitura.
Segundo a Câmara Brasileira do Livro, há quase 90 milhões de pessoas letradas no Brasil, mas uma parcela grande desse bolo simplesmente não lê nada: são 14 milhões de alfabetizados sem leitura, todos maiores de 15 anos.
Esse grupo não é de analfabetos funcionais, o dos que aprenderam a escrever ou ler o nome, só isso ou pouco mais. Eles representam antes 15% do total de brasileiros capaz de entender o que lê. São parte da elite cultural
1/3 do leitor da classe A admite ter total falta de prazer com o ato de ler.
1 em 4 pessoas AB dizem que não leem por preguiça ou impaciência.
1 em 4 pessoas com nível superior diz que não gosta de ler, nem pega num livro depois dos 19 anos se não for por obrigação (em geral, a pedido da escola ou em razão do emprego).
Diferenças
O mercado editorial cresceu nos últimos anos, mas o consumo de obras de qualidade se mistura nas estatísticas de best-sellers e papel pintado com prosa caça-níquel, obras religiosas ou de autoajuda.
A demanda por leitura não é consistente o bastante para sustentar livrarias por todo país.
O país tem hoje 1.800 livrarias, metade no estado de São Paulo, cuja capital tem cerca de 200 livrarias. O Rio de Janeiro tem umas 150. Acre e Amapá são os que menos têm: três cada.
É pouco. O Brasil tem 1 livraria para cada 84.500 habitantes. Os Estados Unidos tem 1 para 15 mil e os argentinos, 1 para 50 - o que legitimou o mito de que só Buenos Aires teria mais livrarias que todo o Brasil (mas lá há não mais de 400).
Conclusão: o pouco hábito de leitura da elite brasileira é que tem se tornado responsável pelo grosso da bobagem editorial consumida no país.
Texto de Luiz Costa Pereira Júnior retirado da revista Língua Portuguesa, Ano 9, número 106, Agosto de 2014, Editora Segmento, São Paulo.
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